Há incindíveis acasos que parecem conduzidos por outros desígnios e vontades. Lembro, para que a memória perdure, que Jacinto Freire de Andrade (1597-1657), com possíveis ligações à cidade de Viseu, seja pelo discutível oferecimento do bispado, seja ainda pelas mais provadas presenças nas abadias de Carapito e de Santa Maria de Chãs, escreveu uma gongorizante “Fábula de Narciso”, publicada no volume III da “Fénix Renascida”.
Em 2001, António Franco Alexandre, poeta nascido em Viseu, volta a Narciso e introduz na fábula um outro lume e um mais amplo fulgor. Frederico Lourenço, na sua “Grécia revisitada”, diz mesmo ter sido fulminado pela primeira página e pelas primeiras palavras do livro alexandrino.
Incisão na metamorfose e na mitogenia, as lexias de cada verso desprendem uma música antiga e estranhamente moderna, adentro de uma desestruturante polifonia. E, no entanto, é de emoção que o livro fala, como o comprovam, aliás, os versos que se deslocam do texto enodando a garganta do leitor: “éramos só nós sem nenhum segredo, / vivos e completos, serenos, mortais.”
O tempo eleitoral é um período de peste que queremos superado. Importa encostar a mão ao coração e divisar que a retórica do simulacro anda por aí. Interessa dizer, como o poema alexandrino, o “que o corpo diz / só no seu eco perfeito”. Encoste-se, pois, o corpo à cidade e à interrogação da vontade: valerá a pena o passo?
Mera fábula somos. Nela, activos e pensantes, esqueçamos como as “melhores famílias guinchavam de prazer /… nos salões doirados / com presidentes e… oradores sombrios, / chefes de câmara, e minúsculas sandes de conversa”. É que, como no poema de Franco Alexandre, “no surdo espelho / há um gesto de horror quando o vampiro / irreflectido me promete um beijo.”
A nós, pascalianos vimes pensantes…
Em 2001, António Franco Alexandre, poeta nascido em Viseu, volta a Narciso e introduz na fábula um outro lume e um mais amplo fulgor. Frederico Lourenço, na sua “Grécia revisitada”, diz mesmo ter sido fulminado pela primeira página e pelas primeiras palavras do livro alexandrino.
Incisão na metamorfose e na mitogenia, as lexias de cada verso desprendem uma música antiga e estranhamente moderna, adentro de uma desestruturante polifonia. E, no entanto, é de emoção que o livro fala, como o comprovam, aliás, os versos que se deslocam do texto enodando a garganta do leitor: “éramos só nós sem nenhum segredo, / vivos e completos, serenos, mortais.”
O tempo eleitoral é um período de peste que queremos superado. Importa encostar a mão ao coração e divisar que a retórica do simulacro anda por aí. Interessa dizer, como o poema alexandrino, o “que o corpo diz / só no seu eco perfeito”. Encoste-se, pois, o corpo à cidade e à interrogação da vontade: valerá a pena o passo?
Mera fábula somos. Nela, activos e pensantes, esqueçamos como as “melhores famílias guinchavam de prazer /… nos salões doirados / com presidentes e… oradores sombrios, / chefes de câmara, e minúsculas sandes de conversa”. É que, como no poema de Franco Alexandre, “no surdo espelho / há um gesto de horror quando o vampiro / irreflectido me promete um beijo.”
A nós, pascalianos vimes pensantes…
2 comentários:
Gostei muito de ler.
g r a n d e.
Beijo MArtim.
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