2006-03-31

a poesia vertiginosa de Luiz Guedes

Fotografia de Margarida Delgado

Como a poesia de Luiz Guedes é um flagrante e indesculpável descaso literário, retiro ainda de sub solo (1932) o poema

advertência

Também eu, também eu desci à arena

levado na vertigem do ciclone;

a abrindo a boca num esgar de clown

também eu, também eu entrei em cena.

Também um fiz soltar da minha avena

o meu inquieto après midi d'un faune;

também, também eu fui o cicerone

duma alegria que era a minha pena.

Fui companheiro de Lusbel na luta

entre os anjos do céu e na disputa

herdei apenas este instinto aziago:

cantar, uivando como os cães à lua,

enquanto na minha alma se insinua

este destino bárbaro que trago.

Também existe muita literatura desconhecida, não é, caros leitores?


a poesia do fogo em Luiz Guedes

Guardo uma alarmada memória do encontro nodal com um poema de Luiz Guedes, ínsito na presença nº 38 (1933), de título "Pariz de França". Da fulgurância desse encontro, permanecem ainda perfeitamente vivos os incipit e explicit estranhizantes, poéticos e pós-cinéreos, embalando o espanto: "Sim: eu, Luiz / também já fui a Pariz / também vi terras de França." e "- só não tive recepção / no Quai d´Orsay."

Na presença é Luiz Guedes poeta de um poema só. E, no entanto, a sua poética ressuma de presencismo, que é, sem dúvida, sinónimo de qualidade e de amor literário. Fiquem-se com o arrebatador poema 11. de sub solo (1932):
Hão-de se erguer as pedras das calçadas!
A velha mole de pedra, a Catedral,
há-de tombar por fim! E às gargalhadas,
sobre as ruínas rirá o vendaval!
Um ruído de unhas a riscar na cal
das paredes brutais desmoronadas,
soará como um cântico fatal
ao alvorecer de novas madrugadas!
Um sol a arder em sangue às labaredas
calcinará as trágicas veredas
de novos passos, novos horizontes...
Mas quando?"... Quando é que virá
esse momento ideal que tocará
num baptismo de fogo as nossas frontes?

É destas ruínas o chão da literatura...


atenção, alunos do seminário de integração interdisciplinar II


Se ainda não leu a reflexão de apoio ao seminário subordinada ao tema "Desenvolvimento do imaginário através da leitura", carregue aqui.

A Ana Carina Ferreira, Ana Lúcia Carvalho, Ângela Pereira, António José Esteves (mesmo ausente), Carla Alexandra Rodrigues, Cláudia Pina, Cláudia Machado, Ermelinda Teixeira, Fernanda Almeida, Fernando Guimarães, Francisco Luiz Barrios, Helena Martins, Isabel Cruz, Lúcia Valverde Coelho, Márcia Rodrigues, Maria Aurora Ricardio Pacheco, Maria Conceição Vieira, Maria Conceição Pires, Maria Conceição Saldanha, Maria Delfina Nobre, Maria Filomena Cardoso, Maria Helena Alpendre, Maria João Silva, Maria Lurdes Vitória, Maria Lurdes Nunes, Maria Rosa Pereira, Michael Batista, Ricardo Nascimento, Sandra Silva, Sandrina Gonçalves, Sara Bicho e Sónia Cabral.


2006-03-29

a lua no corpo

a lua vem por sobre o corpo.


leve o ramo no abismo da noite
cede e crepita ao impacto animal
que da escuridão exuma o silêncio
e a triste opacidade do mistério...


a lua roda e desveste-se de ardor
firmando a espada dentro do cérebro
percorrendo os labirintos do sangue
e o mar coalhado da memória...


nem luz ou vento ou mel só sopro
só esta paz doméstica que irrompe
dos pulsos e do fogo das veias
e abraça os lábios tépidos
do murmúrio substantivo.


então o corpo dentro do corpo.

A avaria computacional impede-me ainda de convosco estar, caros kamaradas.

2006-03-26

Die Heimat

a escuridão recobre o silêncio e o computador não quebra o gelo. a doença está no display.
tranquilo, na vertigem de um giga, regresso a casa, volto às margens do ninho, às águas de mim.
cruzei ilhas, sítios, espadas, lâminas, gumes... fingidas imagens de um mundo inexistente e pouco mais.
não creio sequer que as mágoas sejam mais que as alegrias. a noite plasmática traz o abandono e eu cedo.
qwerty primo e o écran mudo, pouco mais que um tronco ardido e cinéreo. de novo gelado.
regresso a casa, ao ruído das madeiras e ao bulício dos livros. aqui, neste lugar de festa, a morte é fingida, que bem morre quem volta ao lar e à pátria do sentir.

"Falsa Partida" de Fernando Luís Sampaio

Nava e Sampaio, em Berlim (1989)

Quando, em Dezembro de 2001, o Instituto Politécnico de Viseu editou – em boa-hora, diga-se – a colectânea plástico-poética O Regresso à Condição – Viseu, ut pictura poesis, ficou-me na restinga um belíssimo poema de Fernando Luís Sampaio, intitulado “No Parque da Cidade”, que aludia à presença do poeta por estes lugares. Não era Sampaio um escritor desconhecido, até porque, afinal, em si transitava alguma da melhor transmissão naviana (e em Paulo Teixeira também), nomeadamente o vezo corpóreo e a aparentemente descoesa “desmultiplicação imagética”, de acordo com a categorização de Luís Miguel Nava.
Nascido em Moçambique, em 1960, Fernando Luís Sampaio viveu e estudou na cidade de Viseu, por cá terminando os estudos liceais. Conhecedor da “geografia” do lugar, não espanta que alguma da sua poesia reflicta pregnantemente essa passagem e, afinal, essa permanência. Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, em 1981, com Conspirador Celeste (Publicações D. Quixote), à sua obra se acrescentaram, nos anos seguintes, Sólon (IN-CM, 1987), Hotel Pimodan (Frenesi), Escadas de Incêndio (Quetzal) e o recente Falsa Partida (Assírio & Alvim, Novembro de 2005).
Antologiado e traduzido, Fernando Luís Sampaio traz-nos, na última colectânea, um reforço da anti-metaforização pós-moderna, avultando reganhos de deserção (veja-se a arrebatador poema inicial: “Queres mais coragem do que esta? / A mesa tem menos uma cadeira posta, / e sempre que ameaças aparecer / fecho janelas portas tudo.”) e de abandono (“Una você poço fa…: “Cada um está por si. Nos bares, no metro, / no terrífico incêndio de não amar.”).
É o poema “Deserção” (p. 17) um novo regresso a Viseu e uma recriação a partir do inicialmente citado “No Parque da Cidade”. Alterado e reescrito, este texto recoloca a velha urbe no espaço electivo do Poeta e prova ainda que o livro de Fernando Luís Sampaio é um dos grandes conseguimentos da literatura portuguesa de 2005:

“O parque desce para o lago
sob o meu instável olhar floresce
a névoa folhas latas de cerveja.”

Como não revisitar esta “ave da juventude”?
(Este texto foi publicado na passada 6ª-feira no Jornal do Centro)

2006-03-24

o vidro no ouvido

o vidro encosta-se ao ouvido
como a casa aos alicerces.


só então o dia nasce
dentro do armário abandonado.


joguete nas mãos de proteu
escondo-me na lã mais íntima.


nada sei do mundo dos homens
a não ser este silêncio que me abraça.


funda é esta alegria perto de mim
e nem sequer isso adivinhas.

2006-03-23

a água perto da anca

quando me vieres chamar, ouve,
encontrar-me-ás colado ao tecto
objecto de contemplação quase
fundido no tempo suspenso
escoando o sangue contra as fissuras
do velho soalho patinado.


ouvirás então o rumor íntimo
da desintegração.


em breve o mar dentro do corpo
a água perto da anca
a vida dentro de mim.

2006-03-21

o poeta aos 16 anos

POSSE
Estás feliz? Também eu,
como se assim sempre fosse.
O teu sangue agora é meu,
sinto-me bem: é a posse.
(Luís Miguel Nava, O Perdão da Puberdade, 1974)


fernando luís sampaio

Carvoeiro
Para o José Camões
A constelação na boca da escuridão
treme e desembainha
o ouro da morte multicolor.

O final do verão
é amordaçado
no lago das toalhas já usadas.
(Fernando Luís Sampaio, Falsa Partida )



não é preciso dia da poesia

Manuel Cargaleiro
AO MÍNIMO CLARÃO
Talvez seja melhor não nos voltarmos
a ver, ao mínimo clarão
das mãos a pele se desavém com a memória.
As mãos são de qualquer corpo a coroa.
Das dele já nem sequer o itinerário
sei hoje muito bem, onde o horizonte
se desata o mar agora
regressa ao coração de que faz parte.
Ainda é o mar contudo o que se vê
florir onde ele chegar. chamando a esse
rapaz rebentação,
o céu rasga-se à volta dos seus ombros.
(Luís Miguel Nava, Como alguém disse )


2006-03-20

catch (V): sobre coisas duvidosas para não errar nelas




"O conselho, voto e parecer dos conselheiros é um aviso que se toma sobre coisas duvidosas para não errar nelas. Toma-se sobre coisas que não estão na nossa mão, não se toma sobre coisas infalíveis, porque estas pedem execução e não conselho." (Manuel da Costa, Arte de Furtar )

catch (IV)






2006-03-18

1/4 de poema de 28


I
Por favor, não indaguem
a corrente literária a que pertenço.
Não me queiram sistematizar,
não pertenço nem quero pertencer
a correntes literárias.
Correntes são cadeias,
cadeias são prisões,
pesam demasiado
e limitam os movimentos
ditados pelos meus pensamentos
que comandam a minha forma de sentir
e de dizer.
o poema de amélia oom dita-me e eu agradeço as palavras aladas. assim me sou, assim não me escondo.

2006-03-17

desenvolvimento do imaginário através da leitura










Os estudos antropológico-literários têm utilizado a palavra “imaginário” para designar o conjunto de imagens simbólicas que habitam a tradição literária e na literatura permanecem desde há muito tempo. A literatura contém essa força transmissora, fazendo do ser humano alguém mais preparado para a usura do quotidiano.

Em época de falência anunciada das ciências sociais e humanas, abro este seminário com uma interrogação retórica, que é, desde já, resposta definitivamente afirmativa: será que a literatura contribui para o desenvolvimento do imaginário do indivíduo?

É um justamente admirado Walter Benjamin quem defende que as crianças “são encenadores para quem a palavra ‘sentido’ não representa qualquer obstáculo”, juntando-lhe eu ainda a ideia de Peter Weiss, segundo a qual os livros conferem uma realidade diferente da dos pais e dos educadores, para concluir que muito se tem falhado, que todos temos sido insuficientes no sentido de se colocar o texto contra a luz e, detectando a trombose das palavras, “desenterrar o sentido oculto entre os detritos” (Huizing, 2001: 53). E, no entanto, são as crianças e os jovens as crianças de Benjamin, que tão admiravelmente sabem encostar o livro aos “olhos” do coração. Vendo se vêem, como cegos os adultos que não compreendem.
Falar de literatura deveria ser o silêncio. Mas há experiências e há verdades indesmentíveis, que a literatura acompanha. Os estádios de desenvolvimento de cada indivíduo tiveram ou deveriam ter tido os seus livros e os adequados espaços poliédricos da significação. Desde Piaget, pelo menos, ninguém nega o valor do imaginário e da fantasia no processo de configuração da personalidade.
Em primeiro lugar iremos falar de poesia, modalidade primeira do saber e da tensão totalizadoras, para a ela voltarmos na parte final. Um verso condensa, mais do que uma vida, um universo univocal e original. Nessa vertigem ou lago em que se reflecte especularmente o sonho e o abismo, poucas palavras explicam, todas as palavras significam. Fonema afundado na sílaba, sema aberto ao sintagma, um mundo aberto aparece, lustral e irrepetível, mostrando-se e escondendo-se, sendo ferida que espera o desvelo do leitor, que da dor se aproxima com a enciclopédia e os lindes de um imaginário em construção. Cada incisão no corpo do poema significa aqui uma janela para dentro do imaginário. Abramos, pois, a janela de cada dia.
Jacques Derrida (1930-2004), o pai da “desconstrução”, é um intelectual com grande influência na cultura e no pensamento contemporâneos, em áreas tão diferentes como a filosofia, os estudos e a teoria literária, a arquitectura, o feminismo ou o direito, sendo ainda autor de obras tão marcantes como De la grammatologie (1967), L´écriture et la différence (1967), La dissémination (1972), Signéponge (1983), Force de loi (1994) ou Papier machine (2001). É a partir de um ensaio de Derrida, de título Che cos’è la poesia?, publicado inicialmente na revista italiana Poesia, em 1988, e recolhido, em 1992, no volume Points de suspension, que partiremos para a extracção de algumas ideias influenciadas sobre a “essência” da poesia. A aproximação à poesia exige renúncia ao saber e capacidade desmobilizadora, bem como uma atenção percuciente ao ditado: “Eu sou um ditado, profere a poesia, aprende-me de cor, recopia-me, vela-me e guarda-me, olha-me, ditada, sob os olhos: banda sonora, wake, traço de luz, fotografia da festa em luto” (Derrida, 2003: 5). Contra o esplendor do corpo do poema, há que saber de cor, recopiar, defender, guardar e olhar. Wake, vigília contínua, eis o acto sobre a economia da memória e sobre o que se deseja aprender a partir do outro. Voltando ao filósofo, abre-se outra janela e o dom do poema: “alguém te escreve, a ti, de ti, sobre ti” (Derrida, 2003: 7). E, no entanto, apela o poema à sua morte e à transmissão de uma marca transfigurada: “Chamo poema àquilo que ensina o coração, que inventa o coração, enfim aquilo que a palavra coração parece querer dizer” (Derrida, 2003: 8). O dito é esquecimento e fogo da memória, das poéticas, amnésia que se celebra. Um poema é então uma “encantação silenciosa” que chega, como uma “ferida áfona” vinda até nós a partir do outro. Próximo dos pés, inscrito na terra, o poema é uma “certa paixão da marca singular” (Derrida, 2003: 9), enrolado para o outro e para si, com os “signos agudos” para fora, ensinando-nos o coração. Perguntar o que é a poesia é, afinal, ver nascer a prosa, como o demonstra, por exemplo, o texto deste seminário.

Relativamente à narrativa e ao romance, género amado e odiado depois da sua tão propalada morte, diga-se que, se parece evidente uma certa opção pela short story, por razões de economia de tempo e de centrifugação quotidiana, há uns notáveis casos de recepção de obras de longo raio de acção, de espessura material, como o parecem dizer os êxitos dos livros de J. K. Rowling ou Dan Brown, lidos omnivoramente por crianças, adolescentes, jovens e adultos de todo o mundo. Talvez o tempo não seja o do notável romance russo ou dos centrais modelos canónicos veiculados por nomes como Zola, Flaubert, Balzac, Thomas Mann, Lawrence, Proust, Joyce e tantos outros. E, no entanto, é certo que os lugares maiores da literatura ficcional serão, cumulativamente, espaços centrais de transmissão de valores e de ensinamentos. Ágora do imaginário e da sua potenciação, ler no género e ler forte é não temer o aparato físico de Guerra e Paz, de Leão Tolstoi, ou O Idiota, de Dostoievski, caso contrário, pode o género passar “a insensível maquinaria”, que “abre fendas e depósitos”, como o entrevê poeticamente Fernando Luís Sampaio em Falsa Partida (2005).
É um insuspeito Daniel Sampaio, em crónica publicada recentemente na revista “Xis” do Público, de título “O gosto por ler romances", quem defende sempre ter adorado ler romances, às vezes um por dia, sempre desejando entrar nessa vertigem de encantamento, tanto mais que, como o defende o psiquiatra e professor universitário, “o romance permite sonhar, tomar partido, identificar com uns e rejeitar outros, sentir que estamos a <> uma história diferente da que o escritor criou, porque nos conseguimos apropriar de uma sugestão de alguém que não conhecemos, mas que se tornou cada vez mais próximo.” Friso esta proximidade, que é, a meu ver, a qualidade maior do género, porque é vida, em época de crise nas leituras e em que cada acto de encontro com um objecto literário é muitas vezes sentido como simples passatempo ou receita milagrosa e muito menos como fundante ponto de partida para a imaginação ou para a reflexão. A crise facilista, no entanto, de tão entranhada já, há-de promover talvez um novo romance, e volto a Daniel Sampaio, “para nos fazer sonhar de novo.”
O sonho e o imaginário começam lá atrás, no preciso momento em que os sentidos da criança se dão placentariamente à fórmula mágica “era uma vez”, incipit que faculta o mergulho no mundo encantado. Crescendo e maturando, aprendendo sempre, o indivíduo é ouvinte para em breve ser leitor, acertando um caminho fascinado e cada vez mais exigente e sofisticado. Fortalecer e preencher a seara do imaginário é dialogar, lendo e ouvindo, com a fábula, os contos de fadas e toda a magia, os quais, em conjunto, estimulam a criatividade, a imaginação e a autonomia. Aventuras, episódios múltiplos, peripécias ou obstáculos, eis alguns dos condimentos que prendem leitores, a par, por exemplo, da necessária identificação com personagens e heróis, assim se inscrevendo na memória, trabalhando sempre no íntimo dos iniciados. Quem pode, pois, deslembrar O Soldadinho de Chumbo de Hans Christian Andersen, os Desastres de Sofia da Condessa de Ségur, a Mariazinha em África de Fernanda de Castro, as incomparáveis aventuras de Mark Twain ou Stevenson, o mundo fantástico e visionário de Jules Verne, os livros de Enid Blyton (“Os Cinco”, “Os Sete”, “Mistério”, “Gémeas”, “Quatro Torres”, “Uma Aventura”…), a fabulosa Terra Média de Tolkien, os contos e narrativas de Sophia de Mello Breyner, Alice Vieira ou Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada?
De um ou de outro modo, o contacto com a literatura – e, agora, restrinjo o campo à literatura para a infância e a juventude –, nos seus diferentes modos, permite que se cumpram, no sentido de Teresa Colomer, as três principais funções da literatura infanto-juvenil, a saber:
1) o acesso ao imaginário colectivo (Jung, por exemplo, defende que as imagens criados podem-se agrupar-se em arquétipos, isto é, em motivos originais e inatos, comuns a todos; a corrente psicanalítica assinala a importância da literatura na construção da personalidade -Bruno Bettelheim, por exemplo; Starobinski (1974) fala da imaginação como um poder de alheamento das realidades presentes; Bruner (1988) alude a um olhar distinto sobre o mundo a partir da criação de “mundos possíveis”);
2) a aprendizagem de modelos narrativos e poéticos ( modelos esses que interagem com a vida efec-tiva, modelando-a e ampliando experiências, desde a literatura tradicional até às criações mais elaboradas);
3) e a socialização cultural ( e felizmente que se foi esbatendo a ideia de livros para rapazes e livros para raparigas).

Sendo o livro um objecto com “mil e uma entradas”, como o reconheceu no passado fim de semana Maria João Seixas, é justa também que a literatura não suporte perguntas como “o que é…?”, antes negando a funcionalidade de tal critério.
O imaginário é o mundo criado pela imaginação e o cânone literário é formado pelo conjunto de obras que é objecto “obrigatório” de discurso e de referência. Ambas as vertentes habitam, devem habitar a cegueira do leitor na sua tentativa de neutralização do objecto, isto é, de interpretação.
Quem existe por aí, afinal, indemne aos mundos possíveis facultados por personagens como Aladino (As mil e uma noites), Alice (1865) de Lewis Carroll, Bambi (1923) de F. Salten, Beleza Negra (1887) de A. Sewell, Bilbo (1937) de Tolkien, Corsário Negro (1898) de E. Salgari, D’Artagnan (1844) de Alexandre Dumas, David Copperfield (1850) de Charles Dickens, Emílio (1928) de de E. Kaestner, Gulliver (1726) de J. Swift, Heidi (1881) de J. Spyri, Huckelberry Finn (1885) de Mark Twain, Kim (1901) de Kipling, Mary Poppins (1934) de P. Travers, Miguel Strogoff (1875) de Júlio Verne, Mowgli (1894) também de Kipling, Patinho Feio (1835) de H. C. Andersen, Peter Pan (1911) de Barrie, Peter Rabbit (1902) de B. Potter, Pinóquio de Collodi (1883), Principezinho (1943) de Saint-Exupéry, Puff (1926) de Milne, Robin dos Bosques (1883) de Pyle, Robinson Crusoe (1719) de Daniel Defoe, Sandokan (1900) também de Salgari, Sherlock Holmes (1886) de Conan Doyle, Pequena Sereia e o Soldadinho de Chumbo (1835) também de Andersen, Tarzan (1912) de Burroughs ou Tom Sawyer (1876) de Twain?
A literatura tonifica o imaginário e atribui competências percepcionadas na vida adulta. Mas não só. Em boa hora, por exemplo, decorrerão em Santo Tirso, a 21 de Março do corrente ano, no âmbito da iniciativa “A poesia está na rua”, as “24 horas de Poesia, sob o lema “A poesia faz bem à saúde”. O aviso, publicado em vários jornais nacionais, informa que “um grupo de declamadores irá percorrer casas particulares, lares, associações culturais e desportivas, instituições de solidariedade social, farmácias, escolas, bombeiros, fábricas e outras instituições interessadas. A ideia é levar a poesia às pessoas demonstrando que a leitura de textos literários constitui um salutar exercício de comunicação e um momento raro de terapia para quem lê e para quem ouve.” Assim:
1) a poesia é a exaltação do mínimo ;

A magnólia (Luiza Neto Jorge)

A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.
Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária,e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.
A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.

2. a poesia é um navio de espelhos;

[O Navio de Espelhos] (Mário Cesariny de Vasconcelos)
O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o obriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

E no mastro espelhado
Uma espécie de porta

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
e o corpo sobe aos mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo


3. a poesia é compor de várias maneiras;

PASTELARIA (Mário Cesariny de Vasconcelos)
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os
olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

4) a poesia é uma viagem a Elsinore;
You are welcome to Elsinore (Mário Cesariny de Vasconcelos)

entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas,que esperam por nós
e outras frágeis,que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
entre nós e as palavras,surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
e há palavras e nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além da azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
entre nós e as palavras ,os emparedados
e entre nós e as palavras ,o nosso dever falar.

5. a poesia é água pela cintura;

20 (António Franco Alexandre)

as primeiras coisas eram verdes ou azuis, com água pela cintura;
duras esmeraldas umas, outras animais, vibrantes
quando lhes toca a luz; o mais das vezes encostados
à parede do estábulo, com grandes olhos húmidos
e um precipício ao fundo (e as nuvens são o seu bafo).
e no entanto, visto à distância exacta, tudo se transforma:
o cenário do mundo é só um infinito espaço
cheio de coisa nenhuma, e a luz o puro efeito
de dois deuses menores que marcam o compasso.

é certo que, na chuva, o teu corpo anuncia
com seu distante olhar, um prazer que não cabe
na estreiteza da fábula; um céu, não duvidemos,
acolhe o terno gesto que não foi.
já na parede a meio branca traço, a contragosto,
o tempo mal passado que apodrece; e ruminante encosto
ao tampo de água o bico ou pincel fosco
onde surgira, de repente, nada.

os portões oscilam, e a erva adiante, se nos aproximarmos.
claramente vejo como te divides
num infinito número simultâneo de mundos.
as palavras celebram, mudas, a água na paisagem,
verde ou azul, conforme desejaste.
avanço imóvel, descalço sobre a erva,
e quando fecho os olhos invade-me a luz por dentro
compacta, completa, como as coisas primeiras.

6. a poesia é, por último, uma rosa de espuma.

XI (Mário Cesariny de Vasconcelos)

queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma

A literatura é um bem inestimável. Cardiologistas há que referem as virtudes terapêuticas da poesia. A este lugar de ninguém que é a literatura nunca se chega suficientemente. Antes convém lembrar a admonição de Italo Calvino, em Seis propostas para o próximo milénio, decorrentes das conferências Charles Eliot Norton Poetry Lectures de 1985-1986, em Harvard. Nessa obra post-mortem, incompleta, Calvino destaca os seguintes valores literários: a leveza (lightness), a rapidez (quickness), a exactidão (exactitude), a visibilidade (visibility), a multiplicidade (multiplicity) e a consistência (consistency). É este, talvez, o mistério da arte literária. Esgotada a literatura, outro texto nasce da mesma cinza para iluminar as trevas e a vulgar cegueira.

Referências

CALVINO, Italo (2002) – Seis propostas para o próximo milénio (Lições americanas). Inclui o texto inédito Começar e Acabar, Lisboa, Teorema.
COLOMER, Teresa (1999) – introducción a la literatura infantil y juvenil, Madrid, Síntesis Educación.
DERRIDA, Jacques (2003) – Che cos’ è la poesia?, Coimbra, Angelus Novus.
GOMES, Ana Ribeiro (2006) – “A magia de Harry Potter – Literatura Infanto-Juvenil”, in Xis.
HUIZING, Klaas (2001) – O Bebedor de Livros, Lisboa, Círculo de Leitores.
SAMPAIO, Daniel (2006) – “O gosto por ler romances”, in Xis.
SAMPAIO, Fernando Luís (2005) – Falsa Partida, Lisboa, Assírio & Alvim.

antemanhã

margarida delgado

!: obrigado a todos pela respiração assistida

?

...

2006-03-14

a lei da moderada decepção




cansado da espera e do árduo sentimento
recolho a penates desiludido com o silêncio
da casa afectiva por mim lincada no azul
não mais palavras nem ínvios olhares
só água gelada colhida no sonho e no fio
da vida que esta esfera não é ou poderá ser
aqui houve arte, técnica, linguagem e política
e saber artesanal de finas e transparentes luzes.

à sombra do convento
também pascal chora a morte -
que ninguém morre tão pobre que nada deixe atrás de si.

ressuscitarei às 15 chamadas. comentários, digo.

2006-03-12

parábola estéril

"Na verdade, faz tanta pena, recordar!" (Celestino Gomes, Jornadas de borda-de-água. Parábolas - Homens - Terras )

2006-03-11

Pedro Homem de Mello: à beleza da poesia



1. Tantos outros morreram na memória, enquanto Pedro Homem de Mello, deslembrado e marcado pelo estigma dos diferentes, mantém uma força indesmentível nos seus signos agudos e modernos. Espantou-se o mundo, principalmente o “mais literário”, por norma atento a celebrações e panegíricos, com o silêncio. Cem anos passaram já (101, para ser preciso) sobre o nascimento do Poeta que em 1934 deitou a sua “Caravela ao Mar”. O país e os factores costumeiros da institucionalização da literatura mal se ouviram. Também por isso, e adentro deste “hospital das letras” que vou construindo, lembro que Pedro Homem de Mello nasceu no Porto, em 1904, e aí faleceu, em 1984, depois de uma vida como poeta, advogado, professor e folclorista.
Aproximando-se do mais puro lirismo português pela musicalidade, a poesia de Pedro Homem de Mello ultrapassa essa marca da tradição pela deflagração das emoções e do erotismo desafiador. A par, opera ainda uma tensão produtiva que assenta no rigor das palavras e na audácia das sugestões. E assim pode dizer-se que a simplicidade poética se funde com a complexidade resultante da ultrapassagem controlada dos fundamentos lógicos e tradicionais. Tal ambivalência conecta-se no plano temático, por exemplo, na problematização do Bem e do Mal ou do Corpo e da Alma.
Habitante do dissídio e das tensões em si criadas, um tanto à maneira de Cesário Verde parece sempre que a cidade de nascimento traz o pecado e o remorso (“Cidade oblíqua. Sexo pesado. / Raio de cinza, lúgubre e lento… / Bandeira negra, barco parado. / Cidade minha, do meu pecado…”), enquanto a quinta-convento de Cabanas, em Afife, convoca desde as primícias o retemperamento e a alegria (“Meio-dia em Afife. As matas de Cabanas / dormem tranquilamente e dorme toda a quinta. / A luz, bacante, exala ondas mornas, profanas, / Põe beijos sensuais e mel no seu aroma. / Oh! Que profunda paz!”, in “Caravela ao Mar”, 1934).
Criador de um cenário habitual em que as “aves, as plantas, o ar / Fizeram romaria…”, deseja ainda o Poeta captar os mistérios da distância e das ideias, nos seus abismos e conclusões mais desiludidos: “Quero partir…¿ mas de que serve andar / Se a terra anda comigo, / Se os meus passos imóveis, sem abrigo / São náufragos no mar?...” (“Jardins Suspensos”, 1937). Essa nota de decepção é ainda mais evidente e interessante, nomeadamente pelo cariz programático e metaliterário, em poemas como “Passos Perdidos” e “Arte” (ibid.), que aludem não só ao desvelamento do sujeito lírico e do poeta, mas também à função do artista que é a de reter “suavemente / Na sua voz doirada a doirada emoção / Do canto da corrente…”.
No dizer ponderado de José Régio, Pedro Homem de Mello é “um dos nossos mais verdadeiros” líricos. O asserto regiano é para nós responsabilizante. Nunca o autor de “Fado” foi homem de palavra vã ou excessiva. Espantoso é o silêncio distraído (?) das academias e dos homens da cultura. Como estranho foi o abandono do Poeta num lar de idosos, donde, por vezes, saía com João Braga e José Pracana, como aconteceu no dia em que almoçaram, pouco antes da morte, no restaurante Tavares.
Pedro Homem de Mello é um poeta admirável. De simplicidade complexa, reitero, avulta nele o apodo de lírico tensional: a indenegável modernidade da sua poesia advém da simplicidade de processos (novos, porque velhos) e da inextrincável presença de um religiosismo-paganismo poucas vezes tão sincero na poesia portuguesa. Talvez por isso João Gaspar Simões tenha afirmado, em 1944, que lia Homem de Mello com inebriamento. E, de facto, vinda do mistério, o mistério se afirma em cada expressão. No entanto, pouca poesia mais luminosa e mais radiante. Sempre contrastante, a poesia de Pedro Homem de Mello vive da tensão que habita o homem: “Piso uma estrada curta, definida. / Numa ilha de carne tenho a cruz / Donde a volúpia dos meus braços nus / Escorre em gotas rubras porque é vida.” (“Calvário”, in “Príncipe Perfeito”, 1945). Pode o dizer poético abrir-se à confidência pagã (“Beija-me o sol. Morde-me o vento.”), para logo se entregar à vertigem da religião tradicional (“O que seria o mundo sem a Igreja?”).
Em “Profecia” (ibid.), o Poeta diz escrever “para de hoje a cem mil anos.” Como o tempo passou depressa!...

2. Não mero efeito de quaisquer actos de leitura, sabe-se, não só para o caso de Pedro Homem de Mello, como o texto literário habita um espaço pluridiscursivo que afecta a criação e os sentidos. Por exemplo, o discurso crítico literário (por mim visto, no sentido de Yves Chevrel, como uma poética) altera muitas vezes o objecto principal, antes mesmo do encontro com o leitor e da fusão de expectativas.
Por isso, afirmo entender a função judicativa literária como uma aproximação à obra e um “mostrar de si”, ou seja, o crítico revela e revela-se, aprofundando uma relação de objectos diferentes e, contudo, dependenciais. Da capacidade de inscrever a arte sacral do julgamento depende ainda a entrada na doxa corporativa.
Não é essa estrada de Damasco que procuro. Longe disso, afirmo-me com o texto dúplice. Lendo e mostrando-me a partir da urdidura dos signos originais. Nesta arte do restauro em que mergulho desde há muito, em hospital de letras continuado, existe muito de mim e muito mais dos outros. A sintagmática do epimítio fabular é por isso, persistente leitor, uma incisão reparadora. Contra o descaso ou a distracção, as palavras que liberto serão sempre dádiva recebida que assustadamente transmito. Com pudor, silenciosamente espantado pela cegueira.
Repito: Pedro Homem de Mello e a sua poesia derretem o gelo que da leitura desce. Pouca modernidade é tão profunda e caudalosa como aquela que se afirma elementar e natural em versos despretensiosos e agudos. Quem não admira aquele poema intitulado “Prefácio” (“De nada sei / Como as rosas. // De nada sei / Como as nuvens. // De nada sei / Como as pedras / Que nada sabem de mim.”) que é iluminação para a obra do Poeta e destino de mais de oito séculos de poesia? Alimentada nos “celeiros da poesia medieval” (João Gaspar Simões), o contacto com os textos de Homem de Mello rastreia um passado e mostra o futuro.
Como atrás disse, talvez de forma velada, a sorte de um poeta ou de um escritor não depende apenas do texto. Muita da ganga envolvente esconde e marginaliza sem piedade, rotulando maldosamente. No silêncio, texto e poeta morrem de asfixia e de “mesmidade”.
Abro ao acaso “Eu hei-de voltar um dia” e logo deparo com a força sugestiva do poema “Canção derradeira” que diz: “Minha Mãe deitou-se… / É noite!”. Esta secura produtiva de sentidos e esta estética da sugestão são modo recorrente e habitual em Homem de Mello e em cada sílaba sonante.
Assim, sem favor, direi, também no sentido de Walter Benjamin, que a obra de Pedro Homem de Mello é sintética e “central de energia”, pronta a ser usada e “gostada”. Enérgica e sensual, esta é uma poesia que se entrega ao leitor e se dá ao coração, como o diz exuberantemente a primeira quadra que fecha “Eu hei-de voltar um dia” (1966): “Versos, meus versos, ide a toda a gente / Levar este ciúme, oculto em brisa, / Se é que ainda estou – eterno adolescente - / No mundo que do amor ainda precisa!”.
Sem escola ou fronteira, Pedro Homem de Mello é um poeta forte da nossa literatura. Muito do descaso terá sido acaso da vida ou apressada desatenção. Afinal, ler pelos outros é trabalho ingrato e falacioso. Temível é, neste caso, o homem de um livro só ou mesmo de poucos.
Para dar passagem “à beleza e à poesia”, deve o leitor, se ainda “loiro e puro adolescente”, ouvir a prece das canções ardentes, porque a leitura e a diversidade dela será sempre uma questão de idade. Quem vem ser adolescente, com Pedro Homem de Mello, no sopro do vento?





2006-03-10

catch (III)









corto com as mãos a fúria discursiva, que, tantas vezes, é cinza quase inútil...