2015-03-26

[mundanal]

[mundanal]

é nos olhos que o mundo arde.

rápido como estação em fuga
do horizonte ao cerne ´prime
sobre o corpo e os ombros cai
tomando os estuários da pele
os vestígios fundos do tempo
todo o torcicolado dos lugares
por onde um dia foste amaste.

nessa morada ardente única
uma língua fendente é lâmina
que marca o espaço o incêndio
essas coxas de ti emergentes
como serpente dentro da praia.

fundente no abismo escorrego
durmo nesta paz química de ti
vinda onde desatento te beijo
na espuma que dos dias deploro.

é nos olhos que arde isto – e posso.

2015-03-22

[noturna]

[noturna]

é de noite que te vejo ao longe
junto a mim como olho à retina
e desse abismo vem um sorriso
o canto breve das mãos o fogo
aberto nos dentes como letras
prodigiosas invadindo o sangue.

é de noite que enches o silêncio.

2015-03-21

[mitologia cerce]

[mitologia cerce]

que mal haverá neste silêncio
se o que calo é só meu e teu
e o logro da palavra é dizê-la?
nada digas disto  nada sabes
dos abismos siderais e da pele.
talvez um dia longe romper
possas o que não deves dizer.
cala o fogo a festa dos dedos
os rumores fundos os mares.
recolhe os olhos e os sonhos
e devém sombra mitológica.

2015-03-19

[corporal]

[corporal]

entre a raiz e o corpo
o ar é uma península
e insinuação na pele.

das mãos aos lábios
os ângulos fundentes
pintam no horizonte
a rota mandibular.

mastigo quase mordo
o tempo plantado na mesa
em riste o breve seio
acaba comido – os dentes.

às vezes o corpo sempre é.

2015-03-18

[língua]

[língua]

é de água nas vértebras que falo
de uma fria pedra afiada – a língua.
contra  a carne flete agita os dedos
respira a humidade breve – a língua.
a língua escreve a língua nas veias
e sitiada rasga os dias as noites…

na língua o beijo que na língua cai.