2015-06-30

[de súbito a morte]

[de súbito a morte]

esse incêndio que meus olhos viram nos teus, amigo,
não poderia  ser tal rio negro de morte que urgente
te arrebatou de nós para longes e muros escuros…
antes um modo de encanto um clarão sorridente
tomando-nos a mão e não uma rebentação de cal.
olhos que escreviam rumos rotas geodésicas vias
não poderiam ser tais barcos de soturnos líquidos.
nos vidros nestes olhos o inverno rompe o calor
devora a estação quente e arde dentro de mim.

[poema para J. L. I. V., de nós afastado…]

2015-06-19

2015-06-18

[do sol]

[do sol]

ao canto um rosto anunciava-te
como ângulo histórico ou montra
e desse eco já perdido na corrente
uma luz original brilha desse longe.
como perder a face esta memória
que lustral desliza nesses dedos?
que fatal corrente assim desliza
que bebemos e é segredo quente?
tal o sopro que ouço e me é sol.

2015-06-14

[casa emergente]

[casa emergente]

era no centro da praça
esse lugar de encontro
entre mim e a pessoa
que comigo envelhecia
nas veredas e atalhos
da minha breve viagem
na galáxia da existência.

cheguei mudo saí calado
pela orla direita da fonte
onde uma água antológica
vertia os melhores líquidos
para um íntimo pátio de mim.

levava-nos daí  uma claridade
vinda dos interstícios da pele
onde minuciosa a persiana
tombava fechando os dias.

tudo se lia no livro nas pontes
insinuadas nas mãos nos dedos
lábeis cortando os fios de luz
que urgentes assim aconteciam.

como o tempo que de mim nisto
que febre adormecida na vocação
de abraçar os tetos os telhados altos?

2015-06-04

[mundividência]

[mundividência]

era nos dedos que te deitavas então
nesta pele sem pecado que ora trincas.
quanta azáfama na seda quanta sede
de cedo chegar e ocupar-te tudo isso?
contra a chuva tu explodias na estação
de sermos naquele lugar de sombra…
como o equilíbrio o corpo estua agora
neste mar de junho nesta boca coroada
e hora sobre hora o silêncio vem rendido.
às vertentes de mim chegas neste rota
neste tempo em que a aldeia é o mundo.

2015-06-03

[docilidade]

[docilidade]

dir-me-ás o que quiseres
e assim se fará esta estrada
onde os dedos são motores
e o coração o espelho do dia.

e mesmo as velhas memórias
de glória e outros caminhos
mais não serão agora que fel
e tempos idos em desalinho.

nesta casa onde sou e tu serás
se puderes não esqueças o som
que é silêncio e tantas coisas
até respiração e boca topográfica.

um rio assim é água doce canção.