1. O Padre Bento Pereira nasceu em Borba, no ano de 1605, vindo a falecer em Évora a 4 de Fevereiro, “no estado de imbecilidade”, como o afirma Inocêncio Francisco da Silva. Filho de Francisco Pereira e de Catarina Rodrigues, alistou-se em Lisboa na Companhia de Jesus, a 27 de Junho de 1620.
Jesuíta, Doutor em Teologia, Qualificador de livros em Roma e Reitor do colégio dos Irlandeses em Lisboa, Bento Pereira é ainda conhecido por ter publicado em 1634 uma obra intitulada
Prosodia in vocabularium trilingue Latinum, Lusitanum & Castellanum digesta (Évora, Emmanuele Carvalho), que obteve assinalável êxito, como o comprovam as várias edições que vieram a lume, gradualmente ampliadas e alteradas. Para além desta, conhecem-se as de 1643, 1656, 1661, 1669, 1674, 1683, 1697, 1711, 1723, 1732, 1741 e 1750.
Mas não se ficou por aqui o labor do filólogo jesuíta. Antes ainda de ter saído a mencionada e cultivada obra, já Bento Pereira publicara o
Vocabularium bilingue Latinum et lusitanu (1632), logo se seguindo
Pallas togata, et armata documentis politicis in problemata humaniora digestis (1636),
Thesouro da lingoa portuguesa (1647),
Florilegio dos modos de fallar, e adagios da lingua portugueza (1655),
Academia seu respublica litteraria utiliter et nobiliter fundata, legibus ac moribus instituta, privilegijs munitá, ludis ac certaminibus litterarijs exercita (1662),
Promptuarium juridicum: quod scilice in promptu exhibebit rité ac diligenter quaerentibus omnes resolutiones circa universum jus Pontifici~u, Imperíale, ac Regium Promptuarium juridicum: quod scilicet in promptu exhibebit rité ac diligenter quærentibus omnes resolutiones circa universum jus Pontifici~u, Imperíale, ac Regium (1664) e a
Ars grammaticae pro lingua lusitana addiscenda latino idiomate proponitur (1672). Deixou ainda um conjunto de obras manuscritas prontas para impressão.
2- A
Prosodia in Vocabularium Bilingue, Latinum, et Lusitanum, Digesta, in qua dictionum significatio, et syllabarum quantitas expenditur do Padre Bento Pereira é, sem dúvida, uma fonte privilegiada para a delimitação do chamado “Tesouro da Língua Portuguesa”. De facto, o repositório lexical e idiomático nele plasmado, com dilatado espaço de leitura (e relembro que houve, no nosso país, edições entre 1634 e 1750), foi um lugar amplamente frequentado e repercutido por privilegiados falantes, que terão, também por essa via, modelizado o discurso colectivo. A obra em apreço, original e lexicalmente rica, mostra a amplíssima “enciclopédia de referência”, que abrange um vasto universo do saber possível de então. Acresce ainda, com acuidade indiscutível, que a obra revela sempre um escritor dotado de elevada competência linguística e metalinguística, bem como de uma consistente competência cultural, apoiada sempre por específica e copiosa bibliografia indicada no início da obra. Avulta também que os exemplares observados, de edições diversas, reflectem traços de manuseio, alguns mesmo com anotações de diferentes épocas – eis, pois, outro claro sinal da influência da
Prosódia na modelização do discurso colectivo.
Dito isto, direi que a obra que trabalho é um texto sem possibilidade de negação e verdadeiramente positivo, sendo:
a) um indenegável “teatro da erudição”;
b) um privilegiado objecto cultural conformador da língua portuguesa;
c) um relevante espaço de fixação de uma sociedade dramática e gesticulante, de acordo com o diagnóstico de Maravall ao tempo barroco;
d) um exemplificativo caso de como a pragmática do tempo agia sobre o escritor e promovia o fim pedagógico da acção cultural;
e) um caso ecdótico complexo, não tanto pela ilegibilidade textual , mas mais pelos problemas de colação que um texto em fólio deste tamanho sempre comporta, tanto mais que as edições e alterações são inúmeras.
Em suma, como o diria um Klaas Huizing, influenciado por Derrida, a “ciência só ganhou em continuidade e constância com o apogeu da arte da leitura correcta, isto é, da filologia.”
Friso: a
Prosódia do Padre Bento Pereira é uma obra frequentada e repercutida por falantes privilegiados, cuja riqueza lexical deriva também da enciclopédia de saber que comporta, não espantando por isso a sua ampla difusão e as edições frequentes durante um século. Lida e vivenciada por um vasto público, a Prosódia é ainda o espelho da mentalidade seiscentista e das suas particularidades inibidoras e arrebatadoras. Não pode deixar de ser também o mais precioso legado de um filólogo laborioso que colheu o aplauso do seu tempo e do porvir. Dos depoimentos a seu respeito, realço aquele do Padre Francisco de Fonseca que o diz “homem de costumes inculpáveis”…
Por dentro, é bom que em breve comece a falar o miolo do texto, que permite a intuição de imagens vínicas com alguns séculos. Até lá, concluo dizendo:
“A filologia é essa venerável arte que em primeiro lugar reclama do seu adorador que a acompanhe, que dê tempo ao tempo, que esteja tranquilo, que seja vagaroso – como uma ourivesaria da palavra, de onde tem de sair o trabalho mais puro e cuidadoso, mas de onde não sai nada que não seja feito devagar. Ela própria não o acaba nunca; ensina a ler: ou seja, devagar, profundamente, cuidadosamente, com outros pensamentos, portas que se deixam abertas, dedos suaves e olhos amorosos. Filólogo é aquele que ensina a ler devagar.”
3. A edição da Prosódia de que me vou servir para captar as imagens vinárias do Seiscentismo português e da cultura universal é a última, a de 1750. As razões desta opção prendem-se com a integração de materiais que sempre foi sendo feita ao longo das diferentes vindas a lume, fácil sendo pressupor que a derradeira edição conhecida contenha maior número de elementos.
Assim, e dentro do
Vocabularium Bilingue, Latinum, et Lusitanum, destaco as seguintes entradas:
Thyas, dis, f. g. A Sacerdotiza de Baccho, sacrificado.
Thyasotae, arum, m. g. pl. Os Sacerdotes que sacrificavão a Baccho.
Thyasti, orum, m. g. pl. Os dançadores nas festas de Baccho.
Thyasus, i, m. g. A dança, ou coro de virgens em hora de Baccho.
Uva, ae, f. g. A uva, fructo de vide.
Uva taminia. Uva, ou baga da norza negra.
Uva ollaris. Uvas de pendura, q~ guardavão metidas em panellas de barro.
Uvula, ae, f. g. dim. Uvasinha, pequena uva.
Uveus, a, um. Cousa de uvas, ou semelhante a uvas.
Uvifer, a, um. Cousa que traz & dá uvas, fertil de uvas.
Vindemia, ae, f. g. A vindima, a colheita das uvas; item as uvas.
Vindemiola, ae, f. g. dim. Vindimasinha, pequena vindima, &c.
Vindemialis, & le. Cousa das vindimas, &c.
Vindemio, as, avi, atum. Vindimar, colher, recolher as uvas.
Vindemiator, is, m. g. O vindimador.
Vindemiatorius, a, um. Cousa de vindima, pertencente à vindima.
Vindemitor, is, m. g. O vindimador
Vinea, ae, f. g. A vinha, o vinhago, trato da vinha.
Vinealis, & le. Cousa de vinhas, ou boa para vinhas.
Vinearius, a, um. Cousa de vinhas, ou pertencente a vinhas.
Vineaticus, a, um. Cousa de vinhas.
Vinetum, i, n. g. O vinhago, lugar, & campo de vinhas, as vinhas.
Vingidemia, ae, f. g. A vindima.
Vinitor, is, m. g. O vinheiro, cultivador de vinhas, vindimador, &c.
Vinitorius, a, u. Cousa de vinheiro.
Vinum, i, n. g. O vinho.
Villum, i, n. g. Vinhote, vinho fraco.
Vinacea, orum, n. g. pl. O bagulho da uva; item o bagaço da uva.
Vinaceae, arum, f. g. pl. Os bagulhos, ou bagaço da uva.
Vinaceus, a, um. Cousa de uva, bagulho, ou bagaço.
Vinalia, u, n. g. pl. Festas do vinho a Baccho, ou a Jupiter aos vinte, & tres de Abril, outras aos vinte de Julho.
Vinarius, ij, n. g. O vinhateiro, que vende vinho, item o bebado.
Vinarius, a, um. Cousa de vinho, pertencente a vinho.
Vinarium, ij, n. g. A taverna, ou taberna, casa, em que se vende vinho, copo, ou vaso de vinho.
Vinaticus. Cousa de vinho.
Vinibua, ae, f. g. A bebedora de vinho, a bebada.
Vinifer, a, um. Cousa que traz, leva, ou dá vinho.
Viniferum, i, n. g. O fresco, pichel, borracha, ou vaso de vinho.
Viniperda, ae, m. g. O bebedor, ou entornador do vinho.
Viniphorus, i, m. g. Vaso ou pessoa, que leva vinho.
Vinipotor, is. m. g. O bebedor de vinho, ou o bêbado.
Vinipotus, a, um. Cousa bebada, ou bebedora de vinho.
Vinolentus, a, um. Pessoa bebada, bebedora, ou toldada de vinho.
Vinolentia, ae, f. g. A bebedice, toldaçaõ com vinho.
Vinologia, ae, f. g. Tratado, ou discurso sobre o vinho.
Vinosus, a, um. Pessoa Bebada, farta de vinho, ou muito amiga de vinho; item cousa semelhante, ou que sabe a vinho.
Vinositas, tis, f. g. Inclinaçaõ, appetite demasiado a vinho, à bebedice; item semelhança, ou sabor de vinho.
Vingum, i, n. g. Vinho.
Vitis, is, f. g. A vide, a videira, a parreira.
Vitis alba. Norza branca. Vitis nigra. Norza negra.
Vitis sylvestris. Vide brava, herva semelhante nas folhas à herva moura.
Vitis arbustiva, seu maritata. Videira junta, & subida sobre arvore.
Viticula, ae, f. g. dim. A vide pequena, videirasinha, &c. Itê o elo da vide, ou de outra planta, ou herva, com que se pega, & ata, ao que alcança.
Vitesco, is. Fazer-se vide, crescer a vide.
Viteus, a, um. Cousa de vide, pertencente a vides, &c. (ou de vinho.)
Vitiarium, ij, n. g. Viveiro de Bacelo, Bacelo para plãtar.
Viticionia, ae, f. g. Parreira castiça.
Viticula, ae, m. g. O cultivador da vinha.
Viticultor, is, m. g. O cultivador da vinha.
Viticulu, i, n. g. O Bacelo, ou garfo da vide.
Vitifer, a, um. Cousa, que traz, tem, ou produz vides, vinhas, &c.
Vitiginens, a, um. Cousa de vide, ou que nasce de vide, &c.
Vitigineus latex. O vinho, &c.
Vitisator, is, m. g. O plantador, & cultivador de vinhas.
Vitisco, is. Fazer-se vide, crescer a vide.
Ultrapassadas as 1064 páginas do
Vocabularium Bilingue, continua-se a
Prosódia com o
Thesouro da Língua Portugueza, aí vertendo o Padre Bento Pereira o conjunto de palavras de maior uso epocal. Relativamente aos vocábulos aí plasmados, destaco, para o nosso fim, os contidos na linguagem subsequente:
Agoado vinho. Vinum aquâ dilutum, vel commistum.
Bacelo. Novelletum.
Bacelo de vides machas. Masculetus, i.
Baceleiro. Novelleti custos.
Cepa. Mater vitis.
Cepa com vides. Vitis brachiata.
Cerca de vinha. Antes, ium.
Frasco de esfriar vinho. Apyrotum, i.
Frasco de vinho. Oenosorium, ii. Lagena, ae.
Lagar de vinho. Lacus, i. Torcular, aris.
Mosto. Mustum, i. Protropum, i.
Muscateis uvas. Uvae apianae.
Pinga. Stilla, ae. Gutta, ae.
Pinguinha. Guttula, ae.
Poda. Putatio, onis.
Podada cousa. Putatus, a, um.
Podadeira fouce. Falx putatoria.
Podador. Putator, oris.
Podadura. Putatio, onis.
Podaõ. Falx putatoria.
Podar. Puto, as.
Podar de polegar. Vitem ad pollicem tondere.
Redrar vinhas. Repastino, as.
Tasquinha. Asserculus, i.
Tasquinhar. Asserculo linum quatere.
Taverna. Caupona, ae. Taberna, ae. Ganea, ae.
Taverneira. Caupona, ae.
Taverneiro. Caupo, onis. Tabernarius, ii.
Taverninha. Cauponula, ae.
Vez de vinho. Vini sorbitio, vel haustus.
Vide, ou videira. Vitis, is.
Vide pequena. Viticula, ae.
Vide deitada de cabeça. Candosoccus, i.
Vide de enforcado. Vitis arbustiva.
Vide de mergulhão. Propago, inis. Tradux, ucis.
Vidonho. Genus, seu progenies vitis.
Vindima. Vindemia, ae.
Vindimador. Vindemiator, oris.
Vindimadura. Vindemia, ae.
Vindimar. Vindemio, as.
Vinhaça. Vappa, ae.
Vinha. Vinea, ae.
Vinhago, ou vinhadego. Viniarium, ii.
Vinhateiro. Vinarius, ii.
Vinhataria. Vinetum, i.
Vinheiro. Vinitor, oris.
Vinhete. Vinum, i.
Vinho. Vinum, i. Bacchus, i.
Vinho puro. Merum, i.
Vinho branco. Vinum album.
Vinho trasfegado. Vinum diffusum.
Vinho de pez. Vinum picatum.
Vinho de cheiro. Vinum odorum.
Vinho fino. Vinum pramnium. Falernum.
Vinho tinto. Vinum rubeum.
Vinho palhete. Vinum heluum, vel signium.
Vinho de pouca dura. Vinum fugies.
Vinho botado. Vappa, ae.
Vinho de repiso. Vinum tortivum.
Vinho donzel. Vinum lene.
Vinho de toneis. Vinum doliare.
Vinho aguado. Vinul delutum.
Vinho forte. Vinum acre.
Vinho de fóra. Vinum externum.
Vinho da terra. Vinum vernaculum.
Vinho aziumado. Vinum acrebum.
Vinho verde. Vinum austerum.
Vinho limpo. Vinum defaecatum.
Vinho velho. Vinum annosum.
Vinho novo. Vinum novum.
Vinho de quatro annos. Vinum quadrimum.
Vinho de tres annos. Vinum trimum.
Vinho de dous annos. Vinum binum.
Vinho deste anno. Vinum hornum.
Uva. Uva, ae.
Uva espim, ou espinha. Uva crispa.
Uva passada. Uva passa.
Uva azeda. Uva acerba.
Uva temporãa. Uva praecox.
Uva serodia. Uva serotina.
Uvas de pendura. Uvae pensiles.
Uvas rosas. Uva hervolae, seu herveolae.
Uvas de boa casta. Uvae generosae.
Uvas bravas. Uvae taminiae, sylvestres.
Uvas pintas. Uvae variantes.
Uvas de urso pilritos. Ribes, is.
Uveiras. Vites arbustivae.
Segue-se, na ordem, a
Primeira Parte das frases portuguezas,
a que correspondem as mais puras, & elegantes Latinas: como tiradas de Marco Tullio, & outros Authores de primeira classe, ocupando as páginas compreendidas entre a 1229 e a 1296. Cito, de seguida, passos exemplares:
Beber muito vinho. Vino se obruere, immergere, ingurgitare.
Plantar vinhas, pôr bacelo. Vineam constituere, conferere. Vites ponere.
Cavar a vinha. Vineam pastinare. Scrobes facere.
Tornar a cavar a vinha. Vineam repastinare.
Podar a vinha. Sarmenta abscindere. Sarmentis vineam expurgare. Luxuriantes vites falce putatoria coercere.
Escavar a vinha. Vites ablaqueare.
Deitar cepas de cabeça. Vineam propagare.
Empar a vinha. Vineam pedare, impedare. Vites palis fulcire.
Aguar o vinho. Vinum infulâ aquâ diluere, domare, mitigare, jugulare. Vinum lymphare.
Arrobar o vinho. Vinum defruto dulcorare, sapam temperare.
O vinho demasiado embota o engenho. Vinum immod cum mentis in aciem hebetat, ingenii acumen obtundit.
Entre a página 1296 e a 1324, situa-se a Segunta Parte dos Principaes Adagios Portuguezes, com seu latim proverbial correspondente, que contém também algumas tiradas que permitem intuir um modo societal:
Bebe como funil. Dolium inexplebile.
Bebe como hum forneiro. Nec elephantus ebiberet.
Imagens vinárias na Prosódia do Padre Bento Pereira (1605-1681)
Bebello, ou vertello. Hic vobis vincendum, aut moriendum.
Depois de beber, cada hum dâ seu parecer. Bona est ossa post panem.
Depois da vindima cavanejos. Post vulnera clypeus. Item Hedera post Anthiteria.
Naõ se arrancando a sylveira, padece a videira. Rubo neglecto, vitis impetitur.
O bom vinho a venda traz consigo. Ou o bom vinho não ha mister ramo. Vino vendibili suspensa hedera nihil opus. Laudato vino non opus est hedera.
O medo guarda a vinha, e não o vinheiro. Timor optimus custos.
Por carne, vinho, e paõ deixo, quantos manjares saõ. Panis, vina, caro mihi sint, & caetera linquam.
Porcos com frio, homens com vinho fazem graõ ruido. Vina viros agitant, strepitantes frigora porcos.
Quem com o demo cava a vinha, cõ o demo a vindima. Daemonium vendit, qui daemonium prius emit.
São Miguel das uvas, tarde vens, e pouco duras. Pascha Diu optatum transigit una dies.
Se não bebo na taverna, folgo-me nella. Leontini semper circa pocula.
Sobre peras vinho bebas. Post pyra posce merum, vel mortis ad ostia clarum.
Vinho velho, amigo velho, ouro velho. Annosum vinum, socius vetus, & vetus aurum. Haec sunt in cunctis trina probata locis.
Já na
Tertia Pars Selectissimarum Descriptionum, quas idem auctor vel olim à se compositas, vel à probatissimis Scriptoribus emendicatas alphabetico ordine digessit, entre as páginas 1325 e a final, citam-se trechos descritivos, provenientes de autores clássicos, partindo das palavras latinas Ebrietas e Ebrius.
Cumprida está a perquirição pela Prosódia do Padre Bento Pereira. Não tendo esgotado as possibilidades mostrativas do labor do clérigo jesuíta, penso, no entanto, que os exemplos apresentados são suficiente imagem das temáticas vinárias do passado e, pensando bem, do presente.
CONCLUSÃO
A
Prosódia do Padre Bento Pereira é uma obra que reúne muito do saber possível na sua época. Percutida por falantes privilegiados, espelha ainda os modismos sociais e os ritos ligados às actividades do mundo do trabalho. E, assim, não espanta que do monumento lexical que é a obra em apreço seja possível intuir imagens vinárias que se levantam das palavras e expressões portuguesas e latinas.
Em simultâneo, permitem as amostras lexicográficas o estabelecimento de um objecto pedagógico-didáctico que serve a inúmeras práticas gramaticais. Lembro, entre inúmeras hipóteses, os trabalhos de enriquecimento lexical, a formação de palavras, os actos ilocutórios, os campos lexicais, os sinónimos, os hipónimos e os hiperónimos, que serão conteúdo escolar entre o 10º e o 12º ano.
Um grande e jovem poeta contemporâneo de nome Manuel de Freitas não resiste muitas vezes a levar para dentro da poesia o elemento vínico. Em “Lagar”, ouve-se mesmo: