2006-10-31
Teologia do Corpo
Durante 5 anos, todas as Quartas-feiras, João Paulo II dedicou 129 Catequeses a explicar o Amor Humano no Plano Divino, aquilo a que chamou a "Teologia do Corpo".
Ajudando-nos a perceber o plano original de Deus para o Homem, esclarece-nos sobre o sentido último da nossa vida e como, desde já, somos chamados a ser analogia, vislumbre, antevisão da própria comunhão trinitária.
Somos feitos à "imagem e semelhança de Deus", não apenas por sermos dotados de espírito, mas principalmente, porque o nosso espírito encarna num corpo que revela e realiza a vocação para a comunhão.
Assim o nosso corpo e concretamente a nossa sexualidade, vivida no matrimónio ou no celibato, é caminho de santidade.
George Weigel diz sobre a Teologia do Corpo "trata-se de uma bomba-relógio teológica prestes a explodir ... talvez no século XXI".
Para saber mais venha assistir a esta conferência de Anastasia Northrop, Presidente da Aliança Internacional da Teologia do Corpo
queda
jaz na gaveta fechada
entalada nos dedos
fundos do mar.
nua a carne
devolve a pele
e um fio de sangue
cai a pique.
a mão na palma
trespassada.
2006-10-30
fenda
inscrevendo no sangue
a secura dos ossos
e o dia que acaba.
e só agora sei o céu
arterial que percorro.
feito víscera de ti
insónia sobre o corpo cai.
uma pedra dentro
que o relâmpago fende.
2006-10-28
outubro finda
já sem zinco atravessados
pelos fungos e pelas frases
escuto ainda o furtivo amor
e a esquiva luz pelas janelas
o segredo que me dizes
é um corredor branco sem memória.
receita de jovialidade de Pablo Picasso
Isso inclui idade, peso e altura.
Deixa o médico preocupar-se com eles.
É para isso que ele é pago.
Frequenta, de preferência, amigos alegres.
Os de "baixo astral" põem-te em baixo.
Continua aprendendo...
Aprende mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa.
Não deixes o teu cérebro desocupado.
Uma mente sem uso é a oficina do diabo.
E o nome do diabo é Alzheimer.
Curte coisas simples.
Ri sempre, muito e alto.
Ri até perder o fôlego.
Lágrimas acontecem.
Aguenta, sofre e segue em frente.
A única pessoa que te acompanha a vida toda és tu mesmo.
Mantém-te vivo, enquanto vives!
Rodeia-te daquilo de que gostas: família, animais,
lembranças, música, plantas, um hobby, o que for.
O teu lar é o teu refúgio.
Aproveita a tua saúde;
Se for boa, preserva-a.
Se está instável, melhora-a.
Se está abaixo desse nível, pede ajuda.
Não faças viagens de remorso.
Viaja para o Shopping, para a cidade vizinha, para um país estrangeiro,
mas não faças viagens ao passado.
Diz a quem amas, que realmente os amas, em todas as
oportunidades.
E lembra-te sempre de que:
A vida não é medida pelo número de vezes que respiraste, mas pelos
momentos em que perdeste o fôlego:
de tanto rir...
de surpresa...
de êxtase...
de felicidade..."
"Há pessoas que transformam o Sol numa simples mancha amarela, mas há
também as que fazem de
uma simples mancha amarela o próprio Sol"
Pablo Picasso [texto enviado por Jacinto Figueiredo]
2006-10-27
2006-10-26
a força da tragédia
2006-10-25
"Um homem para a eternidade"
JOVENS PROFISSIONAIS CATÓLICOS
EXIBIÇÃO DO FILME “UM HOMEM PARA A ETERNIDADE”
A associação Jovens Profissionais Católicos tem a honra de convidar V. Exª para a exibição do filme “Um homem para a eternidade”, seguida dos comentários do Cónego João Seabra.
Este filme, de 1966, vencedor de 20 prémios cinematográficos, ganhou 6 Óscares (actor principal, realizador, cinematografia, argumento, fotografia e guarda-roupa), com ainda 2 nomeações para actor e actriz secundários.
De imensa qualidade cinematográfica, reflectida nos inúmeros prémios ganhos, esta obra retrata a fé e fortaleza de um homem (São Tomás More), na fidelidade a Deus e à Igreja.
No século XVI, em Inglaterra, quando Henrique VIII se divorciou de Catarina de Aragão para casar com Ana Bolena, o Chanceler do Reino (Sir Tomás More) opôs-se claramente a esta decisão, pelo que foi encarcerado, julgado e decapitado, apesar da alta posição que ocupava na altura (primeiro-ministro). Com este filme, todo este processo é interpretado de forma magistral.
Pela sua heroicidade, Sir Tomás More foi proclamado santo, em 1935, pelo Papa Pio XI, sendo o padroeiro dos políticos.
Local/data: Igreja de São Nicolau (sala grande), no dia 31 de Outubro (3ª feira), pelas 21h15m
Duração: Filme (2 horas) e comentários (15 minutos)
Entrada livre
Centro Europeu de Estudos Avançados
CENTRO EUROPEU DE ESTUDOS AVANÇADOS - CEEA
O Centro Europeu de Estudos Avançados - CEEA, patrocionado pela PEDAGO, inicou a sua actividade no âmbito da formação avançada no p.p. dia 3 deOutubro, e surge para servir as necessidades de formação pós-graduada numa grande região económica e socioculturalmente identificável, cujo centro estratégico é a cidade de Viseu, até ao momento sem respostas eficazes a este nível. Colocando a exigência, a excelência e a avaliação nos melhores níveis internacionais, na base de um vasto conjunto de parcerias estabelecidas com prestigiadas Universidades do espaço europeu, o CEEA pode oferecer pós-graduações, MBA's, DBA's e doutoramentos em várias áreas científicas. Toda a responsabilidade científica, pedagógica e investigativa, incluindo a conferição dos respectivos títulos e graus académicos, pertence, exclusivamente, às Universidades parceiras. Os cursos são leccionados por um corpo docente composto, na sua maioria, por professores estrangeiros, com a participação de alguns professores portugueses, todos de reputado currículo académico de reconhecido valor científico nas respectivas áreas, a nível internacional. É o caso dos seguintes programas:
PROGRAMA DE MESTRADO OFICIAL E DE DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS EMPRESARIAIS, realizado em parceria com a Universidad Rey Juan Carlos, de Madrid. Este programa procura dotar o aluno de uma especialização no âmbito da empresa em geral e em particular nas suas distintas funções, nomeadamente: Direcção e Organização de Empresas, Direcção Financeira, Direcção deMarketing, Direcção e Administração, Contabilidade e Direcção de RecursosHumanos, de modo possibilitar uma actividade profissional no âmbito empresarial, assim como conhecimentos de investigação aplicada.Requisitos de Acesso: Licenciaturas afins às ciências empresariais.
PROGRAMA DE DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS DO TRABALHO, realizado em parceria com a Universidade de Cádiz (UCA). Este programa surge perante a necessidade de oferecer uma formação integrada que supra as actuais carências de recursos humanos, capazes de exercerem de maneira eficiente e eficaz a gestão de Serviços e de Empresas Públicas nos diferentes níveis organizacionais. Requisitos de Acesso: Quadros superiores da Administração Pública Portuguesa Central e Local, Advogados e Psicólogos bem como outros profissionais com formações afins às Ciências do Trabalho.
PROGRAMA DE MESTRADO OFICIAL E DE DOUTORAMENTO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE, realizado em parceria com a Universidade de Elche. Pretende-se com este programa, desenvolver uma perspectiva biopsicossocial no estudo e tratamento da doença, bem como nos processos de manutenção da saúde. Requisitos de acesso: Licenciados em Enfermagem, Medicina e Psicologia bem como outras áreas afins às Ciências da Saúde.
Documentos necessários ao Concurso de Acesso: Impressos de candidatura; fotografia do candidato; Certificado deHabilitações (consultar Secretarido); C.V.; B.I.
Horário: O Curso funcionará em Mangualde, em horário pós laboral.
Período de Candidaturas/MatrículasCandidaturas - 24 de Outubro
Matrículas - 31 de Outubro
Início do CursoNovembro de 2006, em data a anunciar proximamente.
Regime de Propinas: As propinas terão preços equiparados à média nacional. Poderão serefectuados pagamentos em três momentos do ano (Novembro, Fevereiro e Junho).
Contactos e Secretariado: Dra Isabela Marques - Tel: 96 477 24 98
2006-10-24
2006-10-23
À Louise Brooks: JudithTeixeira
No caso português, parece-me indesmentível que a agitação provocada por Judith Teixeira na década de vinte - até no seu jeito artístico, de penteado à "garçonne", para gerar um imaginário de figura feminina de acordo com o vigente modelo universal à Louise Brooks -, trouxe um importante contributo libertatário para a geração de mulheres que se lhe seguiu.
No entanto, e ainda bem, Judith Teixeira consegue uma identidade própria não pelo grito sufragista de grande voga, nomeadamente no período subsequente à implantação da República, mas sim pela ostentação de uma vida espiritual e intelectual que ela sumptuariamente subscreve pela presença obsidente do seu forte e assertivo "Eu". Esse esteticismo e essa força afirmativa estão também presentes na inusual apresentação, em primícias literárias, de obras suas sob a chancela gráfica da Imprensa Libânio da Silva, que, segundo José Augusto-França, "dispunha de excelentes oficinas".
o credo de um poeta
Esclarecimento de D. José Policarpo
D. José Policarpo esclarece declarações à comunicação social
.
Lisboa, 19 de Outubro de 2006
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca
2006-10-22
Razões para escolher a vida
1. A Assembleia da República decidiu sujeitar, mais uma vez, a referendo popular o alargamento das condições legais para a interrupção voluntária da gravidez, acto vulgarmente designado por aborto voluntário. Esta proposta já foi rejeitada em referendo anterior, embora a percentagem de opiniões expressas não tivesse sido suficiente para tornar a escolha do eleitorado constitucionalmente irreversível, o que foi aproveitado pelos defensores do alargamento legal do aborto voluntário.Nós, Bispos Católicos, sentimos perplexidade acerca desta situação. Antes de mais porque acreditamos, como o fez a Igreja desde os primeiros séculos, que a vida humana, com toda a sua dignidade, existe desde o primeiro momento da concepção. Porque consideramos a vida humana um valor absoluto, a defender e a promover em todas as circunstâncias, achamos que ela não é referendável e que nenhuma lei permissiva respeita os valores éticos fundamentais acerca da Vida, o que se aplica também à Lei já aprovada. Uma hipotética vitória do “não” no próximo referendo não significa a nossa concordância com a Lei vigente.
Fé e Razão
2006-10-21
O futuro de Manuel Anselmo
Manuel Anselmo nasceu em Valadares (22 de Março de 1911) e faleceu em Lisboa (28 de Agosto de 1992). Licenciado em Direito, deixou-nos uma obra multiforme, que merece urgente revisitação: a novela “Tragédia do Querer Viver” (1929), o ensaio “A Paisagem e a Melancolia no Drama Lírico de Feijó” (1933), “O Mutualismo como Doutrina Social” (1933), “As Ideias Sociais e Filosóficas do Estado Novo” (1934), “Soluções Críticas” (1934), “Gramática Política (Ensaios Doutrinários” (1935), “Antologia Moderna (Ensaios Críticos)” (1937), “Panorama (Crónica e Impressões)” (1938), “A Poesia de Jorge de Lima (Ensaio de Interpretação Crítica)” (1939), o romance “O Pecado Original” (1940), “Caminhos e Ansiedades da Poesia Portuguesa Contemporânea” (1941), “Família Literária Luso-Brasileira (Ensaios de Literatura e de Estética)” (1943), “Manoel Lubambo, a Amizade Luso-Brasileira e a Latinidade” (1943), “Meridianos Críticos” (3 séries: 1946, 1950 e 1960) e “Os Cadernos de Manuel Anselmo” (1951-1961), poliédricos e polémicos q.b.
Relembro que o primeiro ensaio de Manuel Anselmo é, ainda hoje, um dos mais fulgurantes estudos sobre António Feijó. Eis mais um exercício de mostração que o leitor haverá de completar…
2006-10-20
Olha, não há ninguém igual...
"Olha, não há ninguém igual. Cada um tem os seus olhos e, quando vê uma coisa, cada qual a vê conforme o tamanho e a cor dos seus olhos... Tu sabes lá!... Nem eu..."
(Branquinho da Fonseca, "Os olhos de cada um")
2006-10-19
Saúde para todos
Baseada nos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio e nas Metas para a Saúde 21, a Escola Superior de Saúde de Viseu, vai realizar uma mesa redonda alusiva ao tema: “Saúde para Todos – diferentes perspectivas para a cooperação e desenvolvimento” no dia 24 de Outubro pelas 10h na Aula Magna do IPV no sentido de tentar promover/motivar uma reflexão conjunta, acerca do estado da saúde no mundo.
Será pois objectivo desta acção promover a descentralização, a igualdade de oportunidades e acima de tudo luta contra a indiferença. Estarão connosco nesta mesa redonda as seguintes entidades:
- Escola Superior de Educação de Viana do Castelo (Gabinete de Estudos para a Educação e Desenvolvimento);
- Instituto de Solidariedade e Cooperação Universitária (ISU);
- Médicos do Mundo;
- Associação Saúde em Português;
- OIKOS ;
- Assistência Médica Internacional (AMI).
Promover a equidade, a igualdade de oportunidades a dignidade humana na busca de uma cada vez maior justiça social, onde todas as pessoas tenham uma equidade aos cuidados de saúde são alguns dos motivos que regem a esta acção.
Todos os Viseenses interessados em participar neste momento de reflexão, poderão dirigir-se à Escola Superior de Saúde de Viseu e inscrever-se junto da telefonista até ao próximo dia 19 de Outubro.
Obrigado
Uma cultura da morte
Portugal deveria estar, neste momento, a discutir o quê?
Seguramente, o modo de combater o envelhecimento da população.
Um país velho é um país mais doente.
Um país mais pessimista.
Um país menos alegre.
Um país menos produtivo.
Um país menos viável – porque aquilo que paga as pensões dos idosos são os impostos dos que trabalham.
Era esta, portanto, uma das questões que Portugal deveria estar a debater.
E a tentar resolver. Como?
Obviamente, promovendo os nascimentos.
Facilitando a vida às mães solteiras e às mães separadas.
Incentivando as empresas a apoiar as empregadas com filhos, concedendo facilidades e criando infantários.
Estabelecendo condições especiais para as famílias numerosas.
Difundindo a ideia de que o país precisa de crianças – e que as crianças são uma fonte de alegria, energia e optimismo.
Um sinal de saúde.
Em lugar disto, porém, discute-se o aborto.
Discutem-se os casamentos de homossexuais (por natureza estéreis).
Debate-se a eutanásia.
Promove-se uma cultura da morte.
Dir-se-á, no caso do aborto, que está apenas em causa a rejeição dos julgamentos e das condenações de mulheres pela prática do aborto – e a possibilidade de as que querem abortar o poderem fazer em boas condições, em clínicas do Estado.
Só por hipocrisia se pode colocar a questão assim.
Todos já perceberam que o que está em causa é uma campanha.
O que está em curso é uma desculpabilização do aborto, para não dizer uma promoção do aborto.
Tal como há uma parada do ‘orgulho gay’, os militantes pró-aborto defendem o orgulho em abortar.
Quem já não viu mulheres exibindo triunfalmente t-shirts com a frase «Eu abortei»?
Ora, dêem-se as voltas que se derem, toda a gente concorda numa coisa: o aborto, mesmo praticado em clínicas de luxo, é uma coisa má.
Que deixa traumas para toda a vida.
E que, sendo assim, deve ser evitada a todo o custo.
A posição do Estado não pode ser, pois, a de desculpabilizar e facilitar o aborto – tem de ser a oposta.
Não pode ser a de transmitir a ideia de que um aborto é uma coisa sem importância, que se pode fazer quase sem pensar – tem de ser a oposta.
O Estado não deve passar à sociedade a ideia de que se pode abortar à vontade, porque é mais fácil, mais cómodo e deixou de ser crime.
Levada pela ilusão de que a vulgarização do aborto é o futuro, e que a sua defesa corresponde a uma posição de esquerda, muita gente encara o tema com ligeireza e deixa-se ir na corrente.
Mas eu pergunto: será que a esquerda quer ficar associada a uma cultura da morte?
Será que a esquerda, ao defender o aborto, a adopção por homossexuais, a liberalização das drogas, a eutanásia, quer ficar ligada ao lado mais obscuro da vida?
No ponto em que o mundo ocidental e o país se encontram, com a população a envelhecer de ano para ano e o pessimismo a ganhar terreno, não seria mais normal que a esquerda se batesse pela vida, pelo apoio aos nascimentos e às mulheres sozinhas com filhos, pelo rejuvenescimento da sociedade, pelo optimismo, pela crença no futuro?
Não seria mais normal que a esquerda, em lugar de ajudar as mulheres e os casais que querem abortar, incentivasse aqueles que têm a coragem de decidir ter filhos?
José António Saraiva, in Sol, de 14 de Outubro
2006-10-18
Kuhn e o paradigma
A noção de paradigma foi trazida para a ribalta, para a moda até, pelo filósofo, historiador e sociólogo das ciências Thomas Kuhn, em 1962. De facto, o intelectual norte-americano, no ano supracitado, em A Estrutura das Revoluções Científicas, postula que a história das ciências não se baseia no confronto teórico, mas antes nas relações das teorias com os respectivos contextos e nas suas capacidades explicativas. Mas ouçamos um evocativo trecho kuhniano:
O historiador da ciência que examinar as pesquisas do passado a partir da perspectiva da historiografia contemporânea pode sentir-se tentado a proclamar que, quando mudam os paradigmas, muda com eles o próprio mundo. Guiados por um novo paradigma, os cientistas adotam novos instrumentos e orientam seu olhar em novas direcções. E o que ainda é mais importante: durante as revoluções, os cientistas vêem coisas novas e diferentes quando, empregando instrumentos familiares, olham para os mesmos pontos já examinados anterior-mente. É como se a comunidade profissional tivesse sido subitamente transportada para um novo planeta, onde objetos familiares são vistos sob uma luz diferente e a eles se apregam objetos desconhecidos.[1]
Deste modo, fácil se torna inferir que o cientista, ultrapassada uma qualquer fase tradicional, é obrigado a reeducar a percepção do seu meio e a reaprender as novas formas, mesmo que tal implique uma ruptura total com as "verdades" de toda uma vida. E a existência de dissonâncias no meio científico ou literário, afinal, explicar-se-á à luz de paradigmas diferentes em vigência e em contacto. O certo é que "embora o mundo não mude com uma mudança de paradigma, depois dela o cientista trabalha em um mundo diferente."[2]
2006-10-17
Iggy na IIha de Sziget
2006-10-16
2006-10-15
Manuel da Silva Gaio: da escuridão glauca
Manuel da Silva Gaio (1860-1934) é hoje um escritor quase desconhecido, não sendo fácil, sequer, encontrar as suas obras, a não ser em alfarrabistas e em bibliotecas, públicas e privadas. O nome, tantas vezes confundido com o de seu pai, António da Silva Gaio, não tem visibilidade, seja em histórias da literatura, seja até em fortuna crítica.
O pai, médico e professor de Higiene na Universidade de Coimbra, nascera em Viseu, ficando talvez mais conhecido que o filho por via de um romance de êxito intitulado Mário – Episódios das lutas civis portuguesas (1868). Mais artista, não logrou Manuel da Silva Gaio a sorte do progenitor.
Alguns passos têm sido dados contra a ocultação, destacando eu, de 1998, o ensaio de José Carlos Seabra Pereira A obra e a acção literária de Manuel da Silva Gaio. Possa cada um acrescentar um passo, lendo alguns dos seus títulos esquecidos nos melhores livreiros. Assim o fiz, passam alguns meses, quando peguei em A Dama de Ribadalva [1] e descobri, nesse livro de contos, um fascínio indesmentível, nomeadamente nos segmentos narrativos de tonalidade ruinosa e cinérea.
Possam, leitor sobre leitor, impedir os sinais trágicos do tempo…
[1] Na capa, lê-se Lisboa, Livraria Editora Viúva Tavares Cardoso, 1904, enquanto na página de rosto se diz Lisboa, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 1903.
2006-10-14
Martha de Mesquita da Câmara
Com preferência pelo soneto, sem exclusivismo, Martha de Mesquita da Câmara (1895-1980), que um Jaime Cortesão aprovava, pelo sentimentalismo contido e pela depuração formal, como a principal poetisa portuguesa (Gaspar Simões punha-a ao lado de Florbela Espanca e José Régio viria a distingui-la com atenção crítica), contribuiu decisivamente para o enriquecimento da década de 20 com as colectâneas Triste (1924), Arco-Íris (1925) e Pó do teu caminho... (1926), permitindo o último terceto do soneto "Ser Mulher" a inferição do estado da condição feminina epocal: "Não vinhas, fui-me embora a padecer, / A pensar, a sentir que ser mulher, / As mais das vezes, é não ser ninguém!" [1]
[1] Martha de Mesquita da Câmara, Pó do teu caminho..., Lisboa, Edição da "Seara Nova", 1926, p. 61. Por saber de experiência feito, é vulgar apareceram, em diferentes obras de cariz literário, informações contraditórias entre si. Poderá não ser grave. Mas é, sem sombra de dúvida, um convite ao saber minudente e cauteloso. Isto vem a propósito da propalada data de 1928 como ano de publicação de Pó do teu caminho... da poetisa em causa, informação que o cólofon antecipa para 1926 (Martha de Mesquita da Câmara, op. cit.). A obra de Martha de Mesquita da Câmara aparece reunida em Poesias Completas, Porto, 1960, conhecendo-se-lhe posteriores criações em jornais.
2006-10-13
2006-10-12
António Gedeão (1906-1997): "são gargantas deste grito"
2006-10-10
António Lobo Antunes em "le magazine littéraire"
2006-10-09
Afonso Lopes Vieira
2006-10-08
Judith Teixeira
Álgida madrugada de luar...
Infernal tentação!
Eu não posso desfitar...
a boca rubra e incendiada
do meu Anão!
................................................
("O anão da máscara verde", Decadência)
Mais sobre Judith Teixeira, aqui.
2006-10-06
biblioclasmo
Sem espanto, leio na revista Os Meus Livros (nº 44, Outubro 2006):
IRAQUIANOS QUEIMAM LIVROS
Todos recordam as célebres imagens do “Fahrenheit 451”, com os bombeiros a queimar livros. Pois bem, escritores e livreiros iraquianos reviveram a cena, fazendo uma enorme fogueira para contestar o recolher obrigatório em Bagdade, que afirmam ter transformado o centro da actividade intelectual local numa “rua fantasma”. “A rua al-Mutanabi é cara ao coração de todo o homem culto. O recolher obrigatório de sexta-feira impede muitos iraquianos de se reunirem lá. Ela transformou-se numa rua fantasma”, lamentou Naim al-Shatri, proprietário de uma das mais antigas livrarias daquela artéria. Kazim Rachid Salum, crítico e argumentista de cinema, lamentou o fim do leilão semanal de livros raros e antigos que se realizava na rua e o facto de os estudantes, agora, não poderem ir lá comprar novos livros.
O refúgio espiritual de Montaigne entrega assim o corpo ao fogo, lembrando que a sede biblioclástica vem detrás, dos destruidores encartados que decretam recolheres e delitos de opinião. Também Cervantes avisara de que as letras conduzirão o homem ao fogo. Sem ajoelhar ao aurático dos livros, lamento todos os livros perdidos e todas as proibições à print culture na cidade das mil e uma noites. Bem avisa Steiner a respeito das metalinguagens dos guardiões.
O livro interessa-me, mesmo que mero objecto museológico que alguns corifeus teimam em apregoar. Prezo também os silêncios dos poetas ou dos seus maiores Pitágoras, Sócrates e Cristo, parece que ágrafos e , no entanto, transmissores…
No espaço cego que ninguém vê, o podre dos dias avança e Ipek Calislar é julgada, porque sim. Rumo à desparição, há muito que o homem caminha para um epílogo trágico. Vale aqui o fulgurante esforço do resistente Iggy Pop.