E, de facto, há um cuidado reconhecível manifestado pelo homem relativamente ao livro, que é, diga-se, um dos objectos mais indeformáveis e mais perenes da nossa história. Um escritor português da primeira parte do século XX, Carlos Queiroz, também assinalado escritor presencista, escreveu um poema na revista Atlântico (Nova Série, nº 3, 1947, pp. 57-61), de título “Há um livro…” (integrado posteriormente em Epístola aos Vindouros e outros poemas [1989], por David Mourão-Ferreira), que muito esclarece sobre as particularidades únicas do livro:
Há um livro singular
Publicado não sei onde,
Cuja leitura é um bálsamo
Para todos os anseios.
Nesse livro não se aprende
Uma ou todas as ciências,
Mas a arte dificílima
De ser sempre natural.
Se quisermos, é um espelho
Em que nos vemos por dentro,
Ou janela escancarada
Para os mundos intangíveis.
Faz de chave, se quisermos
Ter recôndita a noss’ alma,
Ou abrir o entendimento
Para entrar qualquer verdade.
A certas horas responde
Às perguntas mais subtis
E cura todas as dúvidas
Por mais antigas que sejam.
Se cuidarmos ser felizes
Ou nos pesa uma alegria,
Logo nele encontraremos
O melhor dos confidentes.
Se a tristeza nos amarga
Ou esterilmente a sentimos,
Logo nele se torna doce
E nos parece fecunda.
Tudo quanto nos provoque
Ardentes cogitações,
Terá nele um sedativo
Mais eficaz do que a música.
Se nos aflige uma insónia
(Quando invejamos os mortos)
Ele conduz-nos pela mão
À margem do rio Letes.
Se temos sono e nos dói
Adormecer como um bicho,
Ele povoa a nossa noite
De sonhos excepcionais.
E se – o que é frequente –
Nem sabemos o que temos,
Basta abri-lo em certa página
E logo em nós se faz dia.
Ciúmes, ódios, intrigas,
Remorsos, vexames… tudo
Encontra nele um afago
Que torna as águas tranquilas!
*
* *
Agora, perguntareis:
- Mas que livro é esse?
Quem o fez? Como se chama?
Em que sítio está à venda?
Ah, meus amigos! Por mim,
Sei apenas que ele existe,
Que foi escrito em língua viva
E é de formato in-oitavo.
Ou ignoro desde sempre
O nome do Autor e o título,
Ou talvez um anjo cábula
Na memória os apagasse.
Desta dúvida nasceu
O vício de ir aos leilões,
De comprar livros inúteis
E devorar os catálogos.
Já em certo alfarrabista
Com notório sobressalto
Julguei vê-lo numa estante,
Mas era um guia turístico!
Na livraria onde eu entro
Mais vezes, há um caixeiro
Que me fita de soslaio,
Pensando não sei o quê.
Em vão percorro e farejo
Com suspeita inquietação
As lombadas dos volumes
Que há nas casas que visito.
Nestas inglórias pesquisas
Já fui à Torre do Tombo
E perdi horas inúmeras
Em diversas bibliotecas.
Resta-me ainda uma esp’rança:
Declarar publicamente
Que darei por esse livro
Todos os livros que tenho.
Todos! Antigos, modernos,
Brochados, encadernados,
Tanto em prosa como em verso,
D’autores nossos e estrangeiros;
Até os que me emprestaram
E nunca mais devolvi,
Sem esquecer os que me deram
Com belas dedicatórias…
Todos, todos, todos, todos
- E são muitos, podem crer –
Dou em troca desse livro
Que por força há-de existir!
1. A literatura para crianças e jovens é uma “ilha fantástica” à qual é preciso chegar. Importa que o leitor cedo parta, interessa que o educador olhe distante e sempre vigilante. O estímulo é a palavra certa sobre um mundo que o jovem sorveu voraz. O pequeno leitor escolhe a sua ilha, ele que consigo transporta uma “ilha” de sortilégio. O adulto deve ele próprio interessar-se e falar das suas leituras e sugerir outras rotas e deixar-se arrastar pela força das águas da curiosidade que existe em cada ilha e em cada criança já nessa “ilha fantástica”. O resto, nova partida, outras chegadas, é tão-só a pulsão de uma leitura enraizada, próxima da respiração, que diz no cólofon de cada texto que vale a pena partir e que várias serão as chegadas, se valer a pena chegar.
Baralho e dou de novo, repetindo. A textura física e semântica da palavra ‘ilha’ é facilitadora, desde logo, desta ligação ao mundo infanto-juvenil, nomeadamente pela sugestão directa do fantasioso e do quimérico, qualidades que enformam o mundus de crianças e de jovens. Mas não só. A ilha é sonho e sofrimento da literatura de todos os tempos e lugares. Provoca ainda um espaço de evocação que é halo de mistério indenegável. Tal tonalidade penumbrosa e estranhizante–cativante é apanágio da homérica ilha dos Ciclopes, da fugaz ilha de Topázio da História Natural de Plínio ou da consabida e desafortunada ilha Perdida de que nos fala, verbi gratia, Gil Vicente. E depois há toda uma atmosfera sinistra em muitas delas, seja pelo perigo dos seus contornos, seja pela tectónica vulcânica, que indubitavelmente nos leva ao “pestanejamento” de Georges Steiner – como não lembrar, num misto de terror e de pulsão, a platónica e infeliz ilha Atlântida, a ilha-namorada do capitão Nemo d’ A Ilha Misteriosa de Júlio Verne ou a fantástica ilha de seres impensáveis de The Island of Doctor Moreau (1896)?
Sem corte, com sutura, vemos ainda nessa palavra ‘ilha’ um nimbo de superioridade e de força mágica. E, de facto, em ilhas nasceram notáveis seres mitológicos como o cretense Zeus, a citéria Afrodite ou o brilhante Apolo, natural de Delos. Imaginárias umas vezes, mais reais noutras, paradisíacas algumas, infernais umas quantas, quem resiste ainda aos encantos da mediévica ilha de Avalon, fiel depositária do rei Artur, ou a tantas recriações insulares da literatura de todos os tempo e lugares? Quem permanece indemne a esta atmosfera que paira no ar à espera do nosso sonho?
A literatura é esse sonho. É nessa senda que se despenham criador e eco da coisa criada. E a ilha, essa fulguração de atracção e superação, em toda a obra habita como um corpo totalizador. Assim acontece com a literatura “pairadora”, colhida nas vozes reprodutoras, em caldeamento oralizante, com muita produção que gente miúda e gente graúda não deixa de conhecer, por leitura directa ou por incorporação ocasional. Cito ainda, neste movimento motivemático, outras ilhas e outros voos com palavras aladas. Sem exaustão, vem à memória a ilha Utopia da homónima de Thomas More e os seus habitantes bem educados, vivendo comunitariamente e infensos à dor pela eutanásia, nesse não-lugar habitável pelo poder da imaginação. Neste contexto de utopismo insular, chamo também à colação a Cidade do Sol, ideada por Campanella em 1602, na mítica Taprobana, ou, em matiz similar, a ilha de Bensalém de New Atlantis (1627)de Francis Bacon.
É de ilhas e de conquistas que vou falando. Avanço. Um livro que fácil e prazenteiramente foi conquistado por crianças e jovens, pese embora o seu tom filosofante, foi aquele livro que conta a história do fantástico Robinson Crusoe e que Daniel Defoe publicou em 1719, com as aventuras de Selkirk na ilha de Juan Fernández. Outras ilhas existem: a “ilha Namorada” de Camões, as ilhas encantada e do Pranto do Orlando Furioso (1516) de Ariosto. Fantásticas e infungíveis são ainda as aventuras de Gulliver nas ilhas Balnibarbi, Blefescu, Laputa, Liliput e Luggnagg, tão de todos, da autoria de Jonathan Swift. É também o viseense João de Barros, na sua Crónica do Imperador Clarimundo (1522), quem abre o caminho ao fantástico e ao possível com as suas ilhas do Abismo, Afumada, do Alto Pináculo, Abundante, Bem-Aventuradas, Deleitosa e outras. E nem poderá faltar aqui, nesta incursão rápida pelo motor insular de mundos possíveis a haver, a possibilidade que Cervantes reserva ao seu Pança de poder governar a ilha da Barataria. É este o poder das palavras no turbilhão da imaginação.
2. O tema da criança e a sua ideia como evasão ou passado obsidiante, como crítica ou ponto nodal do desenvolvimento, têm a idade da palavra e o afecto da literatura de sempre. Não há autor, nem leitor que o desmintam. E, de facto, desde a aparentemente longínqua Comédia de Rubena (1521) de Gil Vicente – dramaturgo que jubilosamente celebro aqui na juventude dos quinhentos anos do seu Monólogo do Vaqueiro– até incrustações posteriores que passam por Menina e Moça de Bernardim Ribeiro, pelas confissões maravilhadas de Almeida Garrett a respeito dos velhos tempos de criança ouvindo as encantadas histórias da criada idosa; pelo desencanto de Eça de Queirós nas Cartas de Inglaterra ao reparar que um vazio de acção recobria a actividade editorial no nosso país no respeitante à literatura infantil; chegando-se, por último, a toda a tematização de ambiências infanto-juvenis e adolescentes que percorre a nossa literatura portuguesa do século XX e dos tempos novos. E lembro, por exemplo, romances de formação como Uma Luz ao Longe de Aquilino Ribeiro ou Manhã Submersa de Vergílio Ferreira; recordo ainda o mergulho na infância e na adolescência levada a cabo pela maior parte dos escritores presencistas e afins (Régio, Casais Monteiro, Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca, Tomaz de Figueiredo, Marmelo e Silva...); avoco também, nesta perquirição pelo mundos criados de incidência infanto-juvenil, os sentidos poemas dedicados às mães[1] ou destas decorrentes em emoção (de um Fernando Pessoa: “Lá longe, em casa, há a prece: / "Que volte cedo, e bem!" / (Malhas que o Império tece!) / Jaz morto, e apodrece, / O menino de sua mãe.”; de um Almada Negreiros: “Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade.”; de uma Judith Teixeira: “Fecha a janela, Mãe! Vem-me cobrir. / Mãe! sinto frio, até no teu olhar! // Mãe! quero regressar – voltar ao Nada - / e perder-me na grande Escuridão!”; de uma Florbela Espanca. “Ó Mãe! Ó minha Mãe, pra que nasceste? / Entre agonias e em dores tamanhas / Pra que foi, dize lá, que me trouxeste”; de um Sebastião da Gama: “Pra que o dia fosse enorme, / bastava/ toda a ternura que olhava / nos olhos de minha Mãe...”; de um José Régio: “Já tenho três maços, Mãe, / Das cartas que tu mês escreves / Desde que saí de casa...”; de um Vergílio Ferreira: “Espera aí ainda um pouco. Ouve aí. É um momento. / Agora que viraste costas definitivamente / e arrumaste a vida, para ires ter com o velho Pai, / que eu estou a ver daqui já impaciente pela demora, / veio-me uma necessidade bruta de te dizer duas coisas / que nunca calhou dizer-te.”; de uma Maria Judite de Carvalho: “Inventei-te para mim nocturna e mansa / e dei-te o olhar negro e tão parado / com que velavas meus sonhos de criança / sem estares ao meu lado”; de um Eugénio de Andrade: “Não me esqueci de nada, mãe. / Guardo a tua voz dentro de mim. / E deixo-te as rosas. // Boa noite. Eu vou com as aves.”; de uma Maria Alberta Menères: “Mãe rosa desnudada / pétalas de sangue evoluído / ficou a tua onda ondeada / Mãe do rosto dormido?”; de um José Manuel Mendes: “eras a mais pura fala / do silêncio: / rumor; manhã / nas nervuras / da folhagem”; de um Vasco da Graça Moura: “E não queria ser vista e foi envolta / num lençol branco em suas dobras leves. / Pus junto dela algumas rosas breves / e a lembrança represa ficou solta”; de um António Franco Alexandre: “Vejo a pequena terra em que nasci / o sossego das grandes chuvas desabando no pátio e o respirar da casa / o rosto de minha mãe”; de um Luís Miguel Nava: “De astros / as ruas eram cheias que os cuspiam hoje / na minha mãe de outrora, nas crianças de água”; e, por último, desse fugidio cometa das nossas letras, de nome Daniel Faria, que os tempos encaminharão para lugar central na literatura portuguesa, e que diz como só ele poderia dizer esse fascínio de lugar temático que é a presença da mãe como sujeito e objecto literário do nosso imaginário: “O filho é o carrossel à volta da mãe / O carrossel no coração da mãe / A luz dos carrosséis e a música / E leva a mãe no seu cavalo.”).
3. MARCAS NA LITERATURA PORTUGUESA PARA A INFÂNCIA E A JUVENTUDE
3.1. SÉC. XVI: O CASO DE GONÇALO FERNANDES TRANCOSO
Em 1894, Stéphane Mallarmé realizou, em Oxford, uma conferência que deveio célebre. Refiro-me à consabida “La Musique et les lettres”. E as primeiras palavras do notável poeta não deixam de ser apelativas. Cito: “Trago-vos com efeito notícias. As mais surpreendentes. Nunca se viu coisa assim. Mexeram no verso... On a touché au vers.”[2]
Assim modestamente vos digo eu também trazer notícias surpreendentes sobre um autor de nome Gonçalo Fernandes Trancoso, quase desconhecido, que nos obriga a algumas arrumações no âmbito da literatura para a infância e juventude e não só. E se tal acomodação pode passar pelo estabelecimento do termo a quo da literatura para gente mais nova a partir de si, avanço ainda que as suas histórias escritas no quinhentismo português são produtos literários de proveito e exemplo à espera da curiosidade dos mais diversos leitores.
Mas, quem foi Gonçalo Fernandes Trancoso, para que valha a pena falar dele? Nascido em finais da segunda década do século XVI, provavelmente em Trancoso, sabe-se pela sua obra mais conhecida Contos e Histórias de Proveito & Exemplo (1575) que morou em S. Pedro de Alfama. Vivendo em Lisboa ao tempo da peste de 1569, só a custo resistiu ao cataclismo que lhe dizimou a família: “perdi no terrestre naufrágio uma filha de vinte e quatro anos, que em amor e obras me era mãe; um filho estudante; um neto moço do coro da Sé. E para mais minha lástima, perdi a mulher, que por suas virtudes era de mim amada, o que foi causa de grande tristeza minha.”[3]
A tragédia moral que por sobre si se abateu espoletou-lhe o gosto pela redacção de contos, que, influenciados pela tradição italiana de Boccaccio e Sacchetti, entre outros, bem como pela oratura nacional, lhe serviam “por fugir daquelas tristezas”.
A popularidade da sua obra é bem visível na justa e bem merecida fama que conquistou, tendo sido um dos escritores mais lidos do século XVI ao século XVIII, espaço temporal em que imprimiram dezasseis edições, o que atesta a adesão de público aos seus contos exemplares e apotegmáticos com as raízes atrás assinaladas e natural decorrência do quatrocentista Orto do Esposo.
Não obstante as vozes dissonantes, parece-me certo que estes contos de Trancoso, até pela adjectivação que promovem (populares, edificantes, sobrenaturais, vivazes, originais, curiosos, singelos, fantásticos...), devem ser inseridos na fase formativa da chamada literatura para a infância e a juventude. Aliás, relembro um aspecto biográfico que não mencionei que se prende com a possibilidade de ele ter sido preceptor de meninos e mestre de Humanidades (Latim e Retórica) e que certamente terá interferido na sua criação literária.
Inaugurador entre nós do conto e, segundo João Palma-Ferreira, “caso único na literatura portuguesa do século XVI”, a influência de Gonçalo Fernandes Trancoso terá sido tal que no Brasil chamam “histórias de Trancoso” àquilo a que nós chamamos “histórias da Carochinha” e, no primeiro quartel do século XX, um Agostinho de Campos di-lo “o avô rústico que conta histórias aos meninos”.
João Gaspar Simões vê em Trancoso “um autêntico aedo popular”, contribuindo para o seu carácter atractivo a simplicidade de redacção, a coordenação predominantemente sindética, a utilização de provérbios e anexins, bem como o ingénuo realismo.
Coevo de um importantíssimo conjunto de vultos literários (Camões, Bernardim, Cristóvão Falcão, Sá de Miranda, António Ferreira, Diogo Bernardes, Frei Agostinho da Cruz, Gil Vicente, João de Barros, Diogo do Couto, Damião de Góis...), o que justifica, até certo ponto, a sua ocultação, Gonçalo Fernandes Trancoso virá a falecer no penúltimo lustro do século XVI.
Como atrás disse, trago-vos notícias surpreendentes: Gonçalo Fernandes Trancoso é o nosso primeiro ficcionista utilitarista e cibernético (de acordo com o grego, κυβερνητική, cibernética, é a arte de governar os homens), com um inusitado vezo de “observação psico-social”. Próximo da ambiência criada por Gil Vicente, dele se destaca pelo teor paidêutico e directivo. Mas debrucemo-nos, para terminar, sobre um dos seus contos e destaquemos nele algumas qualidades que o tornam inserível no âmbito da literatura para gente mais nova.
Como se sabe, o conto, pese a sua antiguidade e peso tradicional, só adquire configuração literária no século XIX. Até aí a fluidez entre o oral e o literário era indesmentível. Tal facto só abona Trancoso, tanto mais que ele supera influências e incorporações folclóricas por uma originalidade que não pode ser denegada. E assim poder-se-á dizer que o conto autoral português nasce com Gonçalo Fernandes Trancoso – na sua criação contista encontramos já as características do conto moderno, e falo do halo fantástico, da estrutura febril, nervosa e breve, e das descargas emocionais por si provocadas, num processo de concentração que confere ao texto uma matização semipoética.
O investigador francês Marc Soriano defende ser a literatura a juventude um tipo de comunicação entre um locutor ou um escritor adulto e um destinatário criança. Não parece que o espírito de Trancoso descurasse essa particularidade, como o corrobora, por exemplo, o já citado Agostinho de Campos. E se pensarmos na tentativa de definição do literatura infanto-juvenil por parte de Judith Hillman, vemos que ela, no que diz respeito ao conteúdo, sugere o perspectivismo infanto-juvenil, a incipiência caractereológica, a intriga simples com centramento na acção, o happy-end e a mistura do real com o fantástico; já no atinente à qualidade, e ainda segundo a mesma autora, deverá ela estar presente como factor preponderante do prazer do texto. A necessidade do preceito qualitativo já fora enunciado trinta anos antes por Sophia de Mello Breyner em entrevista ao Diário de Lisboa. Trancoso tem, neste sentido, uma evidente qualidade.
O conto em que vou pegar, o décimo, integra-se, de acordo com a proposta de Câmara Cascudo, nos chamados contos de exemplo, sofrendo ligeira nuance se se adoptar a classificação de Michelle Simonsen que prescreve para este tipo a designação de conto moral ou filosófico. Transcrevo o conto, para que conste:
CONTO X
Que nos mostra como os pobres com pouca coisa se alegram. E é um dito que
disse um homem a seus filhos.
Perto da cidade do Porto, onde chamam Paço de Sousa, havia um pobre homem que tinha seis crianças entre filhos e filhas, de que alguns eram de dezassete ou dezóito anos e dali para baixo. E tendo-os derredor de si, um serão, sobre ceia de boroa e castanhas, derredor do lume, muito contentes, olhou para eles e viu-os tais que o melhor arroupado, se tinha camisa, não tinha pelote e, se pelote, sem mangas; e se mangas, sem fralda, e todos descalços e sem barrete nem coifas. Assim que todos seis se cobriam com fato que, para bem, não bastava a um e esse muito velho e esfarrapado que quase não prestava. Vendo-os tais, disse à mulher:
-Ouvis! Lembre-vos amanhã (se Nosso Senhor quiser) que peçais à minha comadre Briolanja de Paiva uma quarta de linhaça emprestada. Semeá-la-emos e, com a ajuda de Deus, haveremos linho de que façamos, no Verão, caçotes para estes cachopos.
Os filhos, tanto que o ouviram, saltando no ar, com muito prazer, diziam uns aos outros, rindo: - "Ai, caçotes, mana; ai, caçotes”. Tanto riram e folgaram, estando ainda nus, que o pai disse:
-O dou ao demo a canalha que, como se sentem vestidos, não há quem possa com eles.
Espanta desde logo, neste conto susceptível de ser anexado ou conquistado por gente miúda, o carácter condensado, directo, próximo mesmo da noção do miniconto que um Sebastião Resende “teoriza” do seguinte modo:
... minipoema, minicrónica, mini-romance, poli-mini ou minitudo. nunca menos. abrangente e variável como as mudanças de nosso tempo, instrumento maleável, conciso, objetivo; sintético, cioso de sua funcionalidade, aqui-agora, lá-sempre, ubíquo, polivalente, verbivocovisual. com ele sentir e ver o mundo sem desperdícios e derramamentos. formalização das coisas com um mínimo de formas, um nada de fórmulas e um todo de formular, tecnificar. arte para um tempo de sustos, de síncopes, porém feita com suor + palavras + lágrimas, para sintetizar o humano, o não-humano e o que há de vir. close-up. underground. fotografia tirada com os olhos e o ser. miniformal, maxi-elaboração e vida. na época dos sintéticos e das sínteses. do microfilme. da pílula. dos comprimidos e das compressões. [4]
Tal modernidade é ainda detectável na lógica e na consistência do exemplar narrativo, que, a par disso, contém ainda postulados importantes como a clareza e a simplicidade gramaticais, a utilização de palavras concretas ou o carácter mostrativo, dignas qualidades de um texto infanto-juvenil. Acresce ainda que o conto de Trancoso é capaz de despertar valores para o embate social, é sugestivo de beleza estética (as repetições e o polissíndeto conferem-lhe mesmo aquela força patética própria dos textos poéticos de que tão exuberantemente fala Jean Cohen...), é indutor da realidade de forma subtil e é elemento de desenvolvimento da capacidade expressiva do leitor, seja no domínio lingüístico, seja na esfera cultural. Cite-se, por último, o inusitado final do conto de Fernandes Trancoso, que é um verdadeiro despiste do horizonte de expectativas criado. Afinal, o antegozo das roupas futuras é a clara sugestão do inesperado. Esta estranhização é uma porta para a dinamização da força imaginativa do leitor mais novo e para os seus actos de integração simbólica, assim se cumprindo a função socializadora da literatura.
Avanço mais. Toda a literatura estimável é tão-só literatura. Não me parece muito importante a divisão, que muitos ainda teimam em acentuar, entre literatura para crianças e literatura para adultos. A literatura existe perto da vontade de todos leitores sem idade. Os melhores textos serão sempre aqueles que, como os citados de Trancoso, possibilitem vários planos de leitura. Como o acentua Sophia de Mello Breyner desde a década de 60, escrever para crianças não é uma especialidade e a divisão divisada no espectro editorial radica no acto comercial e nunca no acto criativo.
Aproximemo-nos do calor das palavras, esperando, na radicalidade racionalista de Boileau, que, independentemente da temática literária, sempre o bom senso se combine com a rima. Enquanto tal acontece, esta súbita primavera teórico-pedagógica sugere-me, caros amigos, um rumor junto à voz de António Franco Alexandre que conjuga o sinal mudo com a vossa aceitação destas banalidades antigas como o mundo. Pode ser?
Bibliografia
a) de Gonçalo FERNANDES TRANCOSO
TRANCOSO, Gonçalo Fernandes, Contos & Histórias de Proveito & Exemplo, [1ª e 2ª partes], Lisboa: António Gonçalves, 1575. (Edição fac-similada [Único exemplar conhecido: Biblioteca Oliveira Lima, Catholic University of America, Washington, U.S.A.] com introdução de João Palma-Ferreira, Lisboa : Biblioteca Nacional, 1982).—, Contos & Histórias de Proveito & Exemplo, [1ª e 2ª partes], Lisboa: Marcos Borges, 1585 [Três exemplares conhecidos: Biblioteca do Paço Ducal de Vila Viçosa, Biblioteca Apostolica do Vaticano, Biblioteca Nacional de Paris].—, Contos & Histórias de Proveito & Exemplo, [1ª e 2ª partes], Lisboa: António Álvares, 1589 [Único exemplar conhecido: Biblioteca do Congresso dos E.U.A.]—, Primeira, segunda, e terceira parte dos Contos & Historias de Proveito & Exemplo, [Lisboa]: Simão Lopes, 1595 [Único exemplar conhecido: Biblioteca Pública de Évora].—, Regra Geral pera aprender a tirar pola mão as festas mudaveis que vem no anno, a qual ainda que he arte antiga esta per termos mui claros novamente escrita por Gonçalo Fernandez Tranquoso: & dirigida aho Illustrissimo & Reverendissimo Sñor Dom Jorge Dameida (sic) Arcebispo de Lisboa, [Lisboa]: em Casa de Francisco Correa, 1570. (Reproduzido em Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, Vol. VII, 1925, p. 141-210).—, Histórias de Proveito e Exemplo, Antologia portuguesa organizada por Agostinho de Campos, Lisboa: Bertrand, 1921—, Contos e Histórias de Proveito e Exemplo (Texto integral conforme à edição de Lisboa de 1624), Prefácio, leitura de texto, glossário e notas por João Palma-Ferreira, Lisboa: INCM, 1974.—, Contos e Histórias de Proveito e Exemplo, Lisboa, 1988. Prefácio de Armando Moreno.—, Contos e Histórias de Proveito e Exemplo, Trancoso, Câmara Municipal de Trancoso, 1989. Introdução e Notas de Santos Costa.
b) sobre Gonçalo FERNANDES TRANCOSO
BERARDINELLI, Cleonice, «Um best-seller do século XVI», Estudos de Literatura Portuguesa, Lisboa: INCM, 1985. BRAGA, Teófilo, Contos Tradicionais do Povo Português, Lisboa, 2ª ed. ampliada, 1914-1915 (Nova edição, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1987, 2 vol.). DONATI, Cesarina, «Trancoso traduttore di Timoneda», Arquipélago, n° V, Revista da Universidade dos Açores, Série Ciências Humanas, Ponta Delgada, 1983, p. 65-94. FERREIRA, João PALMA, Novelistas e Contistas Portugueses do século XVI, Lisboa: INCM, 1982.—, Obscuros e marginados, Lisboa: INCM, 1980. FERRO, Manuel, “TRANCOSO (Gonçalo Fernandes)”, Biblos-5, Lisboa, Verbo, 2005, colunas 511-512. —, “Aspectos da recepção do Decameron nos Contos e Histórias de Trancoso”, Estudos Italianos em Portugal, 51-53, 1988-1990, pp. 179-206. FINNAZZI-AGRÒ, Ettore, A novelística portuguesa do século XVI, Lisboa, 1978. MENÉNDEZ y PELAYO, Marcelino, Orígenes de la novela, Madrid: CSIC, 1943.MIMOSO, Anabela, «Contos & Histórias de Proveito & Exemplo. Uma obra exemplar», Línguas e Literaturas, Revista da Faculdade de Letras do Porto, Vol. XV, 1998, p. 259-329. NOBRE, Cristina, Um texto instrutivo do século XVI de Gonçalo Fernandes Trancoso, Leiria: Magno Edições, 1999. PICCHIO, Luciana Stegagno Picchio, “Gonçalo Fernandes Trancoso, Histórias de Proveito e Exemplo”, Colóquio/Letras, 29, 1976, pp. 95-97. QUINT, Anne-Marie, «Scènes de la vie urbaine dans les Contos & Histórias de Proveito & Exemplo de Gonçalo Fernandes Trancoso», Le conte et la ville, Cahiers du CREPAL n° 5, Paris: PSN, 1998, p. 101-117.—, «François de Rosset traducteur de Trancoso», Hommage au Professeur Augustin Redondo, Paris: PSN, 2003. ROSI, Guiuseppe Carlo, “Il Boccaccio nelle letterature in portoghese”, Studi sul Boccaccio, vol. VIII, 1974, pp. 273-309. VASCONCELOS, José LEITE de, «Um Trancosano ilustre», Revista Lusitana. Arquivo de estudos filológicos e etnológicos relativos a Portugal, vol. XXIII, Lisboa, 1920, p. 233-245. VITERBO, SOUSA, «Materiais para o estudo da paremiografia portuguesa», Revista Lusitana, Vol. VII, Lisboa, 1902, p. 97-103.
3.2. SÉC. XVII: O CASO DO PADRE MANUEL BERNARDES
Denegando qualquer inferioridade do Seiscentismo face a outras centúrias da cultura portuguesa – e bastará citar nomes como os de D. Francisco Manuel de Mello, Francisco Rodrigues Lobo, Padre António Vieira ou António de Sousa de Macedo para convalidação desse tempo… - , lembramos aqui as certeiras palavras de António José Saraiva sobre o Padre Manuel Bernardes, defendendo nele, principalmente como artista da narrativa breve na Nova Floresta, “uma ingenuidade, um à-vontade dignos de inveja para quem faça literatura infantil.”[5]
E, de facto, basta pegar-se em Nova Floresta e no anteprimeiro apotegma para aí colhermos muitas das particularidades que conformam, de acordo com a investigação mais actualizada (por exemplo, de uma Teresa Colomer), a textologia infanto-juvenil. Ao pensarmos na tríade funcional enunciada pela professora catalã (acesso ao imaginário colectivo, aprendizagem de modelos narrativo-poéticos e socialização cultural[6]) depreendemos de imediato que tais características ressaltam da “floresta” bernardiana.
Fruto de relação lateral, Manuel Bernardes, talvez filho de pai judeu, veio a professar como oratoriano, em 1684, legando à posteridade um conjunto formidável de “obras de edificação moral e ascética” (Saraiva, 531), aí se confirmando os créditos de um dos maiores cultores da língua portuguesa. Eram ainda evidentes, antes de tudo, a qualidade literária, bem como a espantosa erudição teológica do escritor. Sem acreditar no mundo dos homens, profundamente corrompido, nem tão pouco esbatendo uma latente misoginia (mesmo que familiar ou religiosa, a mulher convoca a disforia), Bernardes conduz a sua prosa mágica para longe dos abismos, convocando a intercessão divina e os milagres no mundo, a fim de salvar das penas eternas algumas das muitas almas condenadas.
Destaca António José Saraiva (p. 532) o mérito de Bernardes como artista da narrativa breve, nomeadamente, como já dissemos, nos textos da Nova Floresta, onde o religioso procura atingir o grande público através da simplicidade linguística e dos comentários moralistas. O tom edificante e de distracção do espírito, a um tempo, é, sem dúvida, a parte maior desta criação de Bernardes, como se verá, em seguida.
O apotegma anteprimeiro da “floresta” bernardiana é um caso excepcional de virtualidades infanto-juvenis: é a abertura indefinida e transtemporal (“Certo Poeta”); é a possibilidade humorística aberta pela expressão “comedia de tramoyas”; é a adjectivação rutilante e a figuração do Sol (“figura do Sol muy galharda, & resplandecente, com roupas recamadas de joyas de diamantes, & diadema amplissimo de dourados rayos”); são as imagens mitológicas (“doze figuras em forma de Ninfas”); são os paralelismos e os pronunciados contrastes (“humas eraõ de mayor estatura, outras de mediana, & outras mais pequenas”); é, por fim, e sem exaustão, a paidêutica que obriga a concluir e a reconhecer a lição, que aparece em jeito de “reflexão”, em “reacção” à narrativa breve anterior.
Os exempla colhidos em Manuel Bernardes ressumam de maravilhoso, aí se apagando as fronteiras entre o natural e o sobrenatural. É também este particular que faz do oratoriano um lugar central na formatação do cânone da literatura infanto-juvenil. Experimente-se, pois, o seguinte exemplo:
Bibliografia
a) de Padre Manuel BERNARDES
BERNARDES, Padre Manuel, Exercícios Espirituais e Meditações da Vida Purgativa, 2 vols., Lisboa, Miguel Deslandes, 1686 (1706-1707, 1731, 1758, 1784-1785). —, Luz e Calor, 1696 (1724, 1758, 1871). —, Pão Partido em Pequeninos , 1ª parte, Lisboa, António Pedroso Galrão, 1696 (1707, 1726, 1757, 1762, 1923). —, Armas de Castidade (1699)—, Meditações sobre os principais mistérios da Virgem, Lisboa, Bernardo da Costa Carvalho, 1706 (1768). —, Nova Floresta ou Silva de Vários Apotegmas, t. I, Lisboa, Valentim da Costa Deslandes, 1706 (1706-1728, 1759-1760, 1909-1911). —, Pão Partido em Pequeninos , 2ª parte, Lisboa, Valentim da Costa Deslandes, 1708. —, Nova Floresta ou Silva de Vários Apotegmas, t. II, Lisboa, Valentim da Costa Deslandes, 1708. —, Nova Floresta ou Silva de Vários Apotegmas, t. III, Lisboa, Oficina Deslandesiana, 1711. —, Sermões e Práticas, 1ª parte, Lisboa, Oficina Deslandesiana, 1711. —, Direcção para ter os Nove Dias de Exercícios, Lisboa, Oficina de Música, 1725 (1757). —, Nova Floresta ou Silva de Vários Apotegmas, t. IV, Lisboa, José António da Silva, 1726. —, Os Últimos Fins do Homem, Lisboa, José António da Silva, 1728 (1761). —, Nova Floresta ou Silva de Vários Apotegmas, t. V, Lisboa, José António da Silva, 1728. —, Estímulo Prático para seguir o Bem e fugir o Mal, Lisboa, António Pedroso Galrão, 1730 (1762). —, Sermões e Práticas, 2ª parte, Lisboa, Congregação do Oratório, 1733. —, Vários Tratados, 2 tomos, 1737 (1762). —, Paraíso de Contemplativos, Lisboa, Oficina da Congregação do Oratório, 1739. —, Compêndio doutrinal, 1744. —, Estímulo do Amor Divino, 1758. —, Tratado breve da oração mental, 1775. —, Meditações sobre os quatro novíssimos do homem, 1798. —, Dois discursos do grande clássico português P. Manuel Bernardes, 1907.
b) sobre Padre Manuel BERNARDES
ALMEIDA, Vieira de, “Prefácio” à ed. fac-similada da 1ª ed. de Os Últimos Fins do Homem, Lisboa, Ed. da “Revista de Portugal”, 1946. CONSTANTINO, Maria Clara Rezende, A Espiritualidade Germânica no Pe. Manuel Bernardes, S. Paulo, 1963. CORREIA, João David Pinto, “Luz e Calor” do Pe. Manuel Bernardes – Estrutura e Discurso, Coimbra, 1978. DIAS, J. S. da Silva, “Nota sobre as fontes do Pe. Manuel Bernardes”, in A Congregação do Oratório de Lisboa – Regulamentos Primitivos, Coimbra, 1966. LIMA, Ebion de, O Pe. Manuel Bernardes – Sua Vida, Obra e Doutrina Espiritual, Lisboa, 1969. MARTINS, A. Coimbra, “Manuel Bernardes e o quietismo”, in Colóquio, nº 13, Lisboa, 1961. —, “Introdução” a Leituras Piedosas e Prodigiosas, Lisboa, s.d. (1962). MIRANDA, Nicanor, O Vocabulário do Pe. Manuel Bernardes, São Paulo, 1962. PIRES, M. Lucília Gonçalves, Para uma leitura intertextual de “Exercícios Espirituais” do Pe. Manuel Bernardes, Lisboa, 1980. —, “BERNARDES (Manuel)”, in Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa-1, Lisboa, Verbo, 1995, colunas 652-656. —, “Os últimos fins do homem na obra do Padre Manuel Bernardes”, in Revista da Faculdade de Letras – Línguas e Literaturas (“Os” últimos fins” na cultura ibérica [XV-XVIII]), Porto, 1997, pp. 173-186. RICARD, Robert, Études sur l´histoire morale et religieuse du Portugal, Paris, 1970. SILVA, Isidro Ribeiro da, “Introdução” a Manuel Bernardes – Nova Floresta, Lisboa, 1965.
[1] Para não sobrecarregar o texto com notas e citações, opto por não identificar os excertos.
[2] Apud Paul de Man, op. cit. , p. 37.
[3] Cf. prólogo-dedicatória à avó de D. Sebastião citado por João Palma-Ferreira, no importante prefácio a Contos e Histórias de Proveito e Exemplo de Gonçalo Fernandes Trancoso (Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1974, p. XVI).
[4] Sebastião Resende, “Apresentação”, in Cadernos 20 , Minas Gerais, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guaxupé, 1971.
[5] António José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, 16ª edição, Porto, Porto Editora, s.d, p. 532.
[6] Cf. Teresa Colomer, introducción a la literatura infantil y juvenil, Madrid, Sintesis Educación, 1999, pp. 15-62.
2 comentários:
e a isto se chama semear rosas num chão de núvens....
(num dia de outubro em paris sob uma chuva miuda a Yourcenar monástica e
elástica ofereceu-me uma rosa minúscula que apanhara do chão e disse à toi
pour te faire continuer a regarder la terre.
o tempo deu-me essa terra. a mesma onde hoje colho esta "rosa".
obrigada Martim.
beijo.
ysa.
um beijo
Ufa, estava a ver que não chegava ao fim...
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