2007-01-27

"poema a poema": a poesia de José Valle de Figueiredo

José Valle de Figueiredo na Livraria da Praça (26 de Março de 2006)

“O seu a seu poema”(2006) de José Valle de Figueiredo compreende grande parte da obra literária do Autor publicada entre 1959 e 2002. Impresso o conjunto de poemas em finais do ano que há pouco findou, só no início de 2007 é que o título começou a ser visto pelas livrarias. Trata-se, para mim, de um dos grandes livros de 2006, estando por isso de parabéns a Imprensa Nacional-Casa da Moeda por esta oportuna publicação.
Prefaciada competentemente por José Carlos Seabra Pereira, a colectânea poética permite, finalmente, um mais fácil acesso a obras do poeta tondelense há muito esgotadas ou pouco divulgadas, possibilitando ainda uma visita quase completa a criação dispersa por jornais, revistas e opúsculos.
Mais do que recomendável, encontramos em Valle de Figueiredo um signo oriental que não cessa de se fechar, registando-se, nesse fechamento, uma unidade macrotextual admirável e produtiva. Mas não só. Espantar-se-á o leitor, ferido pelo desconhecimento, por tão virtuosa força de estranhização retórico-estilística, a ponto de se poder falar de um dos mais fecundos idiolectos poéticos da literatura portuguesa.
Oracular e próxima do “mistério redentivo cristão” (Seabra Pereira), esta poesia é também saborosamente nostálgica de um tempo outro, merecendo menção interpretativa a presença de uma “mágua”, que é um sofrimento marítimo e aquático que urge reparar.
Escutadora da palavra como uma “sacralidade arquetípica” (Fernando Martinho), a poética de José Valle faz-se do corpo físico dos semas e dos signos mais agudos.
Ultimando-se a escritura poética em rito textual de força sófica, destaco do vasto conjunto aquela bela “Proposição” de “O Afinador de Versos” (1998), que transcrevo:

Exígua luz que alumia
ao sol do poema
que se me escreve na parede fria.
Nada me resta:
só a luz de cada dia
visita a minha morte
e mais outro dia.

E sob o mesmo signo me retiro, para ler o fulgurante “Requiem por Jan Palach”. A não perder, entre as páginas 145 e 146.
[texto publicado no Jornal do Centro de ontem]

4 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

duas vezes obrigada.


já beto...:)



com o som da água.



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solidária.

beijo.


agradecido.

Anónimo disse...

Excelente poesia e importante nome!

Anónimo disse...

Continuo a conhecer mal, por defeito. Obrigado, de novo, pela sugestão...

Susana Barbosa disse...

Belo. A luz de cada dia...
E amanhã será outro dia!
Bjs