2007-03-06

corpo litoral

se calhar nem lembras as mesas quentes
o orvalho caindo no centro da noite o vento
trazendo as preces das vindimas o archote
irrespirável encostado às ruínas o parto
dos animais acordando as trevas os medos.

não cresci assim antes encostado ao mar
e às casas dos ingleses presos ao tea time
à ordenação das coisas dentro da solidez
dos bairros e avenidas rápidas pela foz.

agora volto ao atlântico à procura do lugar
e vaga uma mesma canção sopra-a a brisa
para dentro de um corpo litoral desabrigado.

há um frio na maré e na pele as velas rompem
desossando a carne o sangue negro ardendo.

começa o dia e das sombras os sinos amanhecem.

7 comentários:

Anónimo disse...

Corpo interior versus corpo litoral... está tão bonito este poema, desculpe, estas ou outras palavras são banais para o que quero dizer. Apenas digo, obrigada.

isabel mendes ferreira disse...

~e volto agora a este ponto onde o litoral fica longe demais~

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procuro aqui a brisa inspiradora.

e encontro a pele do que não sei dizer.

nunca saberei...:(


bom dia "navegador" Martim.

de incêndios.


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beijo.

Anónimo disse...

Poema notável!!!! ABRAÇO!!!!

porfirio disse...

olá martim
.
.
.
PROFÉTICO... e cristalino!
.
.
.
um abraço

Anónimo disse...

Estrondosos sinos, profundos. Gostei muito mesmo.

Abraço!

veritas disse...

prefiro o orvalho caindo no centro da noite e as preces das vindimas, nasci encostada ao mar, mas não cresci encostada a ele...que saudades da infância no meio das preces da vindima...como Al Berto" a desolação ergueu-se definitivamente em seu redor como um silvo de navalha à saída da desmoronada infância..."

Bjs.

morffina disse...

Wow! The bells are still tolling in my head (now at teatime)!
E não perdes muito tempo com isto! Imaginemos se o fizesses!

Abraço
MF