Novelista, advogado, diplomata e doutrinador português, António de Sèves nasceu em Leomil, no dia 17 de Fevereiro de 1895.
Casado, sem descendência, com a Senhora Dona Fernanda Malheiro Toscano de Sèves e filho do Dr. António Maria Augusto Pereira de Sèves e Oliveira e da Senhora Dona Adelaide Estêvão de Oliveira, António de Sèves licenciou-se em Direito, na Universidade de Lisboa, nunca escondendo a vontade de seguir a vida diplomática. Estranhamente ou talvez não, a sua adesão ao monarquismo integralista constituía à época obstáculo ao seu desejo, como o comprova o indeferimento no concurso de 1923 para o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Decidido como o pai, que fora combatente monárquico nas fileiras de Paiva Couceiro, abriu banca de advogado em Lisboa, ficando célebre, como o refere A. Bento da Guia, a sua actuação brilhante no julgamento do processo do Banco Angola e Metrópole. Persistindo no gosto diplomático, foi, em 26 de Agosto de 1927, nomeado cônsul de 3ª classe, passando, em 16 de Março de 1928, para a Direcção Geral dos Negócios Políticos e Diplomáticos. Volvido pouco mais de um ano, ei-lo nomeado para a Secretaria Portuguesa da Sociedade das Nações. A partir daí, desempenhou com particular brilho e empenho a carreira diplomática, cumprindo missões em diferentes cidades europeias. Agraciado pelos serviços prestados – Séves foi Comendador da Ordem Militar de Cristo, Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada, Comendador da Ordem de Leopoldo da Bélgica, Comendador da Ordem do Carvalho do Luxemburgo, Cavaleiro da Legião de Honra da França e Cavaleiro da Ordem da Casa da Bélgica, obtendo também a Grã-Cruz da Ordem de Mérito de Espanha e a Grã-Cruz da Ordem de Mérito do Egipto -, Membro do Supremo Conselho Cultural da Causa Monárquica a partir de 1953, António de Sèves veio a desempenhar com notoriedade o cargo de Lugar-Tenente de El-Rei, nele se empenhando com inquestionável dedicação, como o comprova a seguinte tirada de Henrique Barrilaro Ruas:
“A grande conquista que Vossa Excelência fez para a Monarquia foi defendê-la do partidarismo. Estou certo de que, por muitas que sejam as vicissitudes que tenhamos de experimentar, essa conquista essencial está feita de uma vez para sempre. E foi preciso que um lugar-tenente chamado António de Sèves tivesse tido a inteligência e a audácia de o proclamar, para que essa vitória fosse possível.”
Décadas atrás, recém licenciado em Direito, António de Sèves reserva à literatura, contidamente, as décadas de dez e de vinte do século anterior. E na ânsia de o fazer, colou-se à sua Leomil, levantando não só na obra homónima um caso literário interessante, que lembra algum Aquilino, nomeadamente pela utilização de espaços similares, de linguagem regionalista e de entrechos encaixados na circunstância. Ao tempo, ainda o Mestre da Nave (Terras do Demo é de 1919) não caldeava a sua escrita urgente nas águas lustrais da sua circuntância, pelo que Leomil permite dizer-se que o seu Autor é um Aquilino ante litteram. Tal aposição releva das informações dadas por Sèves no prefácio do seu livro, que indicam que o Autor iniciou o conjunto no Verão de 1912, em Viseu, prolongando o seu trabalho pelos anos seguintes até 1918. Entretanto, publicara António de Sèves um conto (?) etnográfico (“O San Tiago em Leomil (Beira Alta)”), dedicado “À Mademoiselle Cotovia” e saído a lume na revista Terra Portuguesa, texto com importantes achegas lexicográficas, seja no corpo do texto, seja ainda em rodapé, lembrando, no cuidado filológico, Tomaz de Figueiredo e o seu Dicionário Falado.
O prefácio que permite fixar o termo a quo António de Sèves inicia a sua missão literária adentro dos “scenarios da vida rustica” ajuda ainda à reconstituição da vida do escritor, sabendo-se que nesse Verão de 1912 esteve por Viseu, onde se encontrou com António Alves Martins e Fernando de Quental. Em 1913, estará o novelista na Graciosa dos Açores, aí privando com o Doutor Luís Cabral de Moncada. Cumprida a missão que o pai por aí desempenhara como juiz, regressa ao Continente no ano seguinte e trava conhecimento com Hipólito Raposo. No Natal desse ano de 1914, em Leomil, estabelece o plano de escrever uma série de livros sob o título englobante Beira-Alta, abrindo o projecto com “um volume sobre o viver rural” da sua terra, que se cumpriu em 1921, nada se conhecendo do sobejante desejo. Ao contrário do que defende Manuel Ribeiro, as palavras iniciais sevianas não me parecem negligenciáveis, seja pelo aclaramento do roteiro genético-textual e biográfico, seja ainda pela afirmação autoral da consciência de estar desbravando um género novo.
Eis, pois, e no sentido de Gastão Cruz, uma “paisagem, nada abstracta, / aos poucos revelada a uma luz / crescente insinuada”.
5 comentários:
Em tempo de festa santa, quero
desejar-lhe uma Pascoa feliz.
Um abraço
excelente paisagem....este blog ameaça tornar-se O blog....
_____________________O beijo.
bom dia Martim.
gostei de ler
jocas maradas de chocolate
Já fui a Leomil. Boa-noite!
Viva o Rei! Sempre!
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