2017-12-23

Lembrar «Oblívio» de Daniel Jonas...


Lembrar «Oblívio» de Daniel Jonas...

É um dos livros do ano, claro! A toada sonetista de Daniel Jonas é surpreendente, numa medida quase saturada pelo uso. Como um epimítio, o uso sem abuso ensina que a surpresa nasce da surpresa e no estro. Permite este Oblívio sonetos como o que transcrevo:

AQUI NESTA TEBAIDA, OUÇO A PAZ.
Aceito a tua luz, o teu negrume,
Meus olhos são pastagens p'ra teu estrume,
Aceito o que me deres e o que não dás.
Eu ouço a metafísica das sarças,
As bruxas megalíticas das argas,
Reviro pedras, lágrimas amargas,
Procuro-te nos paus, nas rãs, nas esparsas.
Aceito que te busque e não me fales.
Onde estarás: na urze, na perpétua,
No verso mais perfeito, em rima incerta?
Aceito ouvir-te e tudo me cales.
À uma és e não; o tudo e o quase.
Em toda a parte estás, eclipse e fase. [p. 41]

2017-10-29

Pensamento assistido por Margery Allingham


Assim diz a escritora: «O principal numa autobiografia, sempre o pensei, é não deixar que a modéstia se intrometa e estrague a história.» [Margery Allingham, Homicídio no campo, Lisboa, Círculo de Leitores, 1990, p. 7.] 

2017-09-28

poema para fernando mouga: viseu, 1949




poema para fernando mouga: viseu, 1949

nas margens do tempo, dentro da luz,
há gavetas, arquivos, cintilações, assombros.
talvez uma flauta imaginante, de alados dedos,
pudesse ferir esta memória, torná-la jardim
e chão de terra perante os olhos levantado.
vibrante o mundo parado espera. na coroa
opaca do dia há um encontro em julho,
uma pétala de missão na sombra do sangue:
álvaro cunhal caminha para fernando mouga
neste  viseu de 1949 em busca de uma imagem,
de uma fotografia sua para escrever um rumo.
mas antes houve um abraço, um mar alto…
era necessário encontrar na cidade um fotógrafo
e mouga à rua saiu neste dia assim como breve rosa
procurando o lugar, com cunhal no clube de viseu
e as vimeiro com salsaparrilha no hálito de ambos…
da conversa com o fotógrafo germano o assombro,
uma rosa vermelha nesta terra antiga: fazer era fazer.
mouga e cunhal reencontram-se e vertiginoso farão,
nos abismos do dia, um caminho de uns quantos metros,
distanciados ambos, pela rua dita formosa e principal.
esta rosa, esta memória deflagrante escreve-se no fogo.

2017-09-19

O futuro de Aquilino - a premonição de Almeida Azevedo


Beijando a mão de Sua Majestade O Rei, O Senhor Dom Manuel II, António Emílio de Almeida  Azevedo, em carta emanada do Juízo de Instrução Criminal de Lisboa, em 13 de maio de 1910, oferecia-se para ir a Paris interrogar o emigrado Aquilino Ribeiro. Assim diz o ilustre magistrado:

«Vossa Majestade quere que eu vá ámanhã a Paris falar com o Aquilino? Por êste, sim, podemos saber tudo.» [sic]

É uma premonição fantástica, esta, a de Almeida Azevedo - afinal, como não entrever o fulgurante múnus atirado contra os nossos olhos. Vamos juntos, leitores, e mergulhemos na literatura de vastos horizontes.

Prémio Aquilino Ribeiro 2017


2017-09-16

Aquilino e Luandino - um encontro sem distância

[Fotografia do jornal Público]


Quando Aquilino Ribeiro, correndo o ano para 1951, fixava no capítulo XV da sua magnífica Geografia sentimental (História, paisagem, folclore) uma fulgurante síntese vivencial na última titulação capitular - refiro-me à legenda "O regresso à condição" ( Op. cit., Lisboa, Livraria Bertrand, 1951, p. 275.) - não sabia ainda da glória desse conjunto, nem tão pouco que alguns anos à frente, cerca de dez, Luandino Vieira glosaria tal referência naquele «esse regresso à sua gente» (José Luandino Vieira, Nosso musseque, Lisboa, Caminho, 2003, p. 18.), em texto que o escritor angolano (e português) escreveu na prisão da pide (assim, com letra pequena), em Luanda, entre dezembro de 1961 e abril de 1962, com publicação volvidos quarenta anos.
A benefício de inventário, diga-se ainda que ali por 2001 voltou esse bloco significativo a uma publicação de título  O regresso à condição.Viseu, ut pictura poesis, sendo a ideia titular de Ricardo Pais, tendo eu parte colaborativa na organização da antologia poética e plástica.

2017-09-13

Aquilino e a língua de autor


Em asserto que só pode ser definitivo, Urbano Tavares Rodrigues defende:

«Nas literaturas de língua portuguesa, as que de momento nos importam, é ainda maior a distância entre o caudal vocabular e sintáctico dos grandes clássicos, à excepção de Camões, que rompeu a barreira de vários códigos limitativos, e as línguas de autor, prodigiosamente amplas e fecundas, de um Aquilino Ribeiro, de um Guimarães Rosa, de um Luandino Vieira.» (A natureza do acto criador, Lisboa, INCM, 2011, pp. 10-11.)
É bom ouvir isto hoje em dia de celebração e de exemplar trabalho criativo. Aquilino nasceu hoje e sempre será futuro.

2017-08-29

Pensamento assistido por Teixeira de Pascoaes


Recito Pascoaes porque não sei dizer assim:

«Amo os anarquistas porque a minha índole é maldosa, como a de todos os seres que não têm vergonha de viver, pois viver é persistir na prática dum crime. Saiba isto o senhor santo da montanha, e o senhor anacoreta do deserto, e outros lobos e camelos, que o lobo é santo e montanha, como o camelo é anacoreta e deserto, e a baleia é nauta e oceano, e a cotovia é ave e céu.» (O Homem Universal, Lisboa, Edições Europa, 1937, pp. 58-59.)

Santo, santo Pascoaes...

2017-08-24

Pensamento assistido por André Breton

Subscrevo, claro:

«A beleza convulsiva terá de ser erótica-velada, explodente fixa, mágico-circunstancial, ou não será beleza.» (André Breton, O amor louco, Lisboa, RBA Editores, 1995, p. 20. Tradução de Luiza Neto Jorge.)

2017-08-09

SOBRE O LEITOR DE AQUILINO – O CASO DE JOSÉ MANUEL MENDES




SOBRE O LEITOR DE AQUILINO – O CASO DE JOSÉ MANUEL MENDES

Não pode haver fé nisto: um leitor é um leitor, não é uma “carroça” de interesses. Dos afeitos aquilinianos, leitores dele, do Mestre, sem exclusivo, não valerá a pena falar – os textos críticos aí estão desde há décadas sem interesse de nomeação.
Serve este intróito para dizer que Aquilino, como mão escrevente de obra canónica e incontornável, interessa aos leitores que lêem, não às facções e interesses, que nesse produtivo jogo se esgotam, com toda o êxito temporal que nisso se encerra.
Citarei, no entanto, um desses leitores que, porque o é, lê Aquilino, tanto mais que o nosso escritor, que José Manuel Mendes também é, ´permanecerá indisputável – um leitor lê Aquilino, sem discussão.
Diz Mendes e eu subscrevo, com um arrepio na pele, face ao carácter certeiro do asserto:
«Daí que recordar hoje Aquilino Ribeiro, um dos indómitos construtores dos estuários de abril (em que não mergulhou a sua euforia pelo conjugar de energias para um porvir mais justo), seja honrar o aceso passado da nossa esperança transformadora. Aquela que prossegue em nós, qualitativamente fertilizada pelos sinais e experiências de uma certeira visão da história, por sobre todos os incidentes, até cumprir-se a humanizadora jornada que é o húmus que nos aviventa,» (Mastros na areia, Viana do Castelo, Centro Cultural do Alto Minho, 1987, p. 36.)
Assim Aquilino, assim o poder de uma profunda transmissão…

Viseu, 9 de agosto de 2017
Martim de Gouveia e Sousa

2017-07-24

A BIBLIOTECA ILUMINADA – sobre «A biblioteca à noite» de Alberto Manguel




A BIBLIOTECA ILUMINADA – sobre A biblioteca à noite de Alberto Manguel

É um caso raro de fascínio este de haver um objecto literário de cerca de 300 páginas que nos obriga (obriga mesmo!) a uma prisão de fim-de-semana. Partindo de si, da sua biblioteca “desordenada”, é de fulgurações e de desvelos e de incêndios bibliográficos que Manguel fala. Sendo mito, ordem, espaço, poder, sombra, forma, acaso, oficina, mente, ilha, sobrevivência, esquecimento, imaginação, identidade e lar, a biblioteca é tudo e é nada, e é mais do que a própria vida.
Não mais do que consolação buscando, Alberto Manguel constrói a sua biblioteca nocturna, nascida com a forma de “um celeiro alcandorado numa pequena colina a sul do Loire”, como quem erige um farol no tempo, historiando, relacionando, escrevendo e interpretando. E o que ressuma desse labor é a conclusão de estarmos perante um fabuloso leitor de livros com uma incisiva capacidade mostrativa.
Para a nossa glória de portugueses são mencionados os nomes de Eça de Queirós, Camões, Padre António Vieira e Fernão Mendes Pinto, bem como o seminário israelita português. E parte disto é um glorioso cânone assim reconhecido por um leitor comum e profundo…

2017-07-17

Pensamento assistido por George Steiner


«A maior parte das pessoas não lê livros. Porém, canta e dança.» (Lisboa, 2007, p. 9) Eis uma steineriana, mais uma, fulgurante e cirúrgica. A leitura é uma arma, pois. Ou uma arte não menor que é pormenor maior. Isto é, cantas e danças. Muito bem. Mas lerás? Assim não sendo, por que cantas e por que danças?

2017-06-27

Pensamento assistido por José Saramago


«Tudo é biografia, digo eu. Tudo é autobiografia, digo com mais razão ainda, eu que a procuro (a autobiografia? a razão?). Em tudo ela se introduz (qual?), como uma delgadíssima lâmina metida na fenda da porta e que faz saltar o trinco, devassando a casa.» 
(José Saramago, Manual de pintura e caligrafia, Lisboa, editorial Caminho, 2ª, 1983, p. 207.)

2017-06-22

Um dos mais belos "explicit" da literatura em Vergílio Ferreira


Um dos mais belos "explicit" da literatura em Vergílio Ferreira

Não espantando o caráter superior da escrita vergiliana para quaisquer leitores comuns, importa, nessa supletividade, destacar, ainda assim, os momentos altíssimos que o romancista nos legou. Em Até ao fim (1987), encontramos um dos mais belos explicit literários:

«Tenho uma bebida na pequena mesa ao lado da cadeira de lona, quase a esqueci. Beber devagar com a noite que desce. Uma serenidade invulnerável alastra pelo universo. os rapazes da piscina cá do alto recolhem a casa. A piscina deserta. O mar deserto até ao limite do poente. A vida inteira dentro de mim.»

2017-06-13

«Livros do Brasil» homenageiam Aquilino


«Livros do Brasil» homenageiam Aquilino

Das importantes e saudosas colecções trazidas a lume pela editora «Livros do Brasil", algumas agora redivivas mas sempre com diferente e inferior sabor, destaco aquela que aparece na fotografia: «O Jardim das Tormentas». Trata-se, como o confirma a badana, de uma clara homenagem a Aquilino Ribeiro, de uma homenagem à "sensualíssima prosa do mestre Aquilino Ribeiro". Abre a colecção o erótico «Isabel e as águas do diabo" de Mircea Eliade.

2017-06-09

Vasco Graça Moura e Aquilino Ribeiro – o acorde literário


Vasco Graça Moura e Aquilino Ribeiro – o acorde literário

Na sempre estimulante e certamente esquecida crónica que Vasco Graça Moura subscrevia na revista Sábado da década de 80 – e refiro-me a “Semana inglesa” -, não esquecia o escritor e cronista o fulgor canónico de Aquilino Ribeiro ao aludir ao matizado descaso de Mau tempo no canal, de Vitorino Nemésio, que, em 44 anos, conhecera apenas sete edições correntes (estávamos em 1988) e que era, no entendimento graçamouriano, um caso de um romance dotado de todas as qualidades do género.
Tal texto, intitulado “Mau tempo”, integra escassas menções de obras-primas do mais de meio século português até então vivido pela literatura portuguesa. Moura fala apenas de Nemésio, Torga e Aquilino. E de Aquilino apresenta dois títulos que são casos de “um acorde perfeito e iluminante entre a escrita, a matéria e a realidade”: O Malhadinhas e A Casa Grande de Romarigães.
Viseu, 8 de junho de 2017

Martim de Gouveia e Sousa

2017-04-27

Arco de palavras sobre: Carlos de Oliveira com Aquilino Ribeiro


Arco de palavras sobre: Carlos de Oliveira com Aquilino Ribeiro

Aquilino Ribeiro morreu hoje, isto é, nesta data de dois séculos já. E não deixa de ser um fulgurante indício do grande primado de influência que o Mestre da Nave exerce sobre muitos a convocação que Carlos de Oliveira, um escritor que profundamente aprecio e admiro, dele faz, por exemplo, nessa obra maior que é O aprendiz de feiticeiro (1971), título que reúne e remodela muitos dos textos disseminados pelo autor, entre 1945 e 1970, por jornais e revistas.
Abre o interessantíssimo título com o texto “A viagem”. E logo aí se desprende a presença de Aquilino, a propósito do mágico, eufónico e estranhizante verso de Adriano “Animula vagula blandula.” Assumindo o carácter perturbante de tais palavras, não lembra o poeta (Carlos de Oliveira, leia-se) onde terá descoberto tal verso, sabendo sim tê-lo vindo a reencontrar em várias leituras, sempre com um renovado sobressalto. Ouça-se e leia-se o primeiro exemplo:
“Recordo-me por exemplo dele numa página de Aquilino. E agora, localizá-lo na obra enorme? Folheei volumes e volumes: nada. Contudo, está lá. Numa dessas páginas maiores que põem no frémito da vida o toque do que é precário, passageiro e, simultaneamente, consciência disso.”[1]  
Não é pouco o que aqui se diz – haver memória de Aquilino a propósito de tão sugestivo verso, referir a obra do Mestre como “enorme” (de “volumes e volumes”) e dizê-lo detentor de páginas maiores, tudo isto nunca pode ser pouco. Para complementar a informação de Carlos de Oliveira diga-se que o verso de Adriano se encontra, por exemplo, no prefácio de o livro de Marianinha. Lendalengas e toadilhas em prosa rimada (1967):
“Tenho esperança, Marianinha, que, algum dia, já eu longe do mundo, as leias e te façam sorrir. E, no ocaso como estou, consolo-me à ideia de que nesse sorriso perpasse a vibração da animula vagula blandula do que fui, e se vai diluindo e afundindo no golfo do tempo como as estrelinhas que abrem e fecham a pálpebra sonolenta na praia areada duma noite de verão.” [2]
E segue Carlos de Oliveira depós o Mestre quando, ao defender que o livro não é comprado pelos que mais facilmente o poderiam comprar, escreve o seguinte:
“Aquilino Ribeiro diz num livro publicado há pouco, a propósito dos fidalgos no tempo de Camões: ‘Eram ignaros como seus cavalos de raça e disso faziam gala.’” (p. 77)
Di-lo ainda Oliveira um mestre proverbial da prosa (p. 87), um escritor canónico (p. 167), ouum camonianista (p. 192), não deixando, por último, de aludir a um povo “malhadinhas (no sentido aquiliniano do termo)” (p. 232).
Criador de obras “ das que não morrem nunca”[3], como o diz Nelly Novaes Coelho, Aquilino Ribeiro nasce hoje e todos os dias, no ritual que é morte e logo vida, continuando a produzir como se o penetrasse “um ardente e fecundo verão”.  Que vemos, que claramente vemos!

Viseu, 27 de maio de 2017
Martim de Gouveia e Sousa



[1] Carlos de Oliveira, O aprendiz de feiticeiro, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1971, p. 9.
[2] Aquilino Ribeiro, o livro de Marianinha. Lendalengas e toadilhas em prosa rimada, Venda Nova, Livraria Bertrand, 1967, p. 7. Ilustrações de Maria Keil.
[3] Nelly Novaes Coelho, Escritores portugueses do século XX, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2007, p. 102.

2017-04-16

Pensamento assistido por Salvador Espriu


Salvador Espriu é um poeta avassalador. São versos e versos de poesia maior. Colho ao acaso e suspiro com a profundidade e o assombro do milagre das origens:

Però ja no volem plorar
més el temple, 
ni sofrir per l' infinit enyor 
de la nostra ciutat. [VII, 27-30.]

Mas já não queremos chorar
mais o templo,
nem sofrer pela saudade infinita
da nossa cidade. [VII, 27-30, tradução de Manuel de Seabra, 1975.]

É uma poesia que dói como a palavra que o é...

2017-04-13

Pensamento assistido por António Osório


A poesia usa-se e abusa-se, não parecendo lícito o deslize da melhor linguagem por vias tão sinistras. Serve ainda para certas épocas do fluvial do tempo, como este grande lugar de António Osório que é o 2º dos "Doze fragmentos de sabedoria oriental" de O espectador divino (1996):

« O adulador cansa-se mais que um camponês durante o verão.» (p. 4.)

Use-se o dito. Abuse-se até.

2017-04-03

Uma história inesquecível: Augusto Ferreira Gomes e Aquilino Ribeiro


Uma história inesquecível: Augusto Ferreira Gomes e Aquilino Ribeiro

Tocando-se, influenciando-se ou dando-se à amizade e camaradagem, as pessoas comunicam e são sutura. Há histórias de atores fluviais do tempo que, de deslembradas, permanecem esquecidas, adormecidas. Talvez não haja outro escritor português assim, como Aquilino, imerso em bordões e epítetos nada significativos, porque os apodos vulgares são mesmo isso, vulgares e insignificantes.
Sem espoletar que não seja em afloramento a classificação regionalista ou a tal impresença da digladiação modernista, lembro, ao correr da pena, que em matéria aquiliniana não há grilhetas, barreiras ou muros – pelo contrário, nele, bloco criativo multímodo, radica o fogo criativo da descoberta e do risco.
Vem este arrazoado a propósito do livro No claro-escuro das profecias (Lisboa, Portugália Editora, s.d. [1941].), de Augusto Ferreira Gomes, com a dedicatória alta “À memória do astrólogo Fernando Pessoa”. Ferreira Gomes foi, a partir da morte de Mário de Sá-Carneiro, o principal amigo de Pessoa (Bréchon di-lo “o melhor amigo de Pessoa”, p. 570.) e, como o defende o mesmo Robert Bréchon, o seu guia da astrologia (Robert Bréchon, Estranho estrangeiro. Uma biografia de Fernando Pessoa, Lisboa, Círculo de Leitores, 1997, p. 315.).
E é já meio do livro que se dá o encontro de dádiva, de parceria, entre Ferreira Gomes e Aquilino – a fim de provar que a gravura do século XVII não é, como Fontbrune defendia, Paris, sendo antes, como o comprovaria uma gravura do século seguinte, Londres. O nó, que á laço também, surge na nota da p. 89: “A gravura de Londres do século XVIII foi-nos cedida pelo escritor Aquilino Ribeiro e já serviu para a capa do seu livro O Cavaleiro de Oliveira.” Mas deixemos o incêndio de Londres, que Ferreira Gomes vê em edição holandesa de 1668 das Profecias de Nostradamus, e perguntemos apenas – estará nisto uma sugestão de Aquilino?
Mar vasto é a obra de Aquilino, que todos os dias se adenda e complementa – não cessem trabalhos, nem dias.
Viseu, 3 de abril de 2017

Martim de Gouveia e Sousa 

2017-03-21

Carlos de Oliveira, "E vida seja".


XXII

E vida seja,
ela que morde e rasteja
os sonhos que desdobra.
E vida seja
a baba do beijo,
quando beija
- a Cobra.

[Carlos de Oliveira, Turismo. 1. Amazónia. 2. Gândara, "Novo Cancioneiro- 7", Coimbra, 1942, p. 73, 2.XXII.]