Lembrar «Oblívio» de Daniel Jonas...
É um dos livros do ano, claro! A toada sonetista de Daniel Jonas é surpreendente, numa medida quase saturada pelo uso. Como um epimítio, o uso sem abuso ensina que a surpresa nasce da surpresa e no estro. Permite este Oblívio sonetos como o que transcrevo:
AQUI NESTA TEBAIDA, OUÇO A PAZ.
Aceito a tua luz, o teu negrume,
Meus olhos são pastagens p'ra teu estrume,
Aceito o que me deres e o que não dás.
Eu ouço a metafísica das sarças,
As bruxas megalíticas das argas,
Reviro pedras, lágrimas amargas,
Procuro-te nos paus, nas rãs, nas esparsas.
Aceito que te busque e não me fales.
Onde estarás: na urze, na perpétua,
No verso mais perfeito, em rima incerta?
Aceito ouvir-te e tudo me cales.
À uma és e não; o tudo e o quase.
Em toda a parte estás, eclipse e fase. [p. 41]
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