FARPINHAS
– QUINZE
Foi
Ricardo Paseyro quem me chamou a atenção para a proliferação destes seres tão
adequadamente apodados de «filósofos saca-migas». Mas eu já os conhecia e
sempre, sem grande acrimónia, contra eles vociferei. Coitados, se se alimentam
de evidências e vulgares notícias quotidianas!
Como
máquinas de recorte, os filósofos saca-migas estão sempre perto de nós. Amigos
do mundo, mesmo que o conhecimento tenha segundos, estes filósofos nascentes
nascem sábios. Por via de norma, estes amigos do saber falam sobre assuntos
muito recentes e às vezes contam-nos a sua bulimia – para eles não há
fronteiras, bebendo em grandes haustos televisão, internet, música, jornais,
lançamentos, colóquios, casamentos, batizados, necrológios e, pasme-se,
informação detalhada dos produtos das grandes superfícies.
Estes
pinta-monos da moda, também ditos filósofos saca-migas, são muito bem
apanhados, porque, de facto, tudo apanham. Presos no acúmulo dos acontecimentos,
alguns destes espécimes andam a escrever umas inenarráveis «histórias de um átomo»
há duas décadas. Outros, cumprem ainda o rigor da primeira década. Mas, em
rigor, o mais normal é que o filósofo saca-migas nada diga. Na azáfama do
sacar, o estranho filósofo de nada se apercebe. E nisso está toda uma filosofia
que o saca-migas não divisa.
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