2014-03-18

farpinhas - quinze

FARPINHAS – QUINZE

Foi Ricardo Paseyro quem me chamou a atenção para a proliferação destes seres tão adequadamente apodados de «filósofos saca-migas». Mas eu já os conhecia e sempre, sem grande acrimónia, contra eles vociferei. Coitados, se se alimentam de evidências e vulgares notícias quotidianas!
Como máquinas de recorte, os filósofos saca-migas estão sempre perto de nós. Amigos do mundo, mesmo que o conhecimento tenha segundos, estes filósofos nascentes nascem sábios. Por via de norma, estes amigos do saber falam sobre assuntos muito recentes e às vezes contam-nos a sua bulimia – para eles não há fronteiras, bebendo em grandes haustos televisão, internet, música, jornais, lançamentos, colóquios, casamentos, batizados, necrológios e, pasme-se, informação detalhada dos produtos das grandes superfícies.
Estes pinta-monos da moda, também ditos filósofos saca-migas, são muito bem apanhados, porque, de facto, tudo apanham. Presos no acúmulo dos acontecimentos, alguns destes espécimes andam a escrever umas inenarráveis «histórias de um átomo» há duas décadas. Outros, cumprem ainda o rigor da primeira década. Mas, em rigor, o mais normal é que o filósofo saca-migas nada diga. Na azáfama do sacar, o estranho filósofo de nada se apercebe. E nisso está toda uma filosofia que o saca-migas não divisa.

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