2012-09-26

Ruínas



RUÍNAS

Há um sufoco em volta. Uma boca metálica, de riso verde, vai devorando as memórias, usurpando os melhores lugares. Não há mais lugar para o riso desinteressado, nem tão pouco um espaço para o debate isegórico – agónicas, as lâminas encostam-se à pele, fendendo o marfim dos ossos. O que resta do que fomos?
Como no poema* de António Franco Alexandre, a minha terra, “feita de sangue e ossos e / o vácuo chão da carne” (p. 8), declina como “terra negra, húmida de arbustos” (p. 7) para dentro de insondável abismo. A puridade dos nossos governantes, com a conivência de todas as instâncias supremas, sonegaram ao povo a sobrevivência e malbarataram até agora um ror de milhões no BPN – de tão avultada, a soma daria para quase uma dezena de pontes 25 de abril.
É do 25 de abril que falo. É desta manifestação de 29 de setembro. Eu falo do que falta fazer. Quem vem fazer connosco?   
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*Óasis, Lisboa, Assírio & Alvim, 1992. 

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