RUÍNAS
Há um sufoco em volta. Uma boca
metálica, de riso verde, vai devorando as memórias, usurpando os melhores
lugares. Não há mais lugar para o riso desinteressado, nem tão pouco um espaço
para o debate isegórico – agónicas, as lâminas encostam-se à pele, fendendo o
marfim dos ossos. O que resta do que fomos?
Como no poema* de António Franco
Alexandre, a minha terra, “feita de sangue e ossos e / o vácuo chão da carne”
(p. 8), declina como “terra negra, húmida de arbustos” (p. 7) para dentro de
insondável abismo. A puridade dos nossos governantes, com a conivência de
todas as instâncias supremas, sonegaram ao povo a sobrevivência e malbarataram
até agora um ror de milhões no BPN – de tão avultada, a soma daria para quase
uma dezena de pontes 25 de abril.
É do 25 de abril que falo. É desta
manifestação de 29 de setembro. Eu falo do que falta fazer. Quem vem fazer
connosco?
______
*Óasis, Lisboa, Assírio & Alvim, 1992.
Sem comentários:
Enviar um comentário