Havia umas cenas no
meio de nós: sobre Cenas de Gaja de
Alda Pires
Em busca de um caminho, haverá,
talvez, a pedra de Drummond de Andrade. Mas também toda a efabulação dos
perigos, com raiz, por exemplo, na voracíssima fábula do Capuchinho Vermelho. Agudamente aí, um ror de perplexidades
espreitam nas Cenas de Gaja de Alda
Pires.
Aqui fala-se do verdadeiro mundo,
o mundo dos sonhos, que procura fugir ao cinzento do real até ao exato momento
em que este, sem aviso, traz o sonho – a chegada do dia da revolução silenciosamente
vinda; toda a memória dos tempos de praia e a explosão dos ritos sensitivos; a
leveza dos corpos sexuais devorando-se sem mais até ao cansaço deceptivo; toda
a aspereza da desinocentação dos seres; a labuta por uma certa dignidade; a
viagem emigratória tão em voga pelo beneplácito dos governantes; a derrogação
da masculinização de tudo através de um proposto “mundo ao contrário”; o desejo
de mudar a vida na circunstância territorial pela revolta redentora…
Mas tudo isto é um sonho? Como em
Calderón de la Barca, a vida é um sonho que começa no corpo e no dia que nasce.
Assim estas Cenas de gaja de Alda
Pires, poeta distendida, visivelmente marcadas por um “radical de apresentação”
próprio do drama, na sua estrutura dialógica, na sua essência de possuidoras de
uma transcodificação intersemiótica avaliável em sede de representação.
Mesmo sem os lindes da codificação
integral, visíveis e analisáveis hoje in
praesentia, na aguardada apresentação, avanço, sem receio, que estas cenas
estão no meio de nós. E como não senti-las?
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