2006-04-30

Aquilino Ribeiro e o cânone literário


Um escritor pode nascer no dia 13 de Setembro de 1885 e não saber ainda que o destino o virá a tornar em figura importante. Pode mesmo começar a escrever na década de 10 ou de 20 e para sempre ficar esquecido, injustamente à margem, como aconteceu, por exemplo, com António de Sèves, esse escritor que anunciou algum do melhor Aquilino, sem que para si sobrasse uma mera nota de rodapé ou uma menção honrosa em final de capítulo.
No espaço consagrativo nem sempre cabem nomes principais de uma época, nem tão pouco encontram guarida muitos dos nomeados por figuras maiores. Os fautores do gosto, críticos-criadores ou criadores-críticos já entronizados e canonizados, estabelecem as magníficas qualidades de um sem-número de autores, que logo abraçam o silêncio e a simpatia das margens. No interim, alarga-se o espaço do provisório e o dito canónico é palavra ao vento pronunciada por um nome central que não domina a estranha forja das boas nomeações e das fundantes diferenças. Nesta massa confusa, compósita de intersecções, vaidades e suspeições, viaja o vício da perpetuação e da indústria conserveira. O perigo da literatura ilustrativa e patrimonial é evidente: permite o contacto com o esperado, o que, de facto, é um angustiante passo, que é ainda sinal de que o vezo conservadorista em literatura pode ser improdutivo e estéril. Contra o dito, ajuda à ginástica do intelecto a aposição aquiliniana, também certeira, que respigo em Abóboras no Telhado e que conduz também à perplexidade que atrás plasmei. Cito:

“Em literatura não há tropos nem pamplinas que valham. Quando se diz dum escritor: cristalizou, embora o fenómeno de cristalização seja privativo dos corpos nobres e revele uma forma superior física, significa: não o leiam que é sempre o mesmo. Ser sempre o mesmo neste mundo volúvel, versátil, esfomeado de novidades, é ocupar um grau de beleza moral que honra a espécie. Em arte, é um jubileu. Mas para o público proteico, é a sonolência.”

E emendo o dito. Porque, de facto,e entendendo com José Saramago e Alberto Correia que o mundo aquiliniano é arqueologia, entendo de imediato que o grau de beleza moral que dessa arqueologia se levanta é moderno e urgente. A cisão com o modo “caseirinho” e suspenso desse jeito único de procrastinar um “mundo já outro“ é ainda uma forma única de cristalizar a substância do momento. Como o diz, aliás, o consistente aquilianista Alberto Correia na última Beira Alta, cavando o abismo, para melhor evidenciar a nobreza do que não mais existe. Como estar-se, pois, fora da literatura?
Miguel de Sá e Melo, em 1936, dizia que o mais importante escritor português era José Régio. Cerca de duas décadas antes, por 1913, Carlos Malheiro Dias dizia Aquilino o príncipe das letras portuguesas. Dois anos depois, em 1915, no Inquérito Literário de Boavida Portugal, realizado em 1912, todos desconhecem o ainda nascente Aquilino: esquecem-no Júlio de Matos, Lopes Mendonça, Teixeira de Pascoais, Augusto de Castro, Gomes Leal, João Grave, Gonçalves Viana, Adolfo Coelho, Veiga Simões, Júlio Brandão, Visconde de Vila Moura e tantos outros, não entrevendo nas colaborações periódicas o gérmen de um escritor de eleição. Em 1934, em entrevista concedida ao “Suplemento Literário” do Diário de Lisboa, Aquilino Ribeiro, antes de expender importantes actos judicativos sobre os processos de canonização literária, é apresentado como “um dos grandes e raros casos da literatura portuguesa”. Em simultâneo, ontem como hoje, as palavras aquilinianas trazem uma visão ácida e desconfiada sobre a “shared culture”:

“À tona desta sociedade, cada vez mais mecânica e febril, manter-se-á como peixe em água o escritor oficial. Este que é um baluarte da boa ética, fiche em matéria da pátria, de religião, de política, que decanta as virtudes ambientes do burguês, do banqueiro, do comerciante, que detesta Caliban; apenas porque veste de Cândido, este resiste à avalanche. Constituir-se-á uma geração de novos Tolentinos, à mesa posta do poder. Os salões, as academias, os cenáculos distribuir-lhes-ão as migalhas do açafate como alpista aos canários. E salvar-se-á desta forma a honra literária do século.”

Também de alpista se alimenta o fóssil. O texto de Aquilino é admonitório dos perigos da estabilidade podre e de todas as relações de dependência ou de marginalização. Fender o centro e repartir para dar de novo é um imperativo saudável e estimulante. Em 1934, Aquilino convoca para a “mesa do poder” os nomes de Rocha Martins, Augusto de Castro, Gaspar Simões, Tomás Ribeiro Colaço, Ferreira de Castro e António Sérgio. Nem paz, nem harmonia na literatura, pois.
Contemplável no silêncio dos eleitos, haverá sempre um lugar à sirga para Mestre Aquilino no curso de Minerva. E os outros, que lugar para as suas vozes também definitivas?



2006-04-28

a poetisa Fernanda de Castro, a confeitaria Santa Rita e a cidade de Viseu





Este é um texto sobre os confins da memória. Dita selectiva, substantiva, atenta ao rumor das invulgares figuras que connosco cruzam, sem que se saiba, sem que se inscreva no nosso lexicon de dias assombrados.
Um outro nome que merece convocação, pela importante acção alardeada nessa vertiginosa década de vinte do século anterior e não só, é a figura também esquecidíssima de Fernanda de Castro (1900-1994). Olho só para essa década e vejo nela tanto ter trabalhado e nela ter cumprido o seu período formativo este fulgurante e persistente caso de mulher, que, "de molde mais moderno", como o afirma Gaspar Simões, publica, nesse lapso de dois lustros, obras como os livros de poesia Danças de Roda (1921), Cidade em Flor (1924) e Jardim (1928), com capas de Cottinelli Telmo o primeiro e de Bernardo Marques os dois restantes, saindo ainda nessa década o drama Náufragos (1924-1925?), o livro infantil Varinha de Condão (1924-1925?), em colaboração com Teresa Leitão de Barros, e o romance O Veneno do Sol (1928). Alguma obra se publicou antes e muito mais se viria a publicar depois.
Interessando ao nosso particular somente uma abordagem genérica dos livros de poesia editados por Fernanda de Castro na turbulenta década de vinte, diga-se que neles habita um aroma atractivo do "realismo" de Cesário Verde que lhes confere indenegável força persuasiva, inquestionável valor artístico e evidentes traços de modernidade ( são exemplo os poemas "Cidade em Flor", "Varinas", "Bairros Pobres" e não só...), pese embora a contínua e compresente religiosidade que é estruturante do neo-romantismo lusitanista: " Envolve Deus num longo e doce abraço, / a multidão fiel. / Um gosto a primavera anda no espaço. A manhã sabe a mel. // É a hora em que a fé, na comunhão,/ expulsa os fariseus./ A igreja, agora , é toda um coração./ A manhã sabe a Deus."
Abandono, breve, a poesia, ligada apenas à década de vinte, porque no seu início nos visitou, em Viseu, Fernanda de Castro. Dirijo-me pelos fios da memória para a Pastelaria Santa Rita, felizmente ainda hoje activa e com as suas notas de exemplaridade. Reconto agora aquilo que é possível saber-se pela leitura de um dos livros de memórias de Fernanda de Castro (Ao Fim da Memória. Memórias: 1906- -1939). Adianta a memorialista os profundos laços de amizade que a uniam a Branca de Gonta Colaço, referindo, de seguida, umas iluminadas férias proporcionadas pela filha de Tomás Ribeiro na quinta familiar de Parada de Gonta. Por convite de Tomás Ribeiro Colaço (“-Estamos aqui há quase um mês e que temos nós feito? Comer, dormir, andar por caminhos de cabras e que mais? Alguém conhece Viseu?”), que passava férias com Aninhas, Cristina, Laura Syder e Fernanda Castro aqui bem perto de nós, eis que a decisão de visitar a nossa cidade fica para o dia seguinte. E assim, num sonho de igrejas, monumentos, museus, palácios e casas solarengas, cedo chegaram as dez horas do dia seguinte e a esperada viagem até Viseu.
Procuro reconstruir o celulóide. Estaríamos por volta de 1920, mais ano, menos ano. O grupo de jovens, vindo de Parada de Gonta, estaciona algures na nossa cidade. Perto da Sé ou do Museu? – interroga-se com justiça o amável leitor. Não. Mais uma vez se exerceu a influência do jovem Tomás e o trem de visitantes pára, naquele ano já distante, “à porta da Confeitaria Santa Rita, especializada há mais de um século em doces de ovos, lampreias, trouxas, castanhas, pingos de tocha”, nesses prazeres-sabores se esgotando todo o dinheiro que os jovens possuíam para a semana inteira.
É esta a sina da nossa cidade desde há muito: ser um lugar de encontros de pessoas assinaladas que os homens ditos “de cultura” desconhecem, por não saberem aproximar-se das fogueiras criativas e dos espaços de identidade viseense que nunca deveriam morrer. Que memória de Fernanda de Castro? Que continuidade qualitativa na confeitaria Santa Rita?
Exagerei. Não creio. Com Fernanda de Castro e com a sua poesia, emparceira toda uma família de nomes culturalmente importantes. Cito: António Ferro, António Quadros e Rita Ferro. Não desmerecermos das nossas memórias é uma difícil e importante tarefa.
Olho, por último, para a obra poética da poetisa sobre que falo. Escreve ainda a ilustre senhora nas décadas de trinta, quarenta, cinquenta, sessenta, setenta e oitenta... Não espanta, no entanto, tamanho esquecimento. É preciso falar para a outra face, para o lado de dentro da pele, sem medo do deserto que, como o disse a poetisa, é a habitação do artista “na floresta do mundo”. A paixão, essa, rejeita a visibilidade banal e rejeita o mundo, pertencendo-lhe intimamente nesse canto desertado: “Não queiras a piedade de ninguém. / Faze do teu orgulho uma couraça. / A piedade é uma forma do desdém. / Nunca peças esmolas a quem passa.” Entende- -se?


conselho baudelairiano

Divertido tenho andado com as interessantes publicações da editora objecto cardíaco de walter hugo mãe. Abrindo com quatro colecções de nome "aorta" (poesia), "coisas de ignição" (não-poesia), "objecto longo" (um só poema longo) e "a luz posterior ou fora de colecção", o projecto editorial assume-se desde já como um espaço de indenegável liberdade criativa, onde pontua uma competente calibragem qualitativa.
Sendo este o 4º livro por mim lido dos 6 que comprei, chamo a atenção para o nº 3 da colecção "coisas de ignição", cuja capa apresento supra.
Avance o leitor até à p. 16 e aprenda o ensinamento baudelairiano desvelado pela tradução de Jorge Melícias:
Com efeito, o ódio é um licor precioso, um veneno mais caro que o dos Borgia - porque ele á feito com o nosso sangue, a nossa saúde, o nosso sono e dois terços do nosso amor! É preciso poupá-lo!
Aplique-se agora o dito abundantemente, sem receio de danos colaterais.

2006-04-27

aproveite quem quiser: para o estabelecimento do cânone literário de Carlos Queiroz




Aproveite-o quem quiser:
para o estabelecimento do corpus literário do poeta Carlos Queiroz



A Eugénio Lisboa
A p. n. ?


Perde-se o investigador em buscas contínuas, sem que muitas vezes veja premiado o seu esforço de omnívoro leitor apaixonado por um nome ou por uma presença. E quem nada escreveu ou perseguiu que o pense: nem sempre os dias são de fartas descobertas neste mundo maior de livros e publicações periódicas que muitas vezes de tanto mostrarem muito mais escondem pelo tempo dentro.
Prometo-te, pois, leitor que não escreve, nem persegue, fazer-te este trabalho de casa dentro do meu quarto onde durmo contra as muitas tapeçarias de paixão que são os livros e revistas e jornais e papéis e vozes, steinerianas “presenças reais”, minhas sombras dentro do meu olhar também esquecido.
Não dependem muito das volições do Poeta maior Carlos Queiroz certo esquecimento, certas omissões, abundantes alterações ou arreliadoras gralhas de novos sentidos, outras leituras se proporcionando, diferentes aproximações ao dito que sempre escapa.
Não escapa, porém, este filológico trabalho de tempos novos, nem encontra aqui exemplo a morte da filologia. Sigo as palavras e os restauros dela, para que nada se perca. Este é um caminho principal da poesia portuguesa que quem lê e procura há-de alargar. Não saio ainda do quarto. Fico nele. Construo agora nas dobras do tempo os alicerces.

1. Os alicerces e as traves-mestras das palavras de Queiroz

O método exige ordem e visão panorâmica. Entremos, pois, no meu pequeno terraço poético e vejamos. Contemplo a obra de Carlos Queiroz e observo. Digo no parágrafo seguinte. Como olhar uma obra inconclusa olhando o leitor da sua totalidade
Os inícios poemáticos subsequentes aparecem por ordem alfabética e de acordo com a primeira palavra do texto, reproduzindo-se o primeiro verso de cada poema publicado, com excepção do hipotético sinal de pontuação no seu final que não indique final de frase, inscrevendo-se ainda entre parênteses rectos, pela ordem, o título da obra sem o ano de publicação, de acordo com as siglas (D: Desaparecido, 1935; FD: Outros poemas da fase de Desaparecido, 1928-1935; BTNV: Breve Tratado de Não-Versificação, 1948; EVOP: Epístola aos Vindouros e Outros Poemas, 1989; P: presença); o título do poema entre aspas, se existente; havendo, o ano de publicação em periódico; o número de página nas edições canónicas da Ática; o número de versos constituintes do poema; e outras informações julgadas não despiciendas (APPES: Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica; MP-I: A Memória das Palavras I ou o gosto de falar de mim). É esta a tabela alfabética dos incipit queirozianos:

A ciência avança [BTNV, 168: 4]
A curva evolutiva [EVOP, “Ápice”, 137: 7]
A emoção escorregava [BTNV, 151: 8]
A menina tinha os cabelos louros. [BTNV, “Teatro da Boneca”, 128-129: 20]
A negra luva esquecida [EVOP, “A luva”, 113: 16]
A que tinha no andar restos de infância [FD, “Fado”, Junho de 1930, 97: 16]
A sombra que velou o meu olhar sem rumo [D, “Passeio”, 44-45: 32]
Acordo e vejo num lampejo [EVOP, “A nossa época”, 96: 8]
Acuso! – baixando a voz [EVOP, “Acuso”, 1947, 164: 16]
Adeus paz, adeus renovo [EVOP, “Quase um fado”, 94: 12]
Alma repleta de [BTNV, 159: 5]
A noite descia [D, “Erótica”, 53-54: 30]
À procura de Deus, andamos todos nós [“Suplemento Literário” do Diário de Lisboa em 8 de Março de 1935, com ligeiras alterações de pontuação; D, “Obstinação”, 75: 6]
À sombra dum cedro imenso [EVOP, “Aranha”, Bussaco, 7 de Abril de 1948, 162-163: 20]
Afastava-se o navio. – Como era [D, “Navio”, 37: 14]
Ah! Bem recordo aquele dia [D, “Cruzeiro do norte”, 29: 20]
Ai dos nossos ais [BTNV, 183: 8]
Ao gineceu da flor rasgada [BTNV, 141: 7]
Ao longo dos ossos [BTNV, 180: 8]
Apenas hoje! Apenas uma vez [“Suplemento literário” do Diário de Lisboa; D, “Clamavi ad te”, 27: 14]
Após tanta ilusão [FD, “Quem saiba que explique”, Fevereiro de 1930, 108: 16]
Ardeu a folha de papel. O fumo [FD, “Canção queimada”, 193, 91: 18]
Às Parcas falando assim [EVOP, “Às Parcas falando assim”, 38-39: 42]
Assim o poeta clama, no seu horto [EVOP, “Estímulo”, in O Instituto, vol. 109, 1947, 95: 14]
Barcaça antiga, conservada [EVOP, “Náutica”, 101: 16; tb. C/L 2]
Breves, casuais [D, “Microcosmo”, 28: 8]
Bucólica lembrada! – és mais [BTNV, 148: 6]
Cada idioma contém [BTNV, 121: 5]
Cada palavra possui [BTNV, 120: 5]
Caído ferido passarinho [D, “Lirismo”, 52: 20]
Cantam ao longe. Anoitece. [D, “Cantam ao longe”, 41: 5]
Cercadas de abismos [BTNV, 137: 12]
Cidade [EVOP, “Allegro ma non troppo”, 119-120: 44]
Coisa tonta é a poesia [BTNV, 128: 4]
Com o teu cálido sentido [ Diário Popular , 31 de Dezembro de 1944; EVOP, “Para o Leitor Desconhecido”: 28]
Como escamas largadas no percurso [BTNV, 188: 8]
Convalesço... – Quem sabe [D, “Ciclo”, 82-84: 24]
Da lira de quatro cordas [BTNV, 146: 8]
Dá-me a tua mão [Litoral, nº1, Junho de 1944; EVOP, “Vamos de mão dada”, 73: 12]
De mais ninguém, senão de ti, preciso [D, “Amizade”, 35: 6]
Desce do éter, como que orvalhado [FD, “Aurora”, 1934, 109: 18]
Desde a semente à flor [EVOP, “Canção das rimas fáceis”, 1947, 160-161: 21]
Desproporcionado... [BTNV, 158: 10]
Deu estranha flor [EVOP, “Pirotecnia”, 63-68: 80]
Do poeta já morto, o claro nome [BTNV, 185: 6]
Dói-me fundo, muito fundo [EVOP, “Dói-me”, 61: 8]
Dos versos que eu li [BTNV, 177: 10]
É já tempo, é já tempo [BTNV, 132: 8]
E se fosse mentira? [EVOP, “E se fosse mentira?”, 42: 19]
É urgente descobrir [BTNV, 184: 6]
Eis que regresso e vos pergunto [EVOP, “Lar de papel”, 52-53: 25; tb. C/L 2]
Ela vinha e pousava no poeta [EVOP, “Muito mais que o nunca mais”: 65]
Em busca do nosso ritmo [EVOP, “O nosso ritmo”, 48: 16]
Em cada hora lateja [BTNV, 126: 8]
Em ti [EVOP, “Esqueleto de um soneto ou canção púbere”, 76: 14; tb. C/L 2]
Embriago-me, incógnito... [FD, “Canção imediata”, 1932, 106: 16; [“Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 6 de Novembro de 1969; 587/588]
Entre a razão [FD, “Remoinho”, 1934, 88-89: 30]
Entre povo e massa [BTNV, 154: 7]
Era bom encontrar o amigo [Litoral, nº 1, Junho de 1944; EVOP, “O Amigo”, 40: 16]
Esta é a pátria em que se está mais só [Estudos, nº 266, Abril de 1948; EVOP, “Tríptico do Desalento”- I- “Soneto cu” – II- “A mais triste elegia” – III- “In Memoriam”, 156-159: 48]
Esta mão que pegou na caneta e que escreve [EVOP, “Outra mão”, 43: 8]
Esta poesia não tem asas [BTNV, 182: 6]
Estas falas indistintas [EVOP, “Bruáá”, 116: 16]
Este, que trouxe do fundo [BTNV, 155: 7]
Este som de piano, triste, ao longe... [Vamos Ler , nº 62, 7 de Outubro de 1937; EVOP, “Análise”, 126-127: 20]
Eu canto – logo, existo! [BTNV, 161: 6]
Eu e a noite [D, “Aldeia”, 76: 18]
Eu era, nessa noite, uma nuvem errante [D, “Romantismo”, 36: 20]
Eu irei, eu irei à flor do rio [EVOP, “Mitologia”, 44-45: 35]
Eu não sou o que aparento [EVOP, “Canção da rima em “ento””, 77-78: 20]
Eu quisera os teus gestos indecisos [FD, “Mutilada”, 1935, 87: 15]
Excelentíssimos Senhores [Ocidente , nº 17, Setembro de 1939; EVOP, “Circular”: 29]
Fecho os olhos e vejo [Revista de Portugal , nº 1, 1937; EVOP, “No fundo do Tejo”, 74-75: 28]
Ficarias doente, se não fosses [D, “Frivolidade”, 68: 14]
Foi no tempo das rosas e dos risos [EVOP, “Foi no tempo”, 62: 14]
Fosse em ti, dentro de ti, escafandro [Diário de Lisboa , 21 de Julho de 1938; EVOP, “Escafandro”, 79-80: 32]
Fosse o que eu sinto e não faço [EVOP, “Nocturno”, 124-125: 25]
Grande prémio é este [BTNV, 147: 5]
Há dentro em nós uma bruma [BTNV, 181: 8]
Há quanto tempo não visita [BTNV, 130: 7]
Há quem julgue saber de cor [BTNV,171: 7]
Há um homem que espera e está em brasas. [FD, “Acção”, 1934, 107: 22]
Há um livro singular [Atlântico, nº 3, 2ª série, 1947; EVOP, “Há um livro...”, 16-20: 96]
Há um sorriso luminoso e mudo [EVOP, “Primavera lembrada”, 138-139: 28]
Isto de ser poeta e português [Diário de Lisboa de 8 de Março de 1935, “A um estrangeiro”; EVOP, “A um estrangeiro”, 28: 14]
Já não inspira compaixão* [Diário de Lisboa de 8 de Março de 1935, “Quiromancia”]
Já não vem ao de cima... [EVOP, “Lá no fundo”, 140: 12]
Límpido fosse o que eu escrevesse [EVOP, “Límpido”, 41: 6]
Livrai-me, Senhor [O Instituto, nº 109, 1947; EVOP, “Libera Me”, 147: 12]
Lutas de raças [EVOP, “Visto do alto”, 100: 20]
Maresia – viveiro [BTNV, 172: 5]
Menina pobre, eu venho agradecer-te [EVOP, “Flor sem haste”, 108-109: 24; tb. C/L 2]
Menino Jesus [Ver e Crer, nº 20, Dezembro de 1946; EVOP, “Prece do Natal”, 144-146: 44]
Menino: o teu mundo [D, “Canção do mundo perdido”, 38: 19]
Menino: queres ser meu mestre? [D, “Canção inocente”, 67: 14]
Meninos, olhem [EVOP, “Didáctica”, 59-60: 52]
Meu adeus à poesia há-de ser triste [EVOP, “Meu adeus à poesia”, 49: 12]
Meus amigos de infância, amiguinhos da escola [EVOP, “In-Extremis”, Outubro e Novembro de 1935: 60]
Morta a infância, o que restou [D, “Elegia da infância”, 80: 20]
Mortos: - hoje vocês [EVOP, “Sete vigílias”, 110-112: 40; tb. C/L 2]
Na cidade, quem olha para o céu? [“Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 8 de Março de 1935; “Cidade”, 55: 14]
Na porta havia uma cruz [EVOP, “Romance dos romances”, 130-131: 31]
Nasci de madrugada [“Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 6 de Novembro de 1969; “Canção biográfica”, 587/588: 32]
Nessa pátria mentida [O Primeiro de Janeiro , 25 de Outubro de 1944; EVOP, “A viagem foi calma”, 71-72: 20]
Nessa terra os políticos [EVOP, “Memória”, 97: 8]
Nunca tive irmãos.* [O, “Uma ponta do véu”, 1939, 42-43: 45].
Não foi por nada, não, que me disseram: - Vem! [FD, “Herói, 1932, 95: 6]
Não invejes as glórias [presença, nº único, Março 1977: “A um amigo”, 15: 16]
Não invejo quem possa merecer [D, “Aroma”, 30: 7]
Não podemos fixar os olhos das crianças. [Cadernos de Poesia , nº 1, 1ª série, 1940; EVOP, “Aproximações”, 12: 12]
“Não queiras ser moderno” [presença, nº único, Março 1977: “A um amigo”, 15: 12]
Não sei o que produz, mas é enorme [FD, “A fábrica que eu canto”, 113: 19]
Não sentes o que eu sinto, embora tentes [D, “Abismo”, 32: 14]
Não suspeita o condão da doença venérea [FD, “Como num sonho mau”, 1935, 105: 12]
Nasci de madrugada. [EVOP: “Canção Biográfica”, 5-6: 32]
No ar azul da madrugada [EVOP, “E no seu nome esperarão as gentes”, 141-142: 28]
No átrio do sono [BTNV, 145: 6]
No labirinto [BTNV, 162: 8]
No pátio da escola, alheios a tudo [D, “Recreio”, 34: 18]
Nós sabemos que é grave o que se passa [EVOP, “Paisagem”, 123: 19]
Nós temos uma história [BTNV, 167: 8]
Nós vamos ver a deusa [EVOP, “Romagem”, 98-99: 24]
Noutro país, noutro país qualquer [EVOP, “Europa”, 104-105: 25]
Num veleiro chegou aquele dia [D, “O que não aconteceu”, 63: 14]
Nunca tive irmãos. [Ocidente, nº 12, Abril de 1939; EVOP, “Uma Ponta do Véu”, Lisboa, Abril de 1937: 45]
O Anjo das Trevas [BTNV, 153: 9]
O bombardeiro [BTNV, 186: 7]
O cego deu à manivela [D, “Epigrama”, 81: 6]
O drama mais triste [BTNV, 156: 5]
O estudante que nunca estuda nada [FD, “Teia”, 1935, 100: 9]
Ó felizes vindouros [EVOP, “Epístola aos vindouros”, Agosto de 1949, 171-175: 100]
O homem foi para longe [“Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 6 de Novembro de 1969; “Variante”, 587/588: 10]
O Leitão da Renascença* [APPES, “A partida do Leitão”, 394-395: 36]
Ó luminosa [BTNV, 157: 12]
O mais secreto, o mais íntimo [BTNV, 166: 5]
O nosso drama de portugueses [Cadernos de Poesia , nº 1, 1ª série, 1940; EVOP, “Anti-soneto”, 31: 14]
O que dizemos [BTNV,169: 12]
O pescador de essências [BTNV, 124: 4]
O povo é sempre ignorado [Acção, nº 16, 7 de Agosto de 1941; EVOP, “O povo”, 89-90: 24]
O santo verdadeiro será esse [BTNV,139: 12]
O tempo que em palavras se dispersa [D, “Réptil”, 73: 14]
Ó varina, passa [FD, “Varina”, 1929, 93-94: 30]
Oh! a memória visual* [Civilização, 153: 32]
Oh! em plena desordem [EVOP, “Sem título”, 117-118: 20]
Oh, espera humildemente [BTNV, 165: 4]
Oh, que viscosas faltas [EVOP, “Discurso”, 9 de Março de 1946, 102-103: 20]
Onde está a graça [BTNV, 187: 10]
Onde estará esse leitor [BTNV, 136: 7]
Os dedos são para os plásticos [BTNV, 178: 8]
Os poemas de amor [D, “Cantilena”, 77: 21]
Ouvir a tua voz, outrora, era o bastante [D, “Uma história vulgar”, 49-50:25]
Passaram anos por cima [BTNV, 160: 9]
Penso [BTNV, 127: 6]
Pequenas coisas [EVOP, “Pequenas Coisas”, 46-47: 20]
Podes dormir. Podes dormir, serena* [“Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 8 de Março de 1935, “Capricho”: 10)
Poeta, de verdade [BTNV, 163: 9]
Poetas: esperemos com paciência! [D, “Profecia”, 51: 6]
Por cima dos telhados [EVOP, “Ciclone”, 121-122: 32]
Por ser tão leve o teu passar [D, “Pastoral”, 33: 20]
Por tudo o que me deste [D, “Canção grata”, 79: 13]
Por vós, coetâneos [BTNV, 164: 11]
Porque estavas ali? Como eras assim?! [D, “Marinha”, 40: 15]
Porque me entristeces tanto [D, “Adagio Cantabile”, 43: 20]
Porque vieste? –Naõ chamei por ti! [D, “Apelo à poesia”, 64-65: 30]
Português e vivo [BTNV, 131: 4]
Possesso consciente [FD, “Depois”, 110: 13]
Povo bom e sério [EVOP, “Mãe-povo”, 1937, 85-88: 56]
Preceito bom [BTNV, 173: 8]
Presente: - um sonho imaturo! [BTNV, 143: 5]
Pudesse, alguma vez, est’ alma inquieta [D, “Impossível”, 48: 13]
Qualquer coisa no escuro [BTNV, 129: 8]
Qualquer coisa por mim espera. [EVOP, “Porto de mar”, 81-82: 24]
Quando a vida está doente [BTNV, 122: 5]
Quando eu era criança, um militar [FD, “Canção ingénua”, 111: 10]
Quando soou a campainha [BTNV, 138: 8]
Quanto resta, eis aqui, d’ alguma experiência [FD, “Inventário”, 99: 12]
Quantos olhos há na praça [Panorama , nº 25-26, 1945; EVOP, “Romance do cavaleiro tauromáquico”, 91-93: 60]
Que a tua carne sofra ou goze [D, “Sete caprichos para ela”, 56-62: 72]
Que insónia me revela [D, “Adolescência”, 72: 18]
Que os teus ímpetos amansem? [EVOP, “Teatro”, 134: 16]
Que pouco-imenso falta à minha vida [FD, “Quase tudo”, 1933, 90: 11]
Que sei de ti, Rimbaud, mais do que desde [Aventura , nº 2, Agosto de 1942; EVOP, “Ode a Arthur Rimbaud”, Junho de 1942, 32-37: 105]
Que silêncio embala [BTNV, 170: 8]
Que trajectória complicada [BTNV, 119: 9]
Que triste ver alguém atravessar [FD, “Elegia da Virgem morta”, 112: 8]
Quem estuda solfejo [presença, nº único, Março 1977: “Presto”, 15: 14]
Quem sabe se era [BTNV, 140: 6]
Quem me fez mal durante o dia? [FD, “Que bom seria!”, 1935, 103: 15]
Quem olha para trás, volta a cabeça” [D, “Jardim”, 31: 19]
*Quem passa, vai tão só que me faz medo [A, nº 1, “Brinquedos d’Outro Mundo”, 1942, 66; At., nº 1, 1942].
Quem se orgulha do seu canto [BTNV, 174: 12]
Redondilha, redondilha [O Instituto , nº 109, 1947; EVOP, “Ciclo de redondilhas”, 148-155: 96]
Repouso a minha fronte [D, “Canção fatigada”, 74: 16]
Rítmicos dedos desenrola [BTNV, 133: 5]
Sabe-me a sonho [D, “Sugestão”, 25: 16]
Se de Camões o Espírito, algum dia [Presença , nº 37, Fevereiro de 1933; EVOP, “Epigrama”: 8]
Se estou ainda preso à realidade [BTNV, 176: 9]
Se eu tivesse nascido [FD, “Província”, 1928, 98: 10]
Se me sobrevivesse, imperecida [“Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 8 de Março de 1935; D, “Último soneto”, 78: 14]
Se os doidos não sabem [EVOP, “Bailata dos doidos”, 14 de Setembro de 1946, 114-115: 20]
Se os doidos não sabem [“Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 6 de Novembro de 1969; “Bailata dos doidos”, 587/588: 19]
Segredos de sangue [BTNV, 175: 6]
Sem palavras, sem gestos, sem um esforço [D, “Intervalo”, 39: 12]
Sempre a pensar na morte [FD, “Indesejáveis”, Setembro de 1934, 101-102: 23]
Sempre que leio nos jornais [D, “Desaparecido”, 23: 16]
Sempre que uma insólita [BTNV, 142: 6]
Senhores governantes [EVOP, “Carta para cima”, 106-107: 24]
Silencioso e tranquilo [D, “Marcha quase fúnebre”, 26: 15]
Só com bons sentimentos [BTNV, 179: 4]
Sonho de engenheiro [BTNV, 150: 32]
Surge, acaso, o Autêntico [EVOP, “Autêntico”, 143: 16]
*Talvez digas: - Mais uma fantasia [MP-I, “1º de Maio”, 152-153: 30]
Talvez, talvez... (Ai, esta voz) !... Talvez [FD, “Talvez”, 1931, 92: 13]
Tem um som de cristal [BTNV, 144: 7]
Temas que andais no ar [BTNV, 125: 12]
Tirem-nos tudo quanto tenha [BTNV, 149: 4]
Toda a gente dizia que ele havia [D, “Legenda”, 24: 8]
Todos bebem o seu vinho [D, “Ex-libris”, 46: 6]
*Transportam-me à infância os sinos da igreja [Pa, “Desencanto”, 22].
Tu pedes-me a vida toda [EVOP, “Litania”, 1935, 50-51: 26]
Tudo agora é breve [EVOP, “Canção depressa”, 132-133: 26]
Um dia, em pleno dia [FD, “Dedo”, 1935, 104: 20]
Um dia, serei alegre! [FD, “Promessa”, 1931, 96: 21]
Um frouxo movimento pendular [BTNV, 123: 5]
Um tédio, misto de bolor e azebre [Momento , nº 8, 2ª série, Abril de 1935; EVOP, “Difícil”, 30: 14]
Um violino geme [D, “Barcarola”, 47: 16]
Uma fria neblina já reveste [D, “Troféu”, 42: 14]
Vai a passar um regimento [D, “Marcha militar”, 66: 16]
Vamos todos atados uns aos outros. [BTNV, 152: 7]
Varina [D, “Desenho”, 69: 19]
Vem cá, vem cá [Revista de Portugal , nº 6, 1939; EVOP, “Conjuro”, 21-24: 70]
Venho da vida, livros. [EVOP, “Biblioteca”, 54-56: 40]
Ver só com os olhos [BTNV, 135: 4]
Vertigem dos fundos [BTNV, 134: 6]
Viver! – O corpo nu, a saltar, a correr [D, “Ode pagã”, 70-71: 20]
Voltarei para trás, voltarei para trás... [EVOP, “Fogo posto”, 69-70: 38]


2. Dedicações electivas & epigrafias

Não pode o Poeta ser taõ enxuto que não aponha a sua inscrição amiga ou o seu agradecimento por justas palavras ou a sua admiração desangustiada por vozes influentes. Assim, elenco por ordem alfabética os nomes a quem Carlos Queiroz dedicou poemas:

Afonso Duarte (EVOP: “Conjuro”)
Arthur Rimbaud (EVOP: “Difícil”)
Charles David Ley (EVOP: “Aproximações”)
Eduardo Pinto da Cunha (EVOP: “Escafandro”)
Fernando Pessoa (EVOP: “O Amigo”)
João Gaspar Simões (EVOP: “Biblioteca”)
Pedro de Moura e Sá (EVOP: “Uma Ponta do Véu”)
Ribeiro Couto (EVOP: “Análise”)

Na epígrafe vai o Poeta e a sua alma. Nem muitas maculam a originalidade queiroziana. Ainda assim, algumas:

Arthur Rimbaud (D: « Oisive jeunesse / A tout asservie, / Par délicatesse / J’ ai perdu ma vie. » ; EVOP : «J’ai cru acquérir des pouvoirs surnaturels. », Une Saison en Enfer )
Eminescu (BTNV : « É muito fácil fazer versos, / Se nada temos que dizer. »
Hölderlin (BTNV : « Os pensamentos do Espírito universal / Têm o seu calmo coroamento na alma do poeta. » )
Pascoaes (BTNV: « ... E assim como o Senhor não conheceu a Cruz, Ignorante de versos é o Poeta. »)
«Poesia nunca mais venhas assim, / Não sejas como a morte. »
S. Mateus, XII-21.


3. Pioneirismo nos territórios da crítica & novos desenvolvimentos

As vozes críticas não são ainda copiosas a respeito de Carlos Queiroz. Tal exiguidade, ao pensar-se na grandeza e originalidade poéticas do escritor, nem apouca, antes engrandece. Uma reflexão continuada de um trajecto poético traz quase sempre uma enervante repetição de lugares-comuns, que, sem nada avançarem de novo, obstaculizam ou distraem. Não acontece assim com os escritos a respeito da genialidade queiroziana, que quase sempre trazem consigo uma originalidade e juventude inatacáveis.
Diversa na qualidade, a recepção crítica de Carlos Queiroz, da sua obra completa, impõe que se vá fazendo uma diacronia, para melhor se ver o que assim dito ainda pouco mostra.
Eis o conjunto incompleto de autores e críticos que desde a década de trinta até aos nossos dias, que eu saiba sem sair do quarto e sem procurar mais (o tempo não permite outras aposições), prestaram atenção ao fulgor criativo queiroziano:

. 1 de Novembro de 1935: Joaquim Manso, “Carlos Queiroz – uma afirmação poética”, in “Suplemento literário” do Diário de Lisboa.
. Janeiro de 1938: Fernando Pessoa, “Desaparecido”, in Revista de Portugal, nº 2 (Coimbra).
. 9 de Dezembro de 1948: Vitorino Nemésio, “Um Tratado Poético”, in Diário Popular (Lisboa).
. 2 de Novembro de 1949: António Ferro, “[Lembrança]”, in Diário Popular.
. 2 de Novembro de 1949: José Régio, “[Apreciação]”, in Diário Popular.
. 2 de Novembro de 1949: Luís Forjaz Trigueiros, “[Na Morte de Carlos Queiroz]”, in Diário Popular.
. 1958: Vitorino Nemésio, “À Memória de Carlos Queiroz”, in Conhecimento de Poesia, Salvador, Publicações da Universidade da Bahia, pp. 218-220 e 223-226.
. 1950: Luís Forjaz Trigueiros, Sombra do Tempo.
. 1960: Pedro de Moura e Sá, “[Depoimento]”, in Vida e Literatura, Lisboa, Livraria Bertrand, pp. 251-254.
. 1962: Jorge de Sampaio, “Breve tratado de não-versificação de Carlos Queirós – Ensaio de Interpretação”, in Panorama, nº 2, IV Série, 1962.
. 1966: José Gomes Ferreira, “[Convivência com Carlos Queiroz]”, in A Memória das Palavras, Lisboa, Portugália Editora, Lisboa, pp. 171-180.
. 1966: Jorge de Sampaio, A Poesia de Carlos Queiroz, Lisboa, Edições Panorama.
. 1966: David Mourão-Ferreira, Hospital das Letras.
. 6 de Novembro de 1969: Cabriele Brustoloni, “Carlos Queiroz: como na vida esquecido”, in Diário de Lisboa.
. 1974: João Gaspar Simões, “[De um <>]”, in Retratos de Poetas que Conheci , Porto, Brasília Editora, pp. 207-210.
. 1984: David Mourão-Ferreira, “Prefácio”, in Desaparecido e Breve Tratado de Não-Versificação, Lisboa, Edições Ática, pp. 9-18.
. 1989: David Mourão-Ferreira, “Prefácio”, in Epístola aos Vindouros e Outros Poemas, Lisboa, Edições Ática, pp. IX-XII.
. 1989: David Mourão-Ferreira, Os Ócios do Ofício.
. 1991: António Ribeiro dos Santos, “Carlos Queiroz. Epístola aos vindouros e outros poemas”, in Colóquio/Letras, nº 120, Abril-Junho, pp. 199-201.
. 2001: João Bigotte Chorão, “QUEIRÓS (Carlos)”, in Biblos, vol. 4, Lisboa, Verbo.
. 2002: Eugénio Lisboa, “Carlos Queirós (1907-1949)”, in Mealibra, nº 10, série 3, Julho , pp. 129- -130.
. 2002: António Manuel Ferreira, “Carlos Queiroz na Presença”)”, in Mealibra, nº 10, série 3, Julho , pp. 132-134.
. 2002: Fernanda Barrocas, “Reverberações da poesia de Carlos Queiroz”)”, in Mealibra, nº 10, série 3, Julho , pp. 135-
. 2002: Fernando J. B. Martinho, “Carlos Queiroz e o Modernismo”)”, in Mealibra, nº 10, série 3, Julho , pp. 139-143.

Outros títulos estão no meu olhar. O tempo, no entanto, pede um silêncio que combaterei nas dobras dos dias.

4. Felizmente, plural

Este é uma caso de poeta plural, isto é, de homem cultural com o fascínio rodando em volta, imerso em reportagens, criticismo plástico e musical, reflexões sobre turismo ou literatura, sempre poeta crepuscular a redescobrir. Não incido agora na multiplicidade desse saber diferente em face dos “mistérios insondáveis / Deste mundo e do outro.” Guardo essa vontade para outra viagem contra as estantes do meu quarto. Então dir-te- -ei, caro leitor, que...

5. Dizeres & desdizeres: novos rumos, novos textos

A obra de Carlos Queiroz é hoje ainda – e quanto isso soa estranho, se se pensar na sua indesmentível qualidade artística – um work in progress, que espera a total reunião de dispersos. Sendo difícil nada escapar aos olhos perquiridores, entrego aqui ao jornal Navio-Farol, na homenagem sentida de quem lhe quer com o corpo, um poema que rebusquei na revista Civilização e que terá passado aos olhos porfiosos do Professor e Poeta David Mourão-Ferreira e que não encontrou, por ora, publicação em livro. Assim aconteça a obra poética completa de Carlos Queiroz, para que este poema tresmalhado – importante poema, sublinho – encontre o leito desejado. Estendo o mesmo desejo à sorte póstuma das restantes novidades que transcrevo ainda mais à frente.
Digo neste passo que tudo o que reputo de essencialmente novo vai por mim assinalado com um asterisco, para que melhor avulte quão pouca novidade as minhas palavras transportam e quão importantes são as palavras dos outros para o órfico ofício da desocultação. Segue o poema nunca publicado em livro e desemparceirado da restante obra poética que David Mourão-Ferreira coligiu para a Ática, que aqui registo e entrego à luz do dia, ciente, no sentido de Klaas Huizing, de que a ciência só ganha em “continuidade e constância com o apogeu da arte da leitura correcta, isto é, da filologia” (O Bebedor de Livros). Como o procuro fazer, aliás, nesta transcrição sem dor:

Canção da Lembrança

I II

Oh! a memória visual Daquela ave o incerto voo
Das coisas que nos são queridas, Depois de f´rida numa asa,
Tão levemente coloridas, Que foi sentido só em casa
Tão cheias d’ alma, d’ irreal! Quando a memória o recordou...

No mar, ao longe, reflectidas Aquel’ navio que saía
A luz trémula de frio... A barra, todo iluminado,
O rumoroso, incalmo rio, E agora sendo recordado
Lembrando sempre, ao poeta, a vida... É belo mais do que par’ cia...

Como suaves nos afagam Ternos motivos de saudade
Os olhos quási diluídas... Que outrora fomos em criança,
E nos refrescam os sentidos E tem agora, na lembrança,
E de ternura nos alagam! Como que mais sinceridade...

O campo, à tarde, quando o verde Oh! a memória visual
Em sombra, lento, se dissolve, Das coisas que nos são queridas
Se ao nosso estar lembrando-o volve, Tão brandamente repetidas.
Como se esvai, como se perde! Tão cheias d’ alma, d’ irreal!

Do mesmo modo que o anterior, terão escapado ao respigo de David Mourão-Ferreira os seguintes dois poemas, transcritos a partir do “Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 8 de Março de 1935:

QUIROMANCIA

Já não inspira compaixão,
O teu gesto, mendigo esfarrapado:
Na palma da tua mão
Lê-se a palavra “civilização”,
- Não se lê a desgraça do teu fado.


CAPRICHO

Podes dormir. Podes dormir, serena,
Como dormias em pequena,
Depois da benção maternal.
Não rezaste? – Não rezes, não faz mal!
Há um condão em ti,
Há um halo divino, que eu bem vi
Na tua fronte, a iluminar-te o berço,
À flor das ondas, nesse mar que existe...
(Não digas que nunca o viste!)
Suspenso no Universo.


6. Umas poucas palavras sobre o poeta & a obra

Autor de Desaparecido (1935), Breve Tratado de Não-Versificação (1948), Epístola aos Vindouros e Outros Poemas (1989); colaborador em jornais e revistas com obra poética e não só (Acção, Atlântico, Aventura, Cadernos de Poesia, Civilização*, Diário de Lisboa, Diário Popular, Estudos, Litoral, Momento, O Instituto, O Primeiro de Janeiro, Ocidente, Panorama, Presença, Revista de Portugal, Vamos Ler e Ver e Crer), antologiado em criteriosas colectâneas poéticas ( ver 6. 1.) e director competente de Litoral e de Panorama, Carlos Queiroz é um poeta que importa conhecer profundamente. Por dentro, na espessura grácil de um conjunto poético que encontra ainda a sua verdadeira dimensão. E, no amanhã poético que o tempo prepara, pergunta- -se pelo paradeiro da anunciada colectânea inédita Cicatrizes.

6. 1. Eis as antologias caseiras de que me sirvo, outras havendo por aí com outras inscrições. Assim:


I. Enzio Vólture e Gino Saviotti, Poeti Moderni Portoghesi , Lisbona, Edizioni di “Estudos Italianos de Portugal”, 1942: poemas “Villagio”, “Sparito” e “Croce Del Nord”.
II. Fernando Pessoa e António Botto, Antologia de Poemas Portugueses Modernos, Coimbra, Editora Nobel, 1944: poema “Mãe-povo”.
III. Cabral do Nascimento, Líricas Portuguesas, 2ª série, Lisboa, Portugália Editora, 1945: poemas “E no nome esperarão as gentes” e “Autêntico”.
IV. Cabral do Nascimento, Colectânea de versos portugueses do século XII ao século XX , Lisboa, Editorial Minerva, 1964: poema “Aranha”.
V. Orlando Neves e Serafim Ferreira, 800 anos de poesia portuguesa, Lisboa, Círculo de Leitores, 1973: poemas “Apelo à poesia”, “Erótica”, “Réptil” e “Teatro da Boneca”.
VI. David Mourão-Ferreira, Portugal. A Terra e o Homem. Antologia de Textos de Escritores do Século XX , II volume, 1ª série, Lisboa, Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, 1979: poemas “Varina”, “Nocturno” e “Romance do Cavaleiro Tauromáquico”.
VII. Maria Teresa Arsénio Nunes, A Poesia da Presença, Lisboa, Seara Nova – Editorial Comunicação, 1982: poemas “Neblina”, “Conceito”, “Soneto”, “7 caprichos para ela”, “Novela curta”, “Ex-Libris” e “Epigrama”.
VIII. Inês Pedrosa, Poemas de Amor. Antologia da Poesia Portuguesa, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2001: poema “Canção grata”.
IX. Celia Ruiz Ibáñez, Poesia portuguesa para crianças. Antologia, Albarraque, Girassol, 2002: poemas “Varina” e “Libera me”.
X. Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra, Século de Ouro. Antologia crítica da poesia portuguesa do século XX , Braga – Coimbra – Lisboa, Ângelus Novus & Cotovia, 2002: poema “Apelo à poesia” lido por F. J. Vieira Pimentel.


Interrompo o canto. Não há como prosseguir esta rota filológica dentro do meu quarto que ainda habito. O espaço diminui a noite breve que avança. Cedo ao cansaço e ao desejo nítido de aqui ou na biblioteca do fundo completar estas veredas operativas. Há em Carlos Queiroz “una tendenza allá gentilezza idillica” que é inexplorada originalidade. Quem a vem ler no calor dos versos?

2006-04-25

poemas em abril (V): cravos nos ossos





abril rompe de dentro dos ossos
espalhando o marfim dentro dos olhos
agora todo o sonho azul jaz no petróleo
das veias, acumulada gordura de luta vã
quanto sal encostado às costas murmura ainda?
quanta dor te engana o sono e o golpe de asa?
em abril de dois mil e seis a chuva não cai na terra
o vento não embala a seara nem o mar engorda o corpo
a centúria matou a bandeira fechou a pequena aldeia
que o povo reabriu há décadas que gritam no solo.



longe nem flores ou sol. só ácido no zinco quotidiano.

poemas em abril (IV): "Caos: 5"

Tomaz Kim é um poeta central. Em Abril ou em qualquer mês:


Um desejo nos retalha
em finas gotas de revolta...


O nosso cérebro foi narcotizado
e embalado pelo triste sono
dos que nunca despertam...


Estaremos mortos!
Os nossos esqueletos choram...

poemas em abril (III): "A Cidade e o Mar na Poesia do Algarve"

Indenegáveis instrumentos de canonização literária, as antologias temáticas ou generalistas são um interessante exercício de reconhecimento: escolhendo, o escolhedor mostra os textos escolhidos por si, desvelando-se como ser cultural. Amante e coleccionador do género, tenho vindo a acumular dezenas e dezenas de antologias literárias, nelas descobrindo sempre singularidades que as tornam únicas. Olhando à minha esquerda, vejo as várias de Eugénio de Andrade e outras muitas de Camilo, Natália Correia (3 e exemplares), Osvaldo Silvestre e Pedro Serra, Álvaro Cunhal, Valle de Figueiredo, Branquinho da Fonseca, Maria Alberta Menéres e Ernesto de Melo e Castro, Casais Monteiro, João de Castro Osório, Jorge de Sena e um sem-número de outras não menos estimulantes.
A antologia em apreço chegou-me pela porta da amizade. Leitor assíduo de aijesus! , aí conheci a primeira notícia sobre o trabalho através de informado texto. Reagradeço agora, à distância de alguns dias, o empenho de António Gomes, amigo de caminhada, e a simpatia da dádiva do Dr. Carlos Lopes, advogado algarvio e homem de cultura.
Contendo autores de diferente fôlego, o trabalho de Fernando Cabrita, patrocinado por "Faro Capital Nacional da Cultura 2005", permite que privemos com momentos poéticos fulgurantes. Permito-me agora o silêncio e deixar ao dia, vindo do longínquo século XII, um poema de Ibn Alalame Assantamari:
É este o rio e estes são os bosques
Corpo de que a alma é a brisa dos jardins.
Rio,
Espada se a brisa dorme à superfície.
Cota de malha, se os ventos sobre ela se perturbam.

poemas em abril (II): "Despertar em Abril"

desenho de Júlio Gil
É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor;
e acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar.
(Eugénio de Andrade, Flores )


2006-04-24

poemas em abril (I): "Última Frase"

Minha alma ergueu-me para além de ti...
Tive a ânsia de mais alto
- abri as asas, parti!

Outubro
922

(JUDITH TEIXEIRA, Decadência. Poemas.,1923 )

Este é caso maior que pode actualizar em wwweuropa.blogspot.com .

reflexão apressada de 24 de abril

ponhamos a questão assim. não saber se as décadas de "liberdade" terão realmente valido a pena. e, no entanto, assim deveria acontecer. e, no entanto, um grosso pântano criado por uns quantos para as "famílias" invade o espaço íntimo da ética. lembro, a propósito, um esquecido e lutador. Afonso Ribeiro, apreendido, dono de uma palavra directa e sentida, tombou no esquecimento. deslido, encontro nele a metáfora do país. leia-se, na onda, o início do romance Aldeia e aplique-se, qual unguento, à pele mais dorida:
A aldeia ergue-se no fundo de um vale. Vale pequeno. Também a aldeia é pequena; cinquenta e um fogos. Nem mais um.
As casas alinham-se ao longo da estrada de macadame. Além desta rua a aldeia conta duas ruelas e um quelho. O quelho, de inverno, é coberto de mato.
No topo norte do povo fica a igreja. Em frente da igreja há um largozito.
A meio da aldeia é a taberna. Taberna e mercearia ao mesmo tempo.
assim um país. o nosso.

2006-04-22

novo livro de Rodrigo Emílio



ÚLTIMO REDUTO
Fixei morada
dentro de mim:
residência vigiada
da saída à entrada,
da sacada ao jardim...
Torre blindada.
Torre de marfim!
(p. 105)

2006-04-20

uma história da habitação: o tempo todo de antónio gil







Assim como sendo tarde e sendo ainda cedo digo que a poesia de António Gil percorre ainda o anverso da luz no seu jeito tranquilo de nos inquietar. Nem muito se mostra ou mostrou, presa aos orifícios da pedra de um espaço que desejo habitável e que o é forçosamente. Mas quem escuta as suas palavras, as suas melhores palavras?
Construo esta casa vista de longe, de um tempo ontem não já aqui, de um tempo afinal que é início impresso de um curso implacável e oracular. Reconstruo e derrubo as ruínas de 1981. Os olhos dessa casa poética, desse livro titulado Poesia Nascente, dizem ainda aquela verdade luminosa de um qualquer fragmento da velha lírica grega:

Trouxeram-me as palavras
É quase um abismo ser eu

É inútil pensar
Sigo o caminho das palavras

Há dizeres que são destinos. E esse murmúrio insinua-se ostensivo nesta revisitação às fundações de uma casa que nos vidros silenciosos de todo o sal das palavras ecoa sempre uma história imensa de mais de duas décadas. Em parceria com António Manuel, outro poeta da nossa circunstância e ainda mais silencioso, esse livro nascente traz consigo já muitas das preocupações poéticas que ignoram a afirmação fácil. Digo, por exemplo, o lago narciso (subtilmente trabalhado há dois anos por António Franco Alexandre), a fragmentação da imagem e a sua cisão (ao jeito da ânfora partida de Sophia de Mello Breyner), a aparição de um ser intenso (de vezo brandoniano, tomazino ou vergiliano, colado quase sempre à memória), a ternuras das palavras (de sabor eugeniano), o brilho da noite (assim como uma “cinza iluminada” ou o “límpido plâncton da morte” de que fala Al Berto), o percurso pelos ritos do silêncio e outros motivos por lá sugeridos, contributo inequívoco para o caminho que se abria com as suas máscaras. Que angústias e que influências? Também estas, também outras. E, no entanto, uma força indisfarçável nessas conquistas que já eram suas. Chegado, é nesse esteio da habitação que o Poeta repousa.
De algum tempo depois, passado o bulício na e da fanzine zut! (quem ainda ouve aquele aviso?: “Não te olho pela última vez: // Se o fizesse, naõ seria essa, / a última vez”), chegam, já na década de noventa, os textos contidos e reservado de Trânsitos , com que sigo nesta viagem pela casa antonina:

abriu-se uma porta e a infância
por ela saiu, despedindo-me
até ao patamar onde a memória
ainda a reencontra.

Abre-se uma porta desde as fundações deste edifício. Um longo corredor de mais de dois lustros abre-se aos nossos olhos. São trânsitos antiquíssimos como um sopro de Alexandria. Este livro, certo de si, encosta-se ao vento que cruza o primeiro andar da casa. Sítio misterioso este na sua evidência de poema fundacional. Mas ao contrário: sem organização agrícola ou condução dos animais à água, é da secura do ser que este poema diz. Como um anteu negativo, há consumpção, vertigem e reconstrução e restabelecimento da infância à adultez. Isto é, também memória (memória?) contra o gelo do inverno que sempre invade cada vida e explode no calor do sangue. “a ferida alastrava interior sem compressa que detivesse a hemorragia.” E chega a ser imenso, emocionante para o leitor-construtor, a força antiga e devastadora que brota desta exumação do passado condimentada com a verdade irreversível e a força da transformação. Este regresso poético de António Gil é, para mim, um grande conseguimento da poesia portuguesa. E isso é-me particularmente emocionante, uma vez que, dentro de um desconhecimento que o poeta também busca, há uma linhagem poética de modernidade que não se perde – linhagem iniciada pela ousadia de Judith Teixeira e ininterrompida a partir de si com o fluxo de nomes maiores como João Pedro Grabato Dias, António Franco Alexandre e Luís Miguel Nava.
Volto ao texto. Inventava ainda António Gil, nessa belíssima viagem, um universo sempre único, ptolomaico, ardente de fogo e de gelo, voragem afinal da fogueira de Alexandria (“regresso à estante e entro noutra divisão sedento de novas cores”) e do ardimento dos mapas, em lição de incontacto e fractura com o outro. Parte dos vestígios da poesia este trânsito de dentro, labiríntico poço memorial de exclusões, romagens, erros e dobragens muitas. Acabo junto ao ralo (sigo Nava e Gil) e digo-vos que sigamos este livro e a sua “língua sedenta de oceânicas aventuras”.
Todo o voo poético acaba na nudez da presa. Outro livro nasce, de seguida, ruptura que é sutura ao edifício já construído, como é também intensa reflexão sobre o fogo da criação. A presa agora é o próprio ofício: em Ofícios da insónia são ditos de desdém pela verba, cinza espalhada sobre o verbo; são interrogações rigorosas sobre quaisquer actos hermenêuticos (“como pode pois alguém encontrar aquilo que já não tenha?...”), lembrando este lance o celebérrimo vergiliano asserto que prescreve que “ninguém aprende mais do que aquilo que sabe”, bem como manifesta, de forma mais vincada, talvez, a contaminação demaniana do conhecido asserto “Só podemos compreender aquilo que já de algum modo nos foi dado” ; são ainda saltos para o abismo das palavras, mundo salvífico contra a “realidade”; é, por último, a epifania da ultrapassagem das longas noites insones
o que deste aparo ainda se solta
/ liga-me/ às incontáveis noites /
átomos de sonho longamente
carbonizados / de que só agora
se começa a ver o brilho...

A ironia e o seu princípio aparecem “espantosamente” em Indústrias do Absoluto, livro entendido pelo autor como uma clivagem na sua obra. No entanto, esse modo constitutivo da literatura, como o diz Solger, vem de longe, do início do caminho, como prolongamento de um velho alicerce da linguagem. Livro de início de século, a palavra é industriosa e a concepção engenhosa, com cálculos e encaixes técnico-compositivos que provocam o leitor. Nos versos, a música é de denúncia e de histriónica parábase. Assim o possa o receptor ler na sua múltipla provocação.
a céu aberto nesta casa que visito. Território laureado, é sólida edificação neste primeiro terraço que abro. Mas vem do fundo. Vem do fundo das gavetas a poesia de António Gil. E há nisso um halo de humidade que lembra algum Álvaro de Campos. Sai da clandestinidade, desconfiada de si, face oculta que se desvela para o seu tempo por fim chegado. Não pensa ainda o poeta ser esta a hora? Pouco importa o seu dizer ou o seu pensar, se a sua voz, de mais de duas décadas, recobra para nós um sopro urgente, também influenciado, sem angústia, pelas melhores vozes autoritárias, sempre pletórico de novidade e de diferença. A sua criação, torrencial como eu a julgo pelo que sei que dela não conheço, não cede nunca ao dilatório, antes se afirma por uma técnica do restauro, por uma trabalho oficinal quase espontâneo e, no entanto, depurado, que cria uma alegorese fracturante de que brotam outras palavras e outras ideias. Mas não é esta a minha tarefa. Avanço, pois.
O Poeta diz corpo e logo do corpo contíguo, tensão íntima entre o fogo do poema e a fisicidade biológica sua conatural. “As janelas da casa são sempre em número infinito”, diz o poeta-filósofo Rui Magalhães. São caminhos que se levantam do primeiro poema: é um texto que tudo diz – do tear e das urdiduras, passos em volta, indecisos, ansiosos, pábulo da queimada nocturna que refrigera a criação e transborda em palavras, íntima joalharia do ventre do fogo. São luzes e janelas de um enorme salão com vista panorâmica sobre os trabalhos do poema sobre o corpo e da cedência deste àquele. Fluxo escutador do escrínio da reserva, estampa-se neste livro um grito primigénio da roca criadora sobre os fios do ser-sombra desconfigurado, fora e dentro do texto. A palavra escreve o poeta, vinda do centro do corpo e do seu avesso, verdadeiro tear operado por um duplo-outro, avesso e colaço. Afinal, sangue com poesia ou corpo contíguo: “possa esta escrita guardar-te no clarão / que ficará quando o livro fechado / encerrar também a sombra de coração”.
filigrafias (com Joaõ Pedro Domingos d’ Alcântara Gomes) sai em 2002. Observo agora nestes lanços já subidos o mobiliário primitivo e a memória geométrica de uma obra que é evidente, já perfeita de inacabamento, mas que lança cada vez o seu corpo para as escadarias do horizonte. Espreito de novo a janela: vem-nos a margem e os corais desperdiçados – filigraficamente se diz a flor do corpo, com novos e velhos ecos, insónias de sempre percutidas na noite. E já ditas.
“O livro, se é válido, ultrapassa-se a si próprio”, di-lo um lúcido Merleau-Ponty. O lugar de António Gil é uma morada poética. Como vamos vendo. E é um facto que vendo eu a poesia assim somada nos seus contornos começo a vislumbrar outra dimensão. Por mim comodamente dita catedral. Sobre paisagens delicadas, contornadas, sabiamente contruídas. Acerco-me do último Restauros . Subo novo degrau na espiral vertiginosa. Ainda é cedo. Mas já existe a casa. Ninguém espera o teu regresso. Imerso no sangue das palavras, o poeta constrói já sobre ruínas, colecciona vestígios do mar que já não somos, restaura-se e extrai as palavras do próprio pulso, de novo se ausentando de si em si. O despertador toca. Ninguém espera o seu regresso.
Entretanto, dispersou alguns textos seus por jornais e revistas , não sendo fácil um conhecimento cabal da sua obra poética e ficcional, até porque boa parte dos seus textos permanece impublicada e apenas se oferece ao espaço convivial de muito poucos. Um outro lado existe: dramaturgia, narrativa breve, pintura e escultura são outros caminhos. Caminhos: não estranho mesmo que um deles conduza a Santiago.
Acabo. A interpretação é a possibilidade do erro. Avance quem quiser.
António Gil, professor e poeta, hoje foi dia de te bater à porta. Viemos a tua casa “fazer do mundo nossa ilimitada casa.” Poderemos entrar nela?

2006-04-18

"Uma Fábula": a lição política em António Franco Alexandre

Fotografia de Daniel Mordzinski


Há incindíveis acasos que parecem conduzidos por outros desígnios e vontades. Lembro, para que a memória perdure,
que Jacinto Freire de Andrade (1597-1657), com possíveis ligações à cidade de Viseu, seja pelo discutível oferecimento do bispado, seja ainda pelas mais provadas presenças nas abadias de Carapito e de Santa Maria de Chãs, escreveu uma gongorizante “Fábula de Narciso”, publicada no volume III da “Fénix Renascida”.
Em 2001, António Franco Alexandre, poeta nascido em Viseu, volta a Narciso e introduz na fábula um outro lume e um mais amplo fulgor. Frederico Lourenço, na sua “Grécia revisitada”, diz mesmo ter sido fulminado pela primeira página e pelas primeiras palavras do livro alexandrino.
Incisão na metamorfose e na mitogenia, as lexias de cada verso desprendem uma música antiga e estranhamente moderna, adentro de uma desestruturante polifonia. E, no entanto, é de emoção que o livro fala, como o comprovam, aliás, os versos que se deslocam do texto enodando a garganta do leitor: “éramos só nós sem nenhum segredo, / vivos e completos, serenos, mortais.”
O tempo eleitoral é um período de peste que queremos superado. Importa encostar a mão ao coração e divisar que a retórica do simulacro anda por aí. Interessa dizer, como o poema alexandrino, o “que o corpo diz / só no seu eco perfeito”. Encoste-se, pois, o corpo à cidade e à interrogação da vontade: valerá a pena o passo?
Mera fábula somos. Nela, activos e pensantes, esqueçamos como as “melhores famílias guinchavam de prazer /… nos salões doirados / com presidentes e… oradores sombrios, / chefes de câmara, e minúsculas sandes de conversa”. É que, como no poema de Franco Alexandre, “no surdo espelho / há um gesto de horror quando o vampiro / irreflectido me promete um beijo.”
A nós, pascalianos vimes pensantes…

2006-04-15

António de Sèves


Novelista, advogado, diplomata e doutrinador português, António de Sèves nasceu em Leomil, no dia 17 de Fevereiro de 1895.
Casado, sem descendência, com a Senhora Dona Fernanda Malheiro Toscano de Sèves e filho do Dr. António Maria Augusto Pereira de Sèves e Oliveira e da Senhora Dona Adelaide Estêvão de Oliveira, António de Sèves licenciou-se em Direito, na Universidade de Lisboa, nunca escondendo a vontade de seguir a vida diplomática. Estranhamente ou talvez não, a sua adesão ao monarquismo integralista constituía à época obstáculo ao seu desejo, como o comprova o indeferimento no concurso de 1923 para o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Decidido como o pai, que fora combatente monárquico nas fileiras de Paiva Couceiro, abriu banca de advogado em Lisboa, ficando célebre, como o refere A. Bento da Guia, a sua actuação brilhante no julgamento do processo do Banco Angola e Metrópole. Persistindo no gosto diplomático, foi, em 26 de Agosto de 1927, nomeado cônsul de 3ª classe, passando, em 16 de Março de 1928, para a Direcção Geral dos Negócios Políticos e Diplomáticos. Volvido pouco mais de um ano, ei-lo nomeado para a Secretaria Portuguesa da Sociedade das Nações. A partir daí, desempenhou com particular brilho e empenho a carreira diplomática, cumprindo missões em diferentes cidades europeias. Agraciado pelos serviços prestados – Séves foi Comendador da Ordem Militar de Cristo, Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada, Comendador da Ordem de Leopoldo da Bélgica, Comendador da Ordem do Carvalho do Luxemburgo, Cavaleiro da Legião de Honra da França e Cavaleiro da Ordem da Casa da Bélgica, obtendo também a Grã-Cruz da Ordem de Mérito de Espanha e a Grã-Cruz da Ordem de Mérito do Egipto -, Membro do Supremo Conselho Cultural da Causa Monárquica a partir de 1953, António de Sèves veio a desempenhar com notoriedade o cargo de Lugar-Tenente de El-Rei, nele se empenhando com inquestionável dedicação, como o comprova a seguinte tirada de Henrique Barrilaro Ruas:
“A grande conquista que Vossa Excelência fez para a Monarquia foi defendê-la do partidarismo. Estou certo de que, por muitas que sejam as vicissitudes que tenhamos de experimentar, essa conquista essencial está feita de uma vez para sempre. E foi preciso que um lugar-tenente chamado António de Sèves tivesse tido a inteligência e a audácia de o proclamar, para que essa vitória fosse possível.”
Décadas atrás, recém licenciado em Direito, António de Sèves reserva à literatura, contidamente, as décadas de dez e de vinte do século anterior. E na ânsia de o fazer, colou-se à sua Leomil, levantando não só na obra homónima um caso literário interessante, que lembra algum Aquilino, nomeadamente pela utilização de espaços similares, de linguagem regionalista e de entrechos encaixados na circunstância. Ao tempo, ainda o Mestre da Nave (Terras do Demo é de 1919) não caldeava a sua escrita urgente nas águas lustrais da sua circuntância, pelo que Leomil permite dizer-se que o seu Autor é um Aquilino ante litteram. Tal aposição releva das informações dadas por Sèves no prefácio do seu livro, que indicam que o Autor iniciou o conjunto no Verão de 1912, em Viseu, prolongando o seu trabalho pelos anos seguintes até 1918. Entretanto, publicara António de Sèves um conto (?) etnográfico (“O San Tiago em Leomil (Beira Alta)”), dedicado “À Mademoiselle Cotovia” e saído a lume na revista Terra Portuguesa, texto com importantes achegas lexicográficas, seja no corpo do texto, seja ainda em rodapé, lembrando, no cuidado filológico, Tomaz de Figueiredo e o seu Dicionário Falado.
O prefácio que permite fixar o termo a quo António de Sèves inicia a sua missão literária adentro dos “scenarios da vida rustica” ajuda ainda à reconstituição da vida do escritor, sabendo-se que nesse Verão de 1912 esteve por Viseu, onde se encontrou com António Alves Martins e Fernando de Quental. Em 1913, estará o novelista na Graciosa dos Açores, aí privando com o Doutor Luís Cabral de Moncada. Cumprida a missão que o pai por aí desempenhara como juiz, regressa ao Continente no ano seguinte e trava conhecimento com Hipólito Raposo. No Natal desse ano de 1914, em Leomil, estabelece o plano de escrever uma série de livros sob o título englobante Beira-Alta, abrindo o projecto com “um volume sobre o viver rural” da sua terra, que se cumpriu em 1921, nada se conhecendo do sobejante desejo. Ao contrário do que defende Manuel Ribeiro, as palavras iniciais sevianas não me parecem negligenciáveis, seja pelo aclaramento do roteiro genético-textual e biográfico, seja ainda pela afirmação autoral da consciência de estar desbravando um género novo.
Eis, pois, e no sentido de Gastão Cruz, uma “paisagem, nada abstracta, / aos poucos revelada a uma luz / crescente insinuada”.

2006-04-11

misticismo com Judith Teixeira


MISTICISMO
Paixão
O céu negro e plangente está chorando
sobre o rosto bendito de Jesus,
e a multidão fugindo e ululando
sentiu o chão tremer aos pés da cruz!
A natureza arfa resfolgando...
E o doce olhar do Mártir não traduz
toda a dor da sua alma agonizando,
nas lágrimas caídas, feitas luz.
As rochas do Carmelo e do Líbano
estremecem num pavor vivo e humano...
A turba ao longe brama como louca!...
Então Jesus exclama: - tenho sede!
E um braço vil que dessa onda excede,
lança o amargo fel na sua boca!...
(Judith Teixeira, Castelo de Sombras, 1923.)
2

2006-04-09

catch (VIII)





"Manhã de frio e de névoa
escondendo os homens, enchendo as ruas..."
(Tomaz Kim, "Nada")

O excerto poético é também homenagem ao grande escritor TOMAZ KIM, pouco lido, deslembrado e imenso.

desenvolvimento do imaginário através da leitura

Havendo atraso, ainda pode facilmente reler o texto de apoio, carregando aqui.

catch (VII)






"Daí para baixo é escuro e no verão a rua sente-se fresca pela sua constante sombra." ( Ruben A., Cores , 1960)

catch (VI)


"Correspondem por ventura as pessoas ao sonho dos fantasistas que se prometeram conseguir quimeras?" (Manuel de Lima, Um Homem de Barbas )

2006-04-08

António de Navarro

Este é um retrato de António de Navarro da autoria do pintor João Hogan e está inserido na colectânea navarriana Poema do Mar (1957). O texto longuíssimo "António de Navarro e o fio dos sentidos" aqui publicado é parte integrante do volume coordenado pelo Professor Doutor António Manuel Ferreira (Universidade de Aveiro), sob o título Centenário de Branquinho da Fonseca: presença e outros percursos e resultante de um colóquio homónimo. Os leitores interessados poderão contactar com o índice da publicação primindo aqui.

2006-04-07

António de Navarro e o fio dos sentidos


“é que eu gosto do mistério.”
(Branquinho da Fonseca, «Carta a Alberto de Serpa», M-SER-426(6))

.

Decidiu o acaso, através da humana intervenção de António Manuel Ferreira, que se juntassem neste painel comunicações sobre Carlos Queiroz e António de Navarro. Coincidência influenciada ou não, o certo é que Manuel Anselmo, no “Pequeno ensaio sobre o movimento modernista português” de 1937, estabeleceu um dignóstico sobre os mesmos poetas, emparelhando-os com os seguintes dizeres: “Carlos Queiroz e António de Navarro caminham, com segurança, para uma ambição formal que se poderá chamar sinfónica. Queiroz mais descritivo, (…) Navarro, mais musical” (Anselmo, 1937: 236). Com a música e com Navarro sigo, pois, celebrando a coincidência e o nome maior de Branquinho da Fonseca.
António de Navarro colaborou na presença desde o primeiro número e, no ano em que Régio se licenciou com uma atrevida tese de licenciatura, o seu vanguardismo era já o da linguagem sms. E, no entanto, muito silêncio se foi instalando…
Os actos poéticos são muitas vezes afectados pela descontinuidade e pelas bruscas aparições. Sem norte, o fio da poesia busca sentidos, ainda que, relativamente a Navarro, se deva antes falar de isolamento e de ausência[1]. Um caso clássico de interrupção e de continuidade é o de Rainer Maria Rilke, que, dez anos passados, logrou o verso concatenador nas suas Elegias de Duíno. O verso de resgate que Navarro cifra inscreve-se na matriz da portugalidade e é um acto contínuo sobre o mistério e o grande mar. E é talvez esse o nodal lugar de encontro de Branquinho da Fonseca com António de Navarro: se o primeiro deixou no nº 3 da revista Litoral “sete importantes poemas, que formam uma pequena colectânea” (Ferreira, 2004: 39) intitulada “Sete poemas do mar”, o segundo multiplicou o determinante numeral cardinal pela obsessão e fez do mar a sua pátria. Mas, pensando melhor, o mar é uma presença constante[2] nos universos navarriano e fonsequiano, revelando-se ainda, na justiça das águas pacificadas, ser Navarro mais poeta e Fonseca mais lírico.
Adolfo Casais Monteiro, ao reflectir sobre aqueles “que mais conscientemente se integraram no espírito renovador da revista”(Monteiro, 1972: 29) presença, não hesita em adiantar Régio, Branquinho da Fonseca, Edmundo de Bettencourt, António de Navarro, Carlos Queiroz, Francisco Bugalho, Fausto José, Saul Dias, Alberto de Serpa e o seu próprio nome.
O trajecto de António de Navarro (e aqui digo acção cultural e obra literária) é um curso fluente e invulgar.[3] E o início dessa qualidade supletiva encontramo-la desde cedo, desde, por exemplo, a admissão de Mário Coutinho, em páginas do Diário de Lisboa (13 de Março de 1925), de haver um “movimento futurista” liderado por nomes como “José Régio, Celestino Gomes, António de Navarro, João Carlos, Abel Almada” e o seu. Navarro, muito dentro da dinâmica artística do momento, então sob o pseudónimo Príncipe de Judá[4], podia assinar manifestos epigonais e “pastiches” do Futurismo, podia mesmo, em “conferência sensacional” intitulada “Sol”, ser pateado no Teatro Sousa Bastos de Coimbra[5]. Fernando Guimarães, glosando António Ramos de Almeida[6], admite mesmo que há em António de Navarro “uma certa adesão a um imaginário ou mesmo receituário futurista” (Guimarães, 2000: 42), o que se torna evidente se relembrarmos uma parte do Manifesto publicado em Coimbra, nesse mesmo ano de 1925, e assacável ao nosso Poeta:
Os cegos olham kom os olhos dos outros ke já olharam e nós keremos olhar com os olhos dos outros ke já olharam, mas kom toda-a-força kom os nossos olhos e sentir kom a nossa alma. Keremos eskalar o Universo ke se fez pra nós o eskalarmos. A alma tem o Universo dinamiko em si, mas nós ke somos o alem-Universo ultradinamico. // Arte é movimento, é Universo dinamiko, é animismo veloz.[7]

Em breve, e em colaboração continuada entre 1927 e 1932, seria o tempo da presença. Aí voltará intermitentemente, depois do escândalo provocado pelo seu poema “O braço do Arlequim”[8] saído no primeiro número, ele que era e é o segundo poeta da revista, de acordo com a data de início de participação e o critério de Casais Monteiro lavrado na “Bibliografia” da sua Antologia. Olhando o acúmulo de poemas, quase todos impublicados em livro, diga-se que o conjunto é ainda hoje surpreendente de agilidade e leveza poéticas. Aliás, é um estruturado David Mourão-Ferreira quem defende que os poemas presencistas de Branquinho da Fonseca, António de Navarro e Edmundo de Bettencourt são admiráveis “realizações do nosso vanguardismo pós-modernista” e são «os que melhor documentaram a inquieta continuidade do espírito de Orpheu, tanto pela aguda desconfiança a alternar com a crença desmedida nos poderes da palavra, como pelo reiterado pendor para a visão alucinatória do concreto e para a expressão aparentemente cândida do insólito.» (Mourão-Ferreira, 1969: 206-207). Nesse espaço de tempo, em 1930, colabora Navarro na organização do Cancioneiro[9], antologia de poesia modernista portuguesa, defluente do “I Salão dos Independentes” que Diogo de Macedo e António Pedro organizaram em Maio desse ano. E aqui me detenho um pouco, para dizer que Navarro aí participa com quatro poemas. Um deles, “O automóvel azul”, chega a ser admirável de leveza e eficácia fónico-rítmica:
O cláxon zine…
e a fuga é toda azul
(anil
de ozone
num uuul
de cone)
na fita branca da estrada
parada
ao sol…

E o acordeón
do cláxon
retine e zine
ainda em som
lá longe
na amplidão
infinda.

É tudo instável,
ave,
como o automóvel…
lá – lá!...

no vértice acutângulo
dum ângulo
agudo e móvel
na clave
móvel,
da vibração.[10]

Voltando à presença desse mesmo ano e avançando para a do ano seguinte, não posso deixar de destacar uma significativa “Ode ao Senhor António de Navarro, Rabi-Mor de Portugal e dos seus Versos”[11] de António Pedro e um “estudo para um ensaio”[12], inusualíssimo, que acaba por desejar transmitir em poema a oração final de Ângelo de Lima.
Em entrevista ao “Suplemento Literário” do Diário de Lisboa (1 de Março de 1935), José Régio, instado sobre o rejuvenescimento ou a crise da literatura portuguesa, defendeu que dessa tensão terá resultado um renovo integral, de motivos e meios de expressão. Quando o director da presença emitiu tal juízo, estávamos em finais de Fevereiro de 1935. Tal vitalidade expressou-a Régio com a seguinte tirada que faz de António de Navarro uma presença real e importante no panorama nacional:
“Os motivos poéticos de Mário de Sá-Carneiro, de Fernando Pessoa, de António Botto, de Adolfo Casais Monteiro, de Adolfo Rocha, de António de Navarro, de Edmundo de Bettencourt, de Branquinho da Fonseca, de Saul Dias,etc.,- não são os de Bernardim, Garrett, Soares de Passos ou Junqueiro.”

Algo mudara, pois, na literatura portuguesa e António de Navarro estava lá. A voz autoritária que o disse é aquela mesma sobre a qual Miguel de Sá e Melo (1936) não hesitou no acto judicativo absolutizante: “José Régio é quanto a mim o maior poeta português vivo.”
Os “Dez minutos com António de Navarro” estampados no “Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 22 de Janeiro de 1937 apresentam o poeta presencista como “um dos líricos mais belos da nova geração”.[13] E é mesmo um habitualmente ácido Luiz Pacheco quem, depois de apodar Navarro como um sujeito “de feitio agreste, quase violento, um tanto maníaco e forreta”, o classifica de “poeta excelente” (Pacheco, 2004: 136)[14], certamente pensando em poemas nunca recolhidos em livro como “Bacanal”, “Os Medronheiros”, “Poema” ou “Bordel”, que leio, para o centro da memória, lembrando ainda que esta composição tem sido vista, por alguma crítica, como integrável nalgum expressionismo europeu de devastação vocabular e atomização poemática. Mas, ouçamos “Bordel”:
Horas mortas…
… turvas
tortas
agora
e toda a hora…
… Ámen!

Portas tortas
abertas
hirtas
abertas
tortas
retortas
de trincos
e trancas
partidas

E tudo torto
- mas tudo…
tudo torcido
e contorcido
e turvo e torto…
… mas, sobretudo
mui… muito torto,
tão hirtamente…
… terrivelmente!

E há horas brancas
adormecidas
nas horas pretas
e há um fado
cantando
contando,
embalado,
a sina de todas
que tu, e eu, mais enlodas

(Baixinho, que ninguém ouça!
Podem chamar-me doido…)

Pressinto,
quando entro,
não sei porquê!
o Cristo
e a Virgem Mãe
lá dentro
naquele antro
a par e ao pé
dum Mefisto
de quebranto
estranho encontro!...

Agora,
e toda a hora…
… Ámen![15]

O primeiro livro de poesia de Navarro é Poemas d’África (1941). Em prefácio ilustrativo, João Gaspar Simões defende que o Autor é um “poeta puro”, para quem a poesia “é mais um estado do que um meio”. Da influência da curta presença por Lourenço Marques resultou esta colectânea de estranha sensualidade poética (“Ai, que volúpia, meu deus feitiço”) vinda do hálito morno da terra, abundante de sinestesias e raras metáforas, aí pontuando ainda a fascinação pelo seniano “vocabulário tecnicista”.[16] Não denegando o convencionalismo ocasional ou a linguagem confran-gedora aí entrevista por Eugénio Lisboa (Lisboa, 1980: 87), extensiva, ainda segundo o clerc do ensaísmo português, a toda a obra navarriana, direi poder haver nela algo mais[17]: por exemplo, a “disponibilidade verbal transfiguradora” que retoma o que existe “de mais exaltante em Ângelo de Lima”, como o notou um Fernando Guimarães (1977: 45), ou a “ebriedade dionisíaca” de que fala Óscar Lopes (s.d.: 800).
Logo de 1942 é Ave de Silêncio. Trata-se de um livro de aparente simplicidade natural, em que o sujeito poético, fundido nos elementos, assiste à “história do mundo” e à legibilidade do seu espírito. Leve, quase suspenso, cada avanço poemático é um encontro com o vento e com o melhor silêncio. Muito próximo até de algum Pessoa ou Caeiro, Gaspar Simões nota-lhe um “pendor discursivo e conceituoso” (Simões, 1976: 306). Óscar Lopes, por seu lado, classifica-a de emblemática (s.d.: 801).
Em 1951, Eugénio de Andrade dedica a António de Navarro o poema “Para um pássaro” (Cf. Sísifo, nº2-3). Nesse mesmo ano, António de Navarro dedica “Poema” a Eugénio de Andrade (Cf. A Serpente, fasc. 3). Em 1956, publica-se uma ode de Navarro na obra Até Amanhã de Eugénio de Andrade (Lisboa, Guimarães Editores).
Poema do Mar (1957) contém interessantíssimos ambientes poéticos, nomeadamente os habituais momentos de tonalidade marinha da Nazaré, que Branquinho tão bem cultivou em Mar Santo (1952) e que convocam os arcanos da própria poesia. Não obstante, confesse-se, nem sempre o voo é altaneiro, avultando alguma vulgaridades e imensíssimas gralhas, que, não embotando a qualidade poética, obscurecem o interessante influxo da acédia que muitas vezes, exuberante e eficazmente, reganha indenegável centralidade. Um dos pontos frágeis desta colectânea é, para Gaspar Simões, uma certa retórica barroca e discursivista presa à racionalidade, lembrando “o mau Junqueiro e o pior Gomes Leal”.[18] A propósito desta obra, Taborda de Vasconcelos (Vasconcelos, 1958: 109) salienta haver na colectânea autenticidade vibrante e emotiva e novas impregnações sugestivas. Há também um motivo, que, sendo constante, assume aqui particular relevância: a explosão da metáfora percutiva, vinda de uma oficina ressonante alimentada de solidão.
Segue-se Águia Doída (Poemas d’África), de 1961, livro influenciado pela permanência por terras africanas, que convoca para o fogo interpretativo todos os abismos da nostalgia e do mistério, com fundadas ligações ao Quinto Império e ao monarquismo. A pregnância do ignoto comprime o sujeito poético, reservando-lhe o delicado papel de escutar os ritmos e sinais da natureza (“Sinto ainda passar nas tardes mornas”). Canto da ausência, do desenraizamento e da evocação, a poesia de António de Navarro é ainda abundante de sensações musicais (“Onde a vida foi, fugitiva, / a forma inatingível, / a pura música cativa”) e cromáticas (“Onde o sol, de crista de oiro, / cantou, a sombra alaga / e alonga…”). Como se a carne fosse também distância…
Na morte de Raul Leal, em 1964, coube ao Poeta a palavra “à beira da campa do velho companheiro”[19]. Em amizade conjunta andavam ainda Álvaro Ribeiro, Pinharanda Gomes, Azinhal Abelho e Francisco Brito.
Em 1971, António de Navarro publica Coração Insone, obra que contém obras anteriores e insere Vigília Distante. Acentua-se a linha sebástica e sacral (“- um lírio / de abismais / na minha de Dom Sebastião mão de gládio / e Espírito”), com reiterada visita ao magnetismo africano (“Na tarde, ai as tardes de África, / tão sequiosas de noite e calma!...”) e ao esoterismo místico (“Templário e longe, litúrgico, - tu que nasceste / ungido da água duma fonte secreta e mística.”), numa poesia lavada visceralmente por sangue revelador.
Guitarras em Madeira d’Asa (1974) é, como o defende Pinharanda Gomes, um livro profético-sapiencial, pleno da admonições e de reganhos épicos. Homenagem também a D. Sebastião e ao seu Aposentador-mor Francisco Navarro, é do Sacratíssimo Rei que importa falar, mergulhando-se, através do “mar da poesia”, na protologia do mito sebástico e na sua irradiação. Deflagram no universo univocal navarriano relâmpagos azulescentes (“falcões caçando azul”, “bebendo-se azul”, “centauro azul”…) que combatem o pensamento vulgar e afirmam, simbolicamente, um ideário monárquico alicerçado no curso vital pundonoroso (“Eu vi El-Rei chamar a noite / Com sua alma de guitarra luacenta…”).
Antes do fim, publica ainda António de Navarro a colectânea poética O Acordar do Bronze (1980), obra que sublima a pervivente ambiência marinha e a definitiva tergiversação da presença a Orpheu, encastoando a sua produção sob o signo da lusitanidade e do sofrimento:
Grandes águias dum verde transcendente
Evoca nas noites e nos sóis
De Sagres, evocando os teus e nossos heróis
E a nossa terra de heróis, o mar
E tua alma por eles te sagres,
Sagrando os sóis…

Olhando algum passado, muito custa, no sentido de Vyvyan Holland, concluir que uma das represálias mais sérias é a condenação ao silêncio, nomeadamente quando o caso se refere a um escritor invulgar como se o completo nome, António de Albuquerque Labatt de Sotto Mayor Navarro de Andrade, fosse o gelo e a desmesura, encostado pelos apodos do intelectualismo, do discursivismo, do retoricismo e do neobarroquismo.
António de Navarro, podendo sugerir, por um lado, uma certa confusão verbal ou até mesmo uma falta de domínio das palavras[20], é sempre um poeta historicamente dotado, proveniente que é da fibra orpheica[21] e do tempo da originalidade excêntrica. Navarro persegue a música e o sentido obscuro da natureza, muitas vezes se confundindo na demanda com explosões e redemoinhos verbais e outras tantas logrando, no dizer avisado de Casais Monteiro, “das mais belas expressões da poesia no nosso tempo” e “uma arquitectura que se aparenta à de Álvaro de Campos”[22]. Navarro como Casais Monteiro, Saul Dias e João Falco (Irene Lisboa) algo devem a Campos e a Almada.
Diferente e original, no entanto, há em Navarro um quid escutador à maneira de Sophia, diferente do nemesiano “poeta absorto”, que faz dele um escritor que sobrepõe a sua natureza à Natureza, aprofundando-se numa arte poética do pressentimento. Dividindo-se, segundo António Manuel Couto Viana (1994: 61), entre o “barroquismo pujante” e o “lirismo epigramático”, a poesia de António de Navarro entra pelos tímpanos.
Sem completude, a obra navarriana espera, na sua seiva torrencial, um olhar atento dos novos e bons leitores, aprofundando-se, por exemplo, a vertente surrealista que Natália Correia cavou, inserindo “Bacanal” na lei essencial dos estados alucinatórios.[23] Poesia do relâmpago e do instante indecifrável e extático, linfaticamente explosiva, para dentro ainda implode cada verso tantas vezes surpreendente. Não seria sequer difícil ou moroso antologiar um sem número de lugares maiores da nossa poesia nesses versos deslembrados[24]. E os melhores deles serão muitas vezes conseguimentos isolados que são a própria estrutura da “casa da poesia”, como este, que mostro, vindo do tempo do fim (“Cada vez mais as coisas sonham.”), em matriz profética que o tempo, acredito, haverá de coonestar. Abrem-se ainda, neste fio que desenrolo, o modo irónico associado à poesia de António de Navarro ou o seniano “dadaísmo inconsciente”[25], bem como a questionação e desconstrução poemáticas, linhas, aliás, entrevistas por Fernando Guimarães (2002). Decantam ainda no labirinto cerebral da crítica presencista as palavras cristalinas de Gaspar Simões que o dizem “poeta integral” (Simões, 1964: 340)[26] ou o asserto de António José Saraiva e Óscar Lopes que alude ao extravasamento dos “limites entre a consciência e a natureza” (Saraiva-Lopes, 1956: 934). Mas até quando?
Recolho a disseminação e dou de novo. António de Navarro é um caso de silêncio a resolver. Próximo, pela voz da crítica, do paroxismo e do delírio fantasista de Sá- -Carneiro[27] e de Almada, do mistério ocultista de Pessoa e de Ângelo de Lima[28], da técnica compositiva de Álvaro de Campos ou da sugestão transcendente de Pascoaes, há no Poeta um fio de transmissão que conduz sempre à “casa da poesia”.
Abrem-se, pois, novas portas e outros sentidos. O tempo do resgate vai chegar, começa a chegar. Sem vazio, a nossa presença é já a força da presença. Hoje e ontem, aqui.

Anexo
Os inícios poemáticos subsequentes aparecem por ordem alfabética e de acordo com a primeira palavra do texto, reproduzindo-se o primeiro verso de cada poema publicado, com excepção do hipotético sinal de pontuação no seu final que não indique final de frase, inscrevendo-se ainda entre parênteses rectos, pela ordem, o título da obra sem o ano de publicação, de acordo com as siglas ( AB: O Acordar do Bronze; AD: Água Doída; C: Contemporânea®; Ca: Cancioneiro; CI (VD): Coração Insone. Vigília Distante; CP: Comércio do Porto; GMS: Guitarras em Madeira d’Asa; HPGL: Homenagem poética a Gomes Leal no primeiro centenário do seu nascimento; MT: Metal Translúcido; OM: Ode à Manhã; P: Presença ®; Pa: Panorama ®; PA: Poemas de África; PM: Poema do Mar; Po: Portucale ®; S: Serpente ®; SLDL: Suplemento Literário do Diário de Lisboa; V: Vértice ®; VC: Ver e Crer ®); o título do poema entre aspas, se existente; havendo, o ano de publicação em periódico; o número de página nas edições conhecidas; o número de versos constituintes do poema; e outras informações julgadas não despiciendas. É esta a tabela alfabética dos incipit navarrianos:

A beleza [AB, pp. 52-53, 43 vv.].
A confidência da névoa, asa que os chama e eleva [AB, p. 151, 21 vv.].
A cruz dos caminhos é a tua cruz [PM, pp. 129-130, 10 vv.].
A Flor do Mar era um barco [PM, “A ‘Flor do Mar’”, pp. 17-18, 26 vv.].
A flor dum ibisco [CI, p. 210, 8 vv.].
A gente dá tudo a isto [PA (CI), pp. 28-30, 48 vv.].
A legenda que tracei na tarde [AD, pp. 41-42, 28 vv.].
A legenda que tracei no dia [AD, p. 93, 13 vv.].
A luta contra a realidade [HPGL, pp. 19-23, 69 vv.]
A luz do farol do Sítio [PM, pp. 27-28, 23 vv.].
A luz do Rei [GMA, p. 80, 15 vv.].
A mãe indígena passa… [AD, pp. 60-62, 49 vv.].
A mãe que embala o filho morto [PM, “Sanguinea”, p. 96, 13 vv.].
A minha África é, enfim [AD, pp. 67-68, 32 vv.].
A minha cruz – a única de Cristo [CI, pp. 193-194, 17 vv.].
A minha sensação de ser [PM, pp. 114-115, 10 vv.].
A minha solidão, a nossa solidão!... [PM, “Frémito com música dentro”, p. 161, 15 vv.].
A morte, conhece-me – sou aquele [AB, “Imaginário do bronze”, p. 109, 15 vv.].
A morte duma ave [PM, p. 117, 9 vv.].
A morte dum homem [PM, p. 118, 10 vv.].
À morte não ceder nem um centímetro [CI, p. 217, 11 vv.].
A morte trespassou-se antes da sua e das sete espadas que beijou [GMA, pp. 85-87, 74 vv.].
A natureza, contemplativa [AS (MT), p. 42, 15 vv.].
A noite, supersticiosa [PM, p. 101, 19 vv.].
A noite vai levar-te [PM, p. 102, 9 vv.].
A nossa passagem por nós mesmos [PM, “A noite cisma pela noite fora…”, pp. 177-179, 71 vv.].
A nota solta e libertária da sinfonia do silêncio que se esparge [PA (CI), p. 30, 19 vv.].
A pequena cruz de prata [AB, p. 62, 19 vv.].
À praia d’areia fina [PM, p. 91, 12 vv.].
A sede [CLL, “Alma”, p. 61, 9 vv.].
À sombra da palmeira [PA (CI), pp. 25-26, 35 vv.].
A sombra d’El-Rei [GMA, p. 108, 10 vv.].
A sua espada crucificava um mito [AB, “A Mousinho de Albuquerque-III”, p. 116, 12 vv.].
A vela e a quilhas, a sangue e a além, abrem a alma um sulco sangrento no mar [PM, “Largada”, p. 19, 20 vv].
A vida duma rosa morta [Ca, “Aroma”, p. 4, 22 vv.].
Acrobata [P, nº 21, “Acrobatas”, p. 9, 77 vv.].
África dos longes… Era sempre [CI, pp. 200-201, 15 vv.].
África é hoje na alma que a entende [CI, p. 216, 17 vv.].
África, paisagens novas? Talvez!... [PA (CI), pp. 53-54, 36 vv.].
Ah! a propícia coisa [GMA, p. 115, 20 vv.].
Ai o meu amor [P, nº 4, p. 7, 31 vv.].
Algo se fez visão e sonho [GMA, p. 59, 14 vv.].
Alguém se foi longe na língua de granito [CI, pp. 197-199, 34 vv.].
Algumas [PM, pp. 131-132, 15 vv.].
Alguns têm perfis de Cristos. [PM, pp. 130-131, 19 vv.].
Ali na sua carne, que é uma vela [AB, p. 64, 14 vv.].
Alma a quem sucessivo se nos morre [GMA, pp. 112-113, 30 vv.].
Alma, eu sei, e a gente sente [PM, “Olhando a bruma”, pp. 147-148, 24 vv.].
Alma que o homem acendeu [AB, p. 89, 14 vv.].
Alucinado El-Rei dizia [GMA, pp. 103-104, 33 vv.].
Amada [PM, “Poema ao fim d’uma noite”, p. 162, 8 vv.].
Amo justamente as cousas [AD, pp. 79-80, 37 vv.].
Anda aqui um poeta estranha [AS (MT), p. 48, 17 vv.].
Anestesio-me [PM, pp. 110-111, 17 vv.].
Ânfora, gomil [P, nº 2, “Canção”, p. 5, 29 vv.].
Antes de ir até onde [GMA, p. 43, 20 vv.].
Ao canto, erma, a vela abandonada e gasta… [AB, pp. 46-47, 34 pp.].
Ao lume da alma [PM, pp. 48-49, 25 vv.].
Aprenderam a lidar [AB, p. 101, 19 vv.].
Aquela árvore onde os pássaros cantam [PM, pp. 150-151, 26 pp.].
Aquela asa que passou [PM, pp. 87-88, 24 vv.].
Aquela flor que canta [PM, p. 112, 10 vv.].
Aquela viúva do pescador [PM, p. 90, 17 vv.].
Aquele da minha vida que um letargo adormeceu [AD, pp. 16-21, 120 vv.].
Aqui teu nome te ignora [AD, p. 22, 19 vv.].
Árvores, folhas, águas, coisas de África [PA (CI), pp. 32-33, 29 vv.].
Árvores que o vento arqueia [P, nº 47, p. 7, 6 vv.].
As estrelas deslizam entre as minhas mãos cheias de lama [P, nº 52, p. 4, 42 vv.].
As formas do meu ser [PM, “Uma ideia feriu-me as mãos”, pp. 137-139, 41 vv.].
As mães dos que abriam velas ao vento [AB, pp. 81-83, 58 vv.].
As minhas dores, onde estão elas?... [PM, “Friso a desolação e lágrimas”, p. 153, 26 vv.].
As minhas lágrimas secaram, mas ficou [AD, pp. 69-70, 31 vv.].
As palavras tristes que me digo [PM, “A caminho”, pp. 97-98, 30 vv.].
As palavras secretas, pulmões do eterno no que passa [CI, pp. 223-224, 10 vv.].
As sibilas e as lendas [AB, pp. 27-28, 40 vv.].
Assim, adio [PM, pp. 115-116, 7 vv.].
Assomo ao longe [AD, p. 94, 8 vv.].
Bailarico na areia [PM, pp. 26-27, 33 vv.].
Bem sei que há outras verdades além desta [PM, p. 54, 14 vv.].
Bica [CLL, “Canto pequenino”, p. 62, 15 vv.].
Cabe às vezes numa taça [CI, p. 204, 16 vv.; pp. 220-221, 16 vv.].
Cada jardim com sua noite [CI, pp. 214-215, 20 vv.].
Cada mareante [AB, p. 102, 16 vv.].
Cada poema leva-me quanto sou [PM, pp. 136-137, 8 vv.].
Cada um tem um fio luminoso a guiá-lo [PM, “Cada um tem um sonho a guiá-lo”, pp. 176-177, 17 vv.].
Cada vez mais as coisas sonham. [GMA, p. 118, 15 vv.].
Caiu uma violeta n’água [P, nº 47, p. 7, 9 vv.].
Canto, simplesmente [PM, “Água corrente”, p. 97, 7 vv.].
Cantos… dentro de mim. [PM, pp. 62-63, 20 vv.]
Casar-me com o profundo [AD, p. 98, 11 vv.].
Cem pupilas [AD, pp. 101-102, 23 vv.].
Certa ideia [PM, “Nuvem”, p. 100, 11 vv.].
Chego às vezes a ter receio de mim [P, nº único, “Solilóquio II”, p. 4: 24 vv.].
Chipamanine [CI, pp. 183-184, 30 vv.].
Chipamanine tem [CI, pp. 184-185, 16 vv.].
Chipamanine tem dó [CI, pp. 185-186, 30 vv.].
Cismando é que está presente [GMA, p. 51, 8 vv.].
Com a morte tenho uma aventura [PM, pp. 124-125, 13 vv.].
Com a noite tenho uma aventura [PM, p. 125, 12 vv.].
Com a vida tenho uma aventura [PM, p. 124, 7 vv.].
Com dor, com a dor apenas [PM, “A brisa quebrou um gladíolo”, pp. 180-181, 19 vv.].
Com meu sangue se faz sua noite imensa [CI, pp. 187-189, 49 vv.].
Com um rosto d’água pensativa [GMA, p. 100, 26 vv.].
Com um sextante [AB, p. 41, 12 vv.].
Com uma agulha de prata [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4, 10 vv.].
Com uma noite súplice d’asas [GMA, pp. 98-99, 37 vv.].
Comigo e com uma rosa [PM, p. 122, 14 vv.].
Como da minha estirpe é a sombra [CI, p. 211, 7 vv.].
Como escorres das minhas mãos [PM, “Dispersão”, pp. 143-144, 31 vv.].
Como podes erguer as mãos a um Deus que não existe!?... [PM, “Solilóquio”, p. 184, 14 vv.].
Compreender as coisas [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4, 13 vv.].
Comungaram a noite [AB, p. 63, 19 vv.].
Conquistar-me até ao último verso [GMA, p. 35, 9 vv.].
Corre no meu sangue o veneno d’África [PA (CI), pp. 37-38, 25 vv.].
Crear poemas de nada [PM, p. 58, 14 vv.].
Creio na minha dúvida [PM, pp. 80-81, 26 vv.].
Criei-lhe o aroma [AS (MT), p. 36, 15 vv.].
Cristo em madeira d’águas [GMA, p. 62, 19 vv.].
Cruzo os braços e tenho assim a minha cruz [Ca, p. 4, 19 vv.].
Da bruma cerrada [AB, p. 26, 17 vv.].
Da execução do esforço [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4: 9 vv.].
Da mais profunda adoração nasci-me. Do [CI, pp. 205-206, 14 vv.].
Da metafísica de Deus feito mar [AB, pp. 95-96, 24 vv.].
Da noite, ao crepúsculo [GMA, p. 46, 20 vv.].
Dar às coisas o seu destino [CI, pp. 192-193, 13 vv.].
Dêem-me as cousas a taça [CI, pp. 218-219, 20 vv.].
Dentro da noite há-de arder a alma [CI, pp. 194-195, 10 vv.].
Depois de findos agarra-se-nos à morte [GMA, pp. 74-75, 37 vv.].
Depois do naufrágio [PM, pp. 23-24, 16 vv.].
Descobriam-se terras por sortilégio [AB, “Quinto Império”, p. 117, 26 vv.].
Desfez-se em céu a gaivota [PM, pp. 65-66, 28 vv.].
Deus é uma cousa [PM, p. 108, 11 vv.].
Deus, a tua metafísica dorme [AB, p. 90, 9 vv.].
Devagar, devagar, ai, não te canses…[PM, “O poema que nos encontra”, p. 140, 20 vv.].
Disse alguém ao Rei: Silêncio!... [GMA, p. 94, 6 vv.].
Disseram a El-Rei: É noite! [GMA, p. 107, 7 vv.].
Disseram ao rei: é tarde!... [GMA, p. 95, 7 vv.].
Disse uma voz ao Rei – herói! [GMA, p. 93, 7 vv.].
Do êxtase as coisas adormecem [GMA, p. 81, 8 vv.].
Do nosso sombrio fundo [PM, “Paisagem com uma asa”, pp. 171-172, 26 vv.].
Do Oriente [AD, pp. 81-82, 27 vv.].
Do teu corpo nascem as florestas, nascem os rios, e os rios imponderáveis [AD, pp. 89-90, 34 vv.].
Doem-se estes silêncios [AB, pp. 76-77, 40 vv.].
Donde vem esta folha verde [PM, pp. 66-67, 21 vv.].
Dorido, na tarde [PM, “Na tarde”, pp. 169-170, 19 vv.].
D’um cone d’azul, força a mais d’azul [GMA, p. 73, 16 vv.].
Duma nuvem azul [AB, p. 79, 10 vv.].
É com claridade vidente [AB, pp. 38-40, 58 vv.].
E dai-nos, Senhor, o nosso velho coração [AB, p. 78, 15 vv.].
E disse o Rei para si mesma [GMA, p. 91, 5 vv.].
É logo que o sangue se devora [CI, p. 212, 9 vv.].
É o meu centauro azul que eu relembro [GMA, p. 24, 16 vv.].
E pelos olhos passa-lhe a dor [GMA, p. 67, 13 vv.].
E porque somos assim [P, nº 52, p. 4, 41 vv.].
E se as almas fugissem dos corpos [PA (CI), pp. 47-48, 25 vv.].
É só mais uma verdade. [CI, p. 197, 15 vv.].
É tão bom chamar-te Mãe!... [PM, “Cântico para a brancura”, p. 137, 17 vv.].
E vejo, como os magos podem ver [AD, pp. 28-29, 25 vv.].
El-Rei [GMA, p. 63, 12 vv.].
El-Rei, antes d’Alcácer [GMA, p. 96, 11 vv.].
El-Rei escreve o seu poema [GMA, p. 66, 12 vv.].
El-Rei medita e sonha [GMA, p. 77, 9 vv.].
El-Rei que cisma ainda… [GMA, p. 78, 4 vv.].
El-Rei reparou em Deus [GMA, p. 84, 12 vv.].
El-Rei tinha o seu Cristo [GMA, p. 37, 19 vv.].
Ele é um tempo de silêncios [GMA, p. 44, 17 vv.].
Ele seria para a estátua do seu chão delirante e transe [GMA, pp. 89-90, 34 vv.].
Em certas noites [PM, “Quando o silêncio dói”, pp. 145-146, 18 vv.].
Em certas noites de Outono [AS (MT), pp. 38-39, 22 vv.].
Em certos dias tenho a sensação de que vou sentir morrer tudo [PM, “Angústia”, pp. 142-143, 15 vv.].
Em febre [PM, pp. 40-41, 13 vv.].
Em Sagres, atónitos e abismados [AB, pp. 44-45, 41 vv.].
Em sangue uma verdade crucificou-se [AB, “Sangue lusíada”, p. 132, 14 vv.].
Em suas torres de pó distante [GMA, pp. 49-50, 33 vv.].
Ensimesmada [AD, p. 24, 9 vv.].
Ensinámos o mar a medir-se [AB, p. 29, 8 vv.].
Ensinou-nos África a ter o seu sangue [CI, p. 196, 17 vv.].
Entardece… - eis uma certeza. [PM, pp. 81-82, 23 vv.].
Entre o capim, crispação bravia [AD, pp. 37-38, 24 vv.].
Era essa a pequena dor [GMA, pp. 25-26, 34 vv.].
Era já distância pura e os galgos sabiam-no correndo lebres em relâmpago [GMA, pp. 19-22, 66 vv.].
Era o do mistério augusto e límpido [GMA, p. 23, 10 vv.].
Esmigalhem meu crâneo e que as legiões [P, nº 10, p. 7, 14 vv.].
Esqueci-me do mar [PM, pp. 53-54, 10 vv.].
Esse pensamento que perdi [PM, pp. 55-56, 29 vv.].
Esta agonia das tardes de outono [AS (MT), pp. 45-46, 30 vv.].
Esta é a poesia que se há-de crucificar [AB, pp. 60-61, 24 vv.].
Esta noite [PM, “Esta noite…”, p. 189, 16 vv.].
Estamos criando a crença para nos devorar [GMA, p. 56, 27 vv.].
Estava triste e atirou-se ao rio [PM, p. 136, 9 vv.].
Este cântico ácido e arquejante [PM, pp. 22-23, 16 vv.].
Este poema da vida, sempre, enerva-me [PM, “Poema a transbordar da taça”, p. 177, 8 vv.].
Este quarto não é meu e, todavia, [PM, “Elegia num quarto alugado”, p. 147, 18 vv.].
Estou a falar de África e sinto [CI, pp. 222-223, 17 vv.].
Eu arranjo e crio despenhadeiros [AB, pp. 65-67, 60 vv.].
Eu canto na tarde [PM, p. 103, 10 vv.]
Eu creio na Cruz [AB, “A Cruz”, pp. 118-119, 32 vv.].
Eu, da minha limpidez [GMA, pp. 116-117, 58 vv.].
Eu e a natureza somos um acorde [P, nº 47, p. 7, 10 vv.].
Eu que levo um mistério [GMA, p. 114, 16 vv.].
Eu sei que venho da minha angústia [PM, pp. 51-52, 14 vv.].
Eu, não lamento [PM, “Fala o poeta enfim”, p. 135, 20 vv.].
Eu vi El-Rei chamar a noite [GMA, p. 36, 15 vv.].
Evadi-me? Não. Sou algemas que doem na dor abstracta [AD, pp. 34-36, 46 vv.].
Evanescente!... [P, nº 8, “Ode”, p. 6, 41 vv.].
Evidentemente que há certezas [PM, p. 110, 12 vv.].
Faço-me da alma o que faz a minha profecia [AB, “Soneto”, p. 110, 14 vv.].
Fala-se de África e uma veia existe mais. [CI, pp. 207-208, 32 vv.].
Fala-se de Deus [CI, pp. 219-220, 30 vv.].
Fala-se sempre com o mistério claro [AB, p. 84, 15 vv.].
Febres de África que o quinino acalma [PA (CI), pp. 31-32, 44 vv.].
Feito visão [GMA, p. 101, 19 vv.].
Feriram o segredo dos mares [AB, p. 31, 4 vv.].
Ficam sempre os Lusíadas, e o seu império [AB, p. 48, 19 vv.].
Ficar na obra [PM, p. 49, 22 vv.].
Ficaste nessa dor, amada morta [PM, p. 154, 8 vv.].
Filho sombrio dum mar qualquer [PM, p. 22, 15 vv.].
Fito na noite a nossa estrela [CI, p. 212, 9 vv.].
Foi a tua estátua que os bárbaros estilhaçaram [AB, “A Mousinho de Albuquerque”, p. 114, 17 vv.
Foi de Sibila [AB, pp. 21-22, 27 vv.].
Foi na Índia aonde El-Rei [CI, p. 211, 13 vv.].
Força centrífuga [P, nº 20, “Deus”, p. 7, 43 vv.].
Glauca…- [P, nº 10, p. 7, 47 vv.].
Gosto de o ver e olhar, suspendendo as notas [PM, pp. 43-44, 27 vv.].
Guitarras grasnam pavões [GMA, p. 102, 16 vv.].
Há gritos e pinchos [P, nº 1, “O braço de Arlequim”, p. 2, 50 vv.].
Há não sei que fatalismo na noite que tomba [PA (CI), pp. 49-53, 96 vv.].
Há que gastar a vida [PM, “A brisa abriu uma rosa”, pp. 183-184, 11 vv.].
Há sempre um sublime que me deve [AD, pp. 53-55, 62 vv.].
Há um grande perfil de noite que súbito se incendeia [GMA, pp. 71-72, 30 vv.].
Há versos na sua boca [PM, “Ritmo que desvenda”, pp. 190-191, 20 vv.].
Hei-de estar só [AB, p. 55, 17 vv.].
Hoje o mar está duma serenidade cruciante [PM, p. 136, 9 vv.].
Horas mortas… [P, nº 20, “Bordel”, p. 7, 49 vv.].
Impossível não ser o próprio [AS (MT), p. 50, 14 vv.].
Ir um barco, de noite [PM, “No convés, à noite…”, p. 191, 16 vv.].
Irmã que durma!... [P, nº 13, “Ópio”, p. 3, 34 vv.].
Isto há-de acabar numa mitológica bebedeira [PM, pp. 39-40, 26 vv.].
Já levaram carisma e a sua ideia [AB, “Louvação do pinhal de Leiria”, pp. 112-113, 34 vv.].
Já não lembro, já não toco [AD, pp. 73-74, 31 vv.].
Já tive também uma aventura [PM, pp. 122- 123, 10 vv.].
Já tive também um idílio [PM, pp. 123-124, 12 vv.].
Jogos de água ou, afinal [AS (MT), p. 44, 12 vv.].
Lá fora, chove [PM, pp. 155-156, 19 vv.].
Lá longe onde houve sonho e onde [AD, p. 26, 12 vv.].
Lá na Pedra do Guilhim [PM, pp. 42-43, 21 vv.].
Lírico [PM, p. 120, 21 vv.].
Listas, fitas, bacantes nuas [P, nº 5, “Bacanal”, p. 6, 51 vv.].
Lua ronga, que inundas a noite [AD, pp. 63-64, 36 vv.].
Mais misterioso do que o mistério sou eu [PM, pp. 57-58, 22 vv.].
Manhãs do trópico, súbitas [AD, pp. 32-33, 27 vv.].
Mar Sacral, que decantas o íntimo de bronzes [AB, p. 59, 20 vv.].
Maria da Griolanda [PM, pp. 29-30, 21 vv.]
…Mas uma noite perdi-me numa imaginação de mar… [PM, p. 57, 17 vv.].
Mede-se a noite por ele [GMA, p. 65, 6 vv.].
Mede-se o Ultramar que veio [AB, p. 42, 18 vv.].
Metafísica é uma vela cósmica de tornar o pensamento [AB, “Poema em Prosa”, p. 121, 24 vv.].
Meu ídolo de sangue, meu silêncio destroçado [CI, pp. 206-207, 15 vv.].
Meu Poeta, - Angelus de Lima [P, nº 31-32, p. 13, 63 vv.].
Meu ser consciente e, pois [P, 2ª série, nº V, “Estrofe”, p. 17, 23 pp.; PM, “Estrofe”, pp. 141-142, 27 vv.]].
Meus pensamentos foram… [PM, pp. 105-106, 10 vv.].
Meus pensamentos voltaram… [PM, p. 106, 15 vv.].
Mistérios – não há. [PM, p. 119, 11 vv.].
Místico, como hei-de erguer as mãos? [PM, “Oração para criar um Deus impossível”, p. 181, 7 vv.].
Na curva duma vaga [S, nº 3, “Outro Poema do Mar”, nº 34, 29 vv.; PM, pp. 24-25, 29 vv.].
Na génesis das cousas me persigo [AD, pp. 95-96, 25 vv.].
Na grande rocha o Infante integra o sonho [AB, “Infante D. Henrique”, pp. 15-18, 94 vv.].
Na hora em que El-Rei [GMA, p. 64, 8 vv.].
Na pedra mais devota, numa ara [CI, p. 209, 23 vv.].
Na pedra rígida e austera [P, nº 36, “Epitáfio (Para o túmulo do Poeta)”, p. 9, 30 vv.].
Na sua mão, no mais secreto [AB, p. 23, 15 vv.].
Na tarde, ai as tardes de África [CI, pp. 204-205, 21 vv.].
Na tarde distante passa ainda [CI, p. 201, 8 vv.].
Não é essa a carne que te dei [PM, “Lamento da natureza pelo mendigo”, p. 132, 17 vv.].
Não ergas as tuas mãos demais [PM, “Oração viva”, p. 152, 13 vv.].
Não. Não sentirás mesmo [PM, “Outro poema de amor”, pp. 184-185, 17 vv.].
Não sei ainda bem a que me entrego [PM, p. 113, 17 vv.].
Não sei quê de mim se perdeu [PM, p. 104, 9 vv.].
Não sei o que me falta em angústia [PM, “Perspectiva onde se me perdeu a sombra”, pp. 174-176, 68 vv.].
Não sei se é mais humana a noite ou o dia… [PA (CI), p. 42, 21 vv.].
Não tenho ciúmes de que te abrace [PM, “Poema de amor”, pp. 189-190, 19 vv.].
N’aparência é tudo tão verdade!.... [P, nº 47, p. 7, 19 vv.].
Nas grandes manhãs em que as mulheres penteiam os cabelos [OM (MT), pp. 7-14, 168 vv.].
Nas linhas vive um bruxedo [P, nº 28, “O Segrêdo das Linhas”, p. 8, 61 vv.].
Nas noites frias, nas noites em que a solidão [PM, “Poema de amor e noite”, pp. 186-187, 45 vv.].
Nas rosas que adormecem à noite [CI, pp. 201-202, 12 vv.].
Nasce outra vez o dia. [CI, pp. 191-192, 23 vv.].
Naus e mareantes [AB, “Trova de Bandarra”, pp. 126-127, 45 vv.].
Navegaram pelo acordar do bronze, no fundo [AB, p. 103, 18 vv.].
Navegando, senhoras do mar, as caravelas [AB, p. 50, 21 vv.].
Navio ao longe, a arder [PM, pp. 67-68, 28 vv.].
Negros como crianças [PA (CI), pp. 26-27, 24 vv.].
Nem a noite tem mistério [PM, p. 78, 24 vv.]
Nessa noite a tua lua [V, “Romance da Lua do Poeta”, pp. 330-331, 37 vv.].
Nesse dia os presos tinham fugido todos das prisões [P, nº 35, “Incêndio”, p. 3, 64 vv.].
Nesta campa onde repousa [AD, p. 23, 12 vv.].
Neste mar há almas de pescadores mortos [PM, p. 25, 13 vv.].
No dia límpido [GMA, pp. 32-34, 64 vv.].
No meu fundo não há a imensidão do nada [PM, “Solilóquio”, pp. 168-169, 32 vv.].
No meu fundo não há nada. [P, “Ode”, p. 11, 33 vv.].
No poial da casa pobre [AB, “Poema do Mar”, pp. 124-125, 38 vv.].
No quadrante a morte faz uma sombra invisível [AB, p. 88, 18 vv.].
No seu túmulo a minha estátua jacente [GMA, p. 60, 16 vv.].
No silêncio [GMA, p. 52, 19 vv.].
No teu funeral [V, “O Funeral”, pp. 331-332, 25 vv.].
Noites de África comendo silêncios [PA (CI), pp. 43-44, 23 vv.].
Noites de África, longe… Tangida [CI, pp. 190-191, 18 vv.].
Noites de solidão transida [PM, “Cântico em notas de cinza”, pp. 144-145, 39 vv.].
Nos braços verdes, nus [P, nº 14-15, “Os medronheiros”, p. 6, 43 vv.].
Num canto d’esperança [PM, p. 116, 8 vv.].
Nunca me perdi no mar [PM, p. 56, 16 vv.].
O baile das folhas mortas [PM, “Quase uma balada”, pp. 163-164, 28 vv.].
O Cavaleiro da espada iluminada [AB, “A Mousinho de Albuquerque-II”, p. 115, 17 vv.].
O cavalo branco galopa na noite e traz a lua enredada nas crinas [V, “Eternidade viva”, p. 332, 17 vv.].
O cavalo que El-Rei montava [GMA, p. 76, 25 vv.].
O cemitério é ali [PM, p. 105, 13 vv.].
O cláxon zine… [Ca, pp. 4-5, 26 vv.].
O dancing é o ring de Terpsicore [P, nº 14-15, p. 7, 117 vv.].
O dia hoje está sombrio [PM, p. 52, 26 vv.].
O elmo d’El-Rei [GMA, p. 40, 20 vv.].
O enterro de D. Sebastião [GMA, pp. 53-54, 45 vv.].
O enterro duma criança [PM, p. 114, 11 vv.].
O fim deste oceano… deste livro [PM, p. 92, 17 vv.].
O gadanheiro canta [PM, “O gadanheiro e a sua manhã”, pp. 156-157, 33 vv.].
O homem é pequeno , oh terras d’África [PA (CI), pp. 48-49, 16 vv.].
O jazzz [P, nº 6, “Charleston”, p. 6, 52 vv.]. [P, nº 3, p. 5, 53 vv.].
O longe foi o sonho dos nautas. [AB, pp. 35-36, 26 vv.].
O mar é ela [C, s. p., 29 vv.].
O mar do meu destino atirou à praia de mim [PM, pp. 30-31, 14 vv.].
O mesmo vento que leva a ave podre [PM, “Cântico”, pp. 166-168, 38 vv.].
O meu canto d’esperança [PM, p. 103, 13 vv.].
O meu canto enche-me dum misticismo [PM, pp. 151-152, 19 vv.].
O meu casamento é com a sombra da morte [AD, p. 97, 6 vv.].
O meu cavalo de fogo ardeu-me na cavalgada [GMA, p. 27, 7 vv.].
O meu enterro [PM, p. 109, 24 vv.].
O meu ser libertário [PM, “Folha no vento”, pp. 96-97, 7 vv.].
O meu longe, o meu espectador sensível [PM, p. 50, 16 vv.].
O místico que reza [PM, p. 118, 10 vv.].
O mundo para mim [PM, “Dístico”, pp. 191-194, 100 vv.].
O nada, de que sou feito [PM, “Aparição”, pp. 172-173, 23 vv.].
O poeta finge [PM, pp. 111, 13 vv.].
O que é preciso é morrer a ânsia [AB, p. 100, 18 vv.].
O que será o silêncio?... [PM, pp. 61-62, 20 vv.].
O que vale é a poesia ser maior que eu [PM, pp. 50-51, 20 vv.].
O raio da minha ânsia [PM, pp. 82-83, 29 vv.].
O raio de sol que se parte [CI, p. 222, 12 vv.].
O recorte desta balada [PM, p. 64, 17 vv.].
O rei tinha o seu oiro [GMA, p. 38, 13 vv.].
O relâmpago ou se perde [CI, pp. 221-222, 15 vv.].
O rouxinol que trila [PM, p. 104, 12 vv.].
Ó selva iluminada a sombra [AD, p. 15, 14 vv.].
O signo de Cristo [AB, p. 30, 5 vv.].
O silêncio [PM, pp. 59-60, 8 vv.].
O silêncio [PM, pp. 60-61, 11 vv.].
O silêncio [PM, pp. 61, 10 vv.].
O silêncio. [PM, p. 60, 8 vv.].
O sol brinca contigo [PM, pp. 113-114, 10 vv.].
O Sol é um disco de zarcão [P, nº 3, “O Vira (Baixo relevo), p. 5, 53 vv.].
O sol que El-Rei iluminava [GMA, p. 79, 21 vv.].
O súbito navio [CI, p. 193, 16 vv.].
O tempo da sua contemplação [AD, p. 78, 8 vv.].
O tempo que se dói [AB, pp. 72-73, 47 vv.].
O tempo sofre-nos com a nossa efemeridade infinita. [AD, pp. 105-106, 37 vv.].
O tempo vai fazendo estátuas invisíveis dentro do homem [PM, pp. 71-72, 59 vv.].
O vento levou as árvores todas da paisagem [P, nº 47, p. 7, 19 vv.].
Odor de traição e escremento [AB, p. 74, 15 vv.].
Oferece a noite sua iluminura [AD, pp. 65-66, 23 vv.].
Oh, meu Deus [PM, “Outra oração”, p. 182, 4 vv.].
Oh mistério [PM, pp. 46-48, 38 vv.].
Oh natureza verde, oh sol que fuma ópio e sangue [PA (CI), pp. 38-40, 37 vv.].
Olho as minhas mãos e não vejo nada em elas [PM, “O voltar da página”, p. 146, 15 vv.].
Olho o Universo, olho tudo isto [PM, “O Rolar da Onda”, pp. 19-21, 37 vv.].
Olhou-se e disse “longínquo?...” [GMA, p. 92, 12 vv.].
Onde a vida foi, fugitiva [AD, p. 45, 10 vv.].
Onde ficará a findo pó [PM, “O poema que me encontrou”, pp. 179-180, 20 vv.].
Onde o sol, de crista de oiro [AD, p. 46, 11 vv.].
Ondula o capim na tarde mansa [AD, pp. 58-59, 43 vv.].
Orfeu, ébrio de um batuque [AD, p. 92, 16 vv.].
Os deuses de África adoram [AD, p. 83, 17 vv.].
Os grandes dias existem. E existem para o milagre [AB, p. 94, 14 vv.].
Os homens que remam naquele barco [PM, p. 63, 19 vv.].
Os melhores, cantam a sua cegueira [PM, p. 130, 15 vv.].
Os negros realizam a noite [AD, p. 91, 20 vv.].
Os que profanaram as tuas cinzas [AB, “A Camões”, p. 137, 16 vv.].
Os que têm frio, em cabanas [PM, p. 155, 11 vv.].
Os traidores rasgaram as velas [AB, p. 91, 14 vv.; AB, “Solitários e sózinhos”, p. 130, 14 vv.].
Os transcendentes necessários [GMA, pp. 57-58, 31 vv.].
Ouviu-se El-Rei bradar [GMA, p. 108, 11 vv.].
Paisagem tropical – o sol tem lanças [PA (CI), p. 40, 13 vv.].
Para além do meu tempo está quanto em mim [PM, pp. 148-149, 27 vv.].
Para um rei de luz [GMA, p. 48, 17 vv.].
Para uma consciência do incriado [Pa, nº 12, IV série, “Poema de Natal no descer da sua cruz”, p. 39, 57 vv.].
Passa um mendigo, e olha o mar… [PM, pp. 79-80, 14 vv.].
Pede, amada minha [PM, pp. 64-65, 21 vv.].
Pelas marés do próprio sangue [PM, p. 35, 20 vv.].
Pensam-me as naus que d’além vieram. [AB, pp. 104-106, 48 vv.].
Pensei muito, e num relâmpago sôfrego [CI, p. 213, 10 vv.].
Pequenos somos em verdade [PM, “Ode ao mar”, pp. 73-77, 158 vv.].
Plantei uma visão ao pé do mar” [PM, “Para consolar um desconsolo”, pp. 162-163, 18 vv.].
Poeta – a noite [PM, pp. 78-79, 23 vv.].
Poeta, já o fui… [PM, pp. 88-89, 36 vv.].
Por aí me fiquei, prisioneiro [AD, pp. 56-57, 39 vv.].
Por esta orla que farfalha e arfa [PM, pp. 90-91, 18 vv.].
Por messianismo [AB, “Lusitânia d’aquém e d’além”, pp. 128-129, 29 vv.].
Porque não vos sente a vida passar pelas suas fibras dentro [PM, “Lamento do homem que vê passar mendigos”, pp. 134- -135, 16 vv.].
Portugal, “d’aquém e d’além mar”, assinei aqui com meu nome, que é alma. [AB, pp. 138-140, 55 vv.
Prisioneiro do seu próprio sonho [PM, “Cântico a evadir-se”, pp. 157-161, 119 vv.].
Procuro a cópia exacta da minha vida [P, nº 53-54, p. 24, 31 vv.].
Pura contemplação da linguagem da alva [AB, pp. 32-33, 34 vv.].
Puseram cilícios [AB, “Pinhal sacrossanto”, pp. 135-136, 35 vv.].
Qualquer cousa de mim adormeceu à beira-mar [PM, pp. 44-45, 22 vv.].
Quando a luz saiu das águas [PM, pp. 28-29, 33 vv.].
Quando ele fôr o lampadário [GMA, p. 45, 13 vv.].
Quando o espírito sonha [P, nº 30, “Poema da matéria sonâmbula”, pp. 8-9, 131 vv.].
Quantas formas sobrenaturais em linhas de transe [Vértice, nº 86, “A dama da sua alma”, 51 vv.].
Quantas ideias e emoções [PM, “Silêncio para oferecer ao sangue”, p. 188, 30 vv.].
Quantas vezes pergunto e inquiro [CI, p. 203, 15 vv.].
Quanto de mim aí ficou [AD, pp. 39-40, 28 vv.].
Quanto o mar é mais Lusíada [AB, pp. 85-87, 81 vv.].
Quatro – parece que o ambiente os come [PM, “Chomage”, pp. 139-140, 26 vv.].
Que a minha própria crença me devore [AB, p. 98, 19 vv.].
Que a tua beleza seja o compreender-te [AS (MT), p. 37, 7 vv.].
Que canto tão puro [PM, p. 107, 18 vv.].
Que farás ao teu ermo [PM, pp. 153-154, 20 vv.].
Que farei ao teu filho, pendurado duma teta flácida!... [PM, “Friso dos mendigos”, p. 129, 17 vv.].
Que faremos com a luz da alvorada [PM, “Façamos amanhã”, pp. 185-186, 27 vv.].
Que lívida [P, nº 23, “Canção”, p.79, 56 vv.].
Que sou eu em frente a este mar [PM, pp. 36-39, 102 vv.].
Que sou eu em frente à vida? [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4, 13 vv.].
Que sou eu em verdade ante mim mesmo [PM, pp. 83-87, 121 pp.].
Que tristeza, que nódoa negra [PM, “Prostíbulo”, pp. 173-174, 26 vv.].
Quebrou-se aqui o ceptro [AD, p. 25, 9 vv.].
Quem me levasse a carne [PM, “Lamento do mendigo”, p. 133, 18 vv.].
Quem se deita a seus próprios pés, os meus [CI, p. 199, 10 vv.]
Queria um poema de morte [GMA, p. 82, 16 vv.].
Rebenta o mar na penedia [PM, “Rebentação”, p. 18, 25 vv].
Regressei hoje como quem [CI, pp. 215-216, 12 vv.].
Rezaram longes num rosário [AB, “Relâmpago”, p. 111, 13 vv.].
Rumo às cousas a voz secreta [CI, pp. 202-203, 21 vv.].
Sagre-se a espada que lampeja no dia [CI, pp. 217-218, 14 vv.].
“Sândalo!...” [Ca, p. 4, 29 vv.].
São muchopes, são landins, são [CI, p. 210, 12 vv.].
São veias d’ermo o que no longe procuramos [AB, p. 49, 20 vv.].
Se a vida nos desse a mão [PM, pp. 112-113, 9 vv.].
Se a tens de ti [GMA, pp. 28-31, 86 pp.].
Se bole uma folha o rei estremece [GMA, pp. 105-106, 36 vv.].
Se dermos amor [PM, pp. 121-122, 11 vv.].
Se eu descesse até ao fundo de mim [PM, pp. 89-90, 10 vv.].
Se pensares [PM, pp. 120-121, 10 vv..].
Se pensares em tudo [PM, p. 121, 5 vv.].
Se uma ave voa [PM, p. 102, 15 vv.].
Se passares um dia [PM, “Poema romântico”, p. 183, 17 vv.].
Sede [CLL, “Poeminha”, p. 61, 9 vv.].
Sei [PM, p. 115, 12 vv.].
Ser é duvidar [PM, p. 59, 20 vv.].
Serenidade misteriosa do mar do trópico [PA (CI), p. 41, 19 vv.].
Seu sagrado muito [GMA, pp. 41-42, 31 vv.].
Silêncio de África [PA (CI), pp. 34-35, 40 vv.].
Silêncio mais cisma [PM, p. 119, 11 vv.].
Silêncio que nos mordes em cânticos desesperados [PM, pp. 149-150, 30 vv.].
Sim, é fundo como um grito de angústia [PM, pp. 41-42, 32 vv.].
Sim, é melhor guardar ao menos [PM, “Confidência”, p. 181, 8 vv.].
Sinto ainda passar nas tardes mornas [AD, p. 27, 12 vv.].
Só, na sua noite erma e sedenta [AB, “A Fiandeira”, pp. 122-123, 42 vv.].
Sobre esta poesia decorreram distâncias [AB, pp. 92-93, 25 vv.].
Solidão da noite, sensual e inquieta [PM, “Noite a desnudar-se”, pp. 164-166, 72 vv.].
Som monótono dentro do mormaço da tarde mansa [PA (CI), pp. 44-45, 23 vv.].
Somos duma condição triste [PM, “Para quê?!”, p. 141, 22 vv.].
Sonhou-o Bandarra [GMA, p. 39, 13 vv.].
…Sou um incorrigível aventureiro!... [PM, pp. 125-126, 10 vv.].
Sou mendigo e poeta [PM, pp. 106-107, 13 vv.].
Sua carne de ventos e d’asas vibrando [AB, “O Cristo dos Descobrimentos”, p. 120, 18 vv.].
Suas torres níveas [GMA, p. 61, 21 vv.].
Sublime é ser o tempo em que a pastora vem [CI, pp. 189-190, 25 vv.].
Talharam os Reis, com a sua espada [AB, p. 37, 12 vv.].
Talvez d’águas sonhem cristais d’ágata para [GMA, p. 88, 16 vv.].
Tantas vezes digo adeus [PM, p. 108, 11 vv.].
Tão calma [Vértice, nº 86, “Poema”, 20 vv.].
Tarde cinzenta… [PM, pp. 32-33, 27 vv.].
Tem uma alma este mar [PM, pp. 34-35, 20 vv.].
Tem-se trabalhado sempre com a esperança [AB, p. 75, 25 vv.].
Temos de cantar ainda [AB, p. 97, 13 vv.].
Temos este modo de ser que pode evocar uma velha nau [AB, pp. 24-25, 22 vv.].
Tenho a certeza de que há flores que sonham [PM, “O voo que trandendeu a asa”, p. 95, 11 vv.].
Tenho aventuras por causa da evasão [PM, pp. 21-22, 29 vv.].
Tenho procurado em cantos [PM, “Preâmbulo”, p. 182, 19 vv.].
Ter uma alma assim é trágico [P, nº único, “Solilóquio I”, p. 4, 16 vv.].
Teria sido Deus que encontrou a nossa [PM, “Poema distraído”, p. 162, 5 vv.].
Terras d’África, queimadas de sol [PA (CI), pp. 46-47, 27 vv.].
Terras do Sul do Save [AD, pp. 75-77, 46 vv.].
Thamar, sempre fugitiva [P, nº 20, “Thamar”, p. 7, 42 vv.].
Tira do teu espírito [GMA, p. 55, 13 vv.].
Tive também já uma aventura [PM, p. 123, 11 vv.].
Toda a força, toda a luz [PM, “Poema”, p. 99-100, 15 vv.].
Todas as coisas da natureza [AS (MT), p. 41, 14 vv.].
Todo o encanto do dia [CI, pp. 213-214, 22 vv.].
Todo o sonho é pouco e nós somos tristes [PM, “Para consolar um mendigo?”, pp. 133-134, 20 vv.].
Todo vestido de lua [AS (MT), p. 49, 18 vv.].
Todos estes poemas [PM, p. 117, 10 vv.].
Todos os nautas crucificaram a alma numa vela. [AB, pp. 69-71, 54 vv.].
Tontura de oiro e verde [PA (CI), p. 43, 14 vv.].
Traziam no íntimo o abrir d’alva [AB, “Eucaristia d’alva”, pp.133-134, 48 vv.].
Trespassado d’aves [GMA, p. 97, 7 vv.].
Tu, Mar e eu [PM, pp. 69-70, 35 vv.].
Tudo isto é tão pequeno [PM, “Rasgão no escuro”, pp. 98-99, 21 vv.].
Um búzio [PM, pp. 33-34, 37 vv.].
Um choro lancinante [P, nº 46, “Balada com Lua Morta”, p. 3, 128 vv.].
Um clima de guitarras [GMA, p. 83, 15 vv.].
Um Cristo deixou as suas mãos, escalavradas [AB, p. 68, 22 vv.].
Um Deus velou o infinito e Cristo fez-se [CI, pp. 199-200, 13 vv.].
Um eterno frémito há-de bater [PM, “Pela natureza dentro”, pp. 170-171, 34 vv.].
Um grande silêncio de vitrais [AB, p. 99, 13 vv.].
Um grito lancinante… É o fundo silêncio [AB, p. 34, 14 vv.].
Um negro, não, seu espectro [AD, p. 47, 20 vv.].
Um pássaro dentro doutro pássaro [P, nº 27, “Poema das Aves”, p. 10, 118 vv.].
Um pássaro pousou [VC, nº 8, “Três poemas para crianças”, p. 84, 8 vv.].
Um pensamento simples, quotidiano [SLDL de 5/02/937, “Domingo”, p. 13].
Um pescador que pede esmola [PM, p. 92, 8 vv.].
Um trilo de ave e a rua [AD, p. 50, 15 vv.].
Uma ave morta cai pela noite dentro [PM, “Noite”, pp. 95-96, 15 vv.].
Uma ave numa gaiola [VC, nº 8, “Três poemas para crianças”, p. 84, 12 vv.].
Uma ave sequiosa [AD, pp. 48-49, 25 vv.].
Uma cantiga salina [PM, pp. 25-26, 19 vv.].
Uma corça que cheira uma flor [AD, pp. 43-44, 36 vv.].
Uma epopeia para [GMA, p. 47, 19 vv.].
Uma fonte que canta… [AS (MT), p. 35, 13 vv.].
Uma gaivota [PM, p. 36, 18 vv; CP.].
Uma gaivota [S, nº 1, “Poema do Mar”, p. 7, 19 vv.; PM, p. 53, 19 vv.].
Uma noite, uma [AD, pp. 99-100, 29 vv.].
Uma nota solta [AS (MT), p. 47, 15 vv.].
Uma pena solta [AS (MT), pp. 33-34, 25 vv.].
Uma reserva dum azul [AB, p. 80, 17 vv.].
Uma reserva dum azul [AB, “Crucificação”, p. 131, 18 vv.].
Uma rosa caiu agora sobre o cadáver dum homem [AS (MT), p. 40, 14 vv.].
Varina fenícia de cinta tão fina [PM, pp. 31-32, 30 vv.].
Vazio de sonho [PM, pp. 68-69, 35 vv.].
Veio agora um pobre [PM, p. 116, 6 vv.].
Veja como um pássaro é lindo! [VC, nº 8, “Três poemas para crianças”, p. 84, 11 vv.].
Vejo e sinto ainda um batuque. Mocumba, o régulo, fala da noite [AD, pp. 84-88, 95 vv.].
Velaram noites como se não tivessem fim [AB, p. 54, 22 vv.].
Vêm de lá, lentos, latejantes [AD, pp. 30-31, 35 vv.].
Vem de muito longe a paisagem [AS (MT), p. 43, 12 vv.].
Venho de longe, dos confins do impreciso [PM, pp. 45-46, 40 vv.].
Versos que se poderiam esculpir em mármore. [AB, p. 43, 14 vv.].
Vibra pela fronde que se declara [AD, pp. 51-52, 21 vv.].
Vida e vida e vida! – a eterna palavra, que não diz nada [PA (CI), pp. [PA (CI), pp. 35-37, 37 vv.].
Vimos de nós mesmos [PM, “Tudo e nada”, pp. 100-101, 8 vv.].
Viver é ignorar [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4, 14 vv.].
Vou dizer-te um segredo [PM, p. 112, 7 vv.].
Vou também ter pena de ti [PM, pp. 109-110, 11 vv.].






BIBLIOGRAFIA ACTIVA DE ANTÓNIO DE NAVARRO

“Cantar d’ Amigo” (1926). In Contemporânea 2.
“Duende” (1926). In Contemporânea 2.
“O braço de Arlequim” (1927). In Presença 1.
“Canção”. In Presença 2.
“O vira (baixo-relevo), in Presença, Coimbra, nº3 de 8 de Abril de 1927.
“Cantar d’ Amigo”, in Presença, Coimbra, nº4 de 8 de Maio de 1927.
“Bacanal”, in Presença, Coimbra, nº5 de 4 de Junho de 1927.
“Charleston”, in Presença, Coimbra, nº6 de 18 de Julho de 1927.
“Ode”, in Presença, Coimbra, nº8 de 15 de Dezembro de 1927.
“Glauca” e “Crâneo”, in Presença, Coimbra, nº10 de 15 de Março de 1928.
“Ópio”, in Presença, Coimbra, nº13 de 13 de Junho de 1928.
“Os medronheiros” e “Dancing ambiente”, in Presença, Coimbra, nº14-15 de 23 de Julho de 1928.
“Thamar”, “Deus” e “Bordel”, in Presença, Coimbra, nº20 de Abril-Maio de 1929.
“Acrobatas”, in Presença, Coimbra, nº21 de Julho-Agosto de 1929.
“Canção”, in Presença, Coimbra, nº23 de Dezembro de 1929.
“Varina”, in Contemporânea, Lisboa, nº14 , 2ª série, [1929].
“Aroma”, “Methempsicose”, “Canção da Amargura” e “O automóvel azul”, in Cancioneiro, I Salão dos Independentes, Lisboa, Imprensa Libânio da Silva, 1930.
“A propósito do I Salão dos Independentes”, in Presença, Coimbra, nº26 de Abril-Maio de 1930.
“Poema das aves”, in Presença, Coimbra, nº27 de Junho-Julho de 1930.
“O segredo das linhas”, in Presença, Coimbra, nº28 de Agosto-Outubro de 1930.
“Poema da matéria sonâmbula”, in Presença, Coimbra, nº30 de Janeiro-Fevereiro de 1931.
“Estudo para um ensaio: Ângelo de Lima”, in Presença, Coimbra, nº31-32 de Março-Junho de 1931.
“Incêndio”, in Presença, Coimbra, nº35 de Março-Maio de 1932.
“”, in Momento, Lisboa, nº 8, 1936.
“Epitáfio (para o túmulo do poeta)”, in Presença, Coimbra, nº36 de Novembro de 1932.
“Balada com lua morta”, in Presença, Coimbra, nº46 de Outubro de 1935.
“Poemas”, in Presença, Coimbra, nº47 de Dezembro de 1935.
“Poema”, in Presença, Coimbra, nº52 de Julho de 1938.
“”, in O Diabo, Lisboa, nº 226, 1938.
“”, in O Diabo, Lisboa, nº 231, 1938.
“”, in O Diabo, Lisboa, nº 236, 1938.
“Poema”, in Presença, Coimbra, nº53-54 de Novembro de 1938.
“”, in O Diabo, Lisboa, nº 279, 1939.
“”, in O Diabo, Lisboa, nº 283, 1939.
“Poema”, in Cadernos de Poesia, 1ª série, Lisboa, nº2 , 1940.
“Intervalo”, in Cadernos de Poesia, 1ª série, Lisboa, nº2 , 1940.
Poemas de África, 1941. Com um prefácio de João Gaspar Simões.
“”, in Ultramar, Lisboa, nº , 1941.
Ave de Silêncio, 1942.
“O último poema de África”, in Variante, Lisboa, nº 1, Primavera de 1942.
“Panorama”, in Portucale, 1ª série, Porto, nº 92-93, 1943.
“Três poemas para crianças”, in Ver e Crer, Lisboa, nº 8, 1945.
“Ode à manhã”, in Portucale, 2ª série, Porto, nº 7, 1947.
“Esta noite”, in Portucale, 2ª série, Porto, nº 10-11, 1947.
“Poema de Amor”, in Portucale, 2ª série, Porto, nº 10-11, 1947.
“Angústia”, in Portucale, 2ª série, Porto, nº 10-11, 1947.
“Poema”, in Portucale, 2ª série, Porto, nº 12, 1947.
Ode à Manhã, 1947. Separata da revista Portucale.
“Romance da Lua do Poeta”, in Vértice, vol. IV, nº 50, Setembro de 1947.
“O Funeral”, in Vértice, vol. IV, nº 50, Setembro de 1947.
“Eternidade viva”, in Vértice, vol. IV, nº 50, Setembro de 1947.
“Ode a Gomes Leal”, in Armindo Rodrigues e João José Cochofel, Homenagem poética a Gomes Leal no primeiro centenário do seu nascimento, Coimbra, 1948.
“Ode”, in Portucale, 2ª série, Porto, nº 19-20, 1949.
“Estrofe”, in Portucale, 2ª série, Porto, nº 25-27, 1950.
“Elegia à Música”, in Sísifo. Fascículos de Poesia e de Crítica, Coimbra, nº2-3 de 1951.
“Poema” e “Outro Poema do Mar”, in A Serpente. Fascículos de Poesia, Porto, fasc. 3 de Março de 1951.
“”, in Horizonte, Évora, nº , 1952.
“”, in Ler, Lisboa, nº 18, Setembro de 1953.
“Ninguém melhor que Pascoaes…”, in Cadernos de Poesia, 3ª série, Lisboa, nº14 , 1953 .
Poema do Mar, Lisboa, Portugália, 1957. Com um prefácio de Jorge de Sena.
“”, in Europa, Lisboa, nº , 1957.
“”, in Quatro Ventos, Braga, nº , 195 .
“Uma gaivota” in Comércio do Porto de 14 de Junho de 1960.
Águia Doída (Poemas d’ África), Lisboa, Edições Panorama, 1961. Com uma nota do Autor.
Metal Translúcido (Antologia), Lisboa, Signo, 1967.
Coração Insone, Lisboa, Agência-Geral do Ultramar, 1971. Com um prefácio de Franco Nogueira.
Guitarras em Madeira d´Asa, Braga, Editora Pax, 1974. Com um posfácio de Pinharanda Gomes.
“Testemunho” (1980). In TAIPA, Orlando. A dez anos da morte de José Régio: testemunhos. Lisboa, Editorial Resistência.
O Acordar do Bronze, Braga, Editora Pax, 1980. Com um prefácio de João Maia.
“Soares de Passos” in Perspectivas da Literatura Portuguesa do Século XIX.
“Varina”, in Contemporânea, nº 10 (e anexos 14º), Lisboa, contexto, 1992.

BIBLIOGRAFIA ANUNCIADA E NÂO PUBLICADA

Polyedro
Perímetro
O Voo da Ave de Silêncio
Sortilégio Iluminado
Flor de Cinza
Almário
O Livro d’Ermo(Poemas d’Amor)
Tempo Decantado (Confidências da Poesia e do Poeta)
Caminho Inciso (Histórias e contos)
Asas para Metal e Poema (Mágica de teatro)
D. Sebastião, Criador Mágico da Sua Lenda (Ensaio)

BIBLIOGRAFIA PASSIVA SOBRE ANTÓNIO DE NAVARRO & NÃO SÓ

ALMEIDA, António Ramos (1945). A Arte e a Vida. Para esclarecimento e compreensão da literatura moderna portuguesa e da estéril pol. Porto: Livraria Latina Editora.
ANDRADE, Carlos Santarém (1980). “Presença – Uma Revista, Um Movimento…”. In Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra. Coimbra: Universidade de Coimbra.
ANSELMO, Manuel (1937). Antologia moderna. Ensaios críticos. Lisboa: Livraria Sá da Costa – Editora.
ANTUNES, Manuel (1987). Legómena. Textos de teoria e crítica literária. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Org. e sel. de ANDRADE, Maria Ivone de Ornellas de.
BRASIL, Reis (1971). “Modernismo e Tradição”. In História da Literatura Portuguesa. Lisboa: Editorial Minerva, 430-434.
CAMPOS, João (1939). Mar Vivo. Porto: Edições “Presença”.
CORREIA, Natália (1973). O Surrealismo na poesia portuguesa. Mira-Sintra: Publicações Europa-América. Organização, prefácio e notas de Natália Correia.
FERREIRA, António Manuel (2004). Arte Maior: os contos de Branquinho da Fonseca. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
GOMES, Pinharanda (1974). “Posfácio: Protologia do sebastianismo ou ‘Por Babilónia me achei’”. In NAVARRO, António de. Guitarras em Madeira d´Asa. Braga: Editora Pax, 121-145.
GUIMARÃES, Fernando (1977). “O que foi a Presença?”. In presença- folha de arte e crítica. Publicação comemorativa do conquentenário da fundação da “presença”. Lisboa: Secretaria de Estado da Cultura, 23-52.
GUIMARÃES, Fernando (2002). “Geração da Presença”. In LOPES, Óscar e MARINHO, Maria de Fátima (dir.). História da Literatura Portuguesa – As correntes contemporâneas, vol. 7. Lisboa: Alfa.
LISBOA, Eugénio (1977). O segundo modernismo em Portugal. Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa / M. E. I. C,
LISBOA, Eugénio (1980). Poesia portuguesa: do “Orpheu” ao Neo-Realismo. Lisboa: Instituto de e Língua Portuguesa / M.E.C.
LISBOA, Eugénio (1999). “NAVARRO (António)”. In Biblos. Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa - vol. 3. Lisboa: Verbo, 1999.
LOPES, Óscar (s.d.). História Ilustrada das Grandes Literaturas-VIII: Literatura Portuguesa (2º volume). Lisboa: Editorial Estúdios Cor.
MAIA, João (1980). “Prefácio”. In NAVARRO, António de. O Acordar do Bronze. Braga: Editora Pax.
MARTINS, Fernando Cabral (1994). O Modernismo em Mário de Sá-Carneiro. Lisboa: Editorial Estampa.
MONTEIRO, Adolfo Casais (1972). A Poesia da “Presença”. Estudo e Antologia. Lisboa: Moraes Editores.
MORGADO, Fernando (1958). “Poema do Mar de António de Navarro – Portugália, 1957”. In Vértice, vol. XVIII, nº 176, 288-289.
MOURÃO-FERREIRA, David (1969). Tópicos de crítica e de história literária. Lisboa: União Gráfica.
MOURÃO-FERREIRA, David (1989). Os ócios do ofício. Lisboa: Guimarães Editores.
NOGUEIRA, Franco (1954), Jornal de Crítica Literária (1943-1953). Lisboa, Livraria Portugália.
NOGUEIRA, Franco (1971). “Prefácio” (“Breve nota de leitura”). In NAVARRO, António de. Coração Insone. Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 9-13.
NUNES, Maria Teresa Arsénio (1982). A Poesia da “Presença”. Lisboa, Seara Nova / Editorial Comunicação. Apresentação crítica, selecção, notas e sugestões para análise literária de…
PACHECO, Luiz (2004). Figuras, Figurantes e Figurões. Lisboa: O Independente, 136.
PIMENTEL, Vieira (2003). “Da «pré-presença” à presença – o nascimento de uma geração”. In Leituras, nº 12-13, 17-44.
REBELLO, Luiz Francisco (1981). “Prefácio: Retrato incompleto de um homem de teatro completo”. In PEDRO, António. Teatro. Lisboa: Biblioteca Nacional.
ROCHA, Clara (2003). “O rosto do poeta na poesia da Presença”. In O Cachimbo de António Nobre e outros ensaios. Lisboa: Dom Quixote, 45-68.
ROCHA, Ilídio (1997). “NAVARRO, ANTÓNIO DE”. In Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, vol. III. Mem Martins: Publicações Europa-América.
SÁ, Pedro de Moura e (1942). “António de Navarro”. In Atlântico. Revista Luso-Brasileira, nº 1, 149-150.
SENA, Jorge de (1946). “Alguma poesia e outras considerações desagradáveis”. In Mundo Literário. Semanário de Crítica e Informação Literária, Científica e Artística, nº 2, 18 de Maio, pp. 6-7.
SENA, Jorge de (1957). “Prefácio”. In NAVARRO, António de. Poema do Mar. Lisboa: Portugália.
SARAIVA, António José e LOPES, Óscar (1956). História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora, Lda.
SENA, Jorge de (1977). Régio, Casais, a “Presença” e Outros Afins. Porto: Brasília Editora.
SENA, Jorge de (1988). Estudos de Literatura Portuguesa-II. Lisboa: Edições 70.
SILVESTRE, Osvaldo Manuel (2000). “2. El segundo Modernismo”. In GAVILANES, José Luís y APOLINÁRIO, António (Eds.), Historia de la Literatura Portuguesa. Madrid: Cátedra, 547-580.
SIMÕES, João Gaspar (1941). “Prefácio” (“Algumas palavras sobre a poesia de António de Navarro”). In NAVARRO, António de. Poemas de África. Tb. em Coração Insone (1971). Lisboa: Agência-Geral do Ultramar, 19- -24.
SIMÕES, João Gaspar (1976). Perspectiva histórica da poesia portuguesa (séc. XX – dos simbolistas aos novíssimos). Porto: Brasília Editora.
SIMÕES, João Gaspar (1977). José Régio e a história do movimento da “Presença”. Porto: Brasília Editora.
SOUSA, Martim de Gouveia e (2002). “A sangue e a além: o cântico azul de António de Navarro (1902- -1980)”. Jornal do Centro 37.
SOUSA, Martim de Gouveia e (2003). “O cântico azul de António de Navarro”. O Zurão 6.
SOUSA, Martim de Gouveia e (2005). “António de Navarro: (des)arqueologia e cânone literário”. In Ave-Azul 7-9, 93-116.
VASCONCELOS, Taborda (1958?). Tempo Dividido. Temas Literários. Porto: Porto Editora, Lda., 108-110.
VIANA, António Manuel Couto (1994). Colegial de Letras e Lembranças – Estudos e Memórias. Lisboa: Universitária Editora.


Resumo

António de Navarro é um dos mais assíduos colaboradores da revista presença, permitindo a sua obra, édita e inédita, a fixação de um percurso poético plural e transbordante. Muitas vezes admirável, Navarro é um poeta que urge resgatar do esquecimento.















[1] Informa Taborda de Vasconcelos (Vasconcelos, 1958: 108): “É único e exemplar o caso de António de Navarro, homem que tem vivido poeticamente, em estado de quase permanente isolamento, o tempo todo da sua meia idade civil e o da sua juventude.” Acrescenta ainda o crítico que o Poeta “vive de ausência e apagamento em face das múltiplas solicitações da vida”.
[2] E não só. Lembro, v.g. , que João Campos publicou nas Edições “Presença” um livro não despiciendo intitulado Mar Vivo (1939) com seis poemas integrados na colectânea “6 Poemas do Mar” (1939: 11-26).
[3] Franco Nogueira di-lo “um dos mais originais poetas modernos” (Nogueira, 1954: 258); João Gaspar Simões diz que António de Navarro se afirma “como um dos casos poéticos mais originais” (Simões, 1976: 304), juntando que ele “mostra uma personalidade a muitos títulos nova na poesia portuguesa” (Id., 1977: 335); Clara Rocha inclui o Poeta nos nomes importantes “do núcleo presencista” (Rocha, 2003: 68). Franco Nogueira, no capítulo VIII “Seis Poetas Maiores” da obra atrás mencionada, elege como figuras gradas Afonso Duarte, José Gomes Ferreira, José Régio, Adolfo Casais Monteiro, Miguel Torga e António de Navarro. Manuel Antunes refere-se-lhe como um poeta indispensável “do movimento modernista em Portugal” (1987: 176). Um exercício legitimador do peso de Navarro (principalmente como presencista) é, por exemplo, a mera observação empírica do “Índice de Autores” de Santarém Andrade (1980: 367-370), que permite concluir só existirem mais menções para, e pela ordem, José Régio, Adolfo Casais Monteiro, João Gaspar Simões e Fernando Pessoa.
[4] Veja-se a entrevista com o Príncipe de Judá no Diário de Lisboa de 17 de Abril de 1925.
[5] Sobre o “rótulo” apensado a Navarro e aos jovens poetas presencistas, adianta o mesmo Gaspar Simões (Simões, 1977: 142-143): “Não faltavam, porém, motivos para escandalizar a academia, a qual, ao contrário do que estipula a lenda, desmascarada por António Nobre, se gozava de créditos intelectuais, a um pequeno escol o devia. (…) O Braço de Arlequim, de António de Navarro, por exemplo, (…) arrancou uivos às alcateias de capa e batina. De facto, o que desde logo espevitou a troça e deu guita ao papagaio do escândalo foi a colaboração poética do jornal. Além de António de Navarro, que então entalava o pescoço em altos colarinhos de goma a condizer com as camisas, igualmente engomadas, o qual, pouco tempo antes, lançara um manifesto literário-artístico de tom escandaloso, exibindo-se, numa conferência pública, na sala de um teatro às escuras” (sublinhado meu). Óscar Lopes (s.d.: 749), por seu lado, informa que desse grupo do manifesto se destacava António de Navarro.
[6] António Ramos de Almeida (1945: 47) refere-se ao “futurismo formal de António de Navarro”.
[7] O texto integral do Manifesto, em que colaboraram, para além de António de Navarro, Mário Coutinho, Celestino Gomes e Abel Almada, encontra-se disponível em Os Modernistas Portugueses, 1º vol., Porto, s. d., pp. 103-118, com coordenação de Petrus.
[8] Fernando Guimarães (1977: 30) refere que tal poema terá contribuído para “aumentar um possível mal- -estar” e Maria Teresa Arsénio Nunes (1982: 16) diz tratar-se de um trecho que “marcaria a presença desta Presença”.
[9] Este Cancioneiro (AAVV, 1930) foi editado em Lisboa, pela Imprensa Libânio da Silva, tratando-se de um in-fólio de 27-I págs. A abrir informa-se: “é dedicado este CANCIONEIRO à memória dos precursores Cesário Verde, Camilo Pessanha, Ângelo de Lima e Mário de Sá-Carneiro”. Para além de poemas dos autores citados (de Cesário, integra-se “Manhans brumosas”; de Pessanha, “Poema Ninive” e “Gelo de Lim”; e, de Mário de Sá-Carneiro, “Uma das Sete canções de declínio”), a publicação encerra colaboração de Adolfo Rocha (“Inauguração” e “Triunfo”), Adolfo Casais Monteiro (“Vagabundo”, “Film” e “O que hoje”), Alfredo Pedro Guizado (“Recordando” e “Mãos de cega”, Álvaro de Campos (“Addiamento”), Fernando Pessoa (“O menino de sua mãe”, “Gladio”, “Gomes Leal” e “Canção”), António Ferro (“Rua do Oiro”), António de Navarro (“Aroma”, “Methempsicose”, “Canção da amargura” e “O automóvel azul”), António Pedro (“Quarta Feira de Cinzas”, “Canção”, “Canção quebrada a certa luz violenta” e “Diário 8º”), Augusto Ferreira Gomes (“Extrangeiro”), Augusto de Santa-Rita (“O Preto-Papusse-Papão” e “Pápim ao estudo”), Branquinho da Fonseca (“Poema duma epígrafe”), Carlos Queirós (“Barcarola”, “Intermezzo”, “Canção” e “Soneto”), Cortes Rodrigues (“Outro” e “S Ó”), Edmundo de Bettencourt (“Cómico” e “Nebulosa”), Fernanda de Castro (“Sol de Paris” e “Comunhão”), Gil Vaz (“Ophélia”, “Adeus”, “Romance” e “Azul”), Almada Negreiros (“Rondel do Alemtejo”), José Régio (“Espírito”, “O jongleur de estrelas e o seu destino” e “Frente a frente”), Luís de Montalvor (“Antiquário” e “Canção”), Mário Saa (“Xácara das mulheres amadas” e “Xácara do infinito”) e Violante de Cysneiros (“Poema”). Como se vê, a presença participa neste Cancioneiro de corpo e alma, sugerindo a obra, no plano estrutural, o critério que Casais Monteiro veio a adoptar cerca de três décadas depois.
[10] Cf. Cancioneiro, I Salão dos Independentes, Lisboa, Imprensa Libânio da Silva, 1930, pp. 4-5..
[11] Vide o nº 28 da revista presença.
[12] No nº 31-32 da presença, estampa-se, entre as páginas 11 e 13, um artigo de António de Navarro cujo título é “estudo para um ensaio – Ângelo de Lima”.
[13] Loc. cit. Eis o teor integral da peça jornalística, que, pelo manifesto interesse, transcrevo, com correcção e actualização textuais:
“António de Navarro pode considerar-se dos líricos mais belos da nova geração.
Não faz poesia pela rima, nem procura a dor como uma fácil profissão da sua arte. Vai mais longe, mais alto, descobrindo com louca ansiedade as pontes eternas da emoção, sem nunca se dessedentar, promessas de beleza divina, cantos ignorados de mistério, e cenas misteriosas de vida espiritual. Nestes rápidos dez minutos marca, impressionante, a sua personalidade.
Ides ver como:
- Como escreve?
- Resposta bem simples e bem complicada como tudo afinal aonde procuramos encontrar-nos inteiramente. Que eu responda pelo mais simples, primeiro: em aventura, isto é, sintetizando num momento, que pode surgir em qualquer parte, inesperadamente, uma longa série de transes que podem ir do físico ao espiritual. Foi a Vida que entrou em mim sem eu dar por isso e que um dia veio a revelar-se, consubstanciando-se em palavras. Essas palavras, que se organizam segundo um ritmo que a emoção criou – são a obra. Mas, se eu analisasse com mais minúcia, veria em certos momentos a minha alma fora de mim, tacteando o visível ou mesmo o invisível e senti-la-ia no regresso como a ave que precisa de libertar-se, e, novamente, tocar os centros intelectivos onde as emoções se iluminam duma nova luz.
O artista escreve, pois, sobretudo, com a alma, mas grava com a cabeça. A pena é um simples objecto acidental e de préstimo limitado; as penas, sim, essas ainda valem – levam-nas, ao menos, ao voo dramático que todo o artista precisa de sentir. Há, de facto, escritores que precisam de um ambiente. O meu são os meus sentidos que nunca dormem, e é para eles que eu escrevo, e para me libertar dum grande peso. É, afinal, e só isso – uma forma de alívio. Mas, escrevendo para mim, tudo o que eu faço é para aquele mendigo, é para aquele que olha uma rosa e não vê o mundo, e não vê mesmo no mendigo a mais formidável doutrina social. Escrevo, em última análise, e talvez subconscientemente, para ensinar, mas sem fé nenhuma, num apostolado admirável porque vai contra mim próprio, obrigando-me a acreditar, pelo menos, no mais inverosímil, para ensinar, dizia, o homem a ser bom. Isto é: a ser sensível, a ter a heroicidade de procurar na beleza, que tantos desprezam, porque a não vejam talvez, as armas duma guerra santa da perfeição e da harmonia.
- Por que não publicou ainda nenhum livro?
- Não sei bem – talvez pense demasiadamente na perfeição… e na imperfeição dos homens. E depois ainda – contos largos… Basta dizer-lhe que em Portugal só pode haver poetas ricos. Os outros, embora com valor, e não me refiro a mim, precisam de ter muita força de vontade. A Presença, por obra e graça dos meus amigos, está cheia de versos meus, versos que só me orgulham muito porque são estruturalmente meus. Sim, tenho alguns livros escritos, mas inéditos.
- O que pensa da poesia portuguesa?
- A poesia portuguesa, falo, claro, da poesia contemporânea que muito deve à Presença, e os próprios que a combateram e combatem estão hoje insensivelmente a ser influenciados pelo seu movimento renovador – é das formas literárias de que podemos sentir-nos vaidosos. É rica, variada, profunda. E todos os poetas, os que o são, procuraram em si próprios o alicerce anímico do seu edifício e, por isso, bem pouco devemos aos poetas nossos camaradas doutras literaturas. Hoje, como quase sempre. E as próprias influências individualizaram-se, criando assim uma forma inteiramente nova e distinta. Quer dizer: a força do nosso temperamento traiu aquilo mesmo que buscou. Assim com Junqueiro, com Eugénio de Castro, e por aí fora…Eu já disse quase tudo sobre os nossos poetas – pois se eles são a poesia!... Que são verdadeiramente poetas, aqueles que o são… E, coitados, são duma teimosia admirável, apesar de presos, aqui, entre a Espanha e o Oceano, não há maneira de se resignarem, e lá vão impondo como podem a sua libertação, e, naturalmente, a desta ponta a SW.
Quero, todavia, sem esquecer nenhum, lembrar o nome de Fernando Pessoa, que Portugal e o mundo hão-de descobrir um dia. E sentir-se-ão ainda os portugueses terrivelmente descobridores ao encontrarem Alguém que a vida apagou, porque lhe não sentiu aquela série de qualidades, ou de defeitos, que tornam o homem inferior para si próprio, mas superior, aparente e transitoriamente, para os outros, perante as realidades. E querem uma revelação que será enfim o mais tragicamente interessante destas dúzias de frases, pelo que tem de revelador?... esse admirável espírito ganhou toda a sua vida 300$00 mensais, e sentir-se-ia muito feliz – confessava a um amigo – se pudesse vir a ganhar seiscentos, num lugarzinho modesto em que pensou mas que lhe não facultaram. Era assim este poeta português; dos outros saber-se-á quando morreram. Há ainda um outro, felizmente vivo, que a asa daquele anjo negro da desgraça tocou mais de perto, e, por isso, e porque o esquecimento da vida tem tentado apagá-lo, eu quero deixar aqui o seu nome: é Raul Leal. É um Poeta, uma Vida, e um Carácter.
[14] Também no Diário Económico, de 18 de Outubro de 1995.
[15] Este poema “Bordel” saiu na presença nº 20, integrando mais tarde, em conjunto com “Bacanal”, “Charleston”, “Glauca”, “Os medronheiros”, “Acrobatas”, “Poemas das Aves”, “Incêndio”, “Epitáfio (Para o túmulo do poeta)” e outras duas composições sob a designação “Poema”, a antologia presencista de Adolfo Casais Monteiro, A poesia da “presença”. Estudo e Antologia, que conheceu uma primeira edição em 1959 (Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, “Letras e Artes”-7), uma segunda em 1972 (Lisboa, Moraes Editores, “Círculo de Poesia”) e a recente terceira edição (Lisboa, Cotovia, 2003), com prefácio de Osvaldo Silvestre.
[16] Jorge de Sena (Sena, 1988: 79) refere que António de Navarro era uma continuação do futurismo de Orpheu e que a sua “fascinação do vocabulário tecnicista” foi sendo superada “por uma metaforização de acumulação progressiva”.
[17] De facto, na sua Poesia portuguesa: do “Orpheu” ao Neo-Realismo, Eugénio Lisboa dedica três páginas a Navarro, consignando um menor espaço a outros poetas presencistas, o que parece indiciar alguma bondade para com o poeta, aliás, visível na entrada para Biblos (Lisboa, 1999: 1068-1069), onde a perspectiva um tanto negativa aparece matizada.
[18] João Gaspar Simões, op. cit., p. 308.
[19] Eugénio Lisboa (coordenação), Dicionário cronológico de autores portugueses, vol. III, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1994, p. 336.
[20] Osvaldo Manuel Silvestre (Silvestre, 2000: 573) recorda, sintomaticamente a propósito de António de Navarro, que essa debilidade é muitas vezes defendida, nos textos de vanguarda, «como respuesta coherente al caos interior del hombre moderno.»
[21] David Mourão-Ferreira (Ferreira, 1989: 226) defende que António de Navarro “é talvez o que mais directamente prolonga, através do pendor para a visão alucinatória, alguma herança «órfica» do Orpheu”.
[22] Adolfo Casais Monteiro, loc. cit. , p. 31.
[23] Natália Correia, em O Surrealismo na poesia portuguesa (Mira-Sintra, Publicações Europa-América, 1973), inclui António de Navarro e assinala-lhe, com base no poema “Bacanal”, uma linha surrealista de desregramento raciocinado, subsumível na designação de “interpretações delirantes”.
[24] António de Navarro é, indubitavelmente, mais um caso de desatenção literária. Não existe atinência entre o labor do Poeta e a memória reflectida. Para tal, muitas razões terão contribuído, até o malfadado malabarismo poético que lhe é atribuído. Escassamente antologiado, talvez porque actos de desleitura à sua imagem se colaram, seguem-se alguns contributos, em colectâneas fora do estrito domínio da presença, no sentido da atribuição de um lugar de reconhecimento a António de Navarro: Enzio Vólture e Gino Saviotti, Poeti Moderni Portoghesi, “Collana di Studi dell’ Istituto di Cultura Italiana in Portogallo”, Lisbona, Edizioni di “Estudos Italianos em Portugal”, 1942, pp. 82-83 (“África”); Cabral do Nascimento (sel. e notas), As mais belas líricas portuguesas, Lisboa, Portugália Editora, 1945; José Régio e Alberto de Serpa (org.), Alma minha gentil. Antologia da Poesia de Amor Português, Lisboa, Portugália Editora, 1957, pp. 313-314 (“Canção”); Natália Correia, O Surrealismo na poesia portuguesa, Mira-Sintra, Publicações Europa-América, 1973, pp. 299-300 (“Bacanal”); Rodrigo Emílio (sel. e pref.), Vestiram-se os Poetas de Soldados. Canto da Pátria em Guerra. Lisboa, Cidadela, 1973 (“Fito na noite a nossa estrela”); Vasco Oliveira e Cunha et alii (org.), “O Regresso à Condição” Viseu, ut pictura poesis, Viseu, ISPV, 2001 (“Onde a vida foi, fugitiva”). Há, no entanto, uma conclusão óbvia: a de que o Poeta perdeu visibilidade nas últimas décadas. Por exemplo, Reis Brasil, no capítulo XI “Modernismo e Tradição” da sua História da Literatura Portuguesa, depois de destacar os nomes de José Régio e Miguel Torga, abre um lugar para “Outros Poetas”, aí inserindo Adolfo Casais Monteiro e António de Navarro, com notícia circunstanciada. Em final de capítulo, diz-se: “Para findar este capítulo queremos ainda registar os nomes de Saul Dias, Irene Lisboa, Branquinho da Fonseca, Edmundo de Bettencourt, António de Sousa, Alberto de Serpa, Carlos Queirós, Francisco Bugalho e Pedro Homem de Mello.” (Brasil, 1971: 434). Este facto literário é importante e revelador.
[25] Jorge de Sena (1946: 6) integra Navarro nos antologiados que se salvam. Na página seguinte do Mundo Literário, plasma-se um anúncio às Líricas Portuguesas de Cabral do Nascimento, dizendo-se que lá se inserem “308 poesias dos 50 poetas mais representativos dos últimos 50 anos, de António Feijó aos modernos: José Régio, Vitorino Nemésio, António Botto, António de Navarro, Armindo Rodrigues, Alberto de Serpa, Miguel Torga, Branquinho da Fonseca, Casais Monteiro, etc.”. A exemplificação editorial não omitiu o caso de Navarro, o que pode indiciar a aura de prestígio que o nome do poeta concitava.
[26] As palavras são estas: “De facto, António de Navarro é poeta integral, um tão completo e puro poeta que se torna quase impossível distinguir nele o que é humano do que é poético.” (Simões, 1964: 340). Na página seguinte, João Gaspar Simões refere ser Navarro “um continuador de Ângelo de Lima ou um discípulo dos poetas gongóricos”.
[27] Fernando Cabral Martins (1994: 28) vinca esta influência e refere-se mesmo a uma citação que Navarro fez de Mário de Sá-Carneiro. Mais à frente, o mesmo académico diz que Navarro imitará os modernistas (1994: 61).
[28] Cabral Martins (1994: 128) exalça a singularidade do “Estudo para um Ensaio. Ângelo de Lima” que António de Navarro publicou no nº 31-32 da presença, salientando que a justaposição do ensaio e do poema é algo que “rompe com todos os hábitos.”