“é que eu gosto do mistério.”
(Branquinho da Fonseca, «Carta a Alberto de Serpa», M-SER-426(6))
.
Decidiu o acaso, através da humana intervenção de António Manuel Ferreira, que se juntassem neste painel comunicações sobre Carlos Queiroz e António de Navarro. Coincidência influenciada ou não, o certo é que Manuel Anselmo, no “Pequeno ensaio sobre o movimento modernista português” de 1937, estabeleceu um dignóstico sobre os mesmos poetas, emparelhando-os com os seguintes dizeres: “Carlos Queiroz e António de Navarro caminham, com segurança, para uma ambição formal que se poderá chamar sinfónica. Queiroz mais descritivo, (…) Navarro, mais musical” (Anselmo, 1937: 236). Com a música e com Navarro sigo, pois, celebrando a coincidência e o nome maior de Branquinho da Fonseca.
António de Navarro colaborou na presença desde o primeiro número e, no ano em que Régio se licenciou com uma atrevida tese de licenciatura, o seu vanguardismo era já o da linguagem sms. E, no entanto, muito silêncio se foi instalando…
Os actos poéticos são muitas vezes afectados pela descontinuidade e pelas bruscas aparições. Sem norte, o fio da poesia busca sentidos, ainda que, relativamente a Navarro, se deva antes falar de isolamento e de ausência
[1]. Um caso clássico de interrupção e de continuidade é o de Rainer Maria Rilke, que, dez anos passados, logrou o verso concatenador nas suas Elegias de Duíno. O verso de resgate que Navarro cifra inscreve-se na matriz da portugalidade e é um acto contínuo sobre o mistério e o grande mar. E é talvez esse o nodal lugar de encontro de Branquinho da Fonseca com António de Navarro: se o primeiro deixou no nº 3 da revista Litoral “sete importantes poemas, que formam uma pequena colectânea” (Ferreira, 2004: 39) intitulada “Sete poemas do mar”, o segundo multiplicou o determinante numeral cardinal pela obsessão e fez do mar a sua pátria. Mas, pensando melhor, o mar é uma presença constante
[2] nos universos navarriano e fonsequiano, revelando-se ainda, na justiça das águas pacificadas, ser Navarro mais poeta e Fonseca mais lírico.
Adolfo Casais Monteiro, ao reflectir sobre aqueles “que mais conscientemente se integraram no espírito renovador da revista”(Monteiro, 1972: 29) presença, não hesita em adiantar Régio, Branquinho da Fonseca, Edmundo de Bettencourt, António de Navarro, Carlos Queiroz, Francisco Bugalho, Fausto José, Saul Dias, Alberto de Serpa e o seu próprio nome.
O trajecto de António de Navarro (e aqui digo acção cultural e obra literária) é um curso fluente e invulgar.
[3] E o início dessa qualidade supletiva encontramo-la desde cedo, desde, por exemplo, a admissão de Mário Coutinho, em páginas do Diário de Lisboa (13 de Março de 1925), de haver um “movimento futurista” liderado por nomes como “José Régio, Celestino Gomes, António de Navarro, João Carlos, Abel Almada” e o seu. Navarro, muito dentro da dinâmica artística do momento, então sob o pseudónimo Príncipe de Judá
[4], podia assinar manifestos epigonais e “pastiches” do Futurismo, podia mesmo, em “conferência sensacional” intitulada “Sol”, ser pateado no Teatro Sousa Bastos de Coimbra
[5]. Fernando Guimarães, glosando António Ramos de Almeida
[6], admite mesmo que há em António de Navarro “uma certa adesão a um imaginário ou mesmo receituário futurista” (Guimarães, 2000: 42), o que se torna evidente se relembrarmos uma parte do Manifesto publicado em Coimbra, nesse mesmo ano de 1925, e assacável ao nosso Poeta:
Os cegos olham kom os olhos dos outros ke já olharam e nós keremos olhar com os olhos dos outros ke já olharam, mas kom toda-a-força kom os nossos olhos e sentir kom a nossa alma. Keremos eskalar o Universo ke se fez pra nós o eskalarmos. A alma tem o Universo dinamiko em si, mas nós ke somos o alem-Universo ultradinamico. // Arte é movimento, é Universo dinamiko, é animismo veloz.
[7]Em breve, e em colaboração continuada entre 1927 e 1932, seria o tempo da presença. Aí voltará intermitentemente, depois do escândalo provocado pelo seu poema “O braço do Arlequim”
[8] saído no primeiro número, ele que era e é o segundo poeta da revista, de acordo com a data de início de participação e o critério de Casais Monteiro lavrado na “Bibliografia” da sua Antologia. Olhando o acúmulo de poemas, quase todos impublicados em livro, diga-se que o conjunto é ainda hoje surpreendente de agilidade e leveza poéticas. Aliás, é um estruturado David Mourão-Ferreira quem defende que os poemas presencistas de Branquinho da Fonseca, António de Navarro e Edmundo de Bettencourt são admiráveis “realizações do nosso vanguardismo pós-modernista” e são «os que melhor documentaram a inquieta continuidade do espírito de Orpheu, tanto pela aguda desconfiança a alternar com a crença desmedida nos poderes da palavra, como pelo reiterado pendor para a visão alucinatória do concreto e para a expressão aparentemente cândida do insólito.» (Mourão-Ferreira, 1969: 206-207). Nesse espaço de tempo, em 1930, colabora Navarro na organização do Cancioneiro
[9], antologia de poesia modernista portuguesa, defluente do “I Salão dos Independentes” que Diogo de Macedo e António Pedro organizaram em Maio desse ano. E aqui me detenho um pouco, para dizer que Navarro aí participa com quatro poemas. Um deles, “O automóvel azul”, chega a ser admirável de leveza e eficácia fónico-rítmica:
O cláxon zine…
e a fuga é toda azul
(anil
de ozone
num uuul
de cone)
na fita branca da estrada
parada
ao sol…
E o acordeón
do cláxon
retine e zine
ainda em som
lá longe
na amplidão
infinda.
É tudo instável,
ave,
como o automóvel…
lá – lá!...
no vértice acutângulo
dum ângulo
agudo e móvel
na clave
móvel,
da vibração.
[10] Voltando à presença desse mesmo ano e avançando para a do ano seguinte, não posso deixar de destacar uma significativa “Ode ao Senhor António de Navarro, Rabi-Mor de Portugal e dos seus Versos”
[11] de António Pedro e um “estudo para um ensaio”
[12], inusualíssimo, que acaba por desejar transmitir em poema a oração final de Ângelo de Lima.
Em entrevista ao “Suplemento Literário” do Diário de Lisboa (1 de Março de 1935), José Régio, instado sobre o rejuvenescimento ou a crise da literatura portuguesa, defendeu que dessa tensão terá resultado um renovo integral, de motivos e meios de expressão. Quando o director da presença emitiu tal juízo, estávamos em finais de Fevereiro de 1935. Tal vitalidade expressou-a Régio com a seguinte tirada que faz de António de Navarro uma presença real e importante no panorama nacional:
“Os motivos poéticos de Mário de Sá-Carneiro, de Fernando Pessoa, de António Botto, de Adolfo Casais Monteiro, de Adolfo Rocha, de António de Navarro, de Edmundo de Bettencourt, de Branquinho da Fonseca, de Saul Dias,etc.,- não são os de Bernardim, Garrett, Soares de Passos ou Junqueiro.”
Algo mudara, pois, na literatura portuguesa e António de Navarro estava lá. A voz autoritária que o disse é aquela mesma sobre a qual Miguel de Sá e Melo (1936) não hesitou no acto judicativo absolutizante: “José Régio é quanto a mim o maior poeta português vivo.”
Os “Dez minutos com António de Navarro” estampados no “Suplemento literário” do Diário de Lisboa de 22 de Janeiro de 1937 apresentam o poeta presencista como “um dos líricos mais belos da nova geração”.
[13] E é mesmo um habitualmente ácido Luiz Pacheco quem, depois de apodar Navarro como um sujeito “de feitio agreste, quase violento, um tanto maníaco e forreta”, o classifica de “poeta excelente” (Pacheco, 2004: 136)
[14], certamente pensando em poemas nunca recolhidos em livro como “Bacanal”, “Os Medronheiros”, “Poema” ou “Bordel”, que leio, para o centro da memória, lembrando ainda que esta composição tem sido vista, por alguma crítica, como integrável nalgum expressionismo europeu de devastação vocabular e atomização poemática. Mas, ouçamos “Bordel”:
Horas mortas…
… turvas
tortas
agora
e toda a hora…
… Ámen!
Portas tortas
abertas
hirtas
abertas
tortas
retortas
de trincos
e trancas
partidas
E tudo torto
- mas tudo…
tudo torcido
e contorcido
e turvo e torto…
… mas, sobretudo
mui… muito torto,
tão hirtamente…
… terrivelmente!
E há horas brancas
adormecidas
nas horas pretas
e há um fado
cantando
contando,
embalado,
a sina de todas
que tu, e eu, mais enlodas
(Baixinho, que ninguém ouça!
Podem chamar-me doido…)
Pressinto,
quando entro,
não sei porquê!
o Cristo
e a Virgem Mãe
lá dentro
naquele antro
a par e ao pé
dum Mefisto
de quebranto
estranho encontro!...
Agora,
e toda a hora…
… Ámen!
[15] O primeiro livro de poesia de Navarro é Poemas d’África (1941). Em prefácio ilustrativo, João Gaspar Simões defende que o Autor é um “poeta puro”, para quem a poesia “é mais um estado do que um meio”. Da influência da curta presença por Lourenço Marques resultou esta colectânea de estranha sensualidade poética (“Ai, que volúpia, meu deus feitiço”) vinda do hálito morno da terra, abundante de sinestesias e raras metáforas, aí pontuando ainda a fascinação pelo seniano “vocabulário tecnicista”.
[16] Não denegando o convencionalismo ocasional ou a linguagem confran-gedora aí entrevista por Eugénio Lisboa (Lisboa, 1980: 87), extensiva, ainda segundo o clerc do ensaísmo português, a toda a obra navarriana, direi poder haver nela algo mais
[17]: por exemplo, a “disponibilidade verbal transfiguradora” que retoma o que existe “de mais exaltante em Ângelo de Lima”, como o notou um Fernando Guimarães (1977: 45), ou a “ebriedade dionisíaca” de que fala Óscar Lopes (s.d.: 800).
Logo de 1942 é Ave de Silêncio. Trata-se de um livro de aparente simplicidade natural, em que o sujeito poético, fundido nos elementos, assiste à “história do mundo” e à legibilidade do seu espírito. Leve, quase suspenso, cada avanço poemático é um encontro com o vento e com o melhor silêncio. Muito próximo até de algum Pessoa ou Caeiro, Gaspar Simões nota-lhe um “pendor discursivo e conceituoso” (Simões, 1976: 306). Óscar Lopes, por seu lado, classifica-a de emblemática (s.d.: 801).
Em 1951, Eugénio de Andrade dedica a António de Navarro o poema “Para um pássaro” (Cf. Sísifo, nº2-3). Nesse mesmo ano, António de Navarro dedica “Poema” a Eugénio de Andrade (Cf. A Serpente, fasc. 3). Em 1956, publica-se uma ode de Navarro na obra Até Amanhã de Eugénio de Andrade (Lisboa, Guimarães Editores).
Poema do Mar (1957) contém interessantíssimos ambientes poéticos, nomeadamente os habituais momentos de tonalidade marinha da Nazaré, que Branquinho tão bem cultivou em Mar Santo (1952) e que convocam os arcanos da própria poesia. Não obstante, confesse-se, nem sempre o voo é altaneiro, avultando alguma vulgaridades e imensíssimas gralhas, que, não embotando a qualidade poética, obscurecem o interessante influxo da acédia que muitas vezes, exuberante e eficazmente, reganha indenegável centralidade. Um dos pontos frágeis desta colectânea é, para Gaspar Simões, uma certa retórica barroca e discursivista presa à racionalidade, lembrando “o mau Junqueiro e o pior Gomes Leal”.
[18] A propósito desta obra, Taborda de Vasconcelos (Vasconcelos, 1958: 109) salienta haver na colectânea autenticidade vibrante e emotiva e novas impregnações sugestivas. Há também um motivo, que, sendo constante, assume aqui particular relevância: a explosão da metáfora percutiva, vinda de uma oficina ressonante alimentada de solidão.
Segue-se Águia Doída (Poemas d’África), de 1961, livro influenciado pela permanência por terras africanas, que convoca para o fogo interpretativo todos os abismos da nostalgia e do mistério, com fundadas ligações ao Quinto Império e ao monarquismo. A pregnância do ignoto comprime o sujeito poético, reservando-lhe o delicado papel de escutar os ritmos e sinais da natureza (“Sinto ainda passar nas tardes mornas”). Canto da ausência, do desenraizamento e da evocação, a poesia de António de Navarro é ainda abundante de sensações musicais (“Onde a vida foi, fugitiva, / a forma inatingível, / a pura música cativa”) e cromáticas (“Onde o sol, de crista de oiro, / cantou, a sombra alaga / e alonga…”). Como se a carne fosse também distância…
Na morte de Raul Leal, em 1964, coube ao Poeta a palavra “à beira da campa do velho companheiro”
[19]. Em amizade conjunta andavam ainda Álvaro Ribeiro, Pinharanda Gomes, Azinhal Abelho e Francisco Brito.
Em 1971, António de Navarro publica Coração Insone, obra que contém obras anteriores e insere Vigília Distante. Acentua-se a linha sebástica e sacral (“- um lírio / de abismais / na minha de Dom Sebastião mão de gládio / e Espírito”), com reiterada visita ao magnetismo africano (“Na tarde, ai as tardes de África, / tão sequiosas de noite e calma!...”) e ao esoterismo místico (“Templário e longe, litúrgico, - tu que nasceste / ungido da água duma fonte secreta e mística.”), numa poesia lavada visceralmente por sangue revelador.
Guitarras em Madeira d’Asa (1974) é, como o defende Pinharanda Gomes, um livro profético-sapiencial, pleno da admonições e de reganhos épicos. Homenagem também a D. Sebastião e ao seu Aposentador-mor Francisco Navarro, é do Sacratíssimo Rei que importa falar, mergulhando-se, através do “mar da poesia”, na protologia do mito sebástico e na sua irradiação. Deflagram no universo univocal navarriano relâmpagos azulescentes (“falcões caçando azul”, “bebendo-se azul”, “centauro azul”…) que combatem o pensamento vulgar e afirmam, simbolicamente, um ideário monárquico alicerçado no curso vital pundonoroso (“Eu vi El-Rei chamar a noite / Com sua alma de guitarra luacenta…”).
Antes do fim, publica ainda António de Navarro a colectânea poética O Acordar do Bronze (1980), obra que sublima a pervivente ambiência marinha e a definitiva tergiversação da presença a Orpheu, encastoando a sua produção sob o signo da lusitanidade e do sofrimento:
Grandes águias dum verde transcendente
Evoca nas noites e nos sóis
De Sagres, evocando os teus e nossos heróis
E a nossa terra de heróis, o mar
E tua alma por eles te sagres,
Sagrando os sóis…
Olhando algum passado, muito custa, no sentido de Vyvyan Holland, concluir que uma das represálias mais sérias é a condenação ao silêncio, nomeadamente quando o caso se refere a um escritor invulgar como se o completo nome, António de Albuquerque Labatt de Sotto Mayor Navarro de Andrade, fosse o gelo e a desmesura, encostado pelos apodos do intelectualismo, do discursivismo, do retoricismo e do neobarroquismo.
António de Navarro, podendo sugerir, por um lado, uma certa confusão verbal ou até mesmo uma falta de domínio das palavras
[20], é sempre um poeta historicamente dotado, proveniente que é da fibra orpheica
[21] e do tempo da originalidade excêntrica. Navarro persegue a música e o sentido obscuro da natureza, muitas vezes se confundindo na demanda com explosões e redemoinhos verbais e outras tantas logrando, no dizer avisado de Casais Monteiro, “das mais belas expressões da poesia no nosso tempo” e “uma arquitectura que se aparenta à de Álvaro de Campos”
[22]. Navarro como Casais Monteiro, Saul Dias e João Falco (Irene Lisboa) algo devem a Campos e a Almada.
Diferente e original, no entanto, há em Navarro um quid escutador à maneira de Sophia, diferente do nemesiano “poeta absorto”, que faz dele um escritor que sobrepõe a sua natureza à Natureza, aprofundando-se numa arte poética do pressentimento. Dividindo-se, segundo António Manuel Couto Viana (1994: 61), entre o “barroquismo pujante” e o “lirismo epigramático”, a poesia de António de Navarro entra pelos tímpanos.
Sem completude, a obra navarriana espera, na sua seiva torrencial, um olhar atento dos novos e bons leitores, aprofundando-se, por exemplo, a vertente surrealista que Natália Correia cavou, inserindo “Bacanal” na lei essencial dos estados alucinatórios.
[23] Poesia do relâmpago e do instante indecifrável e extático, linfaticamente explosiva, para dentro ainda implode cada verso tantas vezes surpreendente. Não seria sequer difícil ou moroso antologiar um sem número de lugares maiores da nossa poesia nesses versos deslembrados
[24]. E os melhores deles serão muitas vezes conseguimentos isolados que são a própria estrutura da “casa da poesia”, como este, que mostro, vindo do tempo do fim (“Cada vez mais as coisas sonham.”), em matriz profética que o tempo, acredito, haverá de coonestar. Abrem-se ainda, neste fio que desenrolo, o modo irónico associado à poesia de António de Navarro ou o seniano “dadaísmo inconsciente”
[25], bem como a questionação e desconstrução poemáticas, linhas, aliás, entrevistas por Fernando Guimarães (2002). Decantam ainda no labirinto cerebral da crítica presencista as palavras cristalinas de Gaspar Simões que o dizem “poeta integral” (Simões, 1964: 340)
[26] ou o asserto de António José Saraiva e Óscar Lopes que alude ao extravasamento dos “limites entre a consciência e a natureza” (Saraiva-Lopes, 1956: 934). Mas até quando?
Recolho a disseminação e dou de novo. António de Navarro é um caso de silêncio a resolver. Próximo, pela voz da crítica, do paroxismo e do delírio fantasista de Sá- -Carneiro
[27] e de Almada, do mistério ocultista de Pessoa e de Ângelo de Lima
[28], da técnica compositiva de Álvaro de Campos ou da sugestão transcendente de Pascoaes, há no Poeta um fio de transmissão que conduz sempre à “casa da poesia”.
Abrem-se, pois, novas portas e outros sentidos. O tempo do resgate vai chegar, começa a chegar. Sem vazio, a nossa presença é já a força da presença. Hoje e ontem, aqui.
Anexo
Os inícios poemáticos subsequentes aparecem por ordem alfabética e de acordo com a primeira palavra do texto, reproduzindo-se o primeiro verso de cada poema publicado, com excepção do hipotético sinal de pontuação no seu final que não indique final de frase, inscrevendo-se ainda entre parênteses rectos, pela ordem, o título da obra sem o ano de publicação, de acordo com as siglas ( AB: O Acordar do Bronze; AD: Água Doída; C: Contemporânea®; Ca: Cancioneiro; CI (VD): Coração Insone. Vigília Distante; CP: Comércio do Porto; GMS: Guitarras em Madeira d’Asa; HPGL: Homenagem poética a Gomes Leal no primeiro centenário do seu nascimento; MT: Metal Translúcido; OM: Ode à Manhã; P: Presença ®; Pa: Panorama ®; PA: Poemas de África; PM: Poema do Mar; Po: Portucale ®; S: Serpente ®; SLDL: Suplemento Literário do Diário de Lisboa; V: Vértice ®; VC: Ver e Crer ®); o título do poema entre aspas, se existente; havendo, o ano de publicação em periódico; o número de página nas edições conhecidas; o número de versos constituintes do poema; e outras informações julgadas não despiciendas. É esta a tabela alfabética dos incipit navarrianos:
A beleza [AB, pp. 52-53, 43 vv.].
A confidência da névoa, asa que os chama e eleva [AB, p. 151, 21 vv.].
A cruz dos caminhos é a tua cruz [PM, pp. 129-130, 10 vv.].
A Flor do Mar era um barco [PM, “A ‘Flor do Mar’”, pp. 17-18, 26 vv.].
A flor dum ibisco [CI, p. 210, 8 vv.].
A gente dá tudo a isto [PA (CI), pp. 28-30, 48 vv.].
A legenda que tracei na tarde [AD, pp. 41-42, 28 vv.].
A legenda que tracei no dia [AD, p. 93, 13 vv.].
A luta contra a realidade [HPGL, pp. 19-23, 69 vv.]
A luz do farol do Sítio [PM, pp. 27-28, 23 vv.].
A luz do Rei [GMA, p. 80, 15 vv.].
A mãe indígena passa… [AD, pp. 60-62, 49 vv.].
A mãe que embala o filho morto [PM, “Sanguinea”, p. 96, 13 vv.].
A minha África é, enfim [AD, pp. 67-68, 32 vv.].
A minha cruz – a única de Cristo [CI, pp. 193-194, 17 vv.].
A minha sensação de ser [PM, pp. 114-115, 10 vv.].
A minha solidão, a nossa solidão!... [PM, “Frémito com música dentro”, p. 161, 15 vv.].
A morte, conhece-me – sou aquele [AB, “Imaginário do bronze”, p. 109, 15 vv.].
A morte duma ave [PM, p. 117, 9 vv.].
A morte dum homem [PM, p. 118, 10 vv.].
À morte não ceder nem um centímetro [CI, p. 217, 11 vv.].
A morte trespassou-se antes da sua e das sete espadas que beijou [GMA, pp. 85-87, 74 vv.].
A natureza, contemplativa [AS (MT), p. 42, 15 vv.].
A noite, supersticiosa [PM, p. 101, 19 vv.].
A noite vai levar-te [PM, p. 102, 9 vv.].
A nossa passagem por nós mesmos [PM, “A noite cisma pela noite fora…”, pp. 177-179, 71 vv.].
A nota solta e libertária da sinfonia do silêncio que se esparge [PA (CI), p. 30, 19 vv.].
A pequena cruz de prata [AB, p. 62, 19 vv.].
À praia d’areia fina [PM, p. 91, 12 vv.].
A sede [CLL, “Alma”, p. 61, 9 vv.].
À sombra da palmeira [PA (CI), pp. 25-26, 35 vv.].
A sombra d’El-Rei [GMA, p. 108, 10 vv.].
A sua espada crucificava um mito [AB, “A Mousinho de Albuquerque-III”, p. 116, 12 vv.].
A vela e a quilhas, a sangue e a além, abrem a alma um sulco sangrento no mar [PM, “Largada”, p. 19, 20 vv].
A vida duma rosa morta [Ca, “Aroma”, p. 4, 22 vv.].
Acrobata [P, nº 21, “Acrobatas”, p. 9, 77 vv.].
África dos longes… Era sempre [CI, pp. 200-201, 15 vv.].
África é hoje na alma que a entende [CI, p. 216, 17 vv.].
África, paisagens novas? Talvez!... [PA (CI), pp. 53-54, 36 vv.].
Ah! a propícia coisa [GMA, p. 115, 20 vv.].
Ai o meu amor [P, nº 4, p. 7, 31 vv.].
Algo se fez visão e sonho [GMA, p. 59, 14 vv.].
Alguém se foi longe na língua de granito [CI, pp. 197-199, 34 vv.].
Algumas [PM, pp. 131-132, 15 vv.].
Alguns têm perfis de Cristos. [PM, pp. 130-131, 19 vv.].
Ali na sua carne, que é uma vela [AB, p. 64, 14 vv.].
Alma a quem sucessivo se nos morre [GMA, pp. 112-113, 30 vv.].
Alma, eu sei, e a gente sente [PM, “Olhando a bruma”, pp. 147-148, 24 vv.].
Alma que o homem acendeu [AB, p. 89, 14 vv.].
Alucinado El-Rei dizia [GMA, pp. 103-104, 33 vv.].
Amada [PM, “Poema ao fim d’uma noite”, p. 162, 8 vv.].
Amo justamente as cousas [AD, pp. 79-80, 37 vv.].
Anda aqui um poeta estranha [AS (MT), p. 48, 17 vv.].
Anestesio-me [PM, pp. 110-111, 17 vv.].
Ânfora, gomil [P, nº 2, “Canção”, p. 5, 29 vv.].
Antes de ir até onde [GMA, p. 43, 20 vv.].
Ao canto, erma, a vela abandonada e gasta… [AB, pp. 46-47, 34 pp.].
Ao lume da alma [PM, pp. 48-49, 25 vv.].
Aprenderam a lidar [AB, p. 101, 19 vv.].
Aquela árvore onde os pássaros cantam [PM, pp. 150-151, 26 pp.].
Aquela asa que passou [PM, pp. 87-88, 24 vv.].
Aquela flor que canta [PM, p. 112, 10 vv.].
Aquela viúva do pescador [PM, p. 90, 17 vv.].
Aquele da minha vida que um letargo adormeceu [AD, pp. 16-21, 120 vv.].
Aqui teu nome te ignora [AD, p. 22, 19 vv.].
Árvores, folhas, águas, coisas de África [PA (CI), pp. 32-33, 29 vv.].
Árvores que o vento arqueia [P, nº 47, p. 7, 6 vv.].
As estrelas deslizam entre as minhas mãos cheias de lama [P, nº 52, p. 4, 42 vv.].
As formas do meu ser [PM, “Uma ideia feriu-me as mãos”, pp. 137-139, 41 vv.].
As mães dos que abriam velas ao vento [AB, pp. 81-83, 58 vv.].
As minhas dores, onde estão elas?... [PM, “Friso a desolação e lágrimas”, p. 153, 26 vv.].
As minhas lágrimas secaram, mas ficou [AD, pp. 69-70, 31 vv.].
As palavras tristes que me digo [PM, “A caminho”, pp. 97-98, 30 vv.].
As palavras secretas, pulmões do eterno no que passa [CI, pp. 223-224, 10 vv.].
As sibilas e as lendas [AB, pp. 27-28, 40 vv.].
Assim, adio [PM, pp. 115-116, 7 vv.].
Assomo ao longe [AD, p. 94, 8 vv.].
Bailarico na areia [PM, pp. 26-27, 33 vv.].
Bem sei que há outras verdades além desta [PM, p. 54, 14 vv.].
Bica [CLL, “Canto pequenino”, p. 62, 15 vv.].
Cabe às vezes numa taça [CI, p. 204, 16 vv.; pp. 220-221, 16 vv.].
Cada jardim com sua noite [CI, pp. 214-215, 20 vv.].
Cada mareante [AB, p. 102, 16 vv.].
Cada poema leva-me quanto sou [PM, pp. 136-137, 8 vv.].
Cada um tem um fio luminoso a guiá-lo [PM, “Cada um tem um sonho a guiá-lo”, pp. 176-177, 17 vv.].
Cada vez mais as coisas sonham. [GMA, p. 118, 15 vv.].
Caiu uma violeta n’água [P, nº 47, p. 7, 9 vv.].
Canto, simplesmente [PM, “Água corrente”, p. 97, 7 vv.].
Cantos… dentro de mim. [PM, pp. 62-63, 20 vv.]
Casar-me com o profundo [AD, p. 98, 11 vv.].
Cem pupilas [AD, pp. 101-102, 23 vv.].
Certa ideia [PM, “Nuvem”, p. 100, 11 vv.].
Chego às vezes a ter receio de mim [P, nº único, “Solilóquio II”, p. 4: 24 vv.].
Chipamanine [CI, pp. 183-184, 30 vv.].
Chipamanine tem [CI, pp. 184-185, 16 vv.].
Chipamanine tem dó [CI, pp. 185-186, 30 vv.].
Cismando é que está presente [GMA, p. 51, 8 vv.].
Com a morte tenho uma aventura [PM, pp. 124-125, 13 vv.].
Com a noite tenho uma aventura [PM, p. 125, 12 vv.].
Com a vida tenho uma aventura [PM, p. 124, 7 vv.].
Com dor, com a dor apenas [PM, “A brisa quebrou um gladíolo”, pp. 180-181, 19 vv.].
Com meu sangue se faz sua noite imensa [CI, pp. 187-189, 49 vv.].
Com um rosto d’água pensativa [GMA, p. 100, 26 vv.].
Com um sextante [AB, p. 41, 12 vv.].
Com uma agulha de prata [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4, 10 vv.].
Com uma noite súplice d’asas [GMA, pp. 98-99, 37 vv.].
Comigo e com uma rosa [PM, p. 122, 14 vv.].
Como da minha estirpe é a sombra [CI, p. 211, 7 vv.].
Como escorres das minhas mãos [PM, “Dispersão”, pp. 143-144, 31 vv.].
Como podes erguer as mãos a um Deus que não existe!?... [PM, “Solilóquio”, p. 184, 14 vv.].
Compreender as coisas [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4, 13 vv.].
Comungaram a noite [AB, p. 63, 19 vv.].
Conquistar-me até ao último verso [GMA, p. 35, 9 vv.].
Corre no meu sangue o veneno d’África [PA (CI), pp. 37-38, 25 vv.].
Crear poemas de nada [PM, p. 58, 14 vv.].
Creio na minha dúvida [PM, pp. 80-81, 26 vv.].
Criei-lhe o aroma [AS (MT), p. 36, 15 vv.].
Cristo em madeira d’águas [GMA, p. 62, 19 vv.].
Cruzo os braços e tenho assim a minha cruz [Ca, p. 4, 19 vv.].
Da bruma cerrada [AB, p. 26, 17 vv.].
Da execução do esforço [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4: 9 vv.].
Da mais profunda adoração nasci-me. Do [CI, pp. 205-206, 14 vv.].
Da metafísica de Deus feito mar [AB, pp. 95-96, 24 vv.].
Da noite, ao crepúsculo [GMA, p. 46, 20 vv.].
Dar às coisas o seu destino [CI, pp. 192-193, 13 vv.].
Dêem-me as cousas a taça [CI, pp. 218-219, 20 vv.].
Dentro da noite há-de arder a alma [CI, pp. 194-195, 10 vv.].
Depois de findos agarra-se-nos à morte [GMA, pp. 74-75, 37 vv.].
Depois do naufrágio [PM, pp. 23-24, 16 vv.].
Descobriam-se terras por sortilégio [AB, “Quinto Império”, p. 117, 26 vv.].
Desfez-se em céu a gaivota [PM, pp. 65-66, 28 vv.].
Deus é uma cousa [PM, p. 108, 11 vv.].
Deus, a tua metafísica dorme [AB, p. 90, 9 vv.].
Devagar, devagar, ai, não te canses…[PM, “O poema que nos encontra”, p. 140, 20 vv.].
Disse alguém ao Rei: Silêncio!... [GMA, p. 94, 6 vv.].
Disseram a El-Rei: É noite! [GMA, p. 107, 7 vv.].
Disseram ao rei: é tarde!... [GMA, p. 95, 7 vv.].
Disse uma voz ao Rei – herói! [GMA, p. 93, 7 vv.].
Do êxtase as coisas adormecem [GMA, p. 81, 8 vv.].
Do nosso sombrio fundo [PM, “Paisagem com uma asa”, pp. 171-172, 26 vv.].
Do Oriente [AD, pp. 81-82, 27 vv.].
Do teu corpo nascem as florestas, nascem os rios, e os rios imponderáveis [AD, pp. 89-90, 34 vv.].
Doem-se estes silêncios [AB, pp. 76-77, 40 vv.].
Donde vem esta folha verde [PM, pp. 66-67, 21 vv.].
Dorido, na tarde [PM, “Na tarde”, pp. 169-170, 19 vv.].
D’um cone d’azul, força a mais d’azul [GMA, p. 73, 16 vv.].
Duma nuvem azul [AB, p. 79, 10 vv.].
É com claridade vidente [AB, pp. 38-40, 58 vv.].
E dai-nos, Senhor, o nosso velho coração [AB, p. 78, 15 vv.].
E disse o Rei para si mesma [GMA, p. 91, 5 vv.].
É logo que o sangue se devora [CI, p. 212, 9 vv.].
É o meu centauro azul que eu relembro [GMA, p. 24, 16 vv.].
E pelos olhos passa-lhe a dor [GMA, p. 67, 13 vv.].
E porque somos assim [P, nº 52, p. 4, 41 vv.].
E se as almas fugissem dos corpos [PA (CI), pp. 47-48, 25 vv.].
É só mais uma verdade. [CI, p. 197, 15 vv.].
É tão bom chamar-te Mãe!... [PM, “Cântico para a brancura”, p. 137, 17 vv.].
E vejo, como os magos podem ver [AD, pp. 28-29, 25 vv.].
El-Rei [GMA, p. 63, 12 vv.].
El-Rei, antes d’Alcácer [GMA, p. 96, 11 vv.].
El-Rei escreve o seu poema [GMA, p. 66, 12 vv.].
El-Rei medita e sonha [GMA, p. 77, 9 vv.].
El-Rei que cisma ainda… [GMA, p. 78, 4 vv.].
El-Rei reparou em Deus [GMA, p. 84, 12 vv.].
El-Rei tinha o seu Cristo [GMA, p. 37, 19 vv.].
Ele é um tempo de silêncios [GMA, p. 44, 17 vv.].
Ele seria para a estátua do seu chão delirante e transe [GMA, pp. 89-90, 34 vv.].
Em certas noites [PM, “Quando o silêncio dói”, pp. 145-146, 18 vv.].
Em certas noites de Outono [AS (MT), pp. 38-39, 22 vv.].
Em certos dias tenho a sensação de que vou sentir morrer tudo [PM, “Angústia”, pp. 142-143, 15 vv.].
Em febre [PM, pp. 40-41, 13 vv.].
Em Sagres, atónitos e abismados [AB, pp. 44-45, 41 vv.].
Em sangue uma verdade crucificou-se [AB, “Sangue lusíada”, p. 132, 14 vv.].
Em suas torres de pó distante [GMA, pp. 49-50, 33 vv.].
Ensimesmada [AD, p. 24, 9 vv.].
Ensinámos o mar a medir-se [AB, p. 29, 8 vv.].
Ensinou-nos África a ter o seu sangue [CI, p. 196, 17 vv.].
Entardece… - eis uma certeza. [PM, pp. 81-82, 23 vv.].
Entre o capim, crispação bravia [AD, pp. 37-38, 24 vv.].
Era essa a pequena dor [GMA, pp. 25-26, 34 vv.].
Era já distância pura e os galgos sabiam-no correndo lebres em relâmpago [GMA, pp. 19-22, 66 vv.].
Era o do mistério augusto e límpido [GMA, p. 23, 10 vv.].
Esmigalhem meu crâneo e que as legiões [P, nº 10, p. 7, 14 vv.].
Esqueci-me do mar [PM, pp. 53-54, 10 vv.].
Esse pensamento que perdi [PM, pp. 55-56, 29 vv.].
Esta agonia das tardes de outono [AS (MT), pp. 45-46, 30 vv.].
Esta é a poesia que se há-de crucificar [AB, pp. 60-61, 24 vv.].
Esta noite [PM, “Esta noite…”, p. 189, 16 vv.].
Estamos criando a crença para nos devorar [GMA, p. 56, 27 vv.].
Estava triste e atirou-se ao rio [PM, p. 136, 9 vv.].
Este cântico ácido e arquejante [PM, pp. 22-23, 16 vv.].
Este poema da vida, sempre, enerva-me [PM, “Poema a transbordar da taça”, p. 177, 8 vv.].
Este quarto não é meu e, todavia, [PM, “Elegia num quarto alugado”, p. 147, 18 vv.].
Estou a falar de África e sinto [CI, pp. 222-223, 17 vv.].
Eu arranjo e crio despenhadeiros [AB, pp. 65-67, 60 vv.].
Eu canto na tarde [PM, p. 103, 10 vv.]
Eu creio na Cruz [AB, “A Cruz”, pp. 118-119, 32 vv.].
Eu, da minha limpidez [GMA, pp. 116-117, 58 vv.].
Eu e a natureza somos um acorde [P, nº 47, p. 7, 10 vv.].
Eu que levo um mistério [GMA, p. 114, 16 vv.].
Eu sei que venho da minha angústia [PM, pp. 51-52, 14 vv.].
Eu, não lamento [PM, “Fala o poeta enfim”, p. 135, 20 vv.].
Eu vi El-Rei chamar a noite [GMA, p. 36, 15 vv.].
Evadi-me? Não. Sou algemas que doem na dor abstracta [AD, pp. 34-36, 46 vv.].
Evanescente!... [P, nº 8, “Ode”, p. 6, 41 vv.].
Evidentemente que há certezas [PM, p. 110, 12 vv.].
Faço-me da alma o que faz a minha profecia [AB, “Soneto”, p. 110, 14 vv.].
Fala-se de África e uma veia existe mais. [CI, pp. 207-208, 32 vv.].
Fala-se de Deus [CI, pp. 219-220, 30 vv.].
Fala-se sempre com o mistério claro [AB, p. 84, 15 vv.].
Febres de África que o quinino acalma [PA (CI), pp. 31-32, 44 vv.].
Feito visão [GMA, p. 101, 19 vv.].
Feriram o segredo dos mares [AB, p. 31, 4 vv.].
Ficam sempre os Lusíadas, e o seu império [AB, p. 48, 19 vv.].
Ficar na obra [PM, p. 49, 22 vv.].
Ficaste nessa dor, amada morta [PM, p. 154, 8 vv.].
Filho sombrio dum mar qualquer [PM, p. 22, 15 vv.].
Fito na noite a nossa estrela [CI, p. 212, 9 vv.].
Foi a tua estátua que os bárbaros estilhaçaram [AB, “A Mousinho de Albuquerque”, p. 114, 17 vv.
Foi de Sibila [AB, pp. 21-22, 27 vv.].
Foi na Índia aonde El-Rei [CI, p. 211, 13 vv.].
Força centrífuga [P, nº 20, “Deus”, p. 7, 43 vv.].
Glauca…- [P, nº 10, p. 7, 47 vv.].
Gosto de o ver e olhar, suspendendo as notas [PM, pp. 43-44, 27 vv.].
Guitarras grasnam pavões [GMA, p. 102, 16 vv.].
Há gritos e pinchos [P, nº 1, “O braço de Arlequim”, p. 2, 50 vv.].
Há não sei que fatalismo na noite que tomba [PA (CI), pp. 49-53, 96 vv.].
Há que gastar a vida [PM, “A brisa abriu uma rosa”, pp. 183-184, 11 vv.].
Há sempre um sublime que me deve [AD, pp. 53-55, 62 vv.].
Há um grande perfil de noite que súbito se incendeia [GMA, pp. 71-72, 30 vv.].
Há versos na sua boca [PM, “Ritmo que desvenda”, pp. 190-191, 20 vv.].
Hei-de estar só [AB, p. 55, 17 vv.].
Hoje o mar está duma serenidade cruciante [PM, p. 136, 9 vv.].
Horas mortas… [P, nº 20, “Bordel”, p. 7, 49 vv.].
Impossível não ser o próprio [AS (MT), p. 50, 14 vv.].
Ir um barco, de noite [PM, “No convés, à noite…”, p. 191, 16 vv.].
Irmã que durma!... [P, nº 13, “Ópio”, p. 3, 34 vv.].
Isto há-de acabar numa mitológica bebedeira [PM, pp. 39-40, 26 vv.].
Já levaram carisma e a sua ideia [AB, “Louvação do pinhal de Leiria”, pp. 112-113, 34 vv.].
Já não lembro, já não toco [AD, pp. 73-74, 31 vv.].
Já tive também uma aventura [PM, pp. 122- 123, 10 vv.].
Já tive também um idílio [PM, pp. 123-124, 12 vv.].
Jogos de água ou, afinal [AS (MT), p. 44, 12 vv.].
Lá fora, chove [PM, pp. 155-156, 19 vv.].
Lá longe onde houve sonho e onde [AD, p. 26, 12 vv.].
Lá na Pedra do Guilhim [PM, pp. 42-43, 21 vv.].
Lírico [PM, p. 120, 21 vv.].
Listas, fitas, bacantes nuas [P, nº 5, “Bacanal”, p. 6, 51 vv.].
Lua ronga, que inundas a noite [AD, pp. 63-64, 36 vv.].
Mais misterioso do que o mistério sou eu [PM, pp. 57-58, 22 vv.].
Manhãs do trópico, súbitas [AD, pp. 32-33, 27 vv.].
Mar Sacral, que decantas o íntimo de bronzes [AB, p. 59, 20 vv.].
Maria da Griolanda [PM, pp. 29-30, 21 vv.]
…Mas uma noite perdi-me numa imaginação de mar… [PM, p. 57, 17 vv.].
Mede-se a noite por ele [GMA, p. 65, 6 vv.].
Mede-se o Ultramar que veio [AB, p. 42, 18 vv.].
Metafísica é uma vela cósmica de tornar o pensamento [AB, “Poema em Prosa”, p. 121, 24 vv.].
Meu ídolo de sangue, meu silêncio destroçado [CI, pp. 206-207, 15 vv.].
Meu Poeta, - Angelus de Lima [P, nº 31-32, p. 13, 63 vv.].
Meu ser consciente e, pois [P, 2ª série, nº V, “Estrofe”, p. 17, 23 pp.; PM, “Estrofe”, pp. 141-142, 27 vv.]].
Meus pensamentos foram… [PM, pp. 105-106, 10 vv.].
Meus pensamentos voltaram… [PM, p. 106, 15 vv.].
Mistérios – não há. [PM, p. 119, 11 vv.].
Místico, como hei-de erguer as mãos? [PM, “Oração para criar um Deus impossível”, p. 181, 7 vv.].
Na curva duma vaga [S, nº 3, “Outro Poema do Mar”, nº 34, 29 vv.; PM, pp. 24-25, 29 vv.].
Na génesis das cousas me persigo [AD, pp. 95-96, 25 vv.].
Na grande rocha o Infante integra o sonho [AB, “Infante D. Henrique”, pp. 15-18, 94 vv.].
Na hora em que El-Rei [GMA, p. 64, 8 vv.].
Na pedra mais devota, numa ara [CI, p. 209, 23 vv.].
Na pedra rígida e austera [P, nº 36, “Epitáfio (Para o túmulo do Poeta)”, p. 9, 30 vv.].
Na sua mão, no mais secreto [AB, p. 23, 15 vv.].
Na tarde, ai as tardes de África [CI, pp. 204-205, 21 vv.].
Na tarde distante passa ainda [CI, p. 201, 8 vv.].
Não é essa a carne que te dei [PM, “Lamento da natureza pelo mendigo”, p. 132, 17 vv.].
Não ergas as tuas mãos demais [PM, “Oração viva”, p. 152, 13 vv.].
Não. Não sentirás mesmo [PM, “Outro poema de amor”, pp. 184-185, 17 vv.].
Não sei ainda bem a que me entrego [PM, p. 113, 17 vv.].
Não sei quê de mim se perdeu [PM, p. 104, 9 vv.].
Não sei o que me falta em angústia [PM, “Perspectiva onde se me perdeu a sombra”, pp. 174-176, 68 vv.].
Não sei se é mais humana a noite ou o dia… [PA (CI), p. 42, 21 vv.].
Não tenho ciúmes de que te abrace [PM, “Poema de amor”, pp. 189-190, 19 vv.].
N’aparência é tudo tão verdade!.... [P, nº 47, p. 7, 19 vv.].
Nas grandes manhãs em que as mulheres penteiam os cabelos [OM (MT), pp. 7-14, 168 vv.].
Nas linhas vive um bruxedo [P, nº 28, “O Segrêdo das Linhas”, p. 8, 61 vv.].
Nas noites frias, nas noites em que a solidão [PM, “Poema de amor e noite”, pp. 186-187, 45 vv.].
Nas rosas que adormecem à noite [CI, pp. 201-202, 12 vv.].
Nasce outra vez o dia. [CI, pp. 191-192, 23 vv.].
Naus e mareantes [AB, “Trova de Bandarra”, pp. 126-127, 45 vv.].
Navegaram pelo acordar do bronze, no fundo [AB, p. 103, 18 vv.].
Navegando, senhoras do mar, as caravelas [AB, p. 50, 21 vv.].
Navio ao longe, a arder [PM, pp. 67-68, 28 vv.].
Negros como crianças [PA (CI), pp. 26-27, 24 vv.].
Nem a noite tem mistério [PM, p. 78, 24 vv.]
Nessa noite a tua lua [V, “Romance da Lua do Poeta”, pp. 330-331, 37 vv.].
Nesse dia os presos tinham fugido todos das prisões [P, nº 35, “Incêndio”, p. 3, 64 vv.].
Nesta campa onde repousa [AD, p. 23, 12 vv.].
Neste mar há almas de pescadores mortos [PM, p. 25, 13 vv.].
No dia límpido [GMA, pp. 32-34, 64 vv.].
No meu fundo não há a imensidão do nada [PM, “Solilóquio”, pp. 168-169, 32 vv.].
No meu fundo não há nada. [P, “Ode”, p. 11, 33 vv.].
No poial da casa pobre [AB, “Poema do Mar”, pp. 124-125, 38 vv.].
No quadrante a morte faz uma sombra invisível [AB, p. 88, 18 vv.].
No seu túmulo a minha estátua jacente [GMA, p. 60, 16 vv.].
No silêncio [GMA, p. 52, 19 vv.].
No teu funeral [V, “O Funeral”, pp. 331-332, 25 vv.].
Noites de África comendo silêncios [PA (CI), pp. 43-44, 23 vv.].
Noites de África, longe… Tangida [CI, pp. 190-191, 18 vv.].
Noites de solidão transida [PM, “Cântico em notas de cinza”, pp. 144-145, 39 vv.].
Nos braços verdes, nus [P, nº 14-15, “Os medronheiros”, p. 6, 43 vv.].
Num canto d’esperança [PM, p. 116, 8 vv.].
Nunca me perdi no mar [PM, p. 56, 16 vv.].
O baile das folhas mortas [PM, “Quase uma balada”, pp. 163-164, 28 vv.].
O Cavaleiro da espada iluminada [AB, “A Mousinho de Albuquerque-II”, p. 115, 17 vv.].
O cavalo branco galopa na noite e traz a lua enredada nas crinas [V, “Eternidade viva”, p. 332, 17 vv.].
O cavalo que El-Rei montava [GMA, p. 76, 25 vv.].
O cemitério é ali [PM, p. 105, 13 vv.].
O cláxon zine… [Ca, pp. 4-5, 26 vv.].
O dancing é o ring de Terpsicore [P, nº 14-15, p. 7, 117 vv.].
O dia hoje está sombrio [PM, p. 52, 26 vv.].
O elmo d’El-Rei [GMA, p. 40, 20 vv.].
O enterro de D. Sebastião [GMA, pp. 53-54, 45 vv.].
O enterro duma criança [PM, p. 114, 11 vv.].
O fim deste oceano… deste livro [PM, p. 92, 17 vv.].
O gadanheiro canta [PM, “O gadanheiro e a sua manhã”, pp. 156-157, 33 vv.].
O homem é pequeno , oh terras d’África [PA (CI), pp. 48-49, 16 vv.].
O jazzz [P, nº 6, “Charleston”, p. 6, 52 vv.]. [P, nº 3, p. 5, 53 vv.].
O longe foi o sonho dos nautas. [AB, pp. 35-36, 26 vv.].
O mar é ela [C, s. p., 29 vv.].
O mar do meu destino atirou à praia de mim [PM, pp. 30-31, 14 vv.].
O mesmo vento que leva a ave podre [PM, “Cântico”, pp. 166-168, 38 vv.].
O meu canto d’esperança [PM, p. 103, 13 vv.].
O meu canto enche-me dum misticismo [PM, pp. 151-152, 19 vv.].
O meu casamento é com a sombra da morte [AD, p. 97, 6 vv.].
O meu cavalo de fogo ardeu-me na cavalgada [GMA, p. 27, 7 vv.].
O meu enterro [PM, p. 109, 24 vv.].
O meu ser libertário [PM, “Folha no vento”, pp. 96-97, 7 vv.].
O meu longe, o meu espectador sensível [PM, p. 50, 16 vv.].
O místico que reza [PM, p. 118, 10 vv.].
O mundo para mim [PM, “Dístico”, pp. 191-194, 100 vv.].
O nada, de que sou feito [PM, “Aparição”, pp. 172-173, 23 vv.].
O poeta finge [PM, pp. 111, 13 vv.].
O que é preciso é morrer a ânsia [AB, p. 100, 18 vv.].
O que será o silêncio?... [PM, pp. 61-62, 20 vv.].
O que vale é a poesia ser maior que eu [PM, pp. 50-51, 20 vv.].
O raio da minha ânsia [PM, pp. 82-83, 29 vv.].
O raio de sol que se parte [CI, p. 222, 12 vv.].
O recorte desta balada [PM, p. 64, 17 vv.].
O rei tinha o seu oiro [GMA, p. 38, 13 vv.].
O relâmpago ou se perde [CI, pp. 221-222, 15 vv.].
O rouxinol que trila [PM, p. 104, 12 vv.].
Ó selva iluminada a sombra [AD, p. 15, 14 vv.].
O signo de Cristo [AB, p. 30, 5 vv.].
O silêncio [PM, pp. 59-60, 8 vv.].
O silêncio [PM, pp. 60-61, 11 vv.].
O silêncio [PM, pp. 61, 10 vv.].
O silêncio. [PM, p. 60, 8 vv.].
O sol brinca contigo [PM, pp. 113-114, 10 vv.].
O Sol é um disco de zarcão [P, nº 3, “O Vira (Baixo relevo), p. 5, 53 vv.].
O sol que El-Rei iluminava [GMA, p. 79, 21 vv.].
O súbito navio [CI, p. 193, 16 vv.].
O tempo da sua contemplação [AD, p. 78, 8 vv.].
O tempo que se dói [AB, pp. 72-73, 47 vv.].
O tempo sofre-nos com a nossa efemeridade infinita. [AD, pp. 105-106, 37 vv.].
O tempo vai fazendo estátuas invisíveis dentro do homem [PM, pp. 71-72, 59 vv.].
O vento levou as árvores todas da paisagem [P, nº 47, p. 7, 19 vv.].
Odor de traição e escremento [AB, p. 74, 15 vv.].
Oferece a noite sua iluminura [AD, pp. 65-66, 23 vv.].
Oh, meu Deus [PM, “Outra oração”, p. 182, 4 vv.].
Oh mistério [PM, pp. 46-48, 38 vv.].
Oh natureza verde, oh sol que fuma ópio e sangue [PA (CI), pp. 38-40, 37 vv.].
Olho as minhas mãos e não vejo nada em elas [PM, “O voltar da página”, p. 146, 15 vv.].
Olho o Universo, olho tudo isto [PM, “O Rolar da Onda”, pp. 19-21, 37 vv.].
Olhou-se e disse “longínquo?...” [GMA, p. 92, 12 vv.].
Onde a vida foi, fugitiva [AD, p. 45, 10 vv.].
Onde ficará a findo pó [PM, “O poema que me encontrou”, pp. 179-180, 20 vv.].
Onde o sol, de crista de oiro [AD, p. 46, 11 vv.].
Ondula o capim na tarde mansa [AD, pp. 58-59, 43 vv.].
Orfeu, ébrio de um batuque [AD, p. 92, 16 vv.].
Os deuses de África adoram [AD, p. 83, 17 vv.].
Os grandes dias existem. E existem para o milagre [AB, p. 94, 14 vv.].
Os homens que remam naquele barco [PM, p. 63, 19 vv.].
Os melhores, cantam a sua cegueira [PM, p. 130, 15 vv.].
Os negros realizam a noite [AD, p. 91, 20 vv.].
Os que profanaram as tuas cinzas [AB, “A Camões”, p. 137, 16 vv.].
Os que têm frio, em cabanas [PM, p. 155, 11 vv.].
Os traidores rasgaram as velas [AB, p. 91, 14 vv.; AB, “Solitários e sózinhos”, p. 130, 14 vv.].
Os transcendentes necessários [GMA, pp. 57-58, 31 vv.].
Ouviu-se El-Rei bradar [GMA, p. 108, 11 vv.].
Paisagem tropical – o sol tem lanças [PA (CI), p. 40, 13 vv.].
Para além do meu tempo está quanto em mim [PM, pp. 148-149, 27 vv.].
Para um rei de luz [GMA, p. 48, 17 vv.].
Para uma consciência do incriado [Pa, nº 12, IV série, “Poema de Natal no descer da sua cruz”, p. 39, 57 vv.].
Passa um mendigo, e olha o mar… [PM, pp. 79-80, 14 vv.].
Pede, amada minha [PM, pp. 64-65, 21 vv.].
Pelas marés do próprio sangue [PM, p. 35, 20 vv.].
Pensam-me as naus que d’além vieram. [AB, pp. 104-106, 48 vv.].
Pensei muito, e num relâmpago sôfrego [CI, p. 213, 10 vv.].
Pequenos somos em verdade [PM, “Ode ao mar”, pp. 73-77, 158 vv.].
Plantei uma visão ao pé do mar” [PM, “Para consolar um desconsolo”, pp. 162-163, 18 vv.].
Poeta – a noite [PM, pp. 78-79, 23 vv.].
Poeta, já o fui… [PM, pp. 88-89, 36 vv.].
Por aí me fiquei, prisioneiro [AD, pp. 56-57, 39 vv.].
Por esta orla que farfalha e arfa [PM, pp. 90-91, 18 vv.].
Por messianismo [AB, “Lusitânia d’aquém e d’além”, pp. 128-129, 29 vv.].
Porque não vos sente a vida passar pelas suas fibras dentro [PM, “Lamento do homem que vê passar mendigos”, pp. 134- -135, 16 vv.].
Portugal, “d’aquém e d’além mar”, assinei aqui com meu nome, que é alma. [AB, pp. 138-140, 55 vv.
Prisioneiro do seu próprio sonho [PM, “Cântico a evadir-se”, pp. 157-161, 119 vv.].
Procuro a cópia exacta da minha vida [P, nº 53-54, p. 24, 31 vv.].
Pura contemplação da linguagem da alva [AB, pp. 32-33, 34 vv.].
Puseram cilícios [AB, “Pinhal sacrossanto”, pp. 135-136, 35 vv.].
Qualquer cousa de mim adormeceu à beira-mar [PM, pp. 44-45, 22 vv.].
Quando a luz saiu das águas [PM, pp. 28-29, 33 vv.].
Quando ele fôr o lampadário [GMA, p. 45, 13 vv.].
Quando o espírito sonha [P, nº 30, “Poema da matéria sonâmbula”, pp. 8-9, 131 vv.].
Quantas formas sobrenaturais em linhas de transe [Vértice, nº 86, “A dama da sua alma”, 51 vv.].
Quantas ideias e emoções [PM, “Silêncio para oferecer ao sangue”, p. 188, 30 vv.].
Quantas vezes pergunto e inquiro [CI, p. 203, 15 vv.].
Quanto de mim aí ficou [AD, pp. 39-40, 28 vv.].
Quanto o mar é mais Lusíada [AB, pp. 85-87, 81 vv.].
Quatro – parece que o ambiente os come [PM, “Chomage”, pp. 139-140, 26 vv.].
Que a minha própria crença me devore [AB, p. 98, 19 vv.].
Que a tua beleza seja o compreender-te [AS (MT), p. 37, 7 vv.].
Que canto tão puro [PM, p. 107, 18 vv.].
Que farás ao teu ermo [PM, pp. 153-154, 20 vv.].
Que farei ao teu filho, pendurado duma teta flácida!... [PM, “Friso dos mendigos”, p. 129, 17 vv.].
Que faremos com a luz da alvorada [PM, “Façamos amanhã”, pp. 185-186, 27 vv.].
Que lívida [P, nº 23, “Canção”, p.79, 56 vv.].
Que sou eu em frente a este mar [PM, pp. 36-39, 102 vv.].
Que sou eu em frente à vida? [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4, 13 vv.].
Que sou eu em verdade ante mim mesmo [PM, pp. 83-87, 121 pp.].
Que tristeza, que nódoa negra [PM, “Prostíbulo”, pp. 173-174, 26 vv.].
Quebrou-se aqui o ceptro [AD, p. 25, 9 vv.].
Quem me levasse a carne [PM, “Lamento do mendigo”, p. 133, 18 vv.].
Quem se deita a seus próprios pés, os meus [CI, p. 199, 10 vv.]
Queria um poema de morte [GMA, p. 82, 16 vv.].
Rebenta o mar na penedia [PM, “Rebentação”, p. 18, 25 vv].
Regressei hoje como quem [CI, pp. 215-216, 12 vv.].
Rezaram longes num rosário [AB, “Relâmpago”, p. 111, 13 vv.].
Rumo às cousas a voz secreta [CI, pp. 202-203, 21 vv.].
Sagre-se a espada que lampeja no dia [CI, pp. 217-218, 14 vv.].
“Sândalo!...” [Ca, p. 4, 29 vv.].
São muchopes, são landins, são [CI, p. 210, 12 vv.].
São veias d’ermo o que no longe procuramos [AB, p. 49, 20 vv.].
Se a vida nos desse a mão [PM, pp. 112-113, 9 vv.].
Se a tens de ti [GMA, pp. 28-31, 86 pp.].
Se bole uma folha o rei estremece [GMA, pp. 105-106, 36 vv.].
Se dermos amor [PM, pp. 121-122, 11 vv.].
Se eu descesse até ao fundo de mim [PM, pp. 89-90, 10 vv.].
Se pensares [PM, pp. 120-121, 10 vv..].
Se pensares em tudo [PM, p. 121, 5 vv.].
Se uma ave voa [PM, p. 102, 15 vv.].
Se passares um dia [PM, “Poema romântico”, p. 183, 17 vv.].
Sede [CLL, “Poeminha”, p. 61, 9 vv.].
Sei [PM, p. 115, 12 vv.].
Ser é duvidar [PM, p. 59, 20 vv.].
Serenidade misteriosa do mar do trópico [PA (CI), p. 41, 19 vv.].
Seu sagrado muito [GMA, pp. 41-42, 31 vv.].
Silêncio de África [PA (CI), pp. 34-35, 40 vv.].
Silêncio mais cisma [PM, p. 119, 11 vv.].
Silêncio que nos mordes em cânticos desesperados [PM, pp. 149-150, 30 vv.].
Sim, é fundo como um grito de angústia [PM, pp. 41-42, 32 vv.].
Sim, é melhor guardar ao menos [PM, “Confidência”, p. 181, 8 vv.].
Sinto ainda passar nas tardes mornas [AD, p. 27, 12 vv.].
Só, na sua noite erma e sedenta [AB, “A Fiandeira”, pp. 122-123, 42 vv.].
Sobre esta poesia decorreram distâncias [AB, pp. 92-93, 25 vv.].
Solidão da noite, sensual e inquieta [PM, “Noite a desnudar-se”, pp. 164-166, 72 vv.].
Som monótono dentro do mormaço da tarde mansa [PA (CI), pp. 44-45, 23 vv.].
Somos duma condição triste [PM, “Para quê?!”, p. 141, 22 vv.].
Sonhou-o Bandarra [GMA, p. 39, 13 vv.].
…Sou um incorrigível aventureiro!... [PM, pp. 125-126, 10 vv.].
Sou mendigo e poeta [PM, pp. 106-107, 13 vv.].
Sua carne de ventos e d’asas vibrando [AB, “O Cristo dos Descobrimentos”, p. 120, 18 vv.].
Suas torres níveas [GMA, p. 61, 21 vv.].
Sublime é ser o tempo em que a pastora vem [CI, pp. 189-190, 25 vv.].
Talharam os Reis, com a sua espada [AB, p. 37, 12 vv.].
Talvez d’águas sonhem cristais d’ágata para [GMA, p. 88, 16 vv.].
Tantas vezes digo adeus [PM, p. 108, 11 vv.].
Tão calma [Vértice, nº 86, “Poema”, 20 vv.].
Tarde cinzenta… [PM, pp. 32-33, 27 vv.].
Tem uma alma este mar [PM, pp. 34-35, 20 vv.].
Tem-se trabalhado sempre com a esperança [AB, p. 75, 25 vv.].
Temos de cantar ainda [AB, p. 97, 13 vv.].
Temos este modo de ser que pode evocar uma velha nau [AB, pp. 24-25, 22 vv.].
Tenho a certeza de que há flores que sonham [PM, “O voo que trandendeu a asa”, p. 95, 11 vv.].
Tenho aventuras por causa da evasão [PM, pp. 21-22, 29 vv.].
Tenho procurado em cantos [PM, “Preâmbulo”, p. 182, 19 vv.].
Ter uma alma assim é trágico [P, nº único, “Solilóquio I”, p. 4, 16 vv.].
Teria sido Deus que encontrou a nossa [PM, “Poema distraído”, p. 162, 5 vv.].
Terras d’África, queimadas de sol [PA (CI), pp. 46-47, 27 vv.].
Terras do Sul do Save [AD, pp. 75-77, 46 vv.].
Thamar, sempre fugitiva [P, nº 20, “Thamar”, p. 7, 42 vv.].
Tira do teu espírito [GMA, p. 55, 13 vv.].
Tive também já uma aventura [PM, p. 123, 11 vv.].
Toda a força, toda a luz [PM, “Poema”, p. 99-100, 15 vv.].
Todas as coisas da natureza [AS (MT), p. 41, 14 vv.].
Todo o encanto do dia [CI, pp. 213-214, 22 vv.].
Todo o sonho é pouco e nós somos tristes [PM, “Para consolar um mendigo?”, pp. 133-134, 20 vv.].
Todo vestido de lua [AS (MT), p. 49, 18 vv.].
Todos estes poemas [PM, p. 117, 10 vv.].
Todos os nautas crucificaram a alma numa vela. [AB, pp. 69-71, 54 vv.].
Tontura de oiro e verde [PA (CI), p. 43, 14 vv.].
Traziam no íntimo o abrir d’alva [AB, “Eucaristia d’alva”, pp.133-134, 48 vv.].
Trespassado d’aves [GMA, p. 97, 7 vv.].
Tu, Mar e eu [PM, pp. 69-70, 35 vv.].
Tudo isto é tão pequeno [PM, “Rasgão no escuro”, pp. 98-99, 21 vv.].
Um búzio [PM, pp. 33-34, 37 vv.].
Um choro lancinante [P, nº 46, “Balada com Lua Morta”, p. 3, 128 vv.].
Um clima de guitarras [GMA, p. 83, 15 vv.].
Um Cristo deixou as suas mãos, escalavradas [AB, p. 68, 22 vv.].
Um Deus velou o infinito e Cristo fez-se [CI, pp. 199-200, 13 vv.].
Um eterno frémito há-de bater [PM, “Pela natureza dentro”, pp. 170-171, 34 vv.].
Um grande silêncio de vitrais [AB, p. 99, 13 vv.].
Um grito lancinante… É o fundo silêncio [AB, p. 34, 14 vv.].
Um negro, não, seu espectro [AD, p. 47, 20 vv.].
Um pássaro dentro doutro pássaro [P, nº 27, “Poema das Aves”, p. 10, 118 vv.].
Um pássaro pousou [VC, nº 8, “Três poemas para crianças”, p. 84, 8 vv.].
Um pensamento simples, quotidiano [SLDL de 5/02/937, “Domingo”, p. 13].
Um pescador que pede esmola [PM, p. 92, 8 vv.].
Um trilo de ave e a rua [AD, p. 50, 15 vv.].
Uma ave morta cai pela noite dentro [PM, “Noite”, pp. 95-96, 15 vv.].
Uma ave numa gaiola [VC, nº 8, “Três poemas para crianças”, p. 84, 12 vv.].
Uma ave sequiosa [AD, pp. 48-49, 25 vv.].
Uma cantiga salina [PM, pp. 25-26, 19 vv.].
Uma corça que cheira uma flor [AD, pp. 43-44, 36 vv.].
Uma epopeia para [GMA, p. 47, 19 vv.].
Uma fonte que canta… [AS (MT), p. 35, 13 vv.].
Uma gaivota [PM, p. 36, 18 vv; CP.].
Uma gaivota [S, nº 1, “Poema do Mar”, p. 7, 19 vv.; PM, p. 53, 19 vv.].
Uma noite, uma [AD, pp. 99-100, 29 vv.].
Uma nota solta [AS (MT), p. 47, 15 vv.].
Uma pena solta [AS (MT), pp. 33-34, 25 vv.].
Uma reserva dum azul [AB, p. 80, 17 vv.].
Uma reserva dum azul [AB, “Crucificação”, p. 131, 18 vv.].
Uma rosa caiu agora sobre o cadáver dum homem [AS (MT), p. 40, 14 vv.].
Varina fenícia de cinta tão fina [PM, pp. 31-32, 30 vv.].
Vazio de sonho [PM, pp. 68-69, 35 vv.].
Veio agora um pobre [PM, p. 116, 6 vv.].
Veja como um pássaro é lindo! [VC, nº 8, “Três poemas para crianças”, p. 84, 11 vv.].
Vejo e sinto ainda um batuque. Mocumba, o régulo, fala da noite [AD, pp. 84-88, 95 vv.].
Velaram noites como se não tivessem fim [AB, p. 54, 22 vv.].
Vêm de lá, lentos, latejantes [AD, pp. 30-31, 35 vv.].
Vem de muito longe a paisagem [AS (MT), p. 43, 12 vv.].
Venho de longe, dos confins do impreciso [PM, pp. 45-46, 40 vv.].
Versos que se poderiam esculpir em mármore. [AB, p. 43, 14 vv.].
Vibra pela fronde que se declara [AD, pp. 51-52, 21 vv.].
Vida e vida e vida! – a eterna palavra, que não diz nada [PA (CI), pp. [PA (CI), pp. 35-37, 37 vv.].
Vimos de nós mesmos [PM, “Tudo e nada”, pp. 100-101, 8 vv.].
Viver é ignorar [P, nº único, “Aves mecânicas”, p. 4, 14 vv.].
Vou dizer-te um segredo [PM, p. 112, 7 vv.].
Vou também ter pena de ti [PM, pp. 109-110, 11 vv.].
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Sortilégio Iluminado
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Tempo Decantado (Confidências da Poesia e do Poeta)
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VIANA, António Manuel Couto (1994). Colegial de Letras e Lembranças – Estudos e Memórias. Lisboa: Universitária Editora.
Resumo
António de Navarro é um dos mais assíduos colaboradores da revista presença, permitindo a sua obra, édita e inédita, a fixação de um percurso poético plural e transbordante. Muitas vezes admirável, Navarro é um poeta que urge resgatar do esquecimento.
[1] Informa Taborda de Vasconcelos (Vasconcelos, 1958: 108): “É único e exemplar o caso de António de Navarro, homem que tem vivido poeticamente, em estado de quase permanente isolamento, o tempo todo da sua meia idade civil e o da sua juventude.” Acrescenta ainda o crítico que o Poeta “vive de ausência e apagamento em face das múltiplas solicitações da vida”.
[2] E não só. Lembro, v.g. , que João Campos publicou nas Edições “Presença” um livro não despiciendo intitulado Mar Vivo (1939) com seis poemas integrados na colectânea “6 Poemas do Mar” (1939: 11-26).
[3] Franco Nogueira di-lo “um dos mais originais poetas modernos” (Nogueira, 1954: 258); João Gaspar Simões diz que António de Navarro se afirma “como um dos casos poéticos mais originais” (Simões, 1976: 304), juntando que ele “mostra uma personalidade a muitos títulos nova na poesia portuguesa” (Id., 1977: 335); Clara Rocha inclui o Poeta nos nomes importantes “do núcleo presencista” (Rocha, 2003: 68). Franco Nogueira, no capítulo VIII “Seis Poetas Maiores” da obra atrás mencionada, elege como figuras gradas Afonso Duarte, José Gomes Ferreira, José Régio, Adolfo Casais Monteiro, Miguel Torga e António de Navarro. Manuel Antunes refere-se-lhe como um poeta indispensável “do movimento modernista em Portugal” (1987: 176). Um exercício legitimador do peso de Navarro (principalmente como presencista) é, por exemplo, a mera observação empírica do “Índice de Autores” de Santarém Andrade (1980: 367-370), que permite concluir só existirem mais menções para, e pela ordem, José Régio, Adolfo Casais Monteiro, João Gaspar Simões e Fernando Pessoa.
[4] Veja-se a entrevista com o Príncipe de Judá no Diário de Lisboa de 17 de Abril de 1925.
[5] Sobre o “rótulo” apensado a Navarro e aos jovens poetas presencistas, adianta o mesmo Gaspar Simões (Simões, 1977: 142-143): “Não faltavam, porém, motivos para escandalizar a academia, a qual, ao contrário do que estipula a lenda, desmascarada por António Nobre, se gozava de créditos intelectuais, a um pequeno escol o devia. (…) O Braço de Arlequim, de António de Navarro, por exemplo, (…) arrancou uivos às alcateias de capa e batina. De facto, o que desde logo espevitou a troça e deu guita ao papagaio do escândalo foi a colaboração poética do jornal. Além de António de Navarro, que então entalava o pescoço em altos colarinhos de goma a condizer com as camisas, igualmente engomadas, o qual, pouco tempo antes, lançara um manifesto literário-artístico de tom escandaloso, exibindo-se, numa conferência pública, na sala de um teatro às escuras” (sublinhado meu). Óscar Lopes (s.d.: 749), por seu lado, informa que desse grupo do manifesto se destacava António de Navarro.
[6] António Ramos de Almeida (1945: 47) refere-se ao “futurismo formal de António de Navarro”.
[7] O texto integral do Manifesto, em que colaboraram, para além de António de Navarro, Mário Coutinho, Celestino Gomes e Abel Almada, encontra-se disponível em Os Modernistas Portugueses, 1º vol., Porto, s. d., pp. 103-118, com coordenação de Petrus.
[8] Fernando Guimarães (1977: 30) refere que tal poema terá contribuído para “aumentar um possível mal- -estar” e Maria Teresa Arsénio Nunes (1982: 16) diz tratar-se de um trecho que “marcaria a presença desta Presença”.
[9] Este Cancioneiro (AAVV, 1930) foi editado em Lisboa, pela Imprensa Libânio da Silva, tratando-se de um in-fólio de 27-I págs. A abrir informa-se: “é dedicado este CANCIONEIRO à memória dos precursores Cesário Verde, Camilo Pessanha, Ângelo de Lima e Mário de Sá-Carneiro”. Para além de poemas dos autores citados (de Cesário, integra-se “Manhans brumosas”; de Pessanha, “Poema Ninive” e “Gelo de Lim”; e, de Mário de Sá-Carneiro, “Uma das Sete canções de declínio”), a publicação encerra colaboração de Adolfo Rocha (“Inauguração” e “Triunfo”), Adolfo Casais Monteiro (“Vagabundo”, “Film” e “O que hoje”), Alfredo Pedro Guizado (“Recordando” e “Mãos de cega”, Álvaro de Campos (“Addiamento”), Fernando Pessoa (“O menino de sua mãe”, “Gladio”, “Gomes Leal” e “Canção”), António Ferro (“Rua do Oiro”), António de Navarro (“Aroma”, “Methempsicose”, “Canção da amargura” e “O automóvel azul”), António Pedro (“Quarta Feira de Cinzas”, “Canção”, “Canção quebrada a certa luz violenta” e “Diário 8º”), Augusto Ferreira Gomes (“Extrangeiro”), Augusto de Santa-Rita (“O Preto-Papusse-Papão” e “Pápim ao estudo”), Branquinho da Fonseca (“Poema duma epígrafe”), Carlos Queirós (“Barcarola”, “Intermezzo”, “Canção” e “Soneto”), Cortes Rodrigues (“Outro” e “S Ó”), Edmundo de Bettencourt (“Cómico” e “Nebulosa”), Fernanda de Castro (“Sol de Paris” e “Comunhão”), Gil Vaz (“Ophélia”, “Adeus”, “Romance” e “Azul”), Almada Negreiros (“Rondel do Alemtejo”), José Régio (“Espírito”, “O jongleur de estrelas e o seu destino” e “Frente a frente”), Luís de Montalvor (“Antiquário” e “Canção”), Mário Saa (“Xácara das mulheres amadas” e “Xácara do infinito”) e Violante de Cysneiros (“Poema”). Como se vê, a presença participa neste Cancioneiro de corpo e alma, sugerindo a obra, no plano estrutural, o critério que Casais Monteiro veio a adoptar cerca de três décadas depois.
[10] Cf. Cancioneiro, I Salão dos Independentes, Lisboa, Imprensa Libânio da Silva, 1930, pp. 4-5..
[11] Vide o nº 28 da revista presença.
[12] No nº 31-32 da presença, estampa-se, entre as páginas 11 e 13, um artigo de António de Navarro cujo título é “estudo para um ensaio – Ângelo de Lima”.
[13] Loc. cit. Eis o teor integral da peça jornalística, que, pelo manifesto interesse, transcrevo, com correcção e actualização textuais:
“António de Navarro pode considerar-se dos líricos mais belos da nova geração.
Não faz poesia pela rima, nem procura a dor como uma fácil profissão da sua arte. Vai mais longe, mais alto, descobrindo com louca ansiedade as pontes eternas da emoção, sem nunca se dessedentar, promessas de beleza divina, cantos ignorados de mistério, e cenas misteriosas de vida espiritual. Nestes rápidos dez minutos marca, impressionante, a sua personalidade.
Ides ver como:
- Como escreve?
- Resposta bem simples e bem complicada como tudo afinal aonde procuramos encontrar-nos inteiramente. Que eu responda pelo mais simples, primeiro: em aventura, isto é, sintetizando num momento, que pode surgir em qualquer parte, inesperadamente, uma longa série de transes que podem ir do físico ao espiritual. Foi a Vida que entrou em mim sem eu dar por isso e que um dia veio a revelar-se, consubstanciando-se em palavras. Essas palavras, que se organizam segundo um ritmo que a emoção criou – são a obra. Mas, se eu analisasse com mais minúcia, veria em certos momentos a minha alma fora de mim, tacteando o visível ou mesmo o invisível e senti-la-ia no regresso como a ave que precisa de libertar-se, e, novamente, tocar os centros intelectivos onde as emoções se iluminam duma nova luz.
O artista escreve, pois, sobretudo, com a alma, mas grava com a cabeça. A pena é um simples objecto acidental e de préstimo limitado; as penas, sim, essas ainda valem – levam-nas, ao menos, ao voo dramático que todo o artista precisa de sentir. Há, de facto, escritores que precisam de um ambiente. O meu são os meus sentidos que nunca dormem, e é para eles que eu escrevo, e para me libertar dum grande peso. É, afinal, e só isso – uma forma de alívio. Mas, escrevendo para mim, tudo o que eu faço é para aquele mendigo, é para aquele que olha uma rosa e não vê o mundo, e não vê mesmo no mendigo a mais formidável doutrina social. Escrevo, em última análise, e talvez subconscientemente, para ensinar, mas sem fé nenhuma, num apostolado admirável porque vai contra mim próprio, obrigando-me a acreditar, pelo menos, no mais inverosímil, para ensinar, dizia, o homem a ser bom. Isto é: a ser sensível, a ter a heroicidade de procurar na beleza, que tantos desprezam, porque a não vejam talvez, as armas duma guerra santa da perfeição e da harmonia.
- Por que não publicou ainda nenhum livro?
- Não sei bem – talvez pense demasiadamente na perfeição… e na imperfeição dos homens. E depois ainda – contos largos… Basta dizer-lhe que em Portugal só pode haver poetas ricos. Os outros, embora com valor, e não me refiro a mim, precisam de ter muita força de vontade. A Presença, por obra e graça dos meus amigos, está cheia de versos meus, versos que só me orgulham muito porque são estruturalmente meus. Sim, tenho alguns livros escritos, mas inéditos.
- O que pensa da poesia portuguesa?
- A poesia portuguesa, falo, claro, da poesia contemporânea que muito deve à Presença, e os próprios que a combateram e combatem estão hoje insensivelmente a ser influenciados pelo seu movimento renovador – é das formas literárias de que podemos sentir-nos vaidosos. É rica, variada, profunda. E todos os poetas, os que o são, procuraram em si próprios o alicerce anímico do seu edifício e, por isso, bem pouco devemos aos poetas nossos camaradas doutras literaturas. Hoje, como quase sempre. E as próprias influências individualizaram-se, criando assim uma forma inteiramente nova e distinta. Quer dizer: a força do nosso temperamento traiu aquilo mesmo que buscou. Assim com Junqueiro, com Eugénio de Castro, e por aí fora…Eu já disse quase tudo sobre os nossos poetas – pois se eles são a poesia!... Que são verdadeiramente poetas, aqueles que o são… E, coitados, são duma teimosia admirável, apesar de presos, aqui, entre a Espanha e o Oceano, não há maneira de se resignarem, e lá vão impondo como podem a sua libertação, e, naturalmente, a desta ponta a SW.
Quero, todavia, sem esquecer nenhum, lembrar o nome de Fernando Pessoa, que Portugal e o mundo hão-de descobrir um dia. E sentir-se-ão ainda os portugueses terrivelmente descobridores ao encontrarem Alguém que a vida apagou, porque lhe não sentiu aquela série de qualidades, ou de defeitos, que tornam o homem inferior para si próprio, mas superior, aparente e transitoriamente, para os outros, perante as realidades. E querem uma revelação que será enfim o mais tragicamente interessante destas dúzias de frases, pelo que tem de revelador?... esse admirável espírito ganhou toda a sua vida 300$00 mensais, e sentir-se-ia muito feliz – confessava a um amigo – se pudesse vir a ganhar seiscentos, num lugarzinho modesto em que pensou mas que lhe não facultaram. Era assim este poeta português; dos outros saber-se-á quando morreram. Há ainda um outro, felizmente vivo, que a asa daquele anjo negro da desgraça tocou mais de perto, e, por isso, e porque o esquecimento da vida tem tentado apagá-lo, eu quero deixar aqui o seu nome: é Raul Leal. É um Poeta, uma Vida, e um Carácter.
[14] Também no Diário Económico, de 18 de Outubro de 1995.
[15] Este poema “Bordel” saiu na presença nº 20, integrando mais tarde, em conjunto com “Bacanal”, “Charleston”, “Glauca”, “Os medronheiros”, “Acrobatas”, “Poemas das Aves”, “Incêndio”, “Epitáfio (Para o túmulo do poeta)” e outras duas composições sob a designação “Poema”, a antologia presencista de Adolfo Casais Monteiro, A poesia da “presença”. Estudo e Antologia, que conheceu uma primeira edição em 1959 (Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, “Letras e Artes”-7), uma segunda em 1972 (Lisboa, Moraes Editores, “Círculo de Poesia”) e a recente terceira edição (Lisboa, Cotovia, 2003), com prefácio de Osvaldo Silvestre.
[16] Jorge de Sena (Sena, 1988: 79) refere que António de Navarro era uma continuação do futurismo de Orpheu e que a sua “fascinação do vocabulário tecnicista” foi sendo superada “por uma metaforização de acumulação progressiva”.
[17] De facto, na sua Poesia portuguesa: do “Orpheu” ao Neo-Realismo, Eugénio Lisboa dedica três páginas a Navarro, consignando um menor espaço a outros poetas presencistas, o que parece indiciar alguma bondade para com o poeta, aliás, visível na entrada para Biblos (Lisboa, 1999: 1068-1069), onde a perspectiva um tanto negativa aparece matizada.
[18] João Gaspar Simões, op. cit., p. 308.
[19] Eugénio Lisboa (coordenação), Dicionário cronológico de autores portugueses, vol. III, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1994, p. 336.
[20] Osvaldo Manuel Silvestre (Silvestre, 2000: 573) recorda, sintomaticamente a propósito de António de Navarro, que essa debilidade é muitas vezes defendida, nos textos de vanguarda, «como respuesta coherente al caos interior del hombre moderno.»
[21] David Mourão-Ferreira (Ferreira, 1989: 226) defende que António de Navarro “é talvez o que mais directamente prolonga, através do pendor para a visão alucinatória, alguma herança «órfica» do Orpheu”.
[22] Adolfo Casais Monteiro, loc. cit. , p. 31.
[23] Natália Correia, em O Surrealismo na poesia portuguesa (Mira-Sintra, Publicações Europa-América, 1973), inclui António de Navarro e assinala-lhe, com base no poema “Bacanal”, uma linha surrealista de desregramento raciocinado, subsumível na designação de “interpretações delirantes”.
[24] António de Navarro é, indubitavelmente, mais um caso de desatenção literária. Não existe atinência entre o labor do Poeta e a memória reflectida. Para tal, muitas razões terão contribuído, até o malfadado malabarismo poético que lhe é atribuído. Escassamente antologiado, talvez porque actos de desleitura à sua imagem se colaram, seguem-se alguns contributos, em colectâneas fora do estrito domínio da presença, no sentido da atribuição de um lugar de reconhecimento a António de Navarro: Enzio Vólture e Gino Saviotti, Poeti Moderni Portoghesi, “Collana di Studi dell’ Istituto di Cultura Italiana in Portogallo”, Lisbona, Edizioni di “Estudos Italianos em Portugal”, 1942, pp. 82-83 (“África”); Cabral do Nascimento (sel. e notas), As mais belas líricas portuguesas, Lisboa, Portugália Editora, 1945; José Régio e Alberto de Serpa (org.), Alma minha gentil. Antologia da Poesia de Amor Português, Lisboa, Portugália Editora, 1957, pp. 313-314 (“Canção”); Natália Correia, O Surrealismo na poesia portuguesa, Mira-Sintra, Publicações Europa-América, 1973, pp. 299-300 (“Bacanal”); Rodrigo Emílio (sel. e pref.), Vestiram-se os Poetas de Soldados. Canto da Pátria em Guerra. Lisboa, Cidadela, 1973 (“Fito na noite a nossa estrela”); Vasco Oliveira e Cunha et alii (org.), “O Regresso à Condição” Viseu, ut pictura poesis, Viseu, ISPV, 2001 (“Onde a vida foi, fugitiva”). Há, no entanto, uma conclusão óbvia: a de que o Poeta perdeu visibilidade nas últimas décadas. Por exemplo, Reis Brasil, no capítulo XI “Modernismo e Tradição” da sua História da Literatura Portuguesa, depois de destacar os nomes de José Régio e Miguel Torga, abre um lugar para “Outros Poetas”, aí inserindo Adolfo Casais Monteiro e António de Navarro, com notícia circunstanciada. Em final de capítulo, diz-se: “Para findar este capítulo queremos ainda registar os nomes de Saul Dias, Irene Lisboa, Branquinho da Fonseca, Edmundo de Bettencourt, António de Sousa, Alberto de Serpa, Carlos Queirós, Francisco Bugalho e Pedro Homem de Mello.” (Brasil, 1971: 434). Este facto literário é importante e revelador.
[25] Jorge de Sena (1946: 6) integra Navarro nos antologiados que se salvam. Na página seguinte do Mundo Literário, plasma-se um anúncio às Líricas Portuguesas de Cabral do Nascimento, dizendo-se que lá se inserem “308 poesias dos 50 poetas mais representativos dos últimos 50 anos, de António Feijó aos modernos: José Régio, Vitorino Nemésio, António Botto, António de Navarro, Armindo Rodrigues, Alberto de Serpa, Miguel Torga, Branquinho da Fonseca, Casais Monteiro, etc.”. A exemplificação editorial não omitiu o caso de Navarro, o que pode indiciar a aura de prestígio que o nome do poeta concitava.
[26] As palavras são estas: “De facto, António de Navarro é poeta integral, um tão completo e puro poeta que se torna quase impossível distinguir nele o que é humano do que é poético.” (Simões, 1964: 340). Na página seguinte, João Gaspar Simões refere ser Navarro “um continuador de Ângelo de Lima ou um discípulo dos poetas gongóricos”.
[27] Fernando Cabral Martins (1994: 28) vinca esta influência e refere-se mesmo a uma citação que Navarro fez de Mário de Sá-Carneiro. Mais à frente, o mesmo académico diz que Navarro imitará os modernistas (1994: 61).
[28] Cabral Martins (1994: 128) exalça a singularidade do “Estudo para um Ensaio. Ângelo de Lima” que António de Navarro publicou no nº 31-32 da presença, salientando que a justaposição do ensaio e do poema é algo que “rompe com todos os hábitos.”