[FARPINHAS] – SETE
Há uma preguiça em tudo: mudar
não é mudar; o irrevogável é o que torna atrás e aproveita; dar a opinião é
bajular; ter caráter é mentir; intrigar é medrar; ser é não ser; fugir ao tédio
é ajoelhar baboseiras parlamentares; ter vida para além da morte é ouvir umas
ensaiadas palmas nos Jerónimos; fazer justiça é não agir; governar é ter rigor
de nada, falhar todas as contas, calcular muito bem os rigores dos outros;
baixar melancolicamente a cabeça é um rasgo de genialidade.
Os poderes não descansam,
desconfiam – acolitados de seres treinados e musculados nas academias, os
poderes espreitam, lateralizam, enviesam-se. Distantes das pessoas, pairam nos
ardis, afogando-se nediamente nos cumprimentos interesseiros.
Com o poder, o poder não tem
poder. Sem poder, o poder não há de poder fugir.
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