[FARPINHAS] – SEIS
Quando o calor vence a cidade dos
homens, pouco se pode esperar. Tudo parece feliz, repousado, indiferente.
Debaixo das tílias do Rossio, a imprensa local conversa em surdina sobre o
infausto atmosférico. Em volta, nada merece um reparo, uma investigação, um
hausto de liberdade, de independência. Os pasquins ressonam uns com os outros e
talvez se apercebam da extinção de uns cães vadios. Sob as folhas do Rossio, o
povo morre do modo que pode e ninguém vê. Há uma regularidade na imprensa que
assusta: se política, rema sempre para um dono; se informativa, repete sem
exaustão o que todos sabem.
A promiscuidade não existe, nunca
houve uma jornalista Ana Leal, nem GPS, nem tão pouco frades das Caldas. Viseu
não tem nada que saber – nem políticos, nem poderosos por aqui estendem a sua
malha. Os pasquins divertem-se a progénie da ostra, a materna e paterna, pois
claro!
O meu amigo Jorge diria estar um
calor quente. E isso é notícia, porque o sentimos na pele. Mas estranho é que
outras reações sentidas o não sejam. Na senda do progresso, não há delapidação
regional, não há nada. Os jornais dão comendas, glorificam, idolatram.
Inscritas no foro, grosseiras pegadas assinalam as corridas, os serviços, as
ligações, as ilicitudes, a desinformação.
Sem liberdade, os prelos nada
dizem, apodrecendo na rotina.
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