[FARPINHAS] – CINCO
Cantante com uma filosofia de
Offenbach, o marialva descama a sua energia contra tudo e contra todos – são
ares, modos, vestes, diferenças, indiferenças, tribalismos, ajuntamentos,
manifestações, ruídos e estranhos vigores que o indispõem. Para ele não há acasos
soberanos, só normas, só etiquetas, só rótulos. Há quem lhe chame isto, porque,
se assim, isto.
A ficção de Vergílio Ferreira
ensina que tal palavrão é equivalente do mágico vocábulo «inoque», do mesmo
modo que se assemelha à consagrada «coisa» do grande prosador Tomaz de
Figueiredo. O marialva é, em simultâneo, isto, inoque e coisa. Mas que coisa? É
vê-lo a pavonear-se seráfico vertendo usos para os homens e recatos para as
mulheres, agitação para uns e frigidez para umas. O marialva do século XXI não
ama, adora; olhando, é proprietário e sendo olhado, julga-se vítima enganada. O
marialva quase sempre desconfia, chegando a desconfiar de si. Quando reza, o
que normalmente acontece, fá-lo compungidamente como um feudal agrário
aceitando a ordem cósmica. O seu mundo são perdições e deuses cegos. Muitas
vezes, julga-se mártir, quando não consegue ferir de morte o belo sexo. O
marialva é um abusador, usa e não quer ser usado.
Dominando a teologia da cidade, o
marialva é suspeito de não respeitar e de nas mulheres ver objetos. Enamorado
de si, o marialva afogar-se-á na autocontemplação.
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