[FARPINHAS] – OITO
O processional é um caso
nacional. O processional segue, rasteja, persegue, ajoelha, prostra-se,
afunda-se, cala-se, obedece, abana mesmo a cabeça. O processional existe em
qualquer lugar português. Há mesmo uma longa fila à espreita: são bufos,
fanáticos, hesitantes, não comem nem carne nem peixe às sextas. Abusam do seu
rastejo – diminuídos, deselegantes, tarados, eles rojam-se aos pés da ordem,
beijam quaisquer poderes e engolem quaisquer críticas como vulgares petiscos,
não olham a meios e sabem os fins.
Insinuante nas praças e nos
areópagos, o processional aguenta qual atlante o seu momento. O processional
roja-se no momento certo, agitando as mãozinhas moles e abanando a cauda muito
domesticada. Em presença do chefe, o processional é mais do que sombra ou anjo
da guarda.
O processional não existe, está
em processo. O processional jaz num recesso muito ressesso.
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