2007-12-26

"A Abelha e o Natal", por Marcia Frazão


Quando o natal se aproximava, a cozinha de Virgínia misteriosamente ficava com cheiro de mel. E se você esticasse um pouquinho mais o olhar decerto avistaria uma abelha. "A rainha", como Virgínia dizia. Confesso que não era tarefa fácil encontrá-la. Havia muitas panelas, bules, xícaras, potes, tigelas, peneiras, coadores, paninhos e panões que anuviavam a vista e escondiam a danada sabe-se lá onde. Mas depois de transcorrido o tempo, entre os amassos na massa do pão , a modelagem dos biscoitos e a cascata de chocolate sobre os pães de mel, eis que surgia a fujona! Mas não pense você que a abelha era uma abelha comum. Não, a abelha da cozinha de Virgínia possuía "estranhas" propriedades. Era uma abelha mágica! Dadeira de dádivas, ouvideira de desejos. E como ela dava e ouvia! A abelha da cozinha de Virgínia gostava de ouvir as coisas que até Deus duvida e era mestra em realizar os desejos impossíveis. Aliás, quanto mais impossíveis eles fossem, mais ela se esmerava em torná-los fáceis e banais. Mas não pense você que ela dava tudo isso de mão beijada. Para tanto era preciso seguir algumas recomendações. A primeira, e talvez a mais importante, era imaginar coisas que corassem e dilacerassem as convicções. Ah, essa era tão difícil como encontrá-la em meio as tralhas da cozinha! Com um pouco de imaginação corava-se de pronto, mas dilacerar as convicções... era osso duro de roer! Mas quando a tarefa era cumprida, não havia jeito de voltar atrás. A danada cumpria a palavra! Depois, a danada sumia deixando no ar um zumbido e a impressão de que tudo não passara de um sonho. E era nessa hora que entrava em cena a magia: Virgínia retirava do forno um enorme pão de alecrim com formato de abelha."A Rainha", como ela mesma dizia! O comíamos à meia-noite do dia 24 de dezembro, regado com muito vinho e manteiga de nata. Virgínia nos pedia entâo para reservarmos o último naco e o guardássemos para a massa do pão do natal seguinte. "Coisas de Portugal", como ela mesma dizia. Não sei se pela magia da abelha ou pelo tempero de mel, o ano transcorria regado ao doce aroma de uma colméia escondida num pé de alecrim... Bem, essa é uma lembrança de natal que eu quis compartilhar com você. E também porque estou enviando a abelha de Virgínia para a sua cozinha. Ela certamente realizará todos os seus desejos e lhe trará muita alegria. Bizzzzzzzzzzzzz... Ouviu o zumbido dela? mil luas melíferas pra vc! Marcia Ops, já ía me esquecendo da receita! Segue ela abaixo:
Pão de Alecrim
Ingredientes: 1 colher de sopa de sal 1 colher de sopa de folhinhas (frescas) de alecrim 30 gramas de fermento fresco ou 2 colheres de sopa de fermento em pó cerca de 7 xícaras de farinha de trigo 2 1/2 xícaras de água 1 colher de sopa de manteiga amolecida 1 ovo ligeiramente amolecido 1 gema 1 colher de sopa de mel
Modo de Fazer: Numa tigela grande misture o sal, o alecrim, o fermento e 2 1/2 xícaras de farinha de trigo. Numa panela com capacidade para 2 litros, esquente a água e a manteiga em fogo baixo, até ficar bem quente. Adicione gradualmente os líquidos aos ingredientes secos, bata a mistura vigorosamente. Acrescente mais 3 1/2 xícaras de farinha e bata até obter uma massa macia e pegajosa. Coloque-a numa tigela e cubra; deixe crescer até dobrar de volume (uns 30 minutos). Abaixe a massa e transfira-a para uma superfície polvilhada e amasse até ficar lisa e elástica (leva uns 10 minutos). Como é difícil encontrar uma forma com o formato de abelha, sugiro transferir a massa para uma forma redonda (e pensar que a abelha deu uma engordada!), untada e enfarinhada e deixá-la crescer por uns 30 minutos. Antes de colocá-la no forno pincele com a gema batida com o mel e depois asse por 30 minutos. Ah, durante o processo, pense em coisas boas, criativas, doces como saúde, amor, trabalho, delicadeza, humanismo, ternura, compaixão... pois como já disse, o pão é mágico e a abelha; mais ainda!

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