No domingo, dia 7, o primeiro-ministro declarou: "O Partido Comunista confunde o direito de se manifestar com o direito de insultar. Não são a mesma coisa." O que será que o primeiro-ministro considera um insulto? Em Montemor-o-Velho, os manifestantes gritavam: "25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!", uma palavra de ordem um pouco arcaica, mas que não pode ofender ninguém, excepto quem queira de facto restaurar a Ditadura, ambição que ninguém suspeita (nem o PC) ao eng. Sócrates. Verdade que também se gritou "mentiroso! mentiroso!". Terá Sócrates interpretado este comentário político à diferença entre o que prometeu e o que fez como um juízo sobre a sua honorabilidade pessoal? De qualquer maneira, parece que a GNR isolou o grupo que protestava do grupo que aplaudia o primeiro-ministro, com uma "fita plástica", e, não se percebe a que título, identificou quem bem lhe apeteceu.
Terça-feira, o primeiro-ministro foi à Covilhã. Na véspera, dois funcionários da PSP à paisana "visitaram" a delegação do Sindicato de Professores da Região Centro, para se informar em pormenor sobre o que o sindicato preparava e para o prevenirem contra o uso de "linguagem" susceptível de "atentar contra a dignidade das pessoas". E, talvez como prova, levaram uma dezena de panfletos. Desta vez, Sócrates só ouviu assobios. Surpreendentemente, o secretário-geral da Fenprof achou necessário esclarecer que "a polícia não batera" (por enquanto?) em nenhum sindicalista.
O primeiro-ministro, como se não soubesse nada do que precede, afecta uma tolerância bem-humorada. "É a festa da democracia", observou ele, "há quem proteste e há quem aplauda". Ou noutra versão: "Há quem proteste e há quem governe." Infelizmente, a Procuradoria-Geral da República anunciou ontem que terminara o inquérito aos protestos contra o Governo durante uma reunião, em Guimarães, do Conselho de Ministros. Se o caso chegar a julgamento, alguns manifestantes correm o risco de ir parar à cadeia ou de pagarem uma multa considerável. Porquê? Porque não pediram a devida licença (eram à volta de 80), porque não se retiraram como a PSP mandou e porque "insultaram" o eng. Sócrates.
Tudo isto obedece obviamente a um plano para suprimir, ou reduzir, a liberdade de expressão e de manifestação, com que o primeiro-ministro nunca se habituou a viver. O dr. Cavaco e o Parlamento tomam uma grave responsabilidade se não puserem expeditivamente fim a esta tentativa de transformar o regime num autoritarismo hipócrita.
1 comentário:
acabar com isto... é uma emergência.
boa semana. bjs
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