2007-10-30

amanhece

ardes assim debaixo das vides
e nem a pique a carne prisioneira
é gota rubra contra a faca do dia.

"Guerra Peninsular: 200 Anos" - Exposição na BN


2007-10-28

GENTE SINGULAR editora





Aqui estão as duas primeiras publicações da Gente Singular editora. "Ave-Azul", associando-se ao evento, disponibiliza-se para fazer chegar os títulos aos interessados. Todas as informações sobre custos e envios serão dadas através do mail presente na página, logo abaixo.

2007-10-27

"Josep Renau. Arte y Propaganda en Guerra"



"Diálogos Oportunos" no Centro Municipal de Cultura de Castro Daire

"150 Años (1856-2006) - Teatro de la Zarzuela"



Arquitectar 07


2007-10-25

"Cata Luzes" no Cine-Teatro S. Pedro, hoje...

1º Colóquio - Voltar a Ler Tomaz de Figueiredo



O Soneto da Minha Dor


Eu que no princípio era um optimista
olhando a vida só pelo que tem de são
bem cedo mergulhei na vaga confusão
de treva onde se perde, incerta, a minha vista.

E aprendi a ser irónico e trocista
a considerar o Bem como um conceito vão
e não enxergo nada nada desde então
que mereça um olhar do meu olhar de artista.


Tudo é vaidade, fumo negro, sombra vaga
no temporal do oceano escuro desta vida
que vai quebrar, não sei em que remota plaga.


- Como dizias bem, ó Salomão, meu Sábio,
não há nada que valha a náusea incompreendida
no rictus indiferente e crasso do meu lábio.

Coimbra, 1923

2007-10-16

"Diccionario de las Vanguardias en España 1907 - 1936" e "Cuatrocientos años de Don Quijote por el mundo"


En este diccionario, Juan Manuel Bonet, escritor y crítico de arte, reúne el fruto de muchos años de investigaciones en torno al fascinante mundo de las vanguardias españolas. Las artes plásticas, la arquitectura, la fotografía, la poesía, la novela, el teatro, el ensayo, el diseño gráfico, la música, la danza y el cine. Ningún campo queda fuera de esta obra en la que se subrayan las conexiones más inesperadas, y en la que junto a las figuras mayores (Picasso, Juan Gris, Julio González, Torres García, Miró, Dalí, Ramón Gómez de la Serna, Lorca, Buñuel, Josep Lluis Sert, Mompou...) desfila una multitud de personajes menos conocidos, algunos de ellos extremadamente atractivos. Quien quiera conocer el pulso moderno de los años diez, veinte y treinta españoles debe acudir a estas páginas, en las que se encontrará lo mismo con los pintores del realismo mágico madrileño que con los arquitectos del GATEPAC, los poetas ultraístas sevillanos o los humoristas de Hollywood; lo mismo con los surrealistas canarios o los compositores influenciados por Schönberg o por Satie que con los fotógrafos de las Misiones Pedagógicas o los decoradores de La Barraca; con La Gaceta Literaria lo mismo que con Nós, los comunistas de Octubre, los falangistas donostiarras de GU o los liberales orteguianos, los socialistas o los anarquistas. Tampoco falta una amplia representación de los extranjeros que aquí trabajaron: rusos de los ballets, cubistas y dadaístas franceses, formistas polacos, poetas argentinos o peruanos, pintores uruguayos, fotógrafos alemanes, espías en Mallorca, veraneantes en Ibiza...Un libro, en definitiva, de indispensable consulta y el primer diccionario completo y riguroso de esos años, que muchos leerán como un relato apasionante y novelesco
Alianza Editorial2007
Encuadernación en cartoné 25x18
654 páginas Ilustraciones
50.0 euros



El número 45 de la Revista Poesía se dedicó de forma monográfica a El Quijote, e hizo las veces de catálogo de la exposición, con su mismo título: más de seiscientas imágenes en color y varios cientos de textos de todas las épocas referentes a la obra maestra de Cervantes. Este volumen se completa con la publicación de una separata que incluye todas las piezas presentes en la exposición junto con un breve texto de los comisarios y las fichas técnicas que de las piezas que se pudieron ver en la exposición.
Edita:Gonzalo Armero Sociedad Estatal de Conmemoraciones CulturalesTF Editores, 2005 Encuadernación en rústica 27x21 cm 408 páginas
45.0 euros

Aquisições Queirosianas na BN

2007-10-14

"Acabar com isto. Depressa.", por Vasco Pulido Valente ("Público" de 12 de Outubro de 2007)

No domingo, dia 7, o primeiro-ministro declarou: "O Partido Comunista confunde o direito de se manifestar com o direito de insultar. Não são a mesma coisa." O que será que o primeiro-ministro considera um insulto? Em Montemor-o-Velho, os manifestantes gritavam: "25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!", uma palavra de ordem um pouco arcaica, mas que não pode ofender ninguém, excepto quem queira de facto restaurar a Ditadura, ambição que ninguém suspeita (nem o PC) ao eng. Sócrates. Verdade que também se gritou "mentiroso! mentiroso!". Terá Sócrates interpretado este comentário político à diferença entre o que prometeu e o que fez como um juízo sobre a sua honorabilidade pessoal? De qualquer maneira, parece que a GNR isolou o grupo que protestava do grupo que aplaudia o primeiro-ministro, com uma "fita plástica", e, não se percebe a que título, identificou quem bem lhe apeteceu.
Terça-feira, o primeiro-ministro foi à Covilhã. Na véspera, dois funcionários da PSP à paisana "visitaram" a delegação do Sindicato de Professores da Região Centro, para se informar em pormenor sobre o que o sindicato preparava e para o prevenirem contra o uso de "linguagem" susceptível de "atentar contra a dignidade das pessoas". E, talvez como prova, levaram uma dezena de panfletos. Desta vez, Sócrates só ouviu assobios. Surpreendentemente, o secretário-geral da Fenprof achou necessário esclarecer que "a polícia não batera" (por enquanto?) em nenhum sindicalista.
O primeiro-ministro, como se não soubesse nada do que precede, afecta uma tolerância bem-humorada. "É a festa da democracia", observou ele, "há quem proteste e há quem aplauda". Ou noutra versão: "Há quem proteste e há quem governe." Infelizmente, a Procuradoria-Geral da República anunciou ontem que terminara o inquérito aos protestos contra o Governo durante uma reunião, em Guimarães, do Conselho de Ministros. Se o caso chegar a julgamento, alguns manifestantes correm o risco de ir parar à cadeia ou de pagarem uma multa considerável. Porquê? Porque não pediram a devida licença (eram à volta de 80), porque não se retiraram como a PSP mandou e porque "insultaram" o eng. Sócrates.
Tudo isto obedece obviamente a um plano para suprimir, ou reduzir, a liberdade de expressão e de manifestação, com que o primeiro-ministro nunca se habituou a viver. O dr. Cavaco e o Parlamento tomam uma grave responsabilidade se não puserem expeditivamente fim a esta tentativa de transformar o regime num autoritarismo hipócrita.

"O Panteão da Memória", por Vasco Graça Moura ("DN" de 10 de Outubro de 2007)


Num tempo e num lugar de descasos sucessivos e clamorosos em relação à cultura, justifica-se plenamente tudo quanto contribua, mesmo que a título póstumo, para chamar a atenção para uma obra de importância cultural inegável. A trasladação de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional não é todavia a melhor homenagem que se poderia ter-lhe prestado e o autor de O Malhadinhas não ficou a ganhar muito com isso. Não é de crer que a pompa cívica dos rituais de Estado lhe tenha trazido mais leitores e essa é que seria a consagração essencial.
É-me indiferente que Aquilino tenha ou não pertencido à Carbonária, ou tenha ou não participado no Regicídio. Cita-se o que escreveu em Um Escritor Confessa-se, mas as especulações podem também prender-se com a interpretação excessiva de uma página do cap. XIII de Lápides Partidas em que o narrador reconhece ter desejado a morte de D. Carlos. E só neste sentido é que ele diz "que ninguém o saiba, mas eu ajudei a matar o rei, confesso-o aqui à mesa da consciência".
O que não me é absolutamente nada indiferente é que ele tenha sido um grande escritor da nossa língua. Se há aspectos mais frágeis na sua obra (e ocorrem sobretudo quando ele trata a burguesia urbana), há nela também muitos momentos verdadeiramente geniais: Aquilino inventou prodigiosamente a Natureza e o mundo da província, os homens e os bichos, as paisagens e as plantas, as vistas, os sons, os cheiros, os sabores e as texturas da ruralidade profunda de um pequeno país chamado Portugal.
O panteão para os grandes criadores da cultura é o da memória. É nele que está Luís de Camões, cujas ossadas só muito improvavelmente se encontram nos Jerónimos por tudo levar a crer que houve um equívoco quanto ao lugar de onde foram exumadas no século XIX. Camões figura nesse panteão da memória (onde também quem não o leu ajudou a colocá-lo...) não apenas por quanto escreveu, mas ainda por ter acedido ao estatuto muito mais complexo de verdadeiro mito identitário. E é na memória que quase todos os vultos maiores da cultura portuguesa (e afinal não são muitos) lhe fazem companhia. Suprema e póstuma ironia, os restos mortais de Pessoa, também nos Jerónimos, começaram por não caber na urna que tinha sido destinada para o efeito...
Recentemente, António Lobo Antunes publicou na Visão uma crónica extraordinária e comovente sobre Miguel Torga. É um dos melhores textos que eu já li sobre Torga e, para o que estou a dizer, creio que se trata de um bom study case. Lobo Antunes fala da sua própria experiência vivida, das marcas que lhe ficaram das suas juvenis incursões torguianas e do inevitável distanciamento que, enquanto escritor, veio a ganhar quanto à obra dele. Mas o seu funcionamento da memória envolve o autor de A Criação do Mundo numa manifestação de afectuoso respeito e de gratidão plenamente assumida pelo enriquecimento que a sua obra lhe tinha proporcionado e pela sua profunda e honrada ligação a Portugal.
O panteão da memória é exactamente assim, interactivo com o que somos. Vai-se lá parar por um juízo que a sociedade e o tempo filtraram selectivamente. Funciona, disponível e fecundo, como condição de identidade e de consistência. Dá-nos uma razão de ser. E requer menos pompas oficiais do que bons programas escolares.
Ora acontece que os programas escolares têm vindo a esvaziar, intencional, equívoca, progressiva e metodicamente, o panteão da memória. Não falam nem querem que se fale de quem o ocupa de pleno direito. Não apetrecham os seus destinatários com os instrumentos mínimos necessários para que eles compreendam a obra de quem lá está. Apostam no esquecimento e agora, potenciados com o novo-riquismo dos recursos da tecnologia, é de recear que apostem ainda mais.
A 5 de Outubro, o Presidente da República recordou o ideal educativo do regime iniciado em 1910, apontou a escola como base da verdadeira inclusão social e do desenvolvimento e sublinhou as responsabilidades, tanto do Estado como da sociedade civil, no tocante à Educação.
O panteão da memória é uma pedra angular desse sistema em que todos somos responsáveis. A escola não pode ser transformada em panteão da... desmemória!

fim de acto

é assim a infância uma espada ladrando
sobre o verde do tempo e das brisas
também um doce embalo nestas águas
onde se espelha o negrume das rosas
e a saliva dos ávidos lábios gelados.

como uma túnica manto negro desce.

2007-10-12

queda

então no fundo os olhos abro
e certo estou do que não sou
fora de declinado gelo estou
e os ossos o lume chamam
dentro dos dentes cintila
breve preceito de goethe
mas ao contrário pois brilha
um trágico libertino até
como na história de marlowe
prisioneiro em poço negro
em demoníaca grandeza
assim na música e no mais.

mephisto

desço ao fundo do mar ao abismo
e do gelo faço um cárcere fundo
como se dentro da noite líquida
então uma estaca abrisse o peito.

da água um vestígio um mar de sangue.

2007-10-11

Romarina Passos no Museu Grão Vasco


"Maddie, o iPhone e Aquilino", por Pedro Boucherie Mendes ("NS'" de 29 de Setembro de 2007)


0 MUNDO AO CONTRÁRIO


Maddie, o iPhone e Aquilino



Afinal, a obra de Aquilino lê-se tão bem, com tanto interesse e acima de tudo com tanta frequência como as notícias sobre Maddie ou o iPhone




1. Para mim, muito (mas mesmo muito) mais incompreensível e irritante que o exagero mediático no caso Maddie são as abundantes notícias sobre o iPhone, o primeiro telemóvel lançado pela empresa americana Apple. De facto, e embora noutra escala, o iPhone está em todo o lado e, como no caso Maddie, tudo sobre o iPhone serve de notícia. Para se ter uma vaga ideia da histeria, num jornal português de referência de há uns dias havia quase uma página inteira dedicada ao facto de o iPhone vir a ser distribuído em Inglaterra (!) pela empresa O2 (!). No dia anterior, já tinha visto no Telejornal da RTP uma notí­cia similar sobre o preço do iPhone no Reino Unido! Sim, leram bem, uma notícia num telejornal português sobre quanto vai custar um telefone em Inglaterra! E no dia seguinte fiquei a saber por um 'site' também português que o iPhone chegaria à Alemanha através da Deustche Telekom. O cúmulo é que esta enxurrada de notícias e novidades sobre o iPhone é a terceira vaga. A primeira tinha sido quando o telefone foi anunciado, a segunda quando o telefone foi efectivamente posto à venda nos Estados Unidos, sendo que esta antecipa a sua chegada à Europa.


Muita gente disse (e disse bem) que Maddie não é mais do que as outras crianças desaparecidas inexplicavelmente. Pois bem, o iPhone também nada tem que o distinga de outros telefones. Nada. Zero. Nadinha. Na verdade, as suas funcionalidades e potencialidades existem noutros telefones de outras marcas e há até telefones muito melhores e muito mais baratos que este iPhone. Não sei se os Portugueses de uma forma geral estão ansiosos pelo iPhone, mas tenho a certeza de que os jornalistas não andam a conseguir dormir.



2. Alguns estúdios de Hollywood e alguns canais de televisão americanos já recorrem a sofisticados modelos matemáticos que tentam prever o sucesso de um determinado filme. Para se apurar se o filme resulta na bilheteira são introduzidas variáveis do tipo "actriz ruiva" ou "vilão latino" e então o 'software' recorre a uma gigantesca base de dados onde estão todos os filmes já feitos e já estreados e dos quais já se conhece a 'performance'. O veredicto sobre os projectos chega ao extremo de dizer aos produtores que se mudarem a cor do cabelo da actriz as probabilidades de sucesso podem ser maiores.


O caso McCann é assustadoramente próximo destas ficções estilizadas. Se fosse um filme, de certeza que um 'software' diria que a mãe deveria levar sempre consigo uma recordação da filha ou que seria mais dramático e intenso se a criança desaparecida tivesse sido concebida por inseminação artificial.


Talvez seja por preencher todas as gavetinhas das nossas expectativas que este caso esteja a sobreviver na primeira linha da actualidade e não porque os media possam estar a exagerar. Até agora, tudo parece decorrer segundo um qualquer plano, como se estivéssemos a assistir a uma novela da vida real.




3. Aquilino Ribeiro no Panteão deu pano para muitas mangas e para mais uma demonstração da tão portuguesa hipocrisia cultural. De repente, Aquilino, como muitos outros mortos ilustres, é um exemplo esmagador da superioridade das letras nacionais que toda a gente (menos eu) lê com assiduidade, gosto e entusiasmo. Afinal, a literatura portuguesa do cânone não é chata, circular, hermética e desnecessariamente complexa e por isso ignorada por todos, sobretudo pelos Portugueses. Afinal, e o que ouvi e li prova-o, a obra de Aquilino lê-se tão bem, com tanto interesse e acima de tudo com tanta fre­quência como as notícias sobre Maddie ou sobre o iPhone.

2007-10-10

Regicídio no último "Expresso" - texto de José Pedro Castanheira

Regicídio /Centenário. Um livro sobre o assassínio do rei D. Carlos permite estabelecer as ligações familiares entre os conjurados de há cem anos e algumas figuras públicas da actualidade. A começar pela própria família real... Trisavô de Herédia armou os regicidas

Envolvidos antepassados de Carlos Barbosa e de Sáragga Leal

As armas utilizadas pelos assassinos do rei D. Carlos e do príncipe Luís Filipe foram compradas e guardadas pelo visconde da Ribeira Brava, Francisco Correia de Herédia. O trajecto das armas, desde que foram encomendadas, até aos seus disparos mortais, constam do livro ‘Regicídio. A Contagem Decrescente’. O autor, o jornalista Jorge Morais, não diz, mas Francisco Herédia é trisavô paterno de Isabel Herédia, actual duquesa de Bragança. Sem dúvida uma ironia da História...
O título de visconde da Ribeira Brava foi criado em 1871 pelo rei D. Luís, para agraciar António Correia de Herédia (1822-1899) pelo trabalho humanitário desenvolvido na ilha da Madeira; par do reino, fora deputado, presidente da câmara e governador civil do Funchal. António Herédia, no entanto, sugeriu que o título fosse atribuído ao seu único filho varão, Francisco. Este, porém, revelar-se-ia um activo conspirador contra a monarquia. Notável do Partido Progressista, em 1905 acompanhou o seu chefe de fila e ministro da Justiça, José Maria de Alpoim, na ruptura com o partido. Nasceu então a Dissidência Progressista, que cedo se aproximou do Partido Republicano. No combate sem tréguas contra a monarquia, republicanos e ‘dissidentes’ criaram um comité revolucionário: Afonso Costa e Alexandre Braga de um lado, Alpoim e Herédia do outro.
A primeira reunião do comité realizou-se a 11 de Julho de 1907 em casa do próprio Ribeira Brava. Diz-se que aí nasceu o movimento revolucionário de 28 de Janeiro, destinado a depor o chefe do Governo e ditador, João Franco. Baseado em algumas das obras clássicas sobre o regicídio, Jorge Morais sustenta que o armamento adquirido foi financiado, entre outros, por Egas Moniz, Alfredo Leal, João Baptista de Macedo, José de Alpoim e os viscondes da Ribeira Brava e do Ameal, além de ilustres figuras republicanas, como José Relvas. Era gente quase toda pertencente à Maçonaria e mesmo à secreta Carbonária.
Parte substancial do armamento foi encomendado a Gonçalo Heitor Ferreira, ele próprio um carbonário, com loja vizinha da estação do Rossio. O pedido foi feito à Casa Monkt, de Hamburgo: nove carabinas Winchester, de calibre 351, e um lote de pistolas FN-Browning, 7,65. Reservadas em nome de Francisco de Herédia, foi o próprio quem as pagou e levantou já em Janeiro de 1908. As armas foram guardadas nos Armazéns Leal, na Rua de Santo Antão, sede da actual Casa do Alentejo. A polícia, no entanto, desconfiou e a 20 de Janeiro realizou uma busca ao imóvel. Informado a partir da própria polícia, Afonso Costa telefonou ao proprietário, Alfredo Leal, que logo montou com o amigo visconde um esquema para retirar as armas pelas traseiras. Enroladas em tapetes, foram transportadas pelo próprio Alfredo e pelo filho José Sáragga Leal até à Calçada de Santana, onde Herédia os esperava, numa viatura. Dali, as armas foram para casa do visconde, onde ficaram a recato. Mais tarde, transitaram para casa de Luís Grandela, na rua do Desterro, onde Alfredo Costa, o líder do comando regicida, as terá levantado. Com a família real em Vila Viçosa, o dirigente republicano João Chagas reuniu-se, a 10 de Janeiro, com o visconde, para ultimar a revolta. A polícia, porém, estava atenta e uma vaga de prisões quase decapitou a liderança republicana. Afonso Costa passou a dirigir as operações, apoiado nos dissidentes monárquicos Alpoim e Herédia. A 27 de Janeiro, o plano foi ultimado, num encontro na já citada casa de Luís Grandela. Acossados, mas simultaneamente confiantes, Afonso Costa e o visconde optaram pelo assassínio do ditador João Franco, a ser consumado no dia imediato, 28. O golpe - também conhecido por ‘intentona da biblioteca’ -, viria, no entanto, a fracassar redondamente. Seguiram-se novas prisões - incluindo Afonso Costa e o visconde. Quanto a Alpoim, fugiu do país, ao que consta com o beneplácito do próprio rei D. Carlos.
Falhado o movimento de 28 de Janeiro e decapitada a respectiva liderança, um comando carbonário passou a actuar por sua conta e risco. O desfecho foi o regicídio, a 1 de Fevereiro. Os seus contornos exactos não são completamente conhecidos. Com efeito, o processo judicial aberto pelo I Governo de D. Manuel, e prosseguido pelas autoridades da República, desapareceu. Sabe-se, porém, que as armas do crime pertenciam ao lote comprado pelo trisavô da duquesa de Bragança. A Winchester n.º 2137 foi a carabina com que Manuel Buíça matou o rei D. Carlos; e a pistola Browning nº 349-432 foi utilizada por Alfredo Costa contra o príncipe Luís Filipe.
Com a República, o visconde da Ribeira Brava foi nomeado governador civil de Lisboa. Morreu assassinado em Outubro de 1918, numa das disputas em que a República foi fértil. José Maria de Alpoim, por seu turno, foi adjunto do Procurador Geral da República.
Como se viu, o visconde é trisavô de Isabel Herédia. Quanto a Alpoim, é tio-bisavô do actual presidente do Automóvel Clube de Portugal, Carlos Alpoim Barbosa. A família, a avaliar pelas declarações de Tomás Alpoim, desconhecia a sua participação na conjura. “Ninguém da família ouviu falar dessa história”. Outro descendente ‘ilustre’ dos conjurados de há cem anos é Luís Sáragga Leal, sócio fundador da PLMJ (uma das maiores sociedades de advogados) e bisneto do dono dos Armazéns Leal. “Sabia-se que o meu bisavô Alfredo era um rapaz com ideias republicanas muito avançadas, mas ignorava essa história das armas”.
Entre os financiadores da conjura, há outros nomes conhecidos. Egas Moniz, por exemplo: é o próprio Nobel da Medicina. E o ‘africanista’ João Baptista de Macedo é um antepassado dos actuais duques de Lafões, que constituem uma outra linhagem dos Braganças...


infografia de Sofia Miguel Rosa

fotos de João Carlos Santos

"O MEC foi à festa do Avante" - texto de MEC na "Sábado" de 13 de Setembro

foto de Adriana Santos








2007-10-09

Miguel Torga (1907-1995): A Voz do Chão na BN


Posguerra: Publicidad y Propaganda (1939-1959)


En conjunto, la exposición -que se ve reflejada en este catálogo- organizada por el Círculo de Bellas Artes y la Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales (SECC), consta de más de 300 originales y en torno a otras 300 reproducciones digitales, que se muestran en un recorrido siguiendo un criterio temático y cronológico. Observaremos claras huellas de desigualdad social aguda en el contraste entre los bloques publicitarios dirigidos a los pocos que pertenecían a la clase más favorecida y los bloques dirigidos a las extendidas clases populares, evidenciando las enormes carencias alimentarias y sanitarias de estas últimas. Los almacenes populares (como SEPU, Simago o Capitol) anuncian sus promociones y rebajas, mientras los grandes almacenes emergentes (Galerías Preciados y El Corte Inglés) identifican en su clientela elegancia, distinción, calidad, buen gusto.Otros apartados reflejan los avances en transporte (el TALGO, los camiones Pegaso, los microcoches como el Biscuter o el SEAT 600), la moda en ocio (las ?boîtes, el cóctel, los ?barman? como Perico Chicote, los espectáculos y otras formas de entretenimiento), la imagen a menudo estereotipada de España (con morenas gitanas, toreros y guitarras) y los anuncios más emblemáticos (el toro de Osborne, la botella de Tío Pepe, etc.) Índice:La Posguerra en imágenes. Susana SuerioPolítica propagandística del nuevo Estado: El control de la propaganda comercial. Francisco Sevillano CaleroEn el temor de Dios: nacionalcatolicismo y reconquista cristiana. Javier Muñoz SoroRetroceso legal, educación católica y socialización fascista: la construcción de la feminidad en el franquismo. Ángela CenarroConsolar la mala vida. Jordi GraciaEl color del cartel en una España gris. Carlos VelascoNotas biobibliográficas
Edita:Círculo de Bellasa ArtesSociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales200726x21325 páginasFotografías
30.0 euros

"'Atlas"


Programação Cultural do Município de S. Pedro do Sul


2007-10-08

"Efémero", por Mário Cláudio




Ausente do país no dia da trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro, empreendida com a oportuna e possível solenidade, e correndo hoje o risco de me revelar jornalisticamente incorrecto, insisto em recolocar os temas da persistência do nome, e da duração da obra. Figura de intransponível referência para duas gerações, Aquilino não terá recebido o que merece, mesmo votada ao esterco a baboseira de um insulto à qualidade da sua escrita, largada por um dos habituais contabilistas do talento que não possuem. E a honra da sua memória que deveria ter sido operada por eventos menos ostentatórios, mas de certeza mais afáveis ao autor de 'A Casa Grande de Romarigães', continuará por algum tempo ainda a clamar por melhor defesa.
A geração a que pertenço, e que se situa agora entre os feiticeiros da tribo e os guerreiros recém-circuncisos, acostumou-se a erigir um punhado de vultos, e a atribuir-lhe, o que constitui recorrente impulso da juventude, a indiscutível eternidade. Ferreira de Castro alcandorava-se como campeão de vendas, e como o português mais traduzido, o que necessariamente lhe valeria a irritação da crítica pátria, desvalorizando-o por 'escrever mal'. Mas incluíam-se também no friso José Régio e Miguel Torga, divididos ambos entre prosa e poesia, e zurzidíssimos pelos recenseadores, e logo depois Fernando Namora, um 'comercial', malquisto pelos bem-pensantes, e Carlos de Oliveira, mais ou menos fustigado até à publicação em 1978 de 'Finisterra', título que uma ensaísta profetizou que bloquearia a nossa literatura ao longo dos cinquenta anos seguintes. Os marginais, aqueles que não contribuíam para engordar a bolsa dos editores, como Irene Lisboa e Vitorino Nemésio, quando não intervinham motivos políticos, suscitavam entretanto geral aplauso nas colunas da imprensa.
O que sobeja destes maiores, e daquilo que produziram, que nos esclareça acerca da sobrevivência da sua obra, ou sequer da lembrança do seu nome? Não será fácil averiguá-lo num país onde escasseiam os estudos de sociologia da literatura, e onde falta a investigação na área da sociologia da leitura. Mas sabe-se que, exceptuando-se um mínimo de casos, o de Régio, o de Torga, ou o de Irene Lisboa, objectos de planos editoriais, na sua quase globalidade mais destinados a estudiosos do que a "tutti quanti", a maciça bibliografia dos citados acha-se inencontrável nas prateleiras das livrarias.
Transferidas para o Panteão Nacional, as ossadas de Aquilino Ribeiro irão fazer companhia às de Almeida Garrett, de João de Deus, de Teófilo Braga, e de Guerra Junqueiro, todos eles depositários dessa estima sem afecto, segregada pelos amantes da monumentalidade, indiferentes às razões da inteligência, ou da imaginação. E é por regra no falso respeito aos fetiches que se apoia a homenagem farfalhuda, de costas deliberadamente voltadas à continuidade da vida, isto sobretudo quando esta exige um esforço de alma, ou um risco de capitais. Ter-se-á por isso festejado um onomástico, ou terá descido a segunda pedra tumular sobre um esplêndido batalhador das letras?
Conheci um coleccionador de livros e curiosidades que por alturas de uma outra trasladação, a de Florbela Espanca, do cemitério de Matosinhos para o de Vila Viçosa, havendo subornado um coveiro, conseguiu que lhe fossem parar às mãos uns quantos ossinhos da sonetista, nos quais se engastavam farrapos de um vestido de brocado branco. Retirava-os de uma caixa de cartão que guardava num armário por baixo do televisor, e exibia-os com um orgulho a que não faltava o meio sorriso do divertimento. Os restos mortais de Aquilino, a quem me sinto ligado pelo mais duradouro dos convívios, o que resulta do encontro na página impressa, esses pelo menos ninguém os vê. [Expresso, 05 de Outubro de 2007]