OS LIVROS DE 2013: Manuel Gusmão,
Pequeno tratado das figuras, Lisboa,
assírio & alvim, 2013 [fevereiro].
É um raro tratado poético este
livro. Dividindo-se em «O caderno das paisagens», «Os desenhos do escultor ou
notas sobre o trabalho da inspiração – um poema em memória do Jorge Vieira»,
«No labirinto das imagens – o que falta para serem um filme?», «Filmar o vento»
e «A pintura corpo a corpo – os corpos da pintura; pintores pintados», o Pequeno tratado das figuras de Manuel Gusmão
exalta-se em movimento de aracne, desvelando a tapeçaria, a armadilha textual
que é composta por «Ramos lianas folhas e fios» (p. 11) que tecem «a clara
teia» que envolve, enreda e devém memória como marca de água na página em
branco que deseja permanecer. Como Anteu, é na terra que a poesia ganha força,
é aí que as palavras queimam e dizem «do surdo clamor/ do mundo, do vivo
enquanto vivo» (p. 21).
Áspero, duro, pleno de marcas e
cicatrizes, o «tratado» abre-se ao olhar, homenageia em memória a criação (de
Jorge Vieira, por exemplo) e capta os inícios da possibilidade. As palavras são
tintas sobre tintas, inscrições sobre inscrições devindo. Criado, o poema
mostra a metalurgia, a fuselagem, as figuras da criação e o vento hábil. Perto,
os desenhos e as pinturas são sangue, «corpos / atómicos, em relevo nas margens
da luz, / estremecendo crepitantes» (p. 39).
Fundo, este Pequeno tratado das figuras é grande como tudo o que é essencial –
a arte, v.g.
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