As «Cartas da Montanha» (1955) são, para mim, um poderosíssimo livro do «Mestre de nós todos». A primeira entrada, de título «Recordação do Porto» e datada de 1948, é dedicada ao Porto, ao Palácio de Cristal e principalmente a um primeiro encontro com Mestre Artur Loureiro, que é aqui motivema poético e central. Transcreva-se o «explicit» e aprecie-se o rigor poético de uma prosa enxuta, quase única:
«Despedi-me do Mestre. Despedi-me do velho que só tomava leite para ter saúde e se erguia cedo para trabalhar. Despedi-me do profissional que elogiava o "amador" e lhe queria a ponto de lhe negar a doença para se consolar. Despedi-me do Palácio e esqueci o bonde. Esqueci-me de tudo quanto era feio. Desci a pé até à "Brasileira". Tomei café. Próximo da minha mesa, numa tertúlia, enterravam-se vivos os homens de talento.» [João de Araújo Correia, «Cartas da Montanha», Régua, Imprensa do Douro, 1955, pp. 15-16].
Noite fulgurante, Mestres Artur Loureiro e João de Araújo Correia!
Sem comentários:
Enviar um comentário