2013-12-18

OS LIVROS DE 2013: Herberto Helder, «Servidões», Porto, Assírio & Alvim, 2013 (maio).


OS LIVROS DE 2013: Herberto Helder, Lisboa, Assírio & Alvim, 2013 (maio).

Inconcluso e decetivo relativamente ao que é uma cabeça, como o diz o paratexto inicial, é toda uma cerebralidade memorial que logo ascende na «prosa» inicial (pp. 9-18) – é um tempo devastado, fundo, mineral e zoológico que povoa a meninice e o adolescer lá longe, é até um eco brandoniano que se despega fulgurante do fundo da primeira página: «Uma noite acordei com o som dos meus próprios gritos» (p. 9). Orgânicas, febris, pérfidas, perversas, quentes, na cabeça todas as imagens devinham mágicas e ácidas, como um antiquíssimo bestiário maligno e redentor. Não falta aí sequer o rito vergiliano do espanto especular. Desde aí, uma espessa cicatriz de liberdade e de insujeição não mais deixará o poeta.
A  poesia diz-se herbertianamente «nunca uma chegada seja ao que for» (p. 12) e uma difusão dos chamados «ganhos fundamentais». Devorante, sem mundo material, eis a limpidez da gramaticalidade.
Observando-se, o Poeta interroga as suas servidões («dos trabalhos do mundo corrompida / que servidões carrega a minha vida» [p.19]), os caminhos da desmemória e um à frente suspenso: « e eu esteja atrás vivendo desse próprio esquecimento, / a mão cortada, cortado o nome, além da morte escrita, / pelo buraco da voz o nome escoado para sempre» (p. 117).

Fulgurante, em história poética fulgurantíssima, como não ficarmos presos por estas Servidões de Herberto Helder?

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