2012-01-24

sem tempo já

gelo nos dedos e um difuso timbre
embatem nas nervuras mais íntimas
e apenas um inaudível ressoar de águas
vai invadindo o fanal das unha os ossos
gementes afundam no corpo na bruma.

que mar a pique dentro do náufrago
que solidão te leva à mais urgente acédia
à lassidão da terra à efusão dos líquidos?

o orvalho longe fende a terra afundo
até às vísceras do fogo feixe imenso
plantado na forja no dentro do coração
uma espinha lanceta o músculo que
sangra cerce a vontade levando ao chão
todas as magnólias como se nos ciprestes
não houvesse vinagre só esperanças…

a chuva dos séculos tudo recobrirá um dia
e quando não houver tempo nem memória
talvez as palavras já não existam só inefável
esse momento inexistente único do fazer-se
poema abrindo-se sobre lençóis impolutos.

que valem as palavras sem tempo? – pergunto.

sem tempo já beijo o espelho a memória disso.

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