2012-01-14

BAIRRO SOCIAL DE PARADINHA: NEM “GUETTO”, NEM ZONA DE EXCLUSÃO POSTAL! FALTA UMA POLITICA MUNICIPAL INTERCULTURAL - Texto de Carlos Vieira e Castro


Na perspectiva da cidadania não se pode tolerar que a agressão a carteiros (um caso de policia que deve ser investigado, julgado e punido) sirva de pretexto para criar uma “zona de exclusão postal” no Bairro Social de Paradinha, onde vivem cidadãos de diferentes etnias, “pagando o justo pelo pecador” (os justos não se separam por etnias, nem os “pecadores” têm sinais distintivos como os judeus estigmatizados pelos nazis ou pelos bispos portugueses dos Sécs. XV e XVI). Ambos são cidadãos e munícipes com direitos e deveres.  Que o problema só tenha inquietado a Câmara Municipal de Viseu quando os CTT a informaram que a PSP deixara de disponibilizar agentes para acompanhar os carteiros, como se fosse normal que há cerca de um ano os moradores do bairro só recebessem o correio duas vezes por semana, é sintomático de uma politica que aceita a existência de “guettos” no seu território.
            Numa perspectiva sociológica há que encarar as particularidades culturais da etnia cigana de grande parte dos moradores daquele bairro social. Acontece que o município de Viseu desprezou o convite que o Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural enviou para todas as autarquias, em Setembro de 2009,  para se candidatarem ao PROJECTO MEDIADORES MUNICIPAIS, um programa de formação de mediadores  interculturais,  para promover a comunicação entre ciganos e a comunidade envolvente e a prevenção e gestão de conflitos. Já se candidataram ao projecto 24 autarquias, tendo as 13 da primeira fase feito uma avaliação muito positiva da acção dos seus mediadores, ciganos e ciganas, jovens e menos jovens, que integrados em equipas interdisciplinares constroem canais de dialogo entre culturas, estimulando a participação da sua comunidade nos processos de decisão e desafiando a maioria a partilhar os recursos, negados a pretexto da resistência das minorias à integração /assimilação.
            A Associação OLHO VIVO já deu formação a Mediadores Culturais ciganos em Braga, no Bairro do Picoto.  Os mediadores e as mediadoras culturais, ou os mediadores e mediadoras municipais interculturais de etnia cigana são formados para, através do diálogo entre a comunidade cigana e  a comunidade escolar, que devem sensibilizar para o conhecimento da história e cultura cigana,  promoverem o papel da escola na valorização individual dos ciganos e da auto-estima da sua comunidade, contrariando práticas,  que a “tradição” não pode validar, de abandono escolar e de casamentos precoces e ilegais de menores de 16 anos, em ambos os casos muitas vezes por pressão dos pais ( com a consequente gravidez na adolescência), que comprometem o futuro das jovens ciganas, as quais, muitas vezes, sonham com uma “sina” diferente. Também devem fomentar a pré-escolarização e a promoção da formação profissional e do ensino recorrente (novas oportunidades), como alternativa à saída “tradicional” como feirantes, profissão já saturada e em risco de extinção. 
            Há um défice de diálogo entre a Câmara Municipal de Viseu e a comunidade cigana de Paradinha, que levou há poucos anos, à ocupação de apartamentos desocupados, por parte de jovens casais que se encontravam nas casas dos pais, naquele bairro social, a rebentar pelas costuras, depois de se terem cansados de esperar que a autarquia lhes arranjasse habitação social. A resposta da Câmara foi chamar a policia para os desalojar, não resolvendo o problema principal: a falta de condições dignas de habitação. Também há ciganos que acusam a autarquia de “limpeza étnica” no Bairro Social de Paradinha, ao transferir famílias de uns blocos para outros, de modo a ficarem blocos etnicamente puros, sem misturas. O mesmo se passa no Bairro da Balsa, onde há separação de etnias por blocos de apartamentos. Em contrapartida, no Bairro Social da Quinta da Pomba não mora uma única família cigana.
O problema da (in)segurança de carteiros e funcionários dos SMAS no Bairro de  Paradinha não passa por acompanhamento policial, nem por apartados, nem pela entrega do correio pela Caritas ou por um mediador, como sugeriu o presidente da Junta de freguesia, mas pelo diálogo com os moradores, com o apoio de membros influentes da etnia (já não há propriamente patriarcas), enquanto não se formam mediadores municipais interculturais. As candidaturas para a 2ª fase do Projecto do ACIDI acabaram em 9/06/2011, oportunidade desperdiçada pela Câmara Municipal de Viseu. 
Só o diálogo derrubará os muros que alguns responsáveis insistem em  altear.

            

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