PRIMEIRO canto para a morte
A MARIA EDUARDA DOS REIS COLLARES
Depois, a morte. Como o poente dos poentes.
Como a noite das noites. Como bênção.
E que todos me esqueçam - bem contentes.
(Não quero que me lembrem - e entristeçam...)
O poema que não escreverei. O rosto por ver
Da mulher que não amei em ti. A voz que eu não ouvi
(E é búzio em mim)
A dizer de cor o livro de Amor que ficou por ler
E que eu não sei nem alcancei saber se por não ter
Principiado, não terá fim.
Toda a saudade do que não vive (de quem não pode o que quer)
E dentro em mim vive, sempre e sem-fim,
Apegada ao que ficou de uma vida a morrer
O que, do nada, sobrou, para depois de mim.
Depois, a morte. A ínsita cidade
Dos tempos do silêncio a que eu aporte,
Menino velho e mendigo da eternidade,
Muito antes do depois. Depois, a morte.
E pela noite dentro nós os dois...
Noite nunca, túnel sempre, noite igual...
E depois de mim, depois de ti, depois, depois,
- Depois, a morte da Morte imortal!
RODRIGO DE MELO (Jornal de Letras e Artes, 19 de Agosto de 1964)
4 comentários:
Boa semana Martim!
E assim vamos envelhecendo. Só as suas palavras não envelhecem.
Rodrigo Emílio, sempre...
subscrevo o "Duque".
acrescento um beijo.
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