2008-03-30

Rodrigo Emílio: e passam quatro anos e dois dias...


PRIMEIRO canto para a morte


A MARIA EDUARDA DOS REIS COLLARES


Depois, a morte. Como o poente dos poentes.

Como a noite das noites. Como bênção.

E que todos me esqueçam - bem contentes.

(Não quero que me lembrem - e entristeçam...)


O poema que não escreverei. O rosto por ver

Da mulher que não amei em ti. A voz que eu não ouvi

(E é búzio em mim)

A dizer de cor o livro de Amor que ficou por ler

E que eu não sei nem alcancei saber se por não ter

Principiado, não terá fim.


Toda a saudade do que não vive (de quem não pode o que quer)

E dentro em mim vive, sempre e sem-fim,

Apegada ao que ficou de uma vida a morrer

O que, do nada, sobrou, para depois de mim.


Depois, a morte. A ínsita cidade

Dos tempos do silêncio a que eu aporte,

Menino velho e mendigo da eternidade,

Muito antes do depois. Depois, a morte.


E pela noite dentro nós os dois...

Noite nunca, túnel sempre, noite igual...

E depois de mim, depois de ti, depois, depois,

- Depois, a morte da Morte imortal!


RODRIGO DE MELO (Jornal de Letras e Artes, 19 de Agosto de 1964)

4 comentários:

Susana Barbosa disse...

Boa semana Martim!

hfm disse...

E assim vamos envelhecendo. Só as suas palavras não envelhecem.

Anónimo disse...

Rodrigo Emílio, sempre...

hora tardia disse...

subscrevo o "Duque".


acrescento um beijo.