2008-02-18

"D. António Alves Martins", por Júlio Cruz* ("JN" de hoje)


A 18 de Fevereiro de 1808, nascia, na Granja de Alijó, António Alves Martins que veio a ser bispo de Viseu, político de nomeada e cidadão de corpo inteiro. Hoje, passam assim 200 anos obre o seu nascimento. A Assembleia da República, por decisão do seu presidente, dr. Jaime Gama, vai prestar-lhe pública homenagem, com a presença do bispo de Viseu e dos deputados e autarcas de Vila Real e Viseu.

A AVIS - Associação para o Debate de Ideias e Concretizações Culturais de Viseu editou um álbum evocativo a ser distribuído na Assembleia da República. António Alves Martins entrou aos 16 ano para o Convento da Ordem Terceira de S. Francisco, vestindo o hábito de professo franciscano a 21 de Maio de 1825.

Foi depois estudar Filosofia para Évora, no Colégio do Espírito Santo e, em Outubro de 1826, matriculou-se no Colégio das Artes, em Coimbra, em Filosofia, Teologia e Matemática. Em 1842, passou a leccionar no Liceu do Porto as disciplinas de Geografia, Cronologia e História. Nesse ano, entrou para o Parlamento como deputado por Trás-os-Montes. Foi parlamentar nas legislaturas de 1842/45, 1851/56, 1858/1864, em representação do Partido Reformista.

Em finais de 1852, foi nomeado lente de Teologia, mas renunciou preferindo um canonicato na Sé Patriarcal de Lisboa e, em 2 de Julho de 1862, foi nomeado bispo de Viseu, sendo sagrado a 1 de Novembro de 1862, dando entrada solenemente na diocese em 29 de Janeiro de 1863.

Par do Reino desde 1864, foi ministro do Reino de 22 de Julho de 1868 a 11 de Agosto de 1869, ministro do Reino e dos Negócios da Instrução Pública de 27 de Agosto de 1870 a 30 de Janeiro de 1871 e, por três vezes, interinamente, sobraçou o Ministério da Justiça (22 de Julho a 16 de Agosto de 1868, de 18 de Junho a 24 de Julho de 1869 e de 16 de Setembro a 1 de Novembro de 1870.

Foi um prelado amigo do povo, demasiado amigo do povo, o que levou a que aquando da sua morte todos os restantes bispos se recusassem a presidir ao seu funeral, foi preciso vir o bispo de Bragança que se encontrava extremamente debilitado para o fazer. Mas, na cidade, quase ninguém ficou em casa e uma multidão acompanhou-o ao cemitério. Ora, diz o povo, "os pobres só choram pelos bons".

Claro que de permeio com tudo isto esteve a política. D. Alves Martins foi um liberal assumido. Já enquanto estudante de Coimbra, foi preso e condenado a ser fuzilado no Terreiro de Santa Cristina, em Viseu, em 1834, salvou-se in extremis por ter conseguido evadir-se da cadeia com mais três companheiros.

Foi depois panfletário e jornalista distinto, lutando pelos seus ideais de verdade, justiça, caridade e liberdade. Mas, acima de tudo, foi estadista, tendo sido deputado e ministro do Reino entre 1868 e 1870. Dele disse na Câmara dos Deputados, em 19 de Janeiro de 1907, o dr. António José de Almeida, que viria a ser presidente da República " O bispo de Viseu merece todas as considerações. Foi um grande patriota, um grande liberal e um grande homem de bem ".

D. Alves Martins morreu pobre, no Paço Episcopal do Fontelo, a 5 de Fevereiro de 1882, tendo o seu corpo sido levado para a capela de Santa Marta.

Camilo Castelo Branco haveria de escrever, em 1870, o esboço biográfico de D. António Alves Martins, bispo de Viseu e na carta de pêsames, de 13 de Fevereiro de 1882, enviada à irmã do prelado após a morte deste, haveria de escrever "Nunca, neste país, faleceu um homem da alta esfera do sr. bispo que deixasse uma memória tão sem nódoas e uma pobreza tão rica de exemplos de virtude."

*Secretário-geral da AVIS (Associação para o Debate de Ideias e Concretizações Culturais de Viseu)

4 comentários:

Anónimo disse...

Assim é. Grandes nomes que Portugal esquece!!!!!

Anónimo disse...

mail.



.


imf.

Anónimo disse...

Viseu por vezes surpreende pela positiva. Ainda bem que assim é. Dê-se o valor a quem o tem.
Aqui e aqui (www.baroesdaseviseu.blogspot.com) rompem o silêncio.
Parabéns aí Martin

Anónimo disse...

Primeiro de tudo gostaria de felicita-lo pelo seu blog. E por, de alguma forma, manter viva a lembrança de quem foi D. António Alves Martins, um homem justo e integro, defensor dos seus ideais e crenças.
È com pesar e uma profunda tristeza, que assisto todos os dias, ou quase todos, de que na sua terra natal a sua memória não seja preservada desta forma.
Muito obrigada de uma familiar do homem que dizia, que na sua diocese não queria" padres jesuitas que no nome de Deus explorassem o povo, mas sacerdotes que amassem a deus na pessoa do próximo".
Rosa Alves Martins