2007-04-30

"Las Misiones Pedagógicas"



Con motivo de la muestra Las Misiones Pedagógicas, 1931-1936, se ha editado el catálogo de la exposición, que destaca como publicación central en la celebración del 75 aniversario de la creación de las Misiones. Coeditado por la Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales y la Residencia de Estudiantes bajo la supervisión de Eugenio Otero, comisario de la exposición, el catálogo incluye una cronología exhaustiva de las Misiones, a partir de la cual se encuadran los detalles específicos de cada actividad, que son abordados por los diversos especialistas en cada uno de los aspectos de las Misiones Pedagógicas, siguiendo así la misma estructura en módulos que la exposición.Los grandes bloques en que se divide el catálogo son: las Misiones Pedagógicas y sus protagonistas; las bibliotecas; el Museo del Pueblo; el cine; la música y el Teatro y Coro del Pueblo; el Retablo de Fantoches; el contexto internacional de las Misiones Pedagógicas, y las fotografías de las Misiones. Cada uno de esos bloques se subdivide a su vez en otros apartados, que han sido estudiados por una nómina de especialistas entre los que se cuentan Xosé Luis Axeitos, Manuel Aznar Soler, Valeriano Bozal, José Ignacio Cruz Orozco, Nigel Dennis, Horacio Fernández, María García Alonso, Jordana Mendelson, Víctor Pliego de Andrés, Alfonso Puyal, Gonzalo Sáenz de Buruaga, Ramón Salaberría y el propio comisario de la exposición, Eugenio Otero Urtaza. Se incluyen también los testimonios históricos de Luis Álvarez Santullano, Pablo de AndrésCobos, Enrique Azcoaga, Alejandro Casona, Américo Castro, Luis Cernuda, Carmen Conde, Leopoldo Fabra, Eduardo García Maroto, Raúl González Tuñón, José Marzoa, Gonzalo Menéndez Pidal, María Moliner, Juan José Plans, Laura de los Ríos y Arturo Serrano Plaja. El volumen se completa con dos anexos: la relación de misiones llevadas a cabo y la relación de misioneros que participaron en ellas, y, como es habitual en los catálogos de la Residencia, con la relación de obras y documentos expuestos y un índice onomástico. Acompaña a esta edición un CD con las canciones interpretadas por los Coros de las Misiones Pedagógicas dirigidos por Eduardo Martínez Torner. Esta grabación procede de cuatro discos de pizarra grabados en 1934.
Edita Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales
Residencia de Estudiantes 2007
25x22 cm. 408 páginas 1 CD
Encuadernación en cartoné
50.0 euros

2007-04-27

"não esqueças que sou fedra", de isabel mendes ferreira

não esqueças que sou fedra
laica osmose de fumo e trevas
muitos beijos cansados. muitas bocas de cigano
bárbaras e distantes.

sou fedra embalsamada e muitos sentidos perdidos.
um pouco de safo e muito de raiva.

2007-04-25

um dia que foi

sem perguntar vieste liberdade
e nas luzes distantes cravaste
no flanco as flechas e disseste
que o tempo era outro orvalho
na taça canais dentro da cidade
e luzes perto explodindo felinas
sem que os espinhos mais fossem
do que uma antiquíssima memória.

do lado da chuva agora eis a fluvial
aldeia sangrando uma longa dor ou
o palácio derruído dentro do livro
combustível que escorre da giesta.

do edifício nem telhado e dos gumes
nem lâminas nem ardores - só esta
cicatriz sombria morto o justo grito.

2007-04-22

púrpura

em volta as fogueiras crepitam
e agora as folhas do tempo são
aquilo que quiseres - galeria ou
alçapão dentro dos pulmões um
fio de água correndo no teclado
uma flor desfibrando os músculos
até o mais terno feno no celeiro.

agora sabes estes versos declinados
na morada da terra que é relâmpago
e teia abandonada nas muralhas ocas.

cruzo o tempo dentro do sangue
e toda a pele nua é tapete e tarde
explodindo nas fissuras do corpo
nas sedas púrpuras desses lábios.

uma pétala de rosa sanguínea sou.

2007-04-21

nos 60 anos de iggy pop

são sessenta flechas cravadas na pele
uma face antiga de fibra e um rasgão
combustível nos sulcos da carne - vê
assim a serpente bailando no deserto
com morte ausente a febre no gelo.

2007-04-17

Conferências da Academia: "Relações entre Pais e Filhos"



Pequeno Memorando das Conferências da Academia
Tema: Relações entre Pais e Filhos
Estas Conferências procurarão ser um momento privilegiado de reflexão e debate sobre a temática de relacionamento entre pais e filhos nos dias de hoje. A evolução da sociedade tem alterado, de forma profunda, a dinâmica das famílias, obrigando-as a repensar o seu papel e funções tradicionais. Novas questões e novos problemas, ao nível comportamental e de desenvolvimento afectivo, são hoje colocados a todos nós, pais e mães, desafiando-nos para soluções cada vez mais exigentes e complexas. Nesse sentido, este será um momento importante de reflexão e debate procurando uma abordagem inovadora, actual e prática sobre o tema. Para tal convidámos um conjunto de especialistas das áreas da psiquiatria, pedopsiquiatria e psicologia, que nos ajudarão a compreender e ultrapassar as dificuldades que hoje todos temos com os nossos filhos.

2007-04-16

"o rosto dentro da boca": "Na memória dos pássaros" de Graça Magalhães


Lembrando as reflexões de Walter Benjamin sobre a obra de Nikolai Lesskov e adaptando-as a este acto hermenêutico, direi que a nova colectânea poética de Graça Magalhães, intitulada “Na memória dos pássaros” (Viseu, Palimage Editores, 2006), convoca cenários dominados por forças opostas e explosivas, não esquecendo, na mostragem, o fundante “minúsculo e frágil corpo humano”, que é, aliás, um exercício persistente na poesia da autora, agora claramente melhorada de rumo e carisma.
Como mnemónica de liberdade e fruição, “Na memória dos pássaros”, inscrito “ab initio” em linhagem herbertiana, rasga e suplanta o anterior dizer, prolongando, como atrás se disse, um mesmo rasto do corpo, suturante e estruturante. Explico, por exemplo, com o primeiro poema, que, deflagrando a “metáfora intensa”, constrói e urde um corpo poético abrasante e completo, com olhos e lábios, boca e peito (“depois acendo a boca e o adeus perfeito / onde nascem laranjas do peito aves inquietas”), e demais geodesia corpórea inscrita em grande parte dos poemas.
Ganha ainda laivos de moderador flutuante um título que é ressonante em vários poemas, assim parecendo conduzir o leitor através dos ritos memoriais e oníricos, não esquecendo a autora um atento modo escutador do fogo da criação – as palavras serão água e fogo dentro da forja.
Cada incisão na memória liberta um quadro poético pouco oscilante, rente aos sentidos, sabiamente imbricando o equilíbrio e o alarme, como acontece, v.g., no poema 21, onde a inocência infantil é fendida pelos gritos: “O exílio da tortura / é sempre branco // cada infância inocente / evoca a amálgama dos gritos / onde tudo começou” Tal acontece em muitos dos poemas.
Reveste-se ainda a colectânea de uma interessante linha desalentada não facilmente lobrigada em “Corpo de Rio” (2005), as mais das vezes promanando das tais palavras alarmadas e desestruturantes instituidoras de uma clara tensão entre o passado e o presente: “Apagam-se fósforos nos lugares ermos / os filhos não abraçam as mães / como antes / quando eram tudo // e ainda são / qualquer coisa branca” (poema 35).
Tem este livro uma vasta memória que deve ser percorrida. Di-lo o belíssimo último e biográfico poema com admonição certeira: “onde não há noite onde não durma / o rosto dentro da boca”. Siga o leitor com os olhos dentro do texto.
[artigo publicado no jornal do Centro de 13 de Abril de 2007)


2007-04-15

explosão

na cidade não há relógios
e a praça há muito ardeu.

há só esta decrépita gente
arrastando assim os corpos
contra o espelho e a chuva.

dura nas artérias uma pedra
da torrente esmaga o coração.

explode longe um pastor peregrino.

na varanda os olhos nada dizem.

2007-04-14

"Abril e Maio em Viseu com Zeca Afonso"

WORKSHOP TEATRO-FORUM

14 e 15 de Abril (Sábado e Domingo) 11:00-19:00h

IPJ – Viseu


Integrado no Ciclo de Actividades “ Abril e Maio em Viseu com Zeca Afonso”, organizado por um grupo de cidadãos, a propósito dos 20 anos da sua morte, irá ter lugar um workshop de teatro-forum em Viseu.

O teatro político não é aquele que nos traz soluções determinadas por outros, mas o que dá às pessoas o protagonismo de ensaiar e escolher as soluções que fazem sentido para a sua vida.

Como é que isto se faz? Transformando o público em “ espect-actores”, que participam directamente na cena para a mudar. Num espectáculo de Teatro-Forum, o público não deve bater palmas no fim, mas invadir o palco para transformar a história e a vida.

Este workshop será orientado por José Soeiro, finalista de Sociologia da FLUP e com formação na área do Teatro do Oprimido. É animador de oficinas de teatro fórum, utilizando as técnicas de Augusto Boal.

Inscrições (5euros) através dos telefones: 938543818/966860580

2007-04-13

"Quando Marinela Salero Cortez decidiu imitar Dom Juan", de Maria Conceição Carrilho, na Livraria Pretexto (Rua dos Andrades, ao pé da Casa da Sorte)

LANÇAMENTO NA LIVRARIA PRETEXTO

14 de Abril (Sábado) 14:00h

Quando Marinela Salero Cortez decidiu imitar Dom Juan”

Na próxima sábado 14 de Abril, às 14:00h, lançamento do livro Quando Marinela Salero Cortez decidiu imitar Dom Juan, de Maria Conceição Carrilho, na Livraria Pretexto (Rua dos Andrades, ao pé da Casa da Sorte). O livro conta a história de uma jovem cuja vida muda radicalmente depois de ler Molière e levanta a questão: Será que Dom Juan é um mito masculino ou no mundo de hoje ele pode ressurgir no feminino?

Num estilo vivo e dialogante, bem ao jeito das comédias seiscentistas, assistimos a uma série de aventuras trágico-fantástico-cómicas que constituem uma revisitação de um dos mitos mais importantes da literatura e cultura ocidentais.

Maria da Conceição Carrilho – Nasceu em Coimbra, em 1958. Formou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade Nova de Lisboa, em 1984. Actualmente é docente na Universidade do Minho, onde tem realizado um trabalho de investigação no âmbito da Literatura e Cultura Francesas e da Literatura Comparada.


Livraria Pretexto, Partilhamos Leituras …

[ENVIADO POR FERNANDO FIGUEIREDO]

2007-04-12

no chão do verão

no chão da infância lembro os ossos
afundados na areia e o vento breve
segredando ao ouvido um poço fundo
a haver como se o listado dos panos
fosse uma girafa no quarto de brincar.

também na chuva do pátio um relâmpago
e o marulhar do sangue as negras sombras
longe ainda do abismo dos dias da secura
no dorso da teia o toque dos sinos dentro
o coração mesmo fora da boca percutindo.

sei que então a chuva não molhava assim
e que o cabelo que penteava na sombra
era a única cinza fundida dentro do verão.

2007-04-11

o fogo do presságio

eis-te presa do verso que em ti alongo
como folha outonal na palma da mão
oscilante caindo no intervalo da pele.

comprimo rasgo retenho as fontes
e contigo percorro estes caminhos
nada mais esperando só esse beijo
que desde longe guardas temendo
as palavras dos últimos degraus.

desças ou subas é de "dar cima"
que falo e nestes versos decaídos
eis um coração o fogo do presságio.

2007-04-10

Salzillo, testigo de un siglo


Catálogo de la exposición celebrada en Murcia de Marzo a Julio de 2007.
Sedes: Museo Salzillo, Iglesia de Jesús, Iglesia de San Andrés.

Índice:
De castillos y leones ceñida:
El reino de Murcia en el siglo XVIII.
Las ciudades de Salzillo.
Sección I. De castillos y leones ceñida


1. Primun Dux
2. Domun Rex
3. Las dos espadas
4. Buen cielo, buen suelo
5. Gustos cambiantes
6. Tiempo de reformas: La ciudad abierta. Atalaya de los mares y los vientos. La ciudad del sol


La sabia imitadora de los dioses:
Nicola Salzillo entre Nápoles y España. Un entramado de relaciones entre talleres.
La escultura sabia imitadora de los dioses.
Ternura y lágrimas. La pasión dramatizada.
Sección II. La sabia imitadora de de los dioses:


1. Rasguños, dibujos y cartones
2. Quanto necedite tu curiosidad estudiosa
3. El consuelo de una eterna memoria
4. Ternura y lágrimas
5. La vida robada al cielo


Belleza del cuerpo, deleyte del alma:
Salzillo ademán barroco.
...Todo moda y primor.
Salzillo y la condición escenográfica del retablo.
Belén y Presepe. Donde Dios da su bendición.
Francisco Salzillo o el pensamiento firmado.
Sección III. Belleza del cuerpo, deleyte del alma


1. Tintura veritatis
2. Vestidos de hermosura
3. Atavíos, galas y adorno
4. El teatro de la fe
5. La antigüedad soñada
6. El arrobo místico
7. Iconos de los sagrado
8. El espejo de la vida eterna
9. Fantasía hispánica de la Navidad


Bibliografía y abreviaturas
Comisario:
Cristóbal Belda Navarro

Edita
Comunidad Autónoma de la Región de Murcia
Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales
Ayuntamiento de Murcia
Fundación CajaMurcia
31x25
511 páginas
Ilustraciones en color
Encuadernación
Tela editorial grabada con sobrecubierta

45.0 euros

2007-04-09

"O sistema", por António Barreto




[08.04.2007, António Barreto, "Retrato da Semana", in Público]


Com estes hábitos, este estilo e esta prática de favoritismo, a tão proclamada reforma do Estado não está em boas mãos
São às dezenas. Às centenas. Aos bandos. Assessores, conselheiros, consultores, especialistas, tarefeiros e avençados. São novos, têm licenciaturas, mestrados e MBA, talvez até doutoramentos. Sabem tudo de imagem e apresentação. Vestem fato escuro de marca, mas alguns, mais blasés, deixaram de usar gravata. São os gestores de produto. O produto, no caso, é imagem e informação. Informação do Governo para o exterior e a informação sobre os cidadãos e a sociedade. Apesar da idade, já tiveram múltiplas experiências nos jornais, nas televisões, nas agências de informação e nas empresas de imagem. O sistema vive em grande parte destes profissionais reciclados. Estudam o inimigo e fazem dossiers. Elaboram estratégias de apresentação ao público de medidas. Organizam a informação do Governo, controlam os actos dos ministros e dos secretários de Estado, centralizam os contactos com a imprensa. Telefonam, enviam SMS, escrevem mails, convidam para um copo e deixam cair umas frases. Conhecem intimamente os jornalistas a que dão recados. Sabem quais são os jornais que se prestam. Têm mapas e organigramas. Seleccionam frases assassinas, escolhem os locais para as oportunidades fotográficas, ocupam-se da vestimenta dos governantes e designam os que serão privilegiados com a informação criteriosamente racionada. São especialistas em apanhar de surpresa as oposições, sobretudo quando estas são incompetentes. Alimentam os jornalistas que se portam bem e seguem as regras do seu jogo. Gabam-se de fazer a agenda política do país e da imprensa. Têm orgulho na centralização dos serviços de informação, para que contribuíram, assim como no controlo da informação do Governo, que exercem. Trabalham na espuma e no efémero. Organizam o passageiro. Prezam as aparências. Provocam impressões e sensações. Obtém resultados imediatos e passam à frente. Para a guerrilha, para os raides e para as operações especiais, são excelentes. Os socialistas, especialmente os da subespécie dos pragmáticos, perdem-se de amores por esta gente e por este sistema.

O PROBLEMA É QUE, NA POLÍTICA E NA VIDA PÚBLICA, nem tudo se resume à agenda. Há vida para além dos governos e dos gestores de imagem. Há cidadãos, instituições, empresas, associações, partidos políticos e autores de blogues. Há memória, concorrência e luta de classes. Há ressentimento neste mercado imperfeito de imagem e agenda. Existe alguma imprensa que não segue o calendário do Governo. Também há jornalistas que não se conformam com a posição de veículos de recados. E há sobretudo o funcionamento normal da sociedade e das instituições que não se compadece com este universo artificial e manipulado.

A VERDADE É QUE ESTE SISTEMA FORJADO E TREINADO para a encenação mostra as suas debilidades à primeira oportunidade. Como se tem visto. A balbúrdia da Universidade Independente deu sinais de desorientação. A questão dos diplomas académicos do primeiro-ministro revelou imperícia e fragilidades a que o sistema não souber acudir ou responder. Toda a discussão sobre a Ota esteve e está envenenada por operações de manipulação e ocultação. O encerramento de unidades de saúde tem vindo a ser particularmente afectado por este sistema. Os gastos dos gabinetes dos governantes denunciados pelo Tribunal de Contas deram origem a reacções inoportunas e desajeitadas.

ESTE ÚLTIMO CASO É MUITO SIGNIFICATIVO. O Tribunal de Contas nunca foi muito apreciado pelos governos, nem pelas autarquias. Foi este tribunal que abriu os dossiers muito difíceis dos bairros sociais, dos concursos públicos, dos subsídios ao futebol profissional, dos desperdícios no sistema de saúde e de educação, dos gastos anormais dos gabinetes dos ministros e de tantos outros. Na nossa história recente, já houve leis aprovadas no Parlamento para legalizar as irregularidades de entidades oficias, cujos comportamentos tinham sido condenados pelo Tribunal de Contas. Trata-se de uma das poucas entidades independentes de toda a nossa vida pública. A sua condenação do Governo deixa este em má posição: ou quer esconder os factos, ou deu má informação ao tribunal. Veremos como este reage agora, depois de ter anunciado que iria rever as contas. O que está em causa é de excepcional importância: a seriedade e a independência de uma das poucas instituições que contribuem seriamente para a democracia e o Estado de direito.O PROBLEMA É PREOCUPANTE, pois as saídas não são muito agradáveis. Primeira: o Tribunal de Contas agiu com malícia. Pelos antecedentes, não acredito. Pela personalidade do seu presidente, Oliveira Martins, também não. Se fosse verdade, mal iria a vida política. Segunda: o tribunal enganou-se. É sempre possível, mas, pela rigorosa tradição de centenas de relatórios e de sentenças, custa a crer. A ser acertado, a confiança futura neste tribunal fica abalada. Terceira: os gabinetes dos ministros, especialmente o do primeiro-ministro, erraram. É possível, mas absurdo. Quarta: o Governo tenta ocultar os factos. Também é possível.

DE QUALQUER MODO, SEJA QUAL FOR A CONCLUSÃO, duas certezas ficam connosco. Uma: há despesas a mais nos gabinetes, mesmo as que servem para transferências para outros ministérios. Há dinheiro a mais para improvisos e expedientes, mesmo se legais. Duas: há gente a mais nos gabinetes dos ministros. Há multidão no gabinete do primeiro-ministro. Cinquenta, cem ou cento e cinquenta são números diferentes e de gravidade diversa. Mas é sempre gente a mais. Estes factos revelam simplesmente um estilo de governo clientelar e subdesenvolvido. Apesar de os altos funcionários da administração pública serem já todos, por lei, da confiança política do Governo, os ministros rodeiam-se de amigos ainda mais de confiança nos seus gabinetes. Com estes hábitos, com este estilo, com esta obsessão pela informação e com esta prática de favoritismo, a tão proclamada reforma do Estado não está em boas mãos.

Conto de Páscoa

João César das Neves
Professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt


Quando Pedro acordou notou logo que não estava em casa, onde se deitara na noite anterior. Aquilo parecia uma gruta, uma funda e escura gruta. O primeiro pensamento que lhe veio à cabeça foi: "Afinal Platão tinha razão: sempre estamos numa caverna!"
À medida que os seus olhos se habituavam, ia notando que por ali andava muita gente. Depois de interrogar alguns sem obter respostas, uma senhora idosa disse-lhe: "Estás aqui precisamente como no mundo de onde vieste. Um dia aparecestes lá, sem nunca saberes bem a razão! Porque te inquietas?" De uma forma bizarra esta explicação satisfazia-a. E aos outros também.
Toda a gente parecia muito ocupada. Havia que apanhar comida, confeccionar roupas e outros utensílios. Alguns dedicavam-se à recolha de diamantes, que serviam de moeda, outros à produção e manuseamento de cacetes e outras armas.
Pedro achava tudo aquilo surpreendente. Como podiam, sem saber o significado da sua presença ali, acomodar-se e não pensar nas questões decisivas? Talvez fosse isso que ele fizera toda a vida, mas agora, que tomara consciência da sua inconsciência, queria como Platão conhecer a razão da caverna.
De súbito, encontrou a resposta. Ou pelo menos a pista para a resposta. Tudo ali só era possível por causa da luz. Toda a vida da caverna dependia da iluminação mortiça que banhava o local. De onde vinha a luz que os alumiava? Se soubesse a resposta a isso, Pedro sentia que obteria a solução para todos os enigmas. Olhando com atenção notou que era de um corredor, uns três metros acima do chão, que entrava a claridade. Pedro sentiu então que a única coisa que interessava era seguir por ali e encontrar a origem da luz. A luz que dava sentido a tudo o mais. Perto do corredor estava um homem velho, que sorriu quando Pedro lhe explicou o que pretendia. "É curioso que queiras saber de onde vem a luz. Hoje, a maior parte dos que procuram respostas sente-se mais atraída pela escuridão ali do fundo."

"Mas como?", perguntou Pedro. "Que se pode descobrir no escuro? A escuridão não dá respostas." "Talvez", continuou o homem, "mas o mistério da sombra hoje é mais atraente. E tu, que esperas encontrar na fonte da luz?".

Pedro confessou-lhe que era cristão. A sua fé ensinava-lhe o que esperar no fundo do corredor. Ele estava convencido de que, se seguisse por ali, haveria de chegar a um túmulo vazio, com "os panos de linho espalmados no chão, e o lenço, que tivera em volta da cabeça, não no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição" (Jo 20, 6-7) A porta desse túmulo daria para o Céu.

"Ah! Bem me parecia que o Céu tinha de entrar", riu o homem. "Ainda hoje a maioria dos que querem seguir pelo corredor acreditam nisso. Mas nenhum volta para confirmar que há um Céu. Eu pensei algum tempo como tu, mas acabei por me convencer de que a luz vem simplesmente da rocha. Tenho a certeza de que a luz da caverna está na própria caverna. Não é preciso procurar forças exteriores. Isso é superstição. Como podes provar que existe o Céu e a sua porta no túmulo vazio?"

Pedro ficou uns momentos pensativo e depois respondeu. "Não posso provar, como tu não podes provar a existência da rocha luminosa de que falas. Ambos vivemos na fé. A fé a que entreguei a minha vida diz-me que existe o Céu e o túmulo que lá conduz."

"Sim, todos vivemos na fé", respondeu o outro. "Mas a minha fé não precisa de histórias mirabolantes, de Deus criador e redentor. E se é tudo mentira? Já pensaste nisso? E se fazes a viagem sem encontrar nada?", perguntou o homem.

Pedro, depois de pensar ainda um pouco, respondeu: "Eu sei que é verdade. A certeza que tenho é bem real. Tenho o testemunho de milhões de santos que, entregando-se totalmente à luz do túmulo vazio, não só transformaram o mundo mas, mais importante, viveram vidas felizes e plenas. Essa é a minha certeza, que já começo a sentir na própria vida. Uma certeza muito mais valiosa do que qualquer prova que possas invocar."

"Mas, mesmo que fosse tudo mentira", continuou Pedro, "duas coisas não posso negar. Primeiro, a minha ânsia por essa luz. Toda a minha existência exige que procure a fonte da única coisa que lhe pode dar sentido. Além disso, a segunda verdade inegável é que não posso imaginar outra forma de viver que responda melhor à minha busca de felicidade. Mesmo que não chegue ao Céu, amar a Deus e ao próximo é a melhor forma de viver na Terra." E Pedro trepou para o corredor.

Promoção de Abril no GymnoTrês


2007-04-06

Votos de uma Santa Páscoa!


Então Jesus exclama: - tenho sede!
E um braço vil que dessa onde excede,
lança o amargo fel na sua boca!...
[fragmento do soneto "Paixão" de Judith Teixeira]

2007-04-05

"O desespero de Salazar", por António Pinto Leite ("Expresso" de 31 de Março")

Há diversas ironias em tudo isto. A primeira é que Salazar, pela primeira vez, ganhou uma eleição sem chapeladas. Pelo telefone, é certo, mas sem chapeladas
A escolha de Salazar como a nossa principal figura histórica tem valido, valha-nos isso, belíssimas conversas.
Dessas conversas pude concluir um fenómeno muito interessante: a direita conservadora, mais velha, que respeitava Salazar, não votou ou não votaria em Salazar.
Não porque não tenha guardado respeito por ele, mas porque nos seus quadros de referência as grandes figuras da História portuguesa são outras e são intocáveis.
Foi esta a herança de Salazar.
A educação recebida no seu tempo exaltava os feitos das nossas grandes figuras. Havia uma galeria de verdadeiros heróis, associados, em geral, aos Descobrimentos.
De algum modo, neste concurso, para a direita conservadora, Salazar derrotaria Salazar. A educação recebida antes do 25 de Abril dava tal dimensão e nitidez aos nossos heróis que seria impensável pôr outros no seu lugar, incluindo o próprio Salazar.
Um salazarista desinteressado, por respeito a Salazar, votaria em D. João II ou no Infante D. Henrique e não em Salazar.
A par desta percepção, que colhi de uma geração mais velha, surpreendeu-me e derrotou-me a ignorância dos mais novos, não só relativamente a Salazar mas sobretudo relativamente às grandes figuras de nossa História.
Cheguei a ouvir, nestes dias, de uma licenciada, “não sei bem o que fez o Infante D. Henrique”.
O ensino da nossa História conduz a esta pobreza: nem o jovem recolhe informação mínima sobre as personagens marcantes da História do nosso país, nem é conduzido, pela investigação e pelo entusiasmo, a seleccionar, ao longo da sua aprendizagem, os verdadeiros méritos históricos de cada uma delas.
Há diversas ironias em tudo isto.
A primeira é que Salazar, pela primeira vez, ganhou uma eleição sem chapeladas. Pelo telefone, é certo, mas sem chapeladas.
A segunda é que Salazar não teria votado em Salazar. Pela educação que nos transmitiu, a História de Portugal tinha uma hierarquia e no topo, inacessíveis, estavam os únicos portugueses que, verdadeiramente, influenciaram a História Universal: a geração das Descobertas.
Finalmente, Salazar deve estar desesperado. É certo que deixou o país com mais de 30% de analfabetos, mas da sua herança fazia parte aquela clareza sobre os verdadeiros heróis nacionais.
Clareza essa instrumental, aliás, de uma ideia de grandeza sobre a missão e a presença de Portugal no mundo.
Este concurso, desfocando a nossa História, arrasou aquela ideia grande sobre Portugal. Imagino o seu desespero.

2007-04-03

brisa

dos pés cansados nasce a luz
que descola a pele e mostra
o brilho dos ossos as veias
levando o sangue aos dedos
e às partes ínfimas do corpo.

então recolho ao pátio estelar
e olho os campos os metais.

conto-te assim ao ouvido
a música que ouço o vento.

2007-04-02

estante

agora pego nos livros
encosto-os à prateleira
e sonho que as cidades
antigas eram tal qual:
barcos num mesmo porto.

C.S.I.