Viseu no caminho de
Vergílio Ferreira
Por razões literárias, as afinidades de Vergílio
Ferreira, como ficcionista e não só, sempre afirmaram um indenegável topónimo
significativo – o de Viseu. Aliás, quase sem estranheza, de Viseu se despediu in vivo o autor de Para sempre naquela fulgurante homenagem que a Universidade
Católica local lhe dedicou há vinte anos. Então, rodeado de vida e dos conexos
mistérios, pôde o escritor, no meio de um grande número de jovens, espalhar a
sua palavra que era, também, de simpatia. Que o diga, por exemplo, a juventude
que lhe sabia os livros e lhe desejava um dizer apositivo. Ou outros, como eu,
menos jovens, mas sabedores do definitivo nas artes literárias. Na minha
primeira edição de Vagão J (1946), vinda
a lume na prestigiada coleção «novos prosadores» da Coimbra Editora e que
Vergílio iniciou em Faro e concluiu em Melo, permitiram os fados que eu
obtivesse o seguinte mimo vergiliano: «Para o Martim / este livro arqueológico
/ de que todavia ainda / gosto bastante. / Vergílio Ferreira / 27.1.96».
Lugar de eleição, Viseu irrompe desde O caminho fica longe (1943) na obra do
nosso grande escritor. Irrompe e fica, acrescente-se. No primeiro romance,
aparece-nos a tia de Amélia (p. 34: «Viera logo nessa noite uma tia de Viseu.»),
para minorar o sofrimento pela morte da mãe da jovem e alude-se ainda ao
«namoro que ela tivera em Viseu» (p. 60). Não sendo muito, é um lugar no início
de um grandioso caminho literário que agora esplende na fogueira dos 100 anos
do nascimento de Vergílio Ferreira.
Viseu, 20 de janeiro de 2016
Martim de Gouveia e Sousa
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