2016-01-24

A arte social de Vergílio Ferreira: «O caminho fica longe»


A arte social de Vergílio Ferreira: O caminho fica longe

Questionando a função do escritor desde logo, Vergílio Ferreira, pese embora o umbilicismo e o presencismo entrevistos no romance O caminho fica longe por alguns críticos, é antes de tudo um intelectual implicado com o seu tempo e o porvir. Preocupado e ocupado nesse debate e na lição das palavras, o romancista não só transporta para a diegese, desde as primícias, um mundo de escritores e pensadores, como, em simultâneo, desvela nela um rol de perplexidades e indagações, como acontece, por exemplo, na página 53:

«¿ De que serve espiolhar a vida, coscuvilhando-lhe os segredos? ¿ Não é a literatura sempre arte, arte inútil, socialmente inútil?»

Tal ideia de atuação e vigília sobre a missão do escritor encontra-se ainda na ostentação clara de o imenso «celeiro» do futuro serem os livros, aqueles livros «que esperavam sempre, pacientes e amplos» (p. 280).

Viseu, 24 de janeiro de 2016
Martim de Gouveia e Sousa

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