A arte social de Vergílio Ferreira: O caminho fica longe
Questionando a função
do escritor desde logo, Vergílio Ferreira, pese embora o umbilicismo e o
presencismo entrevistos no romance O
caminho fica longe por alguns críticos, é antes de tudo um intelectual
implicado com o seu tempo e o porvir. Preocupado e ocupado nesse debate e na
lição das palavras, o romancista não só transporta para a diegese, desde as
primícias, um mundo de escritores e pensadores, como, em simultâneo, desvela
nela um rol de perplexidades e indagações, como acontece, por exemplo, na
página 53:
«¿ De que serve
espiolhar a vida, coscuvilhando-lhe os segredos? ¿ Não é a literatura sempre
arte, arte inútil, socialmente inútil?»
Tal ideia de atuação
e vigília sobre a missão do escritor encontra-se ainda na ostentação clara de o
imenso «celeiro» do futuro serem os livros, aqueles livros «que esperavam
sempre, pacientes e amplos» (p. 280).
Viseu, 24 de janeiro
de 2016
Martim de Gouveia e
Sousa
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