Aquilino e o romance
«O coro dos defuntos», de António Tavares
Eu não conheço
António Tavares e ainda bem. Ou melhor, o prémio Leya 2015, que António Tavares
ganhou, tendo o mérito que tem, criou em mim um horizonte de expetativa que,
infelizmente, não pude confirmar. Culpa minha, decerto. Mas será assim?
Vejamos. O vezo
aquiliniano que o autor integra (epígrafe, evocação, titulações capitulares,
palavras e colaço glossário), subindo o objeto literário a alto lugar pela
figura do cotejo (com Aquilino, em primeiro, e, já agora, com a releitura do
debutante Vergílio Ferreira de O caminho
fica longe), criou em mim, lido o romance, uma flagrância – a de estarmos
perante um objeto demasiadamente flutuante, insuscetível ainda de espanto ou
fulgurância literárias.
Estimável, sem
dúvida, mas aquém, talvez muito, da estratégia da influência evocativa de um
mestre que veio para o palco das letras com um já muito forte Jardim das tormentas. Cavando um início
fortíssimo naquela admonição de tratar-se de um romance «evocativo da obra de
Aquilino Ribeiro», ultrapassado o motivema ambiencial de Aldeia, não sei se aquele freio linguístico a que o autor prende Aquilino
é, sequer, simpático: «Se não conhecer estes termos, o leitor interessado poderá
consultar o glossário no final do livro.» Mas será Aquilino isso, uma matéria
para glossários? E o dito glossário seria, de facto, necessário?
Estimável, sim,
não admirável. Há a influência, os ambientes e os sopros aquilinianos, sim. Há
ainda a originalidade e uma certa versatilidade narrativa, sim. No entanto, os
67 curtos capítulos são muitas vezes exemplo de uma narrativa en passant, antes parecendo declinada ao
ritmo de anuários, almanaques ou agendas factuais. Dúvidas ainda sobre algumas
soluções (desaparecimentos, calão,… )e as «maçãs de bravo-de-esmolfo». Gostei,
mas esperava mais. Afinal, trata-se de um objeto aurático que todos devem
consumir, não é?
Viseu, 9 de janeiro de 2016
Martim de Gouveia e
Sousa
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