2014-09-07

[FARPINHAS – DEZOITO]

[FARPINHAS – DEZOITO]

Os turrinhas são uma evidência nacional: ligeiros, falsos sabedores, egoístas, presunçosos, pau para toda a colher e atentos a tudo como o Manel das mãozinhas, eis que os turrinhas são imenso território nacional. Mas serão?
Aconteceu-me hoje, como tantas outras vezes, acordar num outro qualquer dia de quaisquer anos. Não me espantei. Há sempre em nós um desejo de evasão no tempo e no espaço! Na Brasileira do Chiado soavam, graves, dez horas da manhã. Pessoanamente sentado, a bica ardilosamente despertava-me para o dia. Que café o dessa manhã de 26 de outubro de 1990! Repito a verdade: a bica é excelente e leio «o jornal» de José Silva Pinto. Estou agora na página 11 e aprecio a crónica de Augusto Abelaira «Basílio Horta contra a ambiguidade» - afinal, Basílio Horta, ao candidatar-se, o que Lucas Pires recusara, assumia corajosamente e, já agora, republicanamente uma propositura contra os consensos e pântanos. É esta independência que aprecio: um bom escritor só pode ser um bom opinador, ao contrário dos atuais fazedores de opinião que, pagos a peso de ouro, dizem com os partidos e os poderes. Augusto Abelaira, também grande escritor, expendeu um ato antiturrinha. E muito bem!
Passo para a página 12 e fixo-me em três títulos: «Soares critica PSD», «João Soares  relança minoria» e «Jotas às turras». Quase um qualquer volvido, que mesmidade! Nem o explicit do queirosiano Os Maias é assim tão assim. Mas vejamos: a última notícia traz a foto de um jovem, um certo António José Seguro, e o início do texto é catafórico. Transcrevo: «António José Seguro, líder da JS, e Pedro Passos Coelho, líder da JSD, almoçaram na quarta-feira para tentarem resolver o diferendo que tem oposto as duas organizações a propósito do MASP. O encontro não foi, no entanto, suficiente para clarificar, para já, a guerrilha que se instalou entre as duas «jotas», à volta da constituição do MASP-Jovem. A JSD que ser convidada, mas Seguro defende que quem quiser participar deve oferecer-se».
E no passado tudo se explica. Ser turrinha afinal, é precisamente isto: desejar consensos, querer ser convidado e oferecer-se. Há muitos turrinhas por aí. Pedem-me um exemplo? Aí vai: o presidente Cavaco é um formidável turrinha. Mas há mais: quem achar que a nossa vida é forçosamente o PS e o PSD também o é. Basílio Horta, naquele tempo, não era turrinha. Ao contrário, António José Seguro e Pedro Passos Coelho sempre foram turrinhas. E isto explica o presente.  

Viseu, 7 de setembro de 2014

© Martim de Gouveia e Sousa 

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