[FARPINHAS – DEZOITO]
Os turrinhas são uma evidência nacional: ligeiros,
falsos sabedores, egoístas, presunçosos, pau para toda a colher e atentos a
tudo como o Manel das mãozinhas, eis que os turrinhas são imenso território
nacional. Mas serão?
Aconteceu-me hoje, como tantas outras vezes, acordar
num outro qualquer dia de quaisquer anos. Não me espantei. Há sempre em nós um
desejo de evasão no tempo e no espaço! Na Brasileira do Chiado soavam, graves,
dez horas da manhã. Pessoanamente sentado, a bica ardilosamente despertava-me
para o dia. Que café o dessa manhã de 26 de outubro de 1990! Repito a verdade:
a bica é excelente e leio «o jornal» de José Silva Pinto. Estou agora na página
11 e aprecio a crónica de Augusto Abelaira «Basílio Horta contra a ambiguidade»
- afinal, Basílio Horta, ao candidatar-se, o que Lucas Pires recusara, assumia
corajosamente e, já agora, republicanamente uma propositura contra os consensos
e pântanos. É esta independência que aprecio: um bom escritor só pode ser um
bom opinador, ao contrário dos atuais fazedores de opinião que, pagos a peso de
ouro, dizem com os partidos e os poderes. Augusto Abelaira, também grande escritor,
expendeu um ato antiturrinha. E muito bem!
Passo para a página 12 e fixo-me em três títulos:
«Soares critica PSD», «João Soares
relança minoria» e «Jotas às turras». Quase um qualquer volvido, que
mesmidade! Nem o explicit do
queirosiano Os Maias é assim tão
assim. Mas vejamos: a última notícia traz a foto de um jovem, um certo António
José Seguro, e o início do texto é catafórico. Transcrevo: «António José
Seguro, líder da JS, e Pedro Passos Coelho, líder da JSD, almoçaram na
quarta-feira para tentarem resolver o diferendo que tem oposto as duas
organizações a propósito do MASP. O encontro não foi, no entanto, suficiente
para clarificar, para já, a guerrilha que se instalou entre as duas «jotas», à
volta da constituição do MASP-Jovem. A JSD que ser convidada, mas Seguro
defende que quem quiser participar deve oferecer-se».
E no passado tudo se explica. Ser turrinha afinal, é
precisamente isto: desejar consensos, querer ser convidado e oferecer-se. Há
muitos turrinhas por aí. Pedem-me um exemplo? Aí vai: o presidente Cavaco é um
formidável turrinha. Mas há mais: quem achar que a nossa vida é forçosamente o PS e
o PSD também o é. Basílio Horta, naquele tempo, não era turrinha. Ao contrário,
António José Seguro e Pedro Passos Coelho sempre foram turrinhas. E isto
explica o presente.
Viseu, 7 de setembro de 2014
© Martim de Gouveia e Sousa
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