O conhecimento da dor
Carlo Emilio Gadda (1893-1973) é
um caso indesmentível de fulguração literária. Com valor universal, pois, não
espanta a fácil aplicação de um trecho de “O conhecimento da dor” (1963) ao
nosso caso atual (quando digo nosso, quero dizer deles, dos do “sacrossanto”
poder corrupto e culpado do nosso estado que já não está…), quando o autor
contextualiza assim o seu mítico país de escassos recursos Maradagàl:
“… considerando o facto de que
eles já suportavam os impostos e eram obrigados a múltiplas contribuições, cuja
soma total, em alguns casos, atingia e,
até, superava a valor do minguado rendimento que a propriedade rústica produzia,
isto é, cada ano em quatro, quando não havia seca nem chuva persistente para
dar cabo das sementeiras e das colheitas, nem as invadia toda a espécie de
pragas.” [tradução de Nunes
Martinho e Ernesto Sampaio (Carlo Emilio Gadda, O conhecimento da dor, Lisboa, Editora Ulisseia, 1966)]
Toda a espécie de pragas caiu
sobre o nosso país. Por exemplo, Coelho e Gaspar, que não sabem quem é Gadda e não
sabem a quem perguntar. O Pedro e o Vítor que fizeram de Portugal bem pior que
Maradagàl. Até quando aguentar-se este conhecimento da dor?
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