2012-12-07

O conhecimento da dor



O conhecimento da dor

Carlo Emilio Gadda (1893-1973) é um caso indesmentível de fulguração literária. Com valor universal, pois, não espanta a fácil aplicação de um trecho de “O conhecimento da dor” (1963) ao nosso caso atual (quando digo nosso, quero dizer deles, dos do “sacrossanto” poder corrupto e culpado do nosso estado que já não está…), quando o autor contextualiza assim o seu mítico país de escassos recursos Maradagàl:

“… considerando o facto de que eles já suportavam os impostos e eram obrigados a múltiplas contribuições, cuja soma total, em alguns casos, atingia  e, até, superava a valor do minguado rendimento que a propriedade rústica produzia, isto é, cada ano em quatro, quando não havia seca nem chuva persistente para dar cabo das sementeiras e das colheitas, nem as invadia toda a espécie de pragas.” [tradução de Nunes Martinho e Ernesto Sampaio (Carlo Emilio Gadda, O conhecimento da dor, Lisboa, Editora Ulisseia, 1966)]

Toda a espécie de pragas caiu sobre o nosso país. Por exemplo, Coelho e Gaspar, que não sabem quem é Gadda e não sabem a quem perguntar. O Pedro e o Vítor que fizeram de Portugal bem pior que Maradagàl. Até quando aguentar-se este conhecimento da dor?


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