2006-08-24

Grass

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O caso de Günter Grass acontece porque o homem continua a ser lobo do homem. As consciências perseguidas e arrependidas têm história longa. E, no entanto, facilmente se esquece a memória, por conveniência ou golpe rasteiro. O homem que o é viverá sempre com os seus medos e omissões. Importa é que as acções póstumas à “falha” descomprometam o caminho e aliviem as culpas. Quanto de homens enormes confessando tarde, “in rigor mortis”, as suas “faltas”?!
Admitir, mais tarde ou mais cedo, o arrependimento por um facto biográfico mais obscuro atesta a dignidade do homem. A efusão da turba ou os falsos moralismos nem são de espantar, de tão vulgares.
O poeta quinhentista e deslembrado António Ferreira fala assim do medo que ainda hoje afecta as mentes mais livres: “A medo vivo, a medo escrevo e falo; / hei medo do que falo só comigo; / mas ainda a medo cuido, a medo calo.” Grass ultrapassou, felizmente, a fronteira do medo, deixando falar o recalcamento de décadas.
António Serrão de Crasto, um judeu português de Seiscentos que Camilo Castelo Branco resgatou do esquecimento com a publicação, em 1883, do poema inédito “Os Ratos da Inquisição”, bem alerta, dizendo que “é um rato o tempo fero; / outro o mundo maldizente”.
E sei, repetindo a modelar crónica de Diogo Pires Aurélio, “que não trocaria uma página d’ “O Tambor” pelas obras completas de nenhum dos seus críticos.”

5 comentários:

hfm disse...

Gosto quando a serenidade baixa sobre uma análise.

Anónimo disse...

Límpido e humano! Parabéns!

isabel mendes ferreira disse...

o lobo do homem.............:)


olá Martim....a simplicidade assusta tanta gente não é?

porque será?


Obrigada. por tudo.



beijos.

isabel mendes ferreira disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
porfirio disse...

olha daisy,
a ratazana vai no adro!

grande Günter Grass...

aquele abraço