2015-12-16

Luandino & Aquilino


Luandino & Aquilino

Depois de ter pensado nisso, nada melhor do que escrevê-lo. É ou não verdade que quando, por exemplo (mas esta exemplificatio é muito importante), lemos O Malhadinhas, logo pensamos nas estórias de Guimarães Rosa e Luandino Vieira? E tal linha identitária não se restringe apenas à ambiência, antes a toda uma estrutura criativa que faz Rosa e o seu Grande Sertão um intertexto de Aquilino, o mesmo se passando com Luandino, que aquilinianou.
Vamos então à confidência do escritor angolano que escrevia e como poucos escreve. Inscrever em obra que o tempo assinalou frases como «A chuva saiu duas vezes nessa manhã.»[1] ou «Ri um riso triste, gasto, rouco do tabaco das cigarrilhas fumadas para dentro.»[2] é abandonar a literatice e entrar, rapidamente, na cidadela da literatura. Dobra, portanto, o valor da nota que Luandino apõe no seu diário, com data de 16-7[-1967]:
«Para o pai, no dia dos anos, o «Malhadinhas» do Aquilino – faz-me lembrar o que ele me contava do avô Balhão.»[3]
Luandino admite a influência, as múltiplas influências. E nem dizer ‘do’ é dizer ‘de’. Mas, afinal, quem não aquiliniana?
Viseu, 15 de dezembro de 2015
Martim de Gouveia e Sousa



[1] José Luandino Vieira, Luuanda, Belo Horizonte, Editora e Distribuidora «Eros», Ltda., 1965, p. 15.
[2] Id., ibid., p. 28.
[3] Id., Papéis da prisão, diário, correspondência (1962-1971), Alfragide, Caminho, 2015, p. 807. Organização Maria Calafate Ribeiro, Mónica V. Silva, Roberto Vecchi.

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