2013-08-16

[FARPINHAS] – DOZE

[FARPINHAS] – DOZE

O português não lê, simula e afunda-se na navegação internética, colhendo profundidades, taciturnidades, ensinamentos. Dizia-me há alguns anos um ilustre professor universitário que Coimbra não lia, apenas ouvia e fingia. Hoje há mais razões para que assim não aconteça no país: há editoras para não editados; há escritores editores; há editores escritores;  há livros para quem não lê; há de tudo e para todos os gostos e desgostos – há mesmo a possibilidade de o novo escritor pagar a edição do seu livro e colher alguns aplausos na FNAC mais próxima.
A livraria desapareceu das nossas cidades. Sem apelo, a morte estava anunciada há muito. Ninguém deu conta, ninguém quis ver. O português típico não lê, soletra; não aprende, foge; não duvida, tudo sabe. O vulgar dicionário encalhado há muitos anos na prateleira mais longínqua, não tem serventia que não a de atiçador de lareiras.

No sentido de Ruy Belo, a inteligência está soterrada. Quem «colhe as vozes do mar e do momento»? Quem quer esta «música nas mãos e nos ouvidos»? Mas quem é Ruy Belo neste mundo global e absorvente? Mas quem não quer o nada? 

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