[FARPINHAS] – DOZE
O português não lê, simula e
afunda-se na navegação internética, colhendo profundidades, taciturnidades,
ensinamentos. Dizia-me há alguns anos um ilustre professor universitário que
Coimbra não lia, apenas ouvia e fingia. Hoje há mais razões para que assim não
aconteça no país: há editoras para não editados; há escritores editores; há
editores escritores; há livros para quem
não lê; há de tudo e para todos os gostos e desgostos – há mesmo a possibilidade
de o novo escritor pagar a edição do seu livro e colher alguns aplausos na FNAC
mais próxima.
A livraria desapareceu das nossas
cidades. Sem apelo, a morte estava anunciada há muito. Ninguém deu conta,
ninguém quis ver. O português típico não lê, soletra; não aprende, foge; não
duvida, tudo sabe. O vulgar dicionário encalhado há muitos anos na prateleira
mais longínqua, não tem serventia que não a de atiçador de lareiras.
No sentido de Ruy Belo, a
inteligência está soterrada. Quem «colhe as vozes do mar e do momento»? Quem
quer esta «música nas mãos e nos ouvidos»? Mas quem é Ruy Belo neste mundo
global e absorvente? Mas quem não quer o nada?
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