Aquilino: «à sombra de
um dos maiores poetas»
Em visita à Casa da Beira Alta no Porto, Aquilino Ribeiro
(1885-1963) inscreveu no livro de honra da instituição a aposição que
transcrevo: «Viva a nossa Beira minha boa mãe material que me deu o primeiro
pão e não me matou a rebeldia de serrano». Estávamos no dia 10 de maio de 1963
e Aquilino faleceria pouco mais de uma quinzena depois. As palavras do
escritor, das últimas sendo, guardam testemunhalmente uma etogenia. E a
rebeldia assumida, na difícil digladiação com as palavras durante uma vida, no
engastado fluir do tempo, levaria a que disseminação têxtil do Mestre fosse
alvo de classificações só estranhas na aparência: por exemplo, um dos mais
esclarecidos hermeneutas da jeira aquiliniana, quiçá o mais incisivo, Óscar
Lopes, di-lo «um dos grandes poetas do século XX», e Eugénio de Andrade, poeta
maior que sobrepassou tal século, deixou no livro de visitas, volvidos anos, as
palavras lapidares que se seguem: «À sombra de Aquilino Ribeiro, à sombra de um
dos maiores poetas, tudo é supérfluo».
Mas como foi o início do poeta Aquilino ainda no respaldo do
templo supérfluo? Aquilino, como escritor, inscreveu-se no centro da doxa
literária em 1913. Colheu mesmo o beneplácito de um escritor polémico bastante
para exacerbar um rumo que não há muito tivera uma outra consagração biográfica
– se Aquilino não era ainda verdadeiramente um escritor em 1913, era já um
homem de ação. E, de facto, em 1909, o
título Aquilino Ribeiro inaugurava a
«Collecção de bibliografias dos principaes propagandistas dos ideaes sãos e
generosos» sob a designação geral de «Homens de Acção» e com a presuntiva
autoria de um indeterminado EU[1].
Louvando-lhe o génio e o estro, o articulista secciona-lhe o íntimo,
cavando-lhe «um dos primeiros logares na categoria dos que teem avançado e
luctado»[2],
justificando o dito com a justificativa que transcrevo: «Porque o Aquilino,
apesar dos seus simples 24 annos, da sua educação primitiva, quasi que
jesuítica, e do seu feitio esturdio e bohemio, é um espirito de eleição,
caracter primoroso, mas principalmente um revoltado sem rebuço nem
desfallecimento.»[3] Tal alor
de revolta era já o início do fulgor poético que tomaria o complexo verbal do
Mestre que ainda não era e lateralmente se anunciava naquela vontade de uma
«radical transformação, desde a evolução dos espíritos ao aluir dos alicerces
mais solidos do edificio geral». [4]
Enfim, como o diz admiravelmente o autor do panfleto, como adivinhação
promanando do conhecimento, Aquilino Ribeiro como «escriptor é um bello
contista, original e burilador, e como revolucionario um admiravel exemplo.»[5]
Estávamos em 1909 – e a poesia fazia-se com atos de uma poesia corporal de
dádiva cujos frutos veríamos um pouco à frente.
O monárquico Carlos Malheiro Dias (1875-1941) viria a
prefaciar o livro que inaugurava para o mundo a vida literária de um dos nossos
mais produtivos e fecundos escritores. Esse paratexto, nem sempre
cuidadosamente lido, dimanava de um intelectual que sobrepujava Aquilino em
dois lustros e dele se aproximava em tradição pelos estudos no colégio de Santa
Quitéria [6]
e também pela frequência universitária[7].
Mas não só: o vezo polémico dos banimentos a ambos assistiu e, se as fugas,
expulsões, censuras e afrontas aquilinianas são consabidas, o mesmo não se
passará com Malheiro Dias antes de lembrarmos, por exemplo, a necessidade que o
escritor sentiu de abandonar o Brasil depois da publicação, em 1896, de A mulata e da reação opositiva de vozes
fortes como as de Olavo Bilac e Luís Murat[8];
o encontro com o Brasil[9],
em épocas diferentes, é também uma atinência entre os dois escritores.
Carlos Malheiro Dias publicará até 1913, para além do título
referido, Scenários: phantasias sobre a
história antiga (1894), Apontamentos
para a história da Real Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência (1895,
história), Corações de todos (1897,
drama) Filho das hervas (1900,
romance), Os Teles de Albergaria
(1901, romance), Paixão de Maria do Céu
(1902, romance), O grande Cagliostro
(1905, romance), Cartas de Lisboa.
Primeira série (1904) [1905, crónicas],
Segunda série (1905) [1905, crónicas] e
Terceira série (1905-1906) [1907, crónicas], A vencida (1907, contos), Quem
é o Rei de Portugal (1908), A espada
ao serviço do amor e da honra (1912, conferência), Do
desafio à debandada. I – O pesadelo (1912, história). II. Xeque ao Rei… (1912, história), Zona de tufões (1912, história), Em redor de um grande drama. Subsídios para uma História da Sociedade
Portuguesa (1908-1911) [1913, história], As inimigas (1913, drama), Entre
precipícios… (Crónicas políticas dos últimos tempos) [1913, história] e O
estado actual da causa monárquica (1913, história). Sabida que é a
simpática receção que Malheiro Dias dispensou à colaboração de Aquilino na Ilustração Portuguesa, não espanta que
entre os dois, mau grado a dissensão ideológica, se tenha firmado uma «sólida
amizade»[10], para
usar a expressão de João Palma-Ferreira. Entre os dois intelectuais haveria uma
mútua admiração, não se esquecendo Aquilino de retribuir simpatias, como
acontece, por exemplo, com o texto «Malheiro Dias» publicado na revista Atlântida, em 1917, onde deixa
codiciosas pistas para trabalhos ulteriores.
O primeiro livro ficcional de Aquilino Ribeiro, isto é, em
que ele é o condutor diegético de primeira instância, passados que começavam a
ser os tempos das traduções sem dono a que o escritor também se dera, lega-nos
nas inscrições secundárias algumas particularidades, a saber:
1. A autoridade de quem, para qualquer
efeito, aparecia dourado ao público pela aura de mais de dez títulos, alguns
deles ainda hoje inquestionáveis romances, inscreve-se lavrante desde a capa de
Jardim das Tormentas. Aliás uma
mirada atenta à semiótica do código oticografemático releva bem o valor de
MALHEIRO DIAS face ao autor nascente.
2. Na página frontal do anterrosto
escreve-se a nota genológica «Novelas», sabendo-se que ora e hoje tal designação
permite infirmações e convalidações de igual valor e de equipolente alcance
teórico.
3. Anunciam-se, a anteceder a página de rosto,
dois títulos que, não tendo sido publicados, pelo menos sob essa designação,
constituem ainda assim importante capítulo da enciclopédia simbólica de
Aquilino Ribeiro, desvelando vontades e interesses – refiro-me a Hilário Barrelas em Paris – o que viu e
ouviu, este «a aparecer em março, e a La
révolution portugaise.
4. No rosto, os grafemas dos dois
autores, Aquilino e Malheiro Dias, têm o mesmo tamanho.
5. A afetuosa dedicatória à família
Tiedemann, passo em acordo com o trajeto familiar que Aquilino então escrevia e
que passou a desenhar desde a permanência parisiense e os bancos da Sorbonne.
6. E, por último, o produtivo e controverso
prefácio de Carlos Malheiro Dias, com que seguiremos.
Mas vamos então ao preciso momento em
que Malheiro Dias inicia o texto prefacial e acaba «de voltar, lentamente, a
última página» de Jardim das tormentas
como se se «despedisse com saudade de alguém»[11].
Que diz, afinal, tal última página da obra de Aquilino pertencente à narrativa
breve «A revolução»? Isto, para que conste:
… Delphos despediram-lhe golpes furiosos de alfange e
de machado. A agua coloriu-se e a cauda vascolejante das serpentes, feridas,
derribava arcadas e pulverisava mármores.
Morreram homens, mas os homens venceram. E a ilha
verde dos Contins e dos Zorn possuiu a Victoria Alada, a Victoria que cantára o
triunfo do genio heleno, e cantaria agora a continuidade gloriosa do esforço
humano.
A meiga Rosa que perdera José, as mulheres que
perderam os amantes, choravam. Os outros erguiam um hossana ás alturas. Zorn,
misterioso, murmurou: é a vida! é a vida![12]
E é, no fundo, este explicit aquiliniano de que Malheiro Dias se despedira saudosamente,
que nos conduz desde logo a uma constante energética que habita a maior parte
da obra do Mestre da Nave e que tantas vezes ressuma no culminar dos textos e
narrativas. Tal central de irradiação condensá-la-ei, por razões de acomodação
e de método, na estrutura vitalismo
aquiliniano e qualquer simples exemplificação pode ser recolhida na
repetição final «é a vida! é a vida!».
O prefácio em apreço vem de alguém que, segundo o
pensamento estruturado e interior ao métier
de Joaquim Paço d’ Arcos[13],
é o herdeiro de Eça e entrega, ao exilar-se, o testemunho desse mérito a Aquilino Ribeiro. Não poupa em palavras
Malheiro Dias, dizendo a arte de Aquilino suscitadora de «intellectuaes
emoções», vestida pela «luxuosa beleza» e arrebatadora até, «quasi como uma
mulher que se possui, em cujas temporas e em cujo peito, sob os nossos labios,
sentimos palpitar as arterias e arfar os pulmões». Avança ainda aludindo aos
«sitios mais bellos» das «trezentas paginas onde mil sabores diversos se
misturam»[14].
Proscrito, Malheiro Dias, não esquecendo a divergência e o antagonismo com o
prefaciado, para ambos escolhe um lugar comum que é um sítio outro de encontro – o da fé, que, diferente, os liga na ágora
da coragem, da opinião e da crença.
E será desse lugar isento que Malheiro Dias ditará ter
encontrado nos contos aquilinianos de Jardim
das tormentas uma «linguagem vibratil, nervosissima, onde ha cordas sonoras
que vibram ás ondulações mais imperceptiveis», soando «como a linguagem de um
Cellini da prosa»[15]
que era já um dos grandes virtuosos do estilo. Sério consigo porque honesto
para com o outro, o autor do romance Paixão
de Maria do Céu, desfere, depois de longo excurso que funcionou um tanto
como uma captatio beneuolentiae e
iluminação das fronteiras e trincheiras ideológicas, um conjunto de setas de
perplexidade sobre a construção do jovem escritor que era Aquilino Ribeiro.
Aprecie-se o teor dos reparos:
Mas são bem, na verdade, contos todos os seus contos?
Não se melindrará a sua presunção, se eu lhe disser que como taes a alguns não
considero? Os seus entrechos revelam-se tão frageis que se quebram antes de
chegarem ao fim. Pulverisam-se. Lembram-me repuxos de crystallina agua, que no
cume do jacto se desfazem numa humida e irizada poeira. A sua acção, como o
jorro d’agua , eleva-se impetuosa, mas logo, mal as iluminações dos seus
pensamentos a toucaram e a matizaram, dilue-se num nevoeiro radiante. As suas
acções são, por vezes, méros themas symphonicos para desenvolvimento de motivos
orchestraes.[16]
Imprecisão genológica, debilidade compositiva,
assequencialidade e preciosismo, por exemplo, são notas que alguns leitores
menos avisados deverão reter para travar algum euforismo sobre a carta-prefácio
de Malheiro Dias, que, dizendo o que quer, não hesita em dizer o que deve. Em
texto crítico incisivo sobre a coletânea de contos, António Manuel Ferreira
vinca bem os tormentos da narrativa breve do escritor. «Existe nesta distinção
entre opulência verbal e fragilidade narrativa», diz o ensaísta, «uma das
linhas de força de alguma crítica aquiliniana do século vinte»[17].
Ora, é precisamente essa a pedra de toque de Malheiro Dias.
E tal debilidade leva mesmo o prefaciador a apontar
caminhos ao escritor nascente, certo que parecia estar de que o estilista vivia
ainda um momento de excesso e desadequação[18].
Assim acontece, v.g., na parte final
do texto prefacial, na qual Malheiro Dias refere que quem assim escreveu quatro[19]
dos doze contos fica a dever à literatura nacional «um romance regional onde formigue
(…) toda a comparsaria rustica da Beira»[20].
Ora isto, em conjunto com o atrás mencionado, não é propriamente um elogio ao
contista e muito menos parece ser, para já, um elogio ao futuro romancista que
parecia assim estar confinado ao regionalismo. Similar depreensão tivera já
António Manuel Ferreira quando, em nota introdutória ao seu ensaio «Jardim das tormentas: os tormentos do
conto aquiliniano», escreve, a dado passo: «Ora, não me parece que este apelo
ao romance possa ser considerado um elogio reconhecedor das qualidades do
contista.»[21] Sem
embargo dos muitos louvores, admiráveis, sem dúvida, se atendermos ao facto de
estarmos perante umas primícias literárias, Malheiro Dias adianta ainda algum
seguidismo do novo ficcionista, assinalando-lhe influências e modismos.
Mas se eu me refiro a eventuais debilidades dos
princípios compositivos do conto literário aquiliniano e à belíssima peça
prefacial de Carlos Malheiro Dias, nem sempre laudatória e incisivamente
crítica, com que Aquilino quis verdadeiramente abrir um trajeto de escritor,
digo também que não me sinto, nesse diagnóstico, desacompanhado. Antes de mim,
por exemplo, expenderam juízos próximos dos meus um António Manuel Ferreira[22],
um Massaud Moisés[23]
e um Joaquim Paço d’Arcos, que, muito pouco ou nada citado, defendeu, há mais
de cinquenta anos, que o agudo sentido crítico de Malheiro Dias não se inibiu
se deixar no paratexto um reparo que se mantém «como principal senão a uma obra
que atinge proporções monumentais»[24].
Indisputável ainda é o rigor criticista do professor da Universidade de S.
Paulo, que sempre nos foi legando, num misto de admiração e vigilância, importantes
assertos e perplexidades sobre o Mestre da Nave quando desapenso do seu filão
geográfico. Por exemplo:
Exaurido o filão, porém, o ficcionista emudece,
paralisa-se, indeciso ante duas alternativas: ou mudar de rumo, à procura de
novos estímulos ou afinar o instrumento do canto e concentrar-se não no canto
mas na afinação. Ou seja, hesita entre glosar ao temas citadinos, vinculados a
compromissos ideológicos, mas correndo o risco de falhar por se haver proposto
uma equação imaginária fora dos quadros naturais em que se movia, como é o
caso, por exemplo, de Mônica e Maria Benigna; e desenvolver o aspecto
externo de sua fábrica literária, o estilo. Aqui o núcleo de resistência e aqui
o seu calcanhar de Aquiles, porquanto nenhum ficcionista resiste ao tempo em
razão do estilo.[25]
E convoca ainda Massaud Moisés os apodos de Franco
Nogueira e João Gaspar Simões a Aquilino Ribeiro de, respetivamente,
«estilista»[26] e mais
prosador do que ficcionista[27],
não inibindo também o seu contributo inteligente com a classificação de
Aquilino de «menos contista que romancista»[28].
«Artista da prosa, Aquilino sistematicamente expulsava
a poesia do seu universo estético»[29],
escreve Massaud Moisés. Algures admitiu o próprio Aquilino haver na sua obra de
tudo, menos poesia. Mas não foi assim. Ao encontrar um veio que
persistentemente trabalhou de alfa a ómega, Aquilino Ribeiro construiu um mar
vasto que também é poesia. E todos os reparos críticos conhecidos nunca são
contestações no todo. Olhando ao centro, que era início de carreira
laboriosamente profunda, até um aparente negativo de Agrippino Grieco[30]
se transforma em visível fulgor. Poético, pois claro, como um golpe de Eugénio
de Andrade. Patético, de força poética, como o afirma a repetição final de Jardim das tormentas («é a vida! é a
vida!») parecendo, no caso, exemplificação bastante para quaisquer páginas
teóricas de Jean Cohen.
[1]
Cf. EU, Homens de Acção – I: Aquilino
Ribeiro, Lisboa, Mendes d’ Almeida, 1909. O panfleto tinha como depositário
e proprietário Mendes d’ Almeida, sediado na rua Fernandes da Fonseca, nº 30, e
fora composto e impresso na Tipografia A. M. Antunes, que laborava na Calçada
da Glória, 6-10 e na Travessa do Fala-Só, 1-5. A publicação inclui um texto
proemial «Ao leitor» onde se narram os esforços desenvolvidos debalde no
sentido de os editores conseguirem um retrato de Aquilino Ribeiro que
ilustrasse a edição, mormente os havidos com um dos «mais sinceros e valiosos
amigos» de nome Raul Pires e até com «parentes dos mais próximos». Este Raul
Pires traduziu, conjuntamente com Aquilino Ribeiro, a obra de João Grave, A Anarchia. Fim e meios, Lisboa,
Livraria Central de Gomes de Carvalho, Editor, 1907. Esta data aparece na
página de rosto e 1909 aparece na capa.
[2] Op. cit.,
p. 6.
[3] Loc. cit., p. 7.
[4] Loc. cit., p. 8.
[5] Loc. cit., p. 16.
[6] Aquilino
andou por seminários e colégios religiosos.
[7]
Malheiro Dias veio a concluir o Curso Superior de Letras, em Lisboa, e Aquilino
veio a estudar na parisiense Sorbonne, embora não viesse a concluir a
formatura.
[8]
Carlos Maul, muito tempo depois, lembrará ainda: «Esse romance é uma ignomínia
que o próprio autor, mais tarde, escondeu e excluiu da sua biografia.» (O Globo, Rio de Janeiro, de 11 de
setembro de 1957.
[9]
Decantam ainda no nosso cérebro as talvez já titubeantes mas incisivas palavras
de Aquilino Ribeiro vindas a lume na revista Brasil (nº 23, Lisboa, Edição do Sepro da Embaixada do Brasil em
Lisboa, janeiro de 1964, pp. 1-2), com o título «Últimas palavras de Aquilino
Ribeiro sôbre o Brasil» e de que destaco as frases subsequentes: «O mundo do
futuro terá aqui um grande laboratório de civilização.» (p. 1) e «Ao Brasil
diria que os meus votos são que se torne depressa a grande potência para que
está fadada pelas dimensões do território, originalidade em muitos sectores da
arte e pelos altos destinos universais. Portugal é um tanto o seu solar. Se um
dia o vir à derive, e o inimigo
secular adiantar a garra, que o grande Brasil tenha a sua palavra.»(p. 2). Do tempo
do fim, de 3 de março de 1963, o texto dá-nos um caminho que nada tem que ver
com outras e constrangedoras sujeições hodiernas. Despedindo-se da vida física,
ali pela lisboeta rua António Ferreira (a S. Miguel), nº 7, 1º D, a proposição
apresentada é uma profunda e significativa coreografia poética..
[10]
Na entrada «MALHEIRO DIAS, Carlos», do Dicionário
biográfico universal de autores (Lisboa, Artis – Bompiani, 1976, p. 2002),
informa-nos João Palma-Ferreira: «Mau grado as suas convicções monárquicas e o
apoio que oferece a Paiva Couceiro, mantém uma sólida amizade com Aquilino
Ribeiro cuja primeira obra, O Jardim das
Tormentas, prefacia, em 1913.» Certamente por lapso tipográfico diz- -se O Jardim das Tormentas em vez de Jardim das Tormentas.
[11]
Cf. Aquilino Ribeiro, Jardim das
tormentas, Paris-Lisboa-Rio de Janeiro-S. Paulo-Belo Horizonte, Aillaud,
Alves & Cia – Francisco Alves & Cia, 1913, p.
VII.
[12] Op.cit., p. 313. Foi mantida a grafia
epocal.
[13]
Cf. Joaquim Paço d’ Arcos, Carlos
Malheiro Dias escritor luso-brasileiro, separa da revista Ocidente, volume LX, Lisboa, 1961, p.
38: «Antes de se exilar, escreveu Carlos Malheiro Dias o prefácio para o
primeiro livro de Aquilino Ribeiro: Jardim
das Tormentas, publicado nesse ano de 1913. Hoje, a quase cinco décadas de
distância, parece simbólico que o herdeiro de Eça de Queirós, desviado embora,
como novelista, para um neo-romantismo historicista, mas, apesar disso, o
primeiro dentre os romancistas dessa época que vai da morte do autor de Os Maias ao triunfo de Aquilino – parece
simbólico que o grande escritor, ao exilar-se, tenha deixado na pátria esse
prefácio, como que a transmitir o facho glorioso que Eça, ao morrer, lhe legara
e que ele deixara nas mãos poderosas que durante meio século tão galhardamente
e tão alto o têm mantido.»
[14]
Até aqui, todas as citações dizem respeito à página VII do prefácio de Carlos
Malheiro Dias da 1ª edição de Jardim das
tormentas. Foi mantida a grafia epocal.
[15] Loc. cit., p. XV. Foi mantida a grafia
epocal.
[16] Loc. cit., p. XV. Foi mantida a grafia
epocal.
[17]
Cf. António Manuel Ferreira, Sinais de
cinza. Estudos de literatura, Guimarães, Opera Omnia, 2012, p. 365.
[18]
E até mesmo aquele passo do prefácio que aproxima Eça de Aquilino me parece
afinar pelo mesmo diapasão: «… eu lhe quero mais dizer que outro escriptor
ainda em Portugal como o sr. Aquilino Ribeiro não conseguiu surpreender e
aplicar os segredos de sua esbelta e fina prosodia e da sua adjectivação
elegantíssima á sonora linguagem portuguesa.» (op. cit., p. XVI.)
[19]
Os quatros contos eram «À hora de vésperas», «A pele do bombo», «Tu não
furtarás» e «O remorso», situados, segundo o índice, do 8ª ao 11ºlugar. Os
outros, pela ordem, intitulam-se «A catedral de Córdova», «Voluptuoso milagre»,
«A inversão sentimental», «S. Gonçalo», «O sátiro», «O triunfar da vida», «O
solar de Montalvo» e o derradeiro «A revolução», na primeira edição. A edição
corrigida , com trabalho concluído em dezembro de 1922, em Santo Amaro de
Oeiras, promove algumas alterações titulares e faz desaparecer «Voluptuoso
milagre»: «O sátiro» passa a chamar-se «A tentação do sátiro», «O triunfar da
vida» devém «Triunfal» e «O solar de Montalvo» é agora «No solar de Montalvo». Várias
particularidades e modificações plasmam agora o teor dos textos. Na nova joeira
de 1961, para além de outras alterações, o prefácio de Malheiro Dias para a ser
uma «Carta-prefácio», «Sam Gonçalo» é
«Sam Gonçalo casamenteiro», «No solar de Montalvo» passa a ser «Os senhores de
Montalvo» e «Tu não furtarás» transforma-se em «Os ladrões das almas».
[20] Loc. cit., p. XVIII.
[21] António
Manuel Ferreira, Op. cit., p. 367.
[22] Loc. cit.
[23]
Massaud Moisés, referindo-se a Aquilino Ribeiro, fala de uma tendência negativa
no escritor que é, nomeadamente quando fora do seu habitat, «a de ser um estilo à procura de assunto» (A Literatura Portuguêsa, São Paulo,
Cultrix, 1960, p. 360. Aliás, as ideias de Massaud Moisés sobre Aquilino
Ribeiro acabam por ser extremamente produtivas, uma vez que, não lhe limitando
o génio e a monumentalidade, afirmam persistentemente um caminho construtivo
que acaba, nomeadamente na base de desdobramento e ampliação que é o conto, por
oferecer aos críticos algumas debilidades. Mas em que autor não existirão
elas?
[24]
Cf. Joaquim Paço d’Arcos, Carlos Malheiro
Dias escritor luso-brasileiro, Separata da revista Ocidente, volume LX, Lisboa, 1961, p. 39. Comunicação ao IV
Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, na Universidade da Baía, em
1959. Eis o contexto das palavras de Paço d’Arcos: «O seu agudo senso crítico
não se deixa, porém, entibiar pela profunda e confessada admiração e depois de
louvar “a linguagem dum Celino da prosa”, que é, “desde agora, um dos grandes virtuoses do estilo”, observa, com
pertinência: “As suas acções são, por vezes, meros temas sinfónicos para
desenvolvimento de motivos orquestrais”. // O reparo mantém-se de pé, como
principal senão a uma obra que atinge proporções monumentais» (p. 39).
[25]
Massaud Moisés, O conto português,
São Paulo, Editora Cultrix – Editora da Universidade de São Paulo, 1975, p.
152. Seleção e apresentação crítica de textos, introdução geral e notas de
Massaud Moisés.
[26]
Cf. Franco Nogueira, Jornal de crítica
literária, Lisboa, Livraria Portugália, 1954, pp. 94-95: «Mas um primeiro
contacto com os livros de Aquilino Ribeiro leva-nos imediatamente a uma
conclusão: a de que a sua obra se nos impõe, antes de tudo, pelo estilo. Em
Aquilino, com efeito, o acto de criação é
estilo. Em Aquilino, a realidade
corporiza-se em estilo. Estilo no sentido mais profundo e mais complexo: o
de envolvimento da realidade circundante numa outra realidade formal
independente e pessoal, que sobreleva a primeira e lhe empresta uma cor e um
significado novos. Aquilino é, acima de tudo, um estilista.»
[27]
João Gaspar Simões, Crítica. I (A prosa e
o romance contemporâneos), Porto, Livraria Latina Editora, 1942, pp. 86-87:
«Mas voltemos a Aquilino Ribeiro. Ninguém hoje contesta em Portugal esta
afirmação: Aquilino Ribeiro é o primeiro prosador
português contemporâneo. Mais: Aquilino Ribeiro é um dos maiores prosadores da literatura portuguesa.
Ninguém contesta tal afirmação, porque nenhuma pode ser tão facilmente
comprovada. Eis o que nem sempre acontece com as afirmações entre nós
proferidas. Repare-se, porém, que se afirma: Aquilino Ribeiro é o primeiro prosador português contemporâneo, um dos
maiores prosadores da literatura
portuguesa. A palavra prosador é a
palavra indiscutível nesta afirmação.»
[28] Massaud
Moisés, Op. cit., p. 154.
[29] Massaud
Moisés, loc. cit., p. 154.
[30]
Num interessantíssimo artigo intitulado «Decadência?», Agrippino Grieco refere
o seguinte: «Aquilino Ribeiro, que estreou com uma coletânea encantadora, caiu
na imitação de Anatole France, num vago diletantismo de palrador de café, de
Rivarol de porta de charutaria» (Agrippino Grieco, Obras completas de Agrippino Grieco 1: Vivos e mortos, 2ª edição
revista, Rio de Janeiro – São Paulo, Livraria José Olympio Editora, 1947, p.
134).
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