Em breve, um estoiro dentro dos tímpanos dir-te-á o modo conveniente da literatura. Usurpados, os risos mais brandos são alfinetes, incisões oblíquas na pele, como um relâmpago dentro do mar.
E de mar falamos porque o tempo segue estival e existem livros assim, estimulantes e esquecidos. Pouco lida e traduzida em Portugal, Rachilde colheu a glória da sua época e legou-nos algumas criações estranhizantes e actuais. É o caso deste Farol do Amor (O) (La Tour d'Amour), saído em 1987, na Editorial Estampa, dentro da colecção "Livro B", com tradução de Aníbal Fernandes.Desafiante, mais de cem anos passados sobre o advento, e sem forçosamente concordar com a asserção de Huysmans que considera Rachilde a única mulher das letras que é, realmente, um escritor, esta ficção fala-nos da fúria dos ventos e das águas marítimas como poucos escritores o fizeram. Neste mar há uma história de amor que continua a ser contada, renovando-se nas imagens utilizadas todo o rito da criação. Fundo um farol fende a noite e as claras águas que o abraçam.
Rachilde (1860-1953) manteve relações de criação com o escritor conservador e monárquico Homem Cristo Filho, escrevendo ambos em parceria dois romances, disso dando notícia, por exemplo, a luminosa Judith Teixeira na sua revista Europa.

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