2010-07-19

mar de livros (três): "A última escala do Tramp Steamer" de Álvaro Mutis


Anunciando-se desde a capa como uma extraordinária história de amor, aureolada mesmo pelo Prémio Cervantes 2001, o livro do colombiano Mutis supera a expectativa e instala-se logo em alto lugar. Cultural e estimulante, de um fôlego o leitor esquece os ruídos em volta, os passos sinuosos, para se deixar ir arrebatado nesta viagem com um "tramp steamer" de nome Alción.
É de águas profundas esta literatura como o parecem dizer, desde logo, as seleccionadas epígrafes de Neruda e Mallarmé. Dentro, são odores e ventos maiores onde perpassam, entre outros, uns poucos de marinheiros portugueses e interessantes deambulações, entre tantas de desavindos portos, pela cidade de Lisboa, da fulgurante Warda com Jon Iturri, seguindo, afinal, o sonho de todos os homens. Olhando para a ainda nodal  A Filosofia da Composição de Poe, bem defensora da tonalidade nostálgica da melhor literatura, como resistir à frase de Álvaro Mutis que procura fixar Lisboa: "O Outono estava prestes a terminar e Lisboa mostrava o seu rosto de opacidade e tristeza, tão de acordo com os fados que os turistas fingem desfrutar nas tabernas." E, como no texto, também eu não resisto aos adoráveis "pratos de peixe frito de qualidade" que se comem nessa Lisboa...

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