poema para fernando mouga: viseu, 1949
nas margens do tempo, dentro da luz,
há gavetas, arquivos, cintilações, assombros.
talvez uma flauta imaginante, de alados dedos,
pudesse ferir esta memória, torná-la jardim
e chão de terra perante os olhos levantado.
vibrante o mundo parado espera. na coroa
opaca do dia há um encontro em julho,
uma pétala de missão na sombra do sangue:
álvaro cunhal caminha para fernando mouga
neste viseu de 1949 em busca de
uma imagem,
de uma fotografia sua para escrever um rumo.
mas antes houve um abraço, um mar alto…
era necessário encontrar na cidade um fotógrafo
e mouga à rua saiu neste dia assim como breve rosa
procurando o lugar, com cunhal no clube de viseu
e as vimeiro com salsaparrilha no hálito de ambos…
da conversa com o fotógrafo germano o assombro,
uma rosa vermelha nesta terra antiga: fazer era fazer.
mouga e cunhal reencontram-se e vertiginoso farão,
nos abismos do dia, um caminho de uns quantos metros,
distanciados ambos, pela rua dita formosa e principal.
esta rosa, esta memória deflagrante escreve-se no fogo.