2016-07-12

A tradução em Aquilino e o grito de Pound

A tradução em Aquilino e o grito de Pound

Não é preciso pensar para logo concluir do longo trajeto de Aquilino Ribeiro como tradutor, tal se provando, década a década, durante cerca de meio século. No entanto, é na sua fase nascente como homem de letras, na primeira década do século XX, que mais essa forma de aprender o mundo mais o toma e assoberba e com os resultados que sabemos – poderia ou poderá um grande escritor emergir de outro modo, sem esse exercício disciplinado e filológico?
Como Pound, Aquilino foi um centro de tecnicismo e profissionalismo. A escrita deveria ser trabalhada em buril oficinal até ao resgate da receção. No entremeio, como o diria o Steiner, há que aprender de cor, com o coração, cordialmente, para melhor ler o mundo, vertendo-o em palavras pesadas em torno laboral que estratifica e dá acesso aos mundos da criação.
Como Eliot viu Pound assim nós devemos olhar Aquilino como “il miglior fabbro”, uma verdadeira fonte de energia ou uma fulgurante enciclopédia do fazer. Na retaguarda, iluminando em catáfora, só as bases sólidas da versão, da tradução e da regência vocabular – uma orquestra da composição, diga-se, que ousava abrir o mundo com a certeza das palavras e da inscrição filológica. Assim, afinal, as raízes de uma árvore incomensurável!...    

Viseu, 12 de junho de 2016

Martim de Gouveia e Sousa

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