A tradução em
Aquilino e o grito de Pound
Não é preciso pensar para logo
concluir do longo trajeto de Aquilino Ribeiro como tradutor, tal se provando,
década a década, durante cerca de meio século. No entanto, é na sua fase
nascente como homem de letras, na primeira década do século XX, que mais essa
forma de aprender o mundo mais o toma e assoberba e com os resultados que
sabemos – poderia ou poderá um grande escritor emergir de outro modo, sem esse
exercício disciplinado e filológico?
Como Pound, Aquilino foi um centro
de tecnicismo e profissionalismo. A escrita deveria ser trabalhada em buril
oficinal até ao resgate da receção. No entremeio, como o diria o Steiner, há
que aprender de cor, com o coração, cordialmente, para melhor ler o mundo,
vertendo-o em palavras pesadas em torno laboral que estratifica e dá acesso aos
mundos da criação.
Como Eliot viu Pound assim nós
devemos olhar Aquilino como “il miglior fabbro”, uma verdadeira fonte de
energia ou uma fulgurante enciclopédia do fazer. Na retaguarda, iluminando em
catáfora, só as bases sólidas da versão, da tradução e da regência vocabular –
uma orquestra da composição, diga-se, que ousava abrir o mundo com a certeza
das palavras e da inscrição filológica. Assim, afinal, as raízes de uma árvore
incomensurável!...
Viseu, 12 de junho de 2016
Martim de Gouveia e Sousa
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