2016-12-31

Pensamento assistido por Gertrude Stein


«... seja o que for que suceda durante o ano, o ano acaba sempre um dia.» (Gertrude Stein, «Ida», Lisboa, Ulisseia, 1979, pp. 10-11.)

[farpinhas] - vinte [Luiz Pacheco]


o homem que calculava

Luiz Pacheco não engana. Certeiro, indaga e mostra. E depois explode: «Não havia ali meios-termos, gente dupla, a jogar em todas as cartas do triunfo ao mesmo tempo e baralhando os naipes, perdendo ora nuns ora noutros, perdendo tempo, em suma.» E aí é um punhal de justiça: «E se há gente desgostosa e desgostante é esta, incapaz de acertar a relojoaria própria, acorrentada à sua duplicidade, ambígua, ziquezagueante, desnorteada, aos encontrões aos outros, e sempre resvalando para a valeta, porque a meta são duas, jamais se unem, e combatem-se uma à outra.»
Esta fábula de origem pachequiana ensina que há gente que não merece consideração. Dupla, desgostosa e desgostante, ambígua e ziquezaguente, tal estirpe não e muito menos convive, antes escorre...  

2016-12-18

Pensamento assistido por Adonis


"Levo comigo o meu abismo e ando. Reduzo a nada os caminhos que chegam ao fim, abro os caminhos longos como o ar, como a poeira, fazendo nascer inimigos dos meus passos, inimigos à minha medida. O abismo é o meu travesseiro, as ruínas são os meus intercessores." 
[«Salmo", in O arco-íris do instante, Lisboa, Publicações D. Quixote, 2016, p. 13. Tradução de Nuno Júdice.]

Assim é o abismo da grande poesia...