2016-09-29

[guia de audição]

[guia de audição]

ouve-me agora neste rasto assim tão fundo
que cruza  todo o planeta e os longes mares
de espuma que transbordam no íntimo peito.

ouve o dia o insólito dos limiares o fogo breve
os leitos correndo contra as angústias do sangue
o súbito declinar dos dias os longos trabalhos.

encosta tudo à limpidez das horas às sombras
calmas das manhãs aos horizontes marinhos
entre tudo e nada fulgurando entre os dedos.

lê o poema e a agudeza: «Dá-me mais vinho,
porque a vida é nada.»  Conclui, conclui então
que, isso sendo, tudo é, porque o nada é tudo.

2016-09-15

Pensamento assistido por Lawrence Durrell


«Creio que os artistas se compõem de vaidade, indolência e amor-próprio. É o inflar do ego, o seu transbordar para alguma daquelas frentes o que paralisa o trabalho.» 
(Lawrence Durrell, O quarteto de Alexandria: Clea, Lisboa, D. Quixote, 2012, p. 759.)  

Tolerável num artista, sê-lo-á num não-artista? - pergunto eu.

2016-09-13

Aquilino é um lugar literário

Aquilino é um lugar literário

Um escritor só o é verdadeiramente quando não cessa de nascer. De um lugar vindo, desse lugar sendo, é ao mundo que pertence, nascendo quotidianamente na mão dos leitores. Óscar Lopes, um dos grandes municiadores da aura aquiliniano, plantou-o, desde há décadas, no centro canónico literário, aludindo a esse lugar de nome Aquilino.
Dizia um outro Mestre, João de Araújo Correia, por agosto de 1971, não haver “devoção nenhuma com lugares literários”, porque, quando a houvesse, iriam à serra da Lapa os admiradores de Aquilino.
Que descansem os Mestres! Os admiradores de Aquilino irão a todo o lado e não esquecerão que o melhor Aquilino vai nascendo sempre na flor dos dedos. Admirável Aquilino, nascendo sempre e em cada dia. E foi hoje…

Viseu, 13 de setembro de 2016