Vergílio Ferreira: no
início era a morte
O tema da morte é um “topos” literário flagrante, com ele se
encontrando, desde há muito, o leitor noturno e também diurno. Cruza todas as
literaturas e, claro, é um lugar bem identificável na literatura portuguesa.
Urbano Tavares Rodrigues, notável ficcionista e ensaísta de longo fôlego,
deixou-nos mesmo um livro de ensaios intitulado O tema da morte[1].
Anteriormente já o mesmo intelectual publicara o título O tema da morte na moderna poesia portuguesa (1958).
Mas ainda ainda mais do que Raul Brandão, é Vergílio Ferreira quem
persistentemente deflagra o tema e o dissemina pela sua obra questionante.
Desde o início do caminho, diga-se. Ora olhemos ainda para O caminho fica longe (1943) e veja-se como a mãe de Amélia “morrera há muito tempo” (p. 33), deixando a
filha como uma dor “que ficara a marcar-lhe todas as voltas da vida” (p. 34); como
o pai “também lhe morrera” (p. 34), criando um “vazio que inutilizava a vida de
Amélia” (p. 34); como morrem a mãe de Conceição, Luísa e Rodrigues.
Na janela da vida está a morte, esta morte no meio do caminho…
Viseu, 10 de fevereiro de 2016
Martim de Gouveia e Sousa
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