2016-02-11

Vergílio Ferreira: no início era a morte


Vergílio Ferreira: no início era a morte

O tema da morte é um “topos” literário flagrante, com ele se encontrando, desde há muito, o leitor noturno e também diurno. Cruza todas as literaturas e, claro, é um lugar bem identificável na literatura portuguesa. Urbano Tavares Rodrigues, notável ficcionista e ensaísta de longo fôlego, deixou-nos mesmo um livro de ensaios intitulado O tema da morte[1]. Anteriormente já o mesmo intelectual publicara o título O tema da morte na moderna poesia portuguesa (1958).
Mas ainda ainda mais do que Raul Brandão, é Vergílio Ferreira quem persistentemente deflagra o tema e o dissemina pela sua obra questionante. Desde o início do caminho, diga-se. Ora olhemos ainda para O caminho fica longe (1943) e veja-se como a mãe de Amélia  “morrera há muito tempo” (p. 33), deixando a filha como uma dor “que ficara a marcar-lhe todas as voltas da vida” (p. 34); como o pai “também lhe morrera” (p. 34), criando um “vazio que inutilizava a vida de Amélia” (p. 34); como morrem a mãe de Conceição, Luísa e Rodrigues.
Na janela da vida está a morte, esta morte no meio do caminho…

Viseu, 10 de fevereiro de 2016
Martim de Gouveia e Sousa



[1] Cf. Urbano Tavares Rodrigues, O tema da morte (Ensaios), Lisboa, Cronos, 1966.

Sem comentários: