Imagens do desporto em Vergílio
Ferreira: O caminho fica longe
Escritor
forte no cânone ocidental, Vergílio Ferreira dissemina pelas suas obras um
saber múltiplo e enciclopédico. Ao jeito de Shakespeare, diga-se. E, de facto,
ao olharmos a criação vergiliana, poucos domínios do saber terão ficado
intocados pelo mestre do romance problematizante.
Ainda
que o primeiro romance dado a lume enferme de uma «hesitação fundamental»[1],
não deixa também de ser verdade que tais primícias são já um abundante exemplo
do que atrás dissemos. Pense-se no desporto, por exemplo, e veja-se como o
futebol é um dos ambientes coimbrãos que o nosso escritor estende na sua ainda
hesitante tela:
Do campo de futebol sobe
um bruá…á como de um mar e, à beira
de Luísa, passam dois garotos que se desengonçam na caminhada, esfregando as
mãos:
- Eh! pá! Hoje é que vai
ser. São nove a zero, como ginjas…
Vaz vem apressado.
Alcança Luísa:
- Passou bem?
- Como está você? Então? Ao futebol, claro…
- Pois… Não pode perder-se um desafio
com o Benfica…
No campo estralejam palmas.
- Oh! Já estão a entrar em campo. Desculpe.
Até logo!
- Vá lá, vá lá ao seu futebol. (p.
167)
E assim o futebol irrompe na primeira
obra de Vergílio Ferreira, trazendo-nos, em simultâneo, uma personagem de nome
Vaz, que a todos massacrava durante as refeições, «com lições demoradas» (p.
173) sobre esse desporto que deve ser também exercício de liberdade e
construção.
Viseu, 3 de
fevereiro de 2016
Martim de
Gouveia e Sousa
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