Um texto para
Aquilino
Despidas como os textos eis as
palavras. De barro feitas, moldando-se ao homem, aos dias, aos sentimentos. Não
nada melhor do que isto. Um mar de escrita, cem anos sobre a mais importante
partida – uma partida sempre por chegar.
Aquilino é também isso – um salto
no tempo, para trás e para a frente, uma erupção constante. Como no poema de Herberto, em Aquilino
a literatura acontece, qual «espuma de sal» que nos bate «alto na cabeça» e nos
outra. A firmeza do escritor está também aí, na firmeza, na incisão funda, no
vezo relacional - e no dito já vai Sebastião
da Gama e Herberto e Steiner. E também Guimarães Rosa e Cardoso Pires e nós
dentro.
Mas poderemos nós falar de Aquilino
e de literatura? Não será a obra de Aquilino a mais bela estátua que o Autor
deixou dentro da pedra? Não será a voz dos homens dispensável em trabalho assim
tão laborioso?
Saramago, em texto
codiciosíssimo, admitiu escrever em direção à pedra, à memória de si, à memória
dos seus, à nossa memória. É este um árduo caminho, uma funda gruta percebida.
Adverte o poeta Rui Baião: «Tende cuidado com a múmia branca do papel».
Aquilino é abismo e redenção, pedra contra pedra fazendo-se estátua de sangue.
«E a vida lá vai… ligeira como
uma galga doida, esparvada», diz o Mestre. Hoje, em Viseu, Aquilino passou a
ser aquilo que era – estátua de sangue em gesto de bronze. Agudos, os signos da
rua Formosa responsabilizam-nos e fazem dos homens persistentes homens bons,
cidadãos atentos à escrita da pedra perene como o bronze sabiamente trabalhado.
Viseu, na noite de 13 de setembro de 2013
Martim de Gouveia e Sousa
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