MONÓLOGO DE PASSOS
COELHO VENDO CHOVER EM PORTUGAL
Gabriel García Márquez haverá de
ser lembrado pelas melhores razões. Possuidor de uma oficina efabuladora muito
bem artilhada, as suas estórias prendem-se à pele e ficam connosco. Lembro-me,
por exemplo, da poderosa narrativa breve “Monólogo de Isabel vendo chover em
Macondo” (1955), de que o título supra é clara deriva.
A desgovernação de Pedro Passos
Coelho e todas as pessoas coniventes com o impossível afogamento do país
haverão de ser lembradas pelas piores razões. Esta é uma outra história que se
prende à pele e que desejamos esquecer. Quando esta gente já nada for, os
manuais atirarão o seu legado para uma obscura nota de rodapé com a admonição
de “nítido nulo”.
Como em García Márquez, há uma
chuva que não cessa. Há mesmo um “barro líquido” que corre pelas ruas,
arrastando “objetos domésticos, coisas e mais coisas, destroços de uma remota
catástrofe, escombros e animais mortos”. Instalados na cegueira, os
desgovernantes fingem ver o caminho. Não conseguem sequer vislumbrar o lodo em
que enterram o país.
Ver é preciso, repulsar estes
coveiros do abismo é uma necessidade.
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